A Ansiedade Nossa de Cada Dia



Num certo dia eu fazia parte de um grupo de pessoas assistindo um terapeuta que, com sua vasta experiência profissional, realizava uma pequena apresentação sobre a sua atividade e como sua aplicação terapêutica poderia ajudar a equilibrar e harmonizar o estado emocional das pessoas. Para tanto contou com a participação de alguns voluntários, com os quais identificava em alguns minutos seus problemas físicos e, tendo provável causa, seu estado emocional gerador de tais anomalias.

O que me chamou a atenção é que em todos os casos analisados pelo terapeuta, destacava-se um ponto em comum: A ANSIEDADE causada pelo estresse no ambiente de trabalho, a pressão e as cobranças por resultados e em todos os setores da vida.

Será que esta é efetivamente a doença desta década ou das próximas? Explico: lembro-me de quando era criança, brincando o tempo todo na rua com os amigos, jogando bola, andando de bicicleta, empinando pipas, com bolinhas de gude no bolso da calça rancheiro, sem pressa para nada. Não havia vídeo-game, nem tantos programas de televisão, também não havia internet e muito menos celulares! Bons tempos aqueles e só hoje percebo como eram bons mesmo. A vida era leve e solta.

Vamos avançar um pouco mais no tempo. Há mais ou menos vinte anos, ainda não utilizávamos o computador pessoal (o PC) nas nossas atividades profissionais. Todos os trabalhos e cálculos eram feitos manualmente, com exceção de alguns programas de computação utilizados através de mainframe, aqueles computadores que ocupavam andares inteiros de uma empresa, devido sua capacidade e potência. E justamente pelo fato das informações não estarem prontas e a disposição de todos, uma vez que necessitavam de nossas mãos e de nossa mente para tanto, ninguém vivia ansioso a ponto de prejudicar a sua saúde. Todos sabiam que as atividades necessitavam de um tempo para serem concluídas. A pressa ou a pressão das chefias sobre os subordinados só causava erros e atrasos na conclusão das atividades e, assim, todos viviam felizes e contentes, como num conto infantil.

Mas, como todo conto infantil, um dia acabou. Na década de 90, alguém extremamente ansioso, preocupado em acelerar as coisas e vencer o tempo, inventou o computador pessoal. Depois, outras pessoas ansiosas surgiram do nada e criaram a internet e a seguir apareceu o telefone celular. Obviamente, estas invenções tecnológicas foram desenvolvidas para facilitar a vida das pessoas, permitir uma melhor comunicação entre os povos e trazer um pouco mais de conforto para os seres humanos, como resultado imediato da globalização. Passados quase 15 anos o que vemos é uma outra realidade. Vivemos num mundo tecnológico totalmente diferente e tudo se transformou como num passe de mágica. O que hoje é muito útil dentro de pouco tempo se tornará inútil, face às novas descobertas que acontecem diariamente.

Como as informações em geral estão muito mais rápidas e fáceis de serem obtidas, as organizações passaram a exigir de seus colaboradores esta mesma rapidez. O que antes podia esperar alguns dias para ficar pronto, agora não pode mais. O que antes exigia uma pré-análise para posterior divulgação, agora não permite mais. A valorização do esforço e dedicação das pessoas que existia antes, agora não existe mais. Afinal, já está tudo no computador, ou então na internet ou ainda no celular. Por que esperar mais? Como admitir uma demora de alguns minutos numa atividade qualquer? Imagine então se for de um dia para o outro!

A rapidez da informação passou a ser mais necessária e mais valorizada na empresa do que o trabalho executado pelo funcionário. Os problemas de comunicação podem ser grandes e complexos, mas o que importa mesmo é o resultado financeiro das empresas! As prioridades são outras e os valores também.

As cobranças e exigências nunca foram tão grandes. Estamos nos esquecendo de que as pessoas não são computadores. Apesar de nosso corpo ser a maquina mais avançada já vista neste planeta (e que não foi criada pelo homem), nós não conseguimos avançar mais rápido do que a nossa mente consegue suportar.

É a ansiedade em tudo e em todos os setores da nossa existência, causando estresse, irritabilidade, pressão alta, úlceras, gastrite, problemas na coluna, dores de cabeça e outras doenças, tendo como conseqüências prejuízos para a saúde e para as finanças em geral.

O medo de errar e a necessidade e acertar vão minando a auto-estima, a auto-confiança, a motivação pelo trabalho, a criatividade na solução de problemas e, principalmente, a paixão pelo trabalho e pela profissão que escolhemos e desenvolvemos ao longo da vida com tanto carinho e dedicação.

Mas, afinal, qual a solução? Como mudar este quadro doentio da humanidade?

Nós sabemos e temos a resposta. Só resta coragem e força de vontade para colocarmos em pratica na nossa vida e com as pessoas que nos cercam, que são muito mais importantes do que as coisas que "necessitam" ser feitas com tanta pressa.

A vida é muito valiosa e mais preciosa do que as atividades materiais que inventamos e que priorizamos para torná-la importante. Você já parou um instante o que está fazendo para refletir no que realmente importa na sua vida e na vida daqueles que são tão importantes para você? Não se preocupe! Parar uns minutos não vai causar prejuízos na sua atividade. Os estragos que estamos causando na nossa vida são imponderáveis e difíceis de serem recuperados. Pense nisto!

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Autor: José Carlos Maron


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