Saudades dos Tempos da Guerra Nuclear



Em Fevereiro de 1984 ao sair de uma sessão de cinema nos meus antigos(?) 25 anos escrevi este poema.
O filme me marcou tanto a ponto de duas quadras afrente eu ainda não conseguir pronunciar nem mesmo uma palavra, era um verdadeiro zumbi juvenil.
O filme em questão era "The Day After (O Dia Seguinte), os que o viram e lembram provavelmente tiveram a mesma reação que tive.
Aos que não viram, o mesmo tratava do assunto mais temido da época, a Guerra Nuclear.
Hoje, porém, revirando minhas anotações em minhas gavetas desarrumadas minha reação a tais linhas foi no mínimo tosca.
Paro e analiso que realmente o que é a Guerra Nuclear hoje?
Somente uma lembrança distante, um medo esquecido.
Pra mim, e muitos cariocas ou brasileiros não é nada perto da guerra urbana diária a qual se submetem a cada saída de casa.
Cada ida e vinda é comemorada como um renascimento; Sim, escapei, retornei a minha trincheira sem ser abatido pelo inimigo.
Me remeto com este poema a tempos passados, saudosistas, quando em meus medos da juventude a única temeridade era a Bomba Nuclear.
Que saudades destes tempos, onde não existiam balas perdidas zunindo a cada esquina, sequestros eram de pessoas abastadas, poderosas e não relâmpagos que somem com pessoas comuns somente por retirar seus míseros trocados da maquininha eletrônica.
Gangues eram coisas de filmes da máfia, crack(craque)indiferente da grafia era um bom jogador de futebol, Ar-15, Glock, eram palavras usadas pelos policiais da S.w.a.t. no seriado americano, balas à esmos eram doces destribuídos no dia de Cosme e Damião.
Quem diria que com 25 anos meu medo era uma bombinha sem sentido?
Socorro, quero voltar aos meus medos juvenis que pareciam pra mim o fim do mundo, nunca imaginei que hoje aos 40 estaria no próprio Fim do Mundo.
Socorro.
Seguem abaixo as minhas palavras que me chocaram tanto na época.(tolinha!)

The Day (O Dia-A bomba zomba da tonta pomba)

Pais,

País,

Paz.

Na praça que passa,

O velho vejo.

Baba na barba.

Branco no banco.

Espera o fim da esfera.

A guerra que ferra,

Que fere a Terra.

Que espera sentada,

Sem nada,

Quase acabada.

Aniquilada.

De repente

Um tremor sente.

Explode.

Acaba com o que pode.

(E com o que não pode)

Lindo é o desenho no ar,

Mas não consigo mais respirar.

Aquele que a vê,

Nunca mais poderá ver.

Aquele que escuta,

Tem uma vida curta.

Acaba ali,

Sem nada ouvir.

O que viveu,

Inveja o que morreu,

Pois além de tudo ter escapado,

Fica mudo, ali sentado.

Esperando ela,

Aquela leve,

Escura mas clara,

Chumbo ou neve?

Como deve ser ela?

A radiação.

Como um som

Ocupa o espaço,

Por ela passo,

Passo a passo.

Nada faço.

Já está em mim

E é o fim até o fim.

O que resta não presta.

Contaminado ou aniquilado.

Quem foi o primeiro?

O segundo?

O terceiro?

Tinha terceiro??

Resumo do mundo

Agora imundo.

A pomba não venceu a bomba.

A bomba zomba da tonta pomba.

(Por que não, a pomba zomba da tonta bomba que tomba?).

Quero ar,

Quero respirar,

Quero o mar,

Quero escapar,

Quero me retirar,

Quero parar,

Não quero esperar

O mundo acabar,

Com a terrível.

Guerra Nuclear.

escrito em 24.02.84


Autor: Fabiana Guaranho


Artigos Relacionados


A Vida Em Sua Complexidade

Em Algum Lugar Do Passado

Poetas CntemporÂneos

Teus Olhos

Apaixonados

O Âmbar Como Instrumento Para Inferências Paleoecológicas

Educar é Se Realizar