A NARRATIVA NA SOCIOLIGUÍSTICA



UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
FACULDADE DE LETRAS E ARTES DISCIPLINA: SOCIOLINGUÍSTICA
PROFESSOR: CACIQUE ALUNO: RUBENS SILVA - MAT.:06126005101
A NARRATIVA NA SOCIOLINGÜÍSTICA

“A sociolingüística é uma das subáreas da lingüística e estuda em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos lingüísticos e sociais.” Maria Cecilia Mollica BELÉM - PA 2009 O estudo quantitativo da variação lingüística apresenta-se muito bem em narrativas orais, isso ocorre pelo fato destas serem unidades naturais delimitadas do discurso, com uma estrutura interna regular, proporcionando uma visão analítica sistematizada e controlada dos aspectos formais e funcionais da variação. A composição de uma amostra de narrativas orais para a análise da variação, solicita o uso de uma tática de coleta conhecida como entrevista sociolingüística. Estas, são caracterizadas pela particularidade do método, o qual visa a diminuir/evitar o que Labov chama de paradoxo do observador: O importante para a sociolingüística é analisar o vernáculo de uma comunidade de fala, o considerando como a língua na sua forma descontraída e relaxada que se conversa com os amigos casualmente. Em outras palavras, o lingüístico espontâneo. Todavia, a coleta de material por meio da entrevista sociolingüística, depende da presença de algo diferente à comunidade: o pesquisador em posse de um microfone e um gravador procurando participar de situações dialógicas estranhas, gerando a contradição do observador, pois será preciso o pesquisador coletar material de amostra do vernáculo ajustada e voltada aos seus estudos. Para tentar minimizar os efeitos do paradoxo do observador, estratégias costumam ser aplicadas, como o treinamento de um membro da comunidade para a coleta dos dados e a elaboração de um roteiro de entrevista dirigida para determinados temas com os quais o falante se envolva e esqueça-se de que está sendo gravado, como situações de risco de morte, fatos da infância, etc., além de questões dissertativas sobre assunto específico (economia, esporte, política, religião) e questões procedurais (receita, “como chegar em...?”). Isso serve como tática de descontração do seu entrevistado, pelo fato de envolvê-lo efetivamente com o tema discorrido. Assim, podemos afirmar que é esse ambiente de análise que importa para o estudo laboviano. O roteiro das entrevistas sociolingüísticas, organizado de modo a minimizar os efeitos do paradoxo do observador , funciona como um gatilho e direciona à produção de tipos/seqüências textuais pelo falante, resultando um todo heterogêneo: a entrevista sociolingüística. A narrativa, segundo a visão laboviana, é definida como método de recapitular a experiência passada através da interseção entre uma seqüência de proposições, e outra de situações que ocorreram. Defende-se, então, a verbalização de experiências como meio de se reportar a situações passadas as quais estão armazenadas na sua biografia enquanto narrador. Isso é possível pela presença da juntura temporal que caracteriza uma narrativa ,ou seja, a ordem da seqüência das proposições projeta a ordem da seqüência das situações descritas. Vale ressaltar que uma narrativa é e deve ser constituída sobre um evento mais reportável, contando algo que mereça ser dito, que traga uma lição para os mais jovens, por exemplo, algo que prenda a atenção do seu espectador (es), preferencialmente um fato o mais incomum possível e que tenha o máximo de conseqüências para o bem-estar do falante . Segundo Labov são necessários a uma narrativa: a) inserção da narrativa na estrutura conversacional por meio de um resumo (abstract); b) orientação do ouvinte para o lugar, tempo, atores e atividades da narrativa; c) organização temporal da ação de complicação por meio da juntura temporal; d) avaliação diferenciada das ações por meio de justaposição de situações reais ou potenciais pelo uso de predicados irrealis; e) término da narrativa trazendo a experiência para o presente, por meio de episódios. Nesta perspectiva, considera-se que a noção de episódio (e evento), pode ser expandida para além do tipo textual tradicionalmente denominado de narrativa. Ou seja, o episódio não é um componente da narrativa, mas é uma unidade analítica que perpassa o tipo textual. Em um relato de opinião, por exemplo, o falante pode valer-se de um episódio para introduzir um fato à sua argumentação, ou mesmo em uma descrição de vida, o falante pode ilustrar um fato corriqueiro do seu cotidiano evocando um episódio. O episódio, então, passa a ser o ponto de partida que se pretende estabelecer como unidade de análise visando às entrevistas sociolingüísticas. Ao delimitarmo-lo como unidade de análise, estamos reconhecendo a dimensão cognitiva aí pressuposta. Segundo a concepção laboviana de narrativa, os episódios, concebidos como unidades de análise, constituem um todo narrativo. Portanto, para alcançar o objetivo proposto, o entrevistador deve direcionar metodologicamente os questionamentos, incentivando os entrevistados a conceder subsídios lingüísticos que possam fornecer além de aparatos de estruturas composicionais e estruturas das funções discursivas , também estruturas interativas. Na concepção laboviana de narrativa sociolingüística, o fato do narrador/entrevistado dispor de um aparato de episódios, a partir dos quais reelabora vários outros conforme seu interesse, no momento da efetivação da narrativa por meio de elementos simbólicos que caracterizem sua comunidade lingüística, é porque há a existência de uma pré-construção incutida no indivíduo/narrador, que depende diretamente da plena participação social desse individuo em situações por ele vivenciadas e armazenadas ao longo da vida, assim como a sua participação em determinado meio social, também refletirá em outros episódios dentro da mesma comunidade. Desenvolvendo um processo contínuo e constante de manutenção da cultura de uma comunidade lingüística, que também estará sujeita a possíveis interferências extralingüísticas.
Autor: Rubens Camelô


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