OS TRÊS JAGUNÇOS E EU



No final da minha infância, ouvi falar de Tião, Chico e Benedito, três jagunços conhecidos como os pistoleiros mais perigosos de todo o nordeste. Eles não somente assaltavam bancos e lojas, como também aterrorizavam pessoas por onde passavam. Durante toda a minha adolescência, li nos jornais e ouvi através de programas de rádio, atrocidades suas, assassinatos sem motivo algum. Tudo aquilo me deixava triste e eu pensava: Será que esses homens não têm sentimento?

Tornei-me jovem, deixei o Rio de Janeiro e vim para o município de Aracati, no Ceará, quando o que eu mais temia aconteceu. Certo dia, eu caminhava apressadamente para minha casa, quando encontrei os tais jagunços. Ao ver-me, perguntaram-me: Aonde você pensa que vai, seu moleque? Fiquei trêmulo, o chão parecia que tinha desaparecido e meu coração bateu mais forte. De repente, uma súbita coragem se apoderou de mim e eu decidi, no ápice da minha " insanidade temporária ", enfrenta-los.

_ Olha aqui, seu lampião ou seja lá o que for; o que vocês pensam que são para amedrontar a todos que cruzam o vosso caminho?

_ Você não sabe quem somos nós?

_ Sim, eu sei; homens infelizes que tiram a vida do próximo. Sim, eu sei quem são vocês; homens maus que dão uma de durões, mas que na realidade são seres-humanos que carecem de amor e paz interior. Vocês não são o que aparentam ser, são na verdade homens bons que perderam a direção da vida, mas que para ela retornarão um dia.

Os três jagunços me olharam, armados até os dentes. Chico então se pronunciou:

_ Vamos matá-lo, Tião?

   Tião, o líder, respondeu:

_  Como é que eu posso mata-lo, se ele tem razão? Nós estamos errados mesmo. Já matamos muita gente e isso só nos trouxe insatisfação interior. Somos vazios e solitários. Eu estou cansado desta vida, vou viver com dignidade a partir de agora. Obrigado moço, ninguém nunca falou desse jeito conosco; todos fogem de nós e nos temem, mas você nos mostrou a realidade daquilo que somos e do que nos tornamos.

   E assim, Tião deixou o bando e foi criar gado em Sobral, município do Ceará. Benedito e Chico retornaram para suas famílias e passaram a viver com dignidade.

   Nunca me esqueci daquele momento. Hoje, com 34 anos de idade, ainda mantenho contato com eles.

   A lição que aprendi com tudo isso, é que não devemos temer a nada e a ninguém, somente a Deus; que não importa o que tenhamos de enfrentar, contanto que sejamos fortes, decididos e perseverantes.

   Os três jagunços desta estória, simbolizam as dificuldades da vida, dificuldades que nos massacram e nem se quer temos coragem de dizer: Chega por aqui, a partir de agora eu dou as coordenadas; minha vitória virá, e vocês serão tão somente um passado distante.     


Autor: ROGÉRIO RAMOS


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