Crise: até onde vamos?



Em momentos de instabilidade internacional as únicas respostas que o público em geral quer ver sair da boca de um economista é quando a crise do subprime americano vai acabar e como.

Infelizmente são as únicas que não podemos responder.

O economista John Kenneth Galbraith certa vez disse que "a única função das previsões econômicas é conferir à astrologia uma aparência respeitável".

É triste, mas ás vezes parece a pura verdade.

Galbraith não foi o primeiro nem será o último economista a reconhecer a falibilidade das tentativas de prever a ocorrência de pontos de inflexão. Prever o fim da crise atual é ainda mais difícil porque dependerá da velocidade e da eficiência com as quais os governos responderão à crise no sistema bancário. Muitos investidores continuam a se preocupar com a insolvência das maiores instituições financeiras do mundo, apesar de Washington ter garantido que essas empresas dispõem de capital suficiente.

O diagnóstico e a solução oferecidos pelos líderes políticos aos bancos serão fundamentais. Analistas dizem que respostas de governo equivocadas e erráticas exacerbaram a "década perdida" no Japão dos anos 90 e também a Grande Depressão dos anos 30.

Infelizmente não existem ferramentas para identificarmos o fundo do poço nos EUA antes que o mundo todo realmente chegue à ele.  Mesmo assim, alguns indicadores americanos merecem atenção:

Mercado de ações
A história mostra que o mercado de ações costuma chegar ao fundo do poço antes da economia. Em outubro, Warren E. Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos do mundo, disse que estava comprando ações americanas porque elas se recuperam "bem antes do astral da população e da economia". Mas até ele admitiu "não ter a menor ideia" do que poderia ocorrer nos próximos meses.

Nouriel Roubini, o professor de Economia da Universidade de Nova York que em boa medida previu a crise atual, alertou para a possibilidade de os lucros corporativos e o preço das ações continuarem caindo, talvez rapidamente.

Preço dos imóveis americanos
Imagine um jovem casal americano de renda modesta em busca de sua primeira casa própria, de dois ou três quartos, num bairro de classe média da cidade. Serão eles capazes de obter um financiamento e honrar as prestações? Se a resposta for negativa, então os EUA ainda não chegaram ao fundo do poço do mercado imobiliário.

Assim como os preços não subiram uniformemente em todo o país durante a bolha imobiliária, eles não chegarão juntos ao fundo do poço. Em cidades como Riverside, na Califórnia, e Miami, onde os imóveis são hoje vendidos pela metade do preço de três ou quatro anos atrás, é provável que o mercado imobiliário esteja perto de chegar ao seu ponto mais baixo.

Um indicador desse fato é a aquisição frenética de imóveis por investidores e aqueles que compram a casa própria pela primeira vez, apesar de os imóveis comprados serem na sua maioria propriedades cuja hipoteca foi executada pelos bancos, que agora os revendem com grandes descontos. As vendas de imóveis na Califórnia cresceram mais de 50% em janeiro ante o mesmo período do ano anterior. Mas o preço médio dos imóveis caiu mais de 40%, chegando a US$ 224 mil.

É claro que quem comprou no auge da bolha será mais prejudicado quando for obrigado a vender. Mas Peltier e outros especialistas dizem que a situação atualmente desoladora do mercado só poderá ser resolvida por preços mais baixos, empréstimos mais fáceis e economia em recuperação.


Gasto dos consumidores americanos
Os americanos gostam de comprar, e na última década muitos economistas acharam que eles continuariam gastando com carros, roupas e os mais novos brinquedos digitais. O gasto dos consumidores praticamente não caiu na era pós-2ª Guerra Mundial e, quando isso ocorreu, a recuperação foi imediata.

O consumo pessoal americano caiu cerca de 1% no segundo semestre do ano passado - o primeiro declínio contínuo desde 1980. Os economistas dizem que o consumo vai demorar para se recuperar porque os americanos endividados vão economizar mais ou quitar as dívidas. A proporção economizada da renda - a quantia que os consumidores não gastaram - saltou de zero para cerca de 3% no fim do ano passado, ainda muito abaixo da média pós-guerra, de 7%.

O consumo deve chegar ao ponto mais baixo quando a proporção da renda economizada parar de crescer. O gasto do consumidor deverá então aumentar conforme a demanda acumulada for satisfeita. As vendas de veículos, por exemplo, caíram a níveis de 1981, quando a população dos EUA era cerca de três quartos da atual. Muitas famílias estão adiando a compra de carros novos e mantendo os modelos que já possuem. Porém, acabarão substituindo seus veículos cada vez mais velhos. Em estudo sobre ciclos econômicos, Edward E. Leamer, economista da Escola de Administração Anderson da Universidade da Califórnia, descobriu que as vendas de automóveis e a construção de casas tendem a comandar os movimentos de recuperação.

Um aumento no volume do comércio internacional seria outro indicador precoce de que o gasto do consumidor dos EUA e do mundo teria chegado ao seu ponto mais baixo, ao que se seguiria a recuperação.

De qualquer forma, as pistas sobre o fim da recessão americana são difusos e pouco conclusivos. Uma situação me lembra aquele filme infantil, Shreck, onde o Burro ficava o tempo todo pergundo "Já chegamos, já chegamos, já chegamos?"

Infelizmente a resposta é não, Burro.

Bibliografia
O Estado de São Paulo, edição 42.159 de 22 de março de 2009, artigo "Nós já chegamos ao fundo do poço?" de Vikas Bajaj, do The New York Times

 
 

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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