Psicopatologia



O desenvolvimento de cada um através de sua trajetória e sua relação com o mundo e consigo mesmo faz com que cada indivíduo seja único. Cada ser é um complexo diversificado onde aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais estão sintonia, formando um ser com suas próprias individualidades. Entender o processo psíquico dentro desta visão propicia um maior entendimento do outro, trazendo uma melhor relação interpessoal, seja pessoal ou profissional.

Portanto, podemos dizer que a psicopatologia pode ser definida como um estudo descritivo dos fenômenos psíquicos de cunho anormal, exatamente como se apresentam à experiência imediata, de forma independente dos problemas clínicos. Estudando os gestos, o comportamento e as expressões dos enfermos além dos relatos e auto-descrições feita pelos enfermos.

O termo Psicopatologia é de origem grega; psykhé significando alma e, patologia, implicando em morbidade. Portanto, podemos considerar que a Psicopatologia é um termo que se refere tanto ao estudo dos estados mentais patológicos, quanto à manifestação de comportamentos e experiências que podem indicar um estado mental ou psicológico anormal.

Segundo Baumgart (2006 apud Fernandes) o termo foi empregado pela primeira vez Ermming Naus, predecessor de de Kraeplim, adquiindo seu atual significado pela obra de Karl Jasper publicada em 1913, para Jaspers, a psicopatologia tem por objetivo estudar descritivamente os fenômenos psíquicos anormais, exatamente como se apresentam à experiência imediata, buscando aquilo que constitui a experiência vivida pelo enfermo.

A psicopatologia enquanto estudo das anormalidades da vida mental é às vezes referida como psicopatologia geral, psicologia anormal, psicologia da anormalidade e psicopatologia do patologico. É uma visão das patologias mentais fundamentadas na fenomenologia, em oposição a uma abordagem estritamente médica de tais patologias, buscando nao reduzir o sujeito a conceito patologicos, enquandrando-o em padrões baseados em pressupostos e perconceitos.

Ballone (2003) expõeque a psicopatologia se institui através da observação e sistematização de fenômenos do psiquismo humano e presta a sua indispensável colaboração aos médicos em geral, aos psiquiatras em particular, aos psicólogos, sociólogos e a todo o grupo das ciências humanas. Andersen revela que o diagnóstico não tem o mesmo valor que o diagnóstico médico normal. A razão para isso prende-se ao fato de que sua característica é predominantemente dinâmica, sofrendo modificações no decorrer do acompanhamento do paciente.

Essas modificações são necessárias porque as observações que levaram ao primeiro diagnóstico certamente estarão incompletas, já que são realmente simples observações e, sendo assim, dependem exclusivamente das manifestações dos pacientes que, nem sempre, apresentam todos os sinais e sintomas de uma só vez. Embora sem valor como elemento definidor da patologia, o diagnóstico continua sendo necessário, principalmente como referência para a sua própria dinâmica evolutiva no acompanhamento do caso.

Segundo Minkowski (Apud Ballone, 2005), o termo Psicopatologia corresponde mais a uma psicologia do patológico do que a uma patologia do psicológico. Em sua opinião, a psicologia do patológico se refere à descrição global da experiência vivida pelo enfermo e, global, nesse caso, implica em visão holística e integrada do todo psíquico com o todo vivido pela pessoa.

Paim (1993, p. 27) coloca que a psicopatologia como ciência autônoma colabora a inúmeras outras ciências como:

- à Psiquiatria, emprestando a sua colaboração no conhecimento dos fenômenos psíquicos anormais, conhecimento indispensável ao exame psíquico dos enfermos;
- à Psicopatologia Forense, prestando esclarecimentos e orientações na descrição dos sintomas subjetivos apresentados pelos enfermos mentais isentos de responsabilidade penal;

- à Psicologia do normal, indicando as diferenças essenciais entre os fenômenos psíquicos normais e patológicos;

- à Psiquiatria cranscultural, mostrando as semelhanças e as diferenças nas manifestações da doença mental em culturas distintas e, sobretudo, indicando as manifestações patológicas de coletividades anormais;

- à Antropologia cultural, indicando o que há de patológico nas crenças, regras de conduta e comportamento de determinado grupo social;

- à Sociologia, oferecendo uma explicação científica para os desvios anormais de padrões de comportamento coletivo.

Ainda acrescenta o autor que o campo da Psicopatologia vai se ampliando em função de suas relações com outros ramos do conhecimento humano, enquanto o âmbito da Psiquiatria vai se estreitando cada vez mais, sendo atualmente compreendida como um ramo da medicina que tem como objetivo o estudo, o tratamento dos enfermos da mente e a assistência e profilaxia das doenças mentais.

As manifestações psicopatológicas podem ser classificadas de diversas maneiras, por etiologia a exemplo das orgânicas e psicológicas por tipo de alteração a exemplo da neurose e psicose (as alucinações e delírios são importantíssimos sintomas de muitas doenças mentais, mas principalmente das psicoses, como a esquizofrenia) que considera a relação com a consciência perda de contato com a realidade na concepção psicanalítica

- Neurose: ou reações neuróticas, descritas pela primeira vez por Sigmund Freud, centraram-se na ansiedade. Em alguns casos, a ansiedade é obvia; em outros, as pessoa usam manobras defensivas para controlar a tensão, e ela não é facilmente evidente. A esquiva é outra característica-chave de neuroses. As pessoas neuróticas tendem a se afastar de situações que estejam ligadas a ansiedade. Essa esquiva limita-se a liberdade da pessoa, enquanto o sofrimento emocional absorve sua atenção. Com o sofrimento talvez também haja considerável consciência

- Psicose: são pessoas cujo pensamento e comportamento são tão perturbados que não conseguem atender as demandas da vida diária. As pessoas psicóticas geralmente são isoladas do mundo e não podem distinguir o que é real e o que não é. O temperamento de alguns psicóticos é geralmente deteriorado. Por exemplo, alguns são desconfiados ou exaltados que não podem ter vida normal. Em alguns casos, as percepções, memória, raciocínio e/ou habilidades de comunicação são profundamente desordenadas. Dentro das psicoses esquizofrênicas podemos destacar ainda:

a) esquizofrenia simples: As perturbações mais acentuadas neste tipo de esquizofrenia afetam, principalmente, a emoção, o interesse e a afetividade. O indivíduo apresenta uma séria e gradual alteração em sua personalidade, com notável perda do interesse pelas coisas anteriormente merecedoras de mais atenção como, por exemplo, seu emprego, seus hobbies, seus hábitos favoritos, suas amizades, etc. Esta significativa mudança na maneira de ser da pessoa, quando não for devida ao uso e abuso de fortes drogas, deve ser um sinal de alarme aos familiares mais próximos.

Às vezes, devido algum erro cultural, os pais dos pacientes com Esquizofrenia Simples acreditam que esses sintomas iniciais de mudança de hábitos possa significar uma simples originalidade de adolescente ou alguma excentricidade própria da idade. É bom ter em mente que o comportamento sugestivo de um certo desleixo e negligência, uma indisposição passageira ou um momento de apatia pode representar, na realidade, sinais prodrômicos desta psicose.

Nas mulheres casadas podemos perceber apatia nas atividades domésticas e na atenção aos filhos e ao marido, porém, este desinteresse não é seguido por um juízo crítico adequado, como acontece na apatia das crises depressivas. O que se nota na Esquizofrenia Simples é mesmo um marcante embotamento afetivo. Dá-nos a impressão de uma mudança, algo súbito nas vocações e paixões dos pacientes, falta-lhes o entusiasmo necessário e o afeto desejável.

Diante dos acontecimentos do cotidiano e das pessoas de seus relacionamentos os esquizofrênicos com este tipo da doença podem demonstrar grande indiferença, insensibilidade e ausência de motivação. A esquizofrenia simples se caracteriza pelo desenvolvimento insidioso de condutas extravagantes, falta de habilidade para atender as solicitações sociais e declínio do rendimento global. As idéias delirantes e alucinações não são tão evidentes quanto em outros tipos de esquizofrenia, mas, o crescente empobrecimento social pode conduzir à vadiagem e o paciente torna-se absorto em si mesmo, inativo e sem objetivos.

b) esquizofrenia catatônico: a orientação no tempo, no espaço e em suas relações com as pessoas do ambiente está muito prejudicada, havendo inclusive, severa alteração da memória, da atenção e completa falta de interesse pelas ocorrências do mundo exterior. Foi nos catatônicos que Kraepelin observou a chamada desorientação apática, descrevendo-a como um estado especial em que o paciente está impossibilitado de perceber a significação do que vê e ouve, permanecendo durante semanas inteiras sem manifestar nenhuma preocupação sobre o lugar onde se encontra e quais são as pessoas que o cercam, ou há quanto tempo se acha internado no hospital.

c) esquizofrenia heberfrênica: costumam demonstrar certa desorientação em relação ao pessoal à sua volta e ao meio hospitalar, porém, podem estar mais bem orientados no tempo e no espaço.

d) esquizofrenia paranóide: costumam ter boa orientação no tempo e no espaço, mas estão desorientados em relação à própria situação. Em alguns casos, observa-se a chamada dupla orientação, comentada acima, percebendo uma orientação de caráter delirante ao lado da orientação correta. De qualquer forma, todos os tipos de esquizofrenia são acompanhados de prejuízo na consciência da própria situação de morbidade.

e) esquizofrenia esquizo-afectiva: quando ao sintoma esquizofrênicose associam a manifestações depressivas ou maníacas ou características das psicoses maniáco-depressivas. É menos gravee têm tendência a evoluir para surtos relativos curtos, o que possibilita à pessoa a manter-se ajustada a realidade fora dos surtos.

f) episódio esquizofrênico: quando há intensas manifestações de despersonalização e angústia;

g) esquizofrenia latente: Bleuler (Apud Bedani ) descreve a esquizofrenia latente, como um distúrbio mental que conteria, em germe, todos os sintomas e combinações de sintomas que estão presentes nos tipos manifestos de esquizofrenia. Os indivíduos desse grupo, apresentavam um comportamento social convencional e nunca manifestam-se seja um episódio psicótico bem definido, seja um rompimento substancial com a realidade. Porém, em camadas subjacentes de sua personalidade, seriam portadores de elementos de esquizofrenia.

h) esquizofrenia residual: predominam o isolamento social, comportamento egocêntricos, pensamento ilógico e ou afrouxamento das associações, embora possa haver idéias delirantes e alucinações.

REFERÊNCIAS

ANDERSEN, Roberto. Psicopatologia. Disponível em: <http://iupe.org.br.nrserver10.net/ass/psicanalise/psi-psicopatologia.htm>; Acesso em: 20 jun. 2008.

BALLONE, G. J. A Psicopatologia e o Modelo Médico - in. PsiqWeb, Internet. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/acad/psicopat.htm>. Acesso em: 20 jun. 2008.

BEDANI, Ailton. Breve história dos "Fronteiriços". Disponível em: < http://www.org2.com.br/histborders.htm>. Acesso em 23 jun. 2008.

FERNANDES, Flora. Psicopatologia. Diponível em: <http://www.psicologado.com/psicopatologia/introducao.php> . Acesso em: 23 jun. 2008.

JASPER, Jarl. Psicopatologia Geral: psicologia compreensiva, explicativa e fenomemológica. 8. Ed. São Paulo: Atheneu. 2003.

PAIM, Isaías. Curso de psicopatologia. 11. ed. rev. e amp. Sao Paulo: EPU, 1993.


Autor: Rosana Boechat


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