DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Clínica para dependentes químicos... Excluir para incluir, é certo? É preciso agredi-los com a certeza de que perderam a capacidade de ser? É possível... Dói, mas é possível... Fechados ali estão pacientes, enfermos, família, vontade, vício... Todos estão internados! Todos estão sustados em seus tempos de vida. Saúde é nossa dependência ideal. Quando esta saúde falta, tudo se desmancha no ar. Vive-se por saúde. Sobrevive-se com o resto. Assim passou-se uma semana e outros pensamentos os alimentaram...
Ninguém tratado com amor finge saber. Ninguém tratado com amor constitui em si o medo de ser feliz. Tratadas com amor, as pessoas projetam-se no risco de qualquer buraco negro na expectativa e na esperança de outro dia bom... pelo menos. Intuição, criatividade, conhecimentos, não se criam no medo, no temor, na repressão. Aventura deveria ser a idéia central de toda manha, de todo acordar. Atividade deveria ser toda a representação possível e energética. Se somos latifúndio de tudo e de nada, somos fertilidade independente das estações. A atitude é buscar em todos os becos a coragem de ser... e ser sendo. Faz de conta que o futuro será melhor, já que precisamos dele agora. Frustração? É a doença eterna, é o nosso "samba do crioulo doido" existencial. Frustração? É o estanque necessário para que as virtudes próprias sejam revisitadas. Frustrações? São os encontros com as limitações: aí "o bicho pega!" Ninguém quer se saber limitado porque aí as máscaras caem, as certezas somem e a vontade é impossível. Tudo pára em favor de um movimento interior que deveria ser muito rico. O mundo da fantasia, novamente, é tocado e, sem barreiras, vai adquirindo elementos que possam provocar a novidade de outros comportamentos. E isso não precisa de vergonha. Precisamos dos desavergonhados! Precisamos nos desavergonhar! Precisamos sair de uma modulação civilizatória que prende o desejo em regras classificatórias e, muitas vezes, eliminatórias. Mas como? Encarando as frustrações ou aceitando ajuda diante das mesmas. Ainda como marca da independência, encarar as frustrações é manter as rédeas da própria vida; é saber reconstruir-se diante das paradas obrigatórias; é estar disponível às mudanças necessárias. O problema é que aceitar ajuda, pedir ajuda, redimensiona o fantasma da dependência e retoma sua ação de "detonador" das estimas. O ser humano se consome por independência, logo tem que se rebelar na dependência. Depender abre um porão dentro do coração e suga restos de energia. Depender é a conclusão do ditado "dia de muito, véspera de nada". Depende-se sempre por obrigação. O movimento é de fracasso, raiva, subterfúgios, disfarces, enganos, mentiras. Para onde se olha, não há caminhos a seguir... sozinho. Reaprender parece uma ação infeliz, mas fazer o que? Matar-se? Não! Nunca! Matar-se é desaprender... é aceitar o evitável... é determinar a vitória da "in-criatividade". Depender precisa de, além de um momento de reflexão, uma atitude limitada pelo tempo. Depender tem tempo determinadíssimo! Difícil... Trabalhosa... "Cansável"... Mas vertical a um reencontro com a realização de todos os projetos de vida. É uma loucura ser ser humano... "Mata-se um leão a cada dia"!
Enfim, quando os apêndices que criamos desmoronam, encaramos nossas próprias fragilidades e percebemos que não precisamos de suportes, pelo menos... químicos. Precisamos de caminhos! Houve uma sombra generalizada sob as reais potencialidades dessa família e essa embotou suas competências e tornou suas habilidades altamente lineares. Isso desrrealizou possíveis recursos para o sucesso. Há a sensação de que as experiências ratificaram os modelos, nunca retificaram as estratégias. Facilitaram, quando precisavam negociar na perspectiva de dois resultados: versatilidade e flexibilidade diante da emoção da vida. Não foi preciso traumas nem crises, foi pior: foram sufocadas as emoções... O ato da dependência teria como grande força contrária a complexidade das emoções no qual se enfrentariam as distorções dimensionais da vida... com energia. Mas esses sentimentos, desvinculados de um pensamento, de um raciocínio, formularam o medo, logo problemas temidos, problemas "esquecidos".
Assim, o filho permanece internado...
Autor: Claudia Nunes
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