FATORES DE ATENÇÃO NA OPERAÇÃO DE SEMEADURA



Afonso Peche Filho*

As questões ligadas ao bom andamento da operação de semeadura têm ligações que muitos agricultores nem imaginam, principalmente nas operações realizadas para produzir commodities como é o caso da soja, do milho e do algodão. Em negócios envolvendo esses produtos a chave do sucesso está na construção de lavouras produtivas, rentáveis e competitivas no mercado internacional. A implantação de lavouras competitivas passa por entender muito bem o que significa praticar eficácia e eficiência. Praticar eficiência é realizar certo as operações, praticar eficácia é realizar operações certas.

A eficiência operacional da semeadura esta relacionada com a capacidade do conjunto semeadora/trator/operador de construir linhas com fertilizantes e sementes dosados, posicionados e cobertos atendendo a um padrão fiel da prescrição agronômica para a cultura; sem levar em conta as variações de solo e clima. A eficácia operacional da semeadura esta relacionada com as condições em que as máquinas foram ou estão sendo disponibilizadas para o trabalho bem como com a capacidade profissional do operador.

Outro ponto muito importante, relacionado com as operações eficientes está ligado com a gestão operacional, ou seja, questões relacionadas com a administração, com o gerenciamento e com a execução da operação. Didaticamente podemos definir que a gestão administrativa da operação está ligada as questões burocráticas, como é o caso do planejamento, orçamentação, controles, compras etc.; gestão gerencial da operação está ligada a liderança, a condução, ao acompanhamento, as decisões etc.; a execução operacional está ligada a tática, ao jeito, ao funcionamento, a realização. A qualidade na gestão operacional da semeadura é que faz a grande diferença na eficiência e competitividade das lavouras.

A busca pela competitividade e eficiência induz a uma analise mais ampla de todo o processo operacional permitindo visualizar os produtos positivos e negativos, como positivos obviamente os acertos e o atendimento pleno da prescrição agronômica, como produtos negativos temos que admitir que produzimos defeitos, falhas, desperdícios, perdas entre outros, e consequentemente permite visualizar também ações de gestão para minimizar ou solucionar cada um desses problemas. Num enfoque mais holístico podemos admitir que a operação de semeadura produz seguimentos de linha contendo falha de sementes, falha de fertilizantes, falhas de sementes e fertilizantes, mistura de sementes com fertilizantes, sulcos abertos, sementes descobertas, enfim uma série de defeitos que precisam de gestão para serem minimizados contribuindo para um balanço bem positivo da operação. O enfoque sistêmico permite analise em pontos considerados importantes na busca do aprimoramento do operacional da semeadura. Neste enfoque a semeadora deve ser analisada como um conjunto de componentes interagindo dinamicamente com os insumos num rítimo operacional imposto pelo operador.

Na verdade uma semeadora clássica, como é a para plantio direto; é um sistema composto por conjuntos de componentes com funções bem diferenciadas, cada qual interagindo com insumos e ambiente de maneira totalmente diferente produzindo efeitos para construção da linha de plantio. Cada um destes conjuntos deve ter estratégias e táticas diferentes de gestão voltada para a eficiência e competitividade.

Uma semeadora é uma máquina que apresenta pelo menos 10 conjuntos de componentes e cada um deles permite elencar fatores de atenção para uma gestão operacional eficiente e competitiva.

1 – O conjunto para acoplamento e transporte normalmente apresenta componentes para engates mecânicos, engates hidráulicos, chassi e rodados. Nos engates mecânicos a atenção deve recair para a condição das travas e presilhas de segurança. Nos engates hidráulicos é importante atenção para as condições de vedação dos protetores machos e fêmeas, na verificação do estado funcional das travas de segurança, na verificação de fadiga e desgastes em molas e esferas de aço e muita atenção para ações de controle da queda e principalmente o aumento da pressão hidráulica. Com relação ao chassi a atenção é voltada para o funcionamento pleno dos componentes de apoio e descanso bem como atenção e inspeção constante da pressão dos cilindros levantadores e componentes de fixação, desgastes e pressão dos pneus de transporte. Foto 1.

2 – Para corte da palha e restos vegetais a semeadora apresenta um conjunto composto pelo disco de corte, eixo e rolamentos de fixação, molas tensoras, peças de articulação e fixação. Os fatores de atenção para pleno funcionamento recaem sobre checagem de desgaste e fadiga dos componentes ativos como o disco, molas e rolamentos bem com inspeção de desempenho do giro livre do disco e facilidade de manipulação dos componentes de articulação e fixação.

3 – Normalmente as semeadoras de plantio direto para realizar a fertilização na linha de plantio apresentam um conjunto composto por facão rompedor de solo, tubos ou discos posicionadores, dosadores e deposito de fertilizantes. Alem do funcionamento e regulagem correta dos dosadores alguns fatores de atenção são fundamentais para o sucesso da operação: a profundidade do rompedor de solo não deve ultrapassar dez centímetros para não provocar grandes fissuras e a formação de torrões na linha de plantio, alem de inspeção no giro livre de discos sulcadores responsáveis pelo posicionamento do fertilizante no solo.

4 – Com relação ao conjunto de componentes responsáveis pela dosagem, distribuição e posicionamento de sementes, os fatores de atenção recaem para as condições de funcionamento pleno do dosador, visto que, pequenas peças que o compõem (molas, injetores e a raseadores) sofrem, alem de fadiga, constantemente da aderência de partículas oriundas do tratamento químico das sementes prejudicando progressivamente o desempenho dos mesmos ao longo da jornada de trabalho; um outro fator de atenção importante é a verificação do nível de danos sofridos pelas sementes que passam pelo dosador, podendo ser classificados como danos visíveis e invisíveis, danos visíveis são quebras, trincas e traumatismos vistos a olho nu nas sementes, danos invisíveis são traumatismos imperceptíveis causados pelo mecanismo dosador que prejudicam a germinação das sementes ou mesmo produzem plântulas debilitadas. É sempre bom lembrar como fator de atenção a posição da semente em relação ao fertilizante, ela deve estar sempre acima e ao lado da linha de fertilização.

5 – A roda estabilizadora de profundidade é um importante fator de atenção, pois o seu desempenho influencia diretamente na qualidade de implantação da lavoura, portanto a checagem de seu desempenho em giro livre antes de iniciar os trabalhos é fundamental. O acompanhamento com inspeções freqüentes durante toda a jornada de trabalho passa a ser um forte fator de atenção pelo gerente e principalmente pelo operador.

6 – O exame para avaliação dos diferentes tipos de molas que compõem uma semeadora é também um fator de atenção que deve ser trabalhado no momento da revisão anual de manutenção. Toda mola ao longo do tempo vai perdendo sua capacidade de expansão e compressão, esse fenômeno é conhecido como fadiga e tira a versatilidade da mola em manter a posição do componente depois de regulado. Normalmente utilizamos dos pesos (lastros) dos tratores para avaliar a capacidade de expansão.

7 - O conjunto de componentes responsáveis pelo fechamento e compactação do sulco de plantio também são considerados como fator de atenção. Composto basicamente por mecanismos de regulagens e roda de solo, esse conjunto é responsável pela uniformidade de germinação das sementes bem como pela qualidade da emergência das plantas. O exame freqüente das condições dos componentes de regulagens é fundamental, pois os mesmos sempre trabalham forçados e em condições adversas, o mesmo procedimento serve para monitorar as condições operacionais da roda de solo ou compactadora.

8 – Os mecanismos de transmissão compõem um importante conjunto de componentes responsáveis pela harmonização entre a velocidade operacional, o funcionamento de dosadores e o fluxo de fertilizantes. O exame freqüente do estado de funcionamento de correntes, engrenagens, buchas e rolamentos é outro fator de importância, pois um pequeno defeito pode causar um prejuízo enorme, comprometendo a eficiência do plantio e da lavoura. É sempre bom lembrar que a escala operacional da semeadora é métrica, ou seja, as linhas de plantio vão sendo construídas metro a metro, defeitos de transmissão comprometem a qualidade do plantio produzindo falhas, uso inadequado e desperdícios tecnológicos.

9 – A lubrificação adequada dos diversos componentes de uma semeadora é também realizada por um sistema composto por um conjunto de componentes isolados ou interligados que promovem a redução do atrito e desgaste prematuro das peças ativas. Da mesma forma que a transmissão, defeitos de lubrificação aparecem metro a metro provocam avarias de grande intensidade no desempenho da máquina e na qualidade do plantio. O fator de atenção recai na constante verificação do desempenho funcional de bicos graxeiros, retentores e vedação eficiente de tampas e caixas de graxas.

10 – A presença, integridade e pleno funcionamento dos marcadores de linhas também é fator de atenção, pois esses componentes são imprescindíveis para o alinhamento e paralelismo de linhas, contribuindo assim para aproveitamento eficiente da área e construindo passagens eficientes para operações subseqüentes como é o caso de pulverizações e aplicação de fertilizantes em cobertura.

11 – A opção pela utilização de insumos de qualidade comprovada é uma garantia de lavouras eficientes e competitivas. Critérios para seleção e escolha de fornecedores de sementes, fertilizantes e lubrificantes é o principal fator de atenção para a gestão da qualidade de insumos.

12 – A preparação do operador com profissionalismo é sem dúvida nenhuma de suma importância, principalmente no que se refere à capacitação para desenvolver o trabalho com dedicação voltada para a eficiência, qualidade e competitividade.

Finalmente podemos concluir que outros fatores de importância existem e que a incorporação deles na rotina operacional é estratégico para o aprimoramento contínuo da qualidade e consequentemente melhoria da eficiência e competitividade da mecanização agrícola.


Autor: Afonso Peche Filho


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