APENAS UM NICKNAME



O desejo de isolamento físico de mulheres motivadas pela solidão e pela tristeza de não serem amadas por si mesmas, por seus interiores vezes inseguros e indefesos, que a vida cá fora as obrigam a inventarem-se corajosas, fortes, determinadas, dando a isso um certo rebusque de domadoras, as fizeram descobriu o fascínio do mundo virtual, as salas de bate papo, especialmente as de Encontros e assim passaram a viver horas de suas existências plantadas à frente de uma maquina de grande ou pequeno porte, um PC, um notebook, ou outra que o valha, mas que lhes dêem condições de se relacionarem, de alguma forma, com outras pessoas mundo afora, que mesmo distante estão sempre perto.

E muitas delas vão ali para descansar da labuta do dia-a-dia e amenizar os percalços de suas realidades cotidianas. E o fazem loroteando, prozeando, jogando bobagens umas com as outras, colando midis, fugindo assim das intempéries existenciais. Outras buscando relacionamentos amorosos onde tudo acontece, até o “sexo de letrinhas” que fica por ali mesmo ou sai para o real de suas vidas.

E essa brincadeira, esse lazer, esse divertimento especial, essa molecagem se torna veementemente um hábito de todos os dias, de todas as noites, de todas as madrugadas preenchendo assim seus dias vazios de emoções.. sem vida. Com isso, vão se esquecendo da falta do que antes lhes afligia .. o contato físico, o aconchego de um carinho, de um olhar de ternura, de um toque de mão.. de um beijo; uma simples companhia ou um amor verdadeiro. E as palavras escritas substituem os atos e as teclas expõem suas frias emoções.

Nessa convivência nem sempre há a necessidade do conhecer-se fisicamente porque já se fica cativado pela mera forma de estar e quando muito se arvora a uma ligação telefônica. Mas na maioria das vezes desliga-se o computador e a lenda se desendereça. Fazem-se amigas que em sua maioria se perdem dentro de seus tempos, afazeres e espaços, na memória de suas máquinas.

Elas se põem num grande picadeiro onde, ao mesmo tempo, são atrizes e platéias. São seres que formam o desconhecido conhecido na roupagem de suas faculdades imaginativas, o ser novo com seus mistérios camuflados, escondidos sob nicknames. Nicknames frutos de uma fértil imaginação, um engano dos sentidos, saídos do fundo de seus desejos e encontrados nas salas de bate papo de encontros. Nickname, pedaço entranhado, ocultado, não liberado vivo apenas em remotas fantasias. Uma descoberta ao acaso ejaculada no nome, no login, escancarada, quem o usa, num novo mundo, no momento irrefutável de uma navegação. Isenção fatal de devaneios. Entrega sem talvez, sem depois vivida intensamente no célere tempo da ilusão, da imaginação dessas habitantes das salas de Encontros, pelo querer fazer acontecer e fazer valer a pena acontecer porque o que de real existe, nesse mundo de beleza fantasiada pelo convívio ilusório de mulheres carentes é APENAS UM NICKNAME!
Autor: Maria do Carmo Costa


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