Psicologia da Educação



Para ser educador na contemporaneidade é preciso compreender como se dá o desenvolvimento humano e a sua importância nas mudanças que ocorrem para a formação da personalidade humana.

É preciso compreender a criança e o adolescente, seu crescimento mental ou seu desenvolvimento de condutas até a fase de transição constituída pela adolescência que marca a inserção do indivíduo na sociedade adulta. Jean Piaget criou uma psicologia nova, colocando-a no contexto geral da interação entre sujeito e meio.

Com os estudos a respeito do desenvolvimento infantil e da adolescência, o conceito de desenvolvimento foi mudando, quando se estuda as fases do desenvolvimento infantil e da adolescência, percebe-se que existem características comuns a cada faixa etária, o que leva pessoas a esperar respostas semelhantes entre as pessoas da mesma faixa etária.

Para o educador desenvolver da melhor maneira sua função é preciso que ele conheça alguns aspectos dos desenvolvimentos humanos, que são desenvolvimento biológico partindo de respostas gerais a respostas específicas, sendo um processo contínuo e ordenado, seu ritmo é constante, e que cada parte do organismo tem seu ritmo próprio de desenvolvimento.

Portanto, a psicologia da educação é uma disciplina que busca reconhecer e compreender as diferenças individuais vivenciadas no cotidiano das práticas educativas, procurando analisar o comportamento humano através de teorias diversas, além de estudar o desenvolvimento humano que se manifesta em múltiplos aspectos diferentes da vida humana que, entretanto, estão entrelaçados e são influentes entre si. Os aspectos são do:

- desenvolvimento físico: mudanças no corpo físico, cérebro, capacidade sensorial e habilidades motoras (aparato biológico);

- desenvolvimento cognitivo: mudanças na capacidade mental (aprendizagem, memória, raciocínio, pensamento e linguagem); e

- desenvolvimento psicossocial: mudanças na personalidade do indivíduo.

De acordo com Pichon (1980, p. 16), a aprendizagem é uma estrutura dinâmica em contínuo movimento que funciona acionada ou motivada por motivações psicológicas.

A aprendizagem inicia-se desde a vida intra-uterina do ser humano e se estende até a sua morte. Deste fato, podemos depreender quão importante ela se caracteriza, uma vez que irá acompanhar o indivíduo por toda a sua vida.

Convém salientar que a aprendizagem não é apenas um processo de aquisição de conhecimentos, conteúdos ou informações. As informações são importantes, mas precisam passar por um processamento muito complexo, a fim de se tornarem significativas para a vida das pessoas. Todas as informações, todos os dados da experiência devem ser trabalhadas, de maneira consciente e crítica, por quem os recebe.

Podemos descrever a aprendizagem de acordo com Schmitz (1982, p. 53) como "[...] um processo de aquisição e assimilação, mais, ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar e agir".

O autor ainda acrescenta (op. cit. p. 53) que alguns preferem definir aprendizagem como sendo a aquisição de novos comportamentos. O problema é que o termo comportamento geralmente é reduzido a algo exterior e observável. E, se limitarmos à aprendizagem ao observável, exclui-se dela o que tem de mais essencial: a consciência, a formação de novos valores, disposições e formas interiores de pensar, ser e sentir que se exteriorizam apenas em algumas atitudes e ações, mas nem sempre são imediatamente observáveis.

A criança vive basicamente no presente, ou seja, sua vida se realiza no plano atual. Seus objetivos são imediatos. Quando distraída, ela deixa um objetivo e passa para outro. Mas à medida que cresce, mas é afetada pelo passado e pelo futuro. As experiências do passado e as perspectivas do futuro irão ampliar seu mundo interior.

Piaget definiu uma nova concepção: o construtivismo, que ficou conhecido como Teoria Construtivista Interacionista, segundo a qual o conhecimento é construído ativamente pelo sujeito.

Para Piaget, a construção do conhecimento é equivalente ao processo biológico da assimilação do novo ao que já existe, por isso a teoria dos estágios cognitivos de Piaget se dá em quatro estágios:

- sensório-motor: dura do nascimento ao 24 mês de vida, a criança busca adquirir controle motor e aprender sobre os objetos físicos que a rodeiam. Esse estágio é chamado sensório-motor, pois o bebê adquire o conhecimento por meio de suas próprias ações que são controladas por informações sensoriais imediatas.

O estágio subdivide-se em até 6 subestágios nos quais o bebê apresenta desde reflexos impensados até uma capacidade de representacional do uso de símbolos.

As principais características observáveis durante essa fase que vai até os dois anos de idade da criança são:a exploração manual e visual do ambiente; a experiência obtida com ações, a imitação; a inteligência prática (através de ações); ações como agarrar, sugar, atirar bater e chutar; as ações ocorrem antes do pensamento; a centralização no próprio corpo; e, finalmente, a noção de permanência do objeto.

- pré-operacional: coincide com a fase pré-escolar e vai dos 2 anos de idade até os 6 anos de idade.

Nesse período, as características observáveis mais importantes são: inteligência simbólica; o pensamento egocênctrico, intuitivo e mágico; a centração (apenas um aspecto de determinada situação é considerado); a confusão entre aparência e realidade; a noção de irreversibilidade; o raciocínio transdutivo (aplicação de uma mesma explicação a situações parecidas); a característica do animismo (vida a seres inanimados).

As maiores limitações desse período são a centração, a irreversibilidade, o egocentrismo, a transdução e a confusão aparência/realidade. Inteligência simbólica ou intuitiva.

- operações concretas: dura dos 7 aos 11 anos de vida, a criança começa a lidar com conceitos abstratos como os números e relacionamentos. Esse estágio é caracterizado por uma lógica interna consistente e pela habilidade de solucionar problemas concretos.

Por volta dos 7 anos, o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação torna-se mais estável; surge a capacidade de se fazer análises lógicas; a criança ultrapassa o egocentrismo, ou seja, dá-se um aumento da empatia com os sentimentos e as atitudes dos outros; mesmo antes deste estágio a criança já é capaz de ordenar uma série de objetos por tamanhos e de comparar dois objetos indicando qual é o maior, mas ainda não é capaz de compreender a propriedade transitiva. No início deste estágio a criança já é capaz de compreender a propriedade transitiva, desde que aplicada a objetos concretos que ela tenha visto; começa a perceber a conservação do volume, a massa e o comprimento.

- Operatório formal ou operacional formal: acontece dos 12 anos em diante. O desenvolvimento macroscópico do cérebro e das micro-redes neurais nessa fase já é praticamente satisfatório. A principal aquisição desse período é aprender a pensar e lidar com as idéias e objetos. A criança começa a considerar conscientemente as coisas imaginárias e as possíveis, torna-se capaz de lidar com os problemas de forma sistemática e metódica.

Nessa fase acrescenta-se ao pensamento indutivo, a recém criada lógica dedutiva, e é quando se tornam mais evidentes os eventuais déficits de desenvolvimento intelectual. 

Para acontecer o aprendizado, é necessária certa maturação. Sem esta, qualquer tentativa de se ensinar algo pode provocar frustração, alta ansiedade, rebaixamento da auto-estima e nada de aprendizado. O desenvolvimento mental acontece primeiro pelas relações sociais e passa para os conhecimentos surgidos na relação como o meio.

Os processos de desenvolvimento e aprendizagem e suas relações interligadas são o foco central do pensamento de Vygotsky. Tendo como base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, postulou que a interação do sujeito com o mundo se dá através da mediação feita por outros sujeitos. Deste modo, o docente faz sua interferência na zona proximal.

De acordo com Galvão (2000, p. 134), Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os outros são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos três anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos formato e expressão.

Wallon propõe estágios de desenvolvimento de acordo com Galvão (op.cit.), no primeiro ano de vida, a criança interage com o meio regida pela afetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional, definido pela simbiose afetiva da criança em seu meio social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio-afetivo, os significados próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua relação com o mundo.

Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do mundo social e físico. No estágio sensório-motor, permanece a subordinação a um sincretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está presente). Neste estágio predominam as relações cognitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sincretismo como sendo a principal característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão.

Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os significados diferenciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do "meu/minha", faz com que as idéias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo de formação da personalidade.

Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pessoais, morais, predominando a afetividade. Ainda conforme Galvão é nesse estágio que se intensifica a realização das diferenciações necessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretismo e o estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no qual está inserida a criança.

A escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o procedimento de aprendizagem, com isso, o professor tem o papel explicito de intervir neste procedimento, provocando avanços nos alunos. Portanto, o desenvolvimento mental só pode realizar-se por intermédio do aprendizado, resultante do processo de aprendizagem.

Sendo assim, entende-se que o novo posicionamento da educação deve levar o sujeito a uma construção ativa de seus conhecimentos. As influências do meio social são aspectos fundamentais no processo de ensino, pois, por intermédio das diferenças individuais e do conhecimento formalmente, há a apropriação de novos conhecimentos.

Porém, eles devem ser transmitidos de forma ética e coerente por parte dos professores, cumprindo assim, a função a qual a educação se vincula a socialização.

REFERÊNCIA

BECKER, Fernando. Educação e Construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001.

DANTAS, Heloysa. A infância da razão. Uma introdução à psicologia da inteligência de Henri Wallon. São Paulo: Manole, 1990.

FLAVELL, John H. A psicologia do desenvolvimento de Jean Piaget. São Paulo: Pioneira, 1975.

MUSSEN, Paul H. O desenvolvimento psicológico da criança. São Paulo: Zahar, 1972.

PICHON-RIVIÈRE, Enrique. Teoria do Vínculo. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

SCHMITZ, Egídio Francisco.Didática Moderna: Fundamentos. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1982.

TELES, Antônio Xavier. Psicologia Moderna. São Paulo: Ática, 1990

VYGOTSKY, LEV S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.


Autor: Rosana Boechat


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