Bancos no Brasil: concentração e desequilíbrio
No entanto no Brasil, vem sendo difícil defender a bandeira dos bancos como mocinhos da história.
Um estudo divulgado pelo Ipea (Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada) em 07 de abril só dificulta o discurso.
De fato, o sistema bancário nacional continua concentrado e desigual, apesar do processo de privatização na década de 1990, dos avanços da tecnologia e da maior presença estrangeira. Isso se reflete em taxa de juros elevadas nas operações de crédito no Brasil, uma das maiores do mundo. É o que mostra estudo que identifica 505 municípios no país sem presença de instituições financeiras.
Denominado "Transformações na indústria bancária brasileira e o cenário de crise", o levantamento do Ipea mostra que a taxa de juro real praticada nas operações de crédito a pessoas físicas no Brasil chega a ser quase 10 vezes maior do que a de outros países.
No caso dos empréstimos pessoais feitos pelo HSBC, no Reino Unido, o juro real é de 6,60% anuais, em média, enquanto no Brasil a taxa praticada pelo mesmo banco chega a 63,42% ao ano, por carregarem custos como os juros adicionados aos serviços administrativos, riscos de inadimplência, margem de lucro e tributação. Outro exemplo apontado pelo Ipea é o espanhol Santader que pratica juros de 10,81% anuais na Espanha e de 55,74% no Brasil. Os bancos nacionais não ficam atrás. O Banco do Brasil, a maior instituição pública no país, aplica juros de 25,05%. Já o Itaú concede os financiamentos com custo de 63,25%.
O estudo mostra que a concentração é um dos problemas do sistema bancário brasileiro. A participação dos 20 maiores bancos em operação no Brasil saltou em dez anos (entre 1996 e 2006) de 72% para 86% dos ativos bancários. E as instituições ficaram concentradas nas regiões Sul e Sudeste, que representam 84% do crédito bancário (dados de 2006). Isso mostra um salto de 15,9% sobre a parcela observada em 1997, de 73%.
Paralelamente, no mesmo período, nas regiões norte, nordeste e centro-oeste houve redução de 41,4% na participação relativa do total de crédito bancário, de 27,8% para 16,3% do total nacional.
Segundo o trabalho, o número de bancos no Brasil caiu de 230 para 156 entre 1996 e 2007. Já a participação das 20 maiores instituições financeiras no total de ativos do sistema subiu de 72% para 86,4% entre 1996 e 2006. De acordo com o Ipea, essa concentração reflete, em boa medida, a redução da presença de bancos públicos, que encolheram de 32 para 13 entre 1996 e 2007. A participação dos bancos públicos no total de ativos do sistema caiu de 50,9% para 29,6% entre 1996 e 2006.
O Ipea diz que a redução da importância dos bancos públicos no Brasil reflete uma tendência mundial, que levou a privatização de 250 instituições financeiras entre 1987 e 2003. Esse movimento, de acordo com o texto, expressou a visão predominante da "superioridade das forças de mercado" e da "ineficiência de bancos públicos." No Brasil, o Tesouro Nacional destinou US$ 50,739 bilhões ao saneamento de bancos estaduais insolventes. Na maior parte dos casos, exigiu dos Estados a extinção ou a privatização das instituições financeiras problemáticas, com o objetivo de evitar o surgimento de novos desequilíbrios e esqueletos.
"Concomitante com a diminuição do papel do Estado na indústria bancária nota-se mudança no padrão de competição no Brasil", diz o estudo. Uma evidência disso, sustenta, é a queda na relação entre o número de agências e a população. Até a década de 1980, diz o Ipea, havia uma agência bancária para cada 8 mil habitantes; em 2007, essa relação passou a ser de uma agência para cada 10 mil habitantes. Além disso, diz o trabalho, as agências bancárias se concentraram nos Estados mais ricos do país.
Segundo o Ipea, hoje existem 156 instituições financeiras no País (2007), número menor que os 230 observados em 1996.
O instituto mostra também que o sistema bancário no Brasil ainda é pequeno diante de outros países como a Alemanha que tem 2.130 mil empresas e Estados Unidos, com 7.282 mil. E que há concentração em São Paulo. Apenas a capital paulista responde por 62,7% do total de bancos em operação, ou 99 organizações. O peso dos bancos públicos nas operações de crédito no país também foi reduzido, caiu de 58,1% em 1996 para 31,9% em 2006.
Dados como esses reforçam a visão de que o sistema bancário brasileiro é "fechado", avesso a concorrência e insensível às demandas de recursos da sociedade. Infelizmente a realidade acaba por galvanizar no inconsciente coletivo da sociedade que os bancos são vilões do desenvolvimento econômico, preocupados apenas em gerar lucros gigantescos sem nunca dividi-los com a sociedade.
Sabemos que esse quadro não é verdadeiro, e um economia sem bancos é virtualmente impossível..
Mas, com o "empoçamento da liquidez" e o aumento das taxas de juros, defendê-los vira bandeira que nem o mais liberal dos economistas parece disposto em levantar.
Bibliografia:
Jornal do Brasil de 08 de abril de 2009
Jornla Gazeta Mercantil de 08 de abril de 2009
Jornal Valor Econômico de 08 de abril de 2009
Autor: Alexsandro Rebello Bonatto
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