Resenha do livro QUINTAL MÁGICO – EDUCAÇÃO-ARTE NA PRÉ-ESCOLA.



Nesse livro a jornalista Dulcília Shroeder Buitoni faz um relato sobre a pré-escola que seus próprios filhos freqüentaram (vivenciaram). O termo "pré-escola", no entanto, é limitado pelo entendimento que a maioria de nós tem dessa palavra, para descrever o espaço de arte, brincadeiras, vivência intensa com a natureza e as pessoas, entre outros tantos nomes que poderiam ser dados à prática pedagógica na Te-Arte.

O livro descreve a "pré-escola" Te-Arte, no início da década de 1980, porém, ela existe desde 1975. E traz ainda a biografia de Tereza Soares Pagani, a Terezita, fundadora da Te-Arte, além de depoimentos de alguns colaboradores e algumas mães (muitas delas estagiaram na Te-Arte e se tornaram educadoras).

A autora nos apresenta um lugar simples, porém cheio de importância e de significados, que é o "quintal mágico", espaço externo da Te-Arte, onde as crianças (0-6 anos) passam quase todo o tempo, ficando os espaços internos apenas para dias chuvosos ou de intenso frio e algumas outras atividades.

O que faz do quintal mágico ser tão especial são suas próprias características: areia, terra, árvores, desníveis, obstáculos, além da importância que os educadores dão a esse espaço e da maneira como o utilizam para educar as crianças. Enfim, trata-se de um quintal "à moda antiga", só encontrado em raras residências das grandes cidades, ou com mais freqüência, no interior de nosso imenso país. A Te acredita que a educação infantil deve ser vivida de maneira plena, intensa, livre. É preciso, segundo ela, proporcionar à criança o contato com a natureza e seus elementos: ar, terra, fogo e água. Essa sua concepção de educação infantil valoriza a infância como momento único, que deve ser vivido como tal. Na Te-Arte a criança pode se expressar livremente, são respeitados seu tempo, seu jeito, seus limites, ao mesmo tempo em que são estimulados o bom convívio e a interação social.

A liberdade que se dá para a criança não é simplesmente deixa-la solta e esperar o tempo passar. Pelo contrário, a Te e todos os profissionais tem embasamento teórico e objetivos quando estão em contato com as crianças, sem esquecer do afeto e cuidado, essenciais nessa fase. A Te sempre afirma que o brincar é o trabalho da criança. É brincando que a criança aprende e se desenvolve. Não adianta "forçar a barra" e querer que a criança fique presa a uma cadeira, em uma sala fechada, fazendo exercícios de coordenação motora fina, ou pintando desenhos prontos, quando o que ela quere precisa é brincar, de preferência em um grande quintal. O melhor a fazer, nessa fase, é respeitar a criança e seu momento e deixa-la brincar de todas as maneiras: correr, pisar na terra, fazer bolinhos de areia, mexer na água, criar, fazer desenhos, bonecos de argila, dançar, cantar, imaginar. As atividades artísticas também têm um sentido único na Te-Arte. Lá a criança "faz arte" não para mostrar aos pais e à sociedade, mas como processo de livre-expressão da sensibilidade, do brincar, do prazer.

Tereza afirma que se a criança vivenciar seu tempo de infância não terá problemas com a alfabetização ou para acompanhar qualquer tipo de ensino, seja tradicional ou mais inovador. Aliás, a Te também dá aulas de letrinha (alfabetização), em outro período (á tarde), para crianças que queiram e estejam prontas. Isso é respeitar a criança.

Outro aspecto que deve ser destacado é a inclusão de crianças com deficiência, que foi prática desde o início da Te-Arte, em uma proporção de uma criança com deficiência para dez crianças sem deficiência, sempre no mesmo espaço: na grande maioria das vezes, o quintal. Os educadores e os pais afirmam que essa convivência é muito rica não somente para o desenvolvimento da criança deficiente, como também para todas as demais crianças, os próprios pais e educadores que aprendem a lidar com a diferença. O fato de crianças menores conviverem com as maiores também diferenciavam a Te-Arte das outras escolas, além de contribuir muito para o crescimento de todos, pois cada idade traz em si uma riqueza e peculiaridade única, além das características de cada indivíduo.Aliás, a convivência de crianças de idades diferentes em um mesmo espaço as deixa livres para decidir de qual grupo se aproximar, de qual atividade participar, ou mesmo se querem somente observar. Esse contato é muito importante pois possibilita que até mesmo irmãos se relacionem livremente em um espaço fora do lar.

Embora "Quintal Mágico" pareça ser simples, e é, não quer dizer que as crianças não são constantemente observadas, cuidadas, respeitadas e estimuladas, visando sempre seu pleno desenvolvimento. Nesse aspecto é importante destacar que nem todas as pessoas que iniciaram o trabalho com crianças na Te-Arte tinham formação pedagógica. Lá trabalhavam profissionais das mais diferentes formações acadêmicas e até mesmo sem formação acadêmica. Mas, não sem antes passar por um rigoroso estágio e entrevista. E era um trabalho tão intenso, que todos "botavam a mão na massa", ou seja, se sujavam de barro, andavam descalço, trocavam fraldas, brincavam com as crianças, enfim, não havia hierarquia, era um trabalho inteiro, completo.

Além disso, a Te sempre procurou se conhecer, fazer terapia e exigia o mesmo das pessoas que trabalhavam com ela, pois segunda a própria Te, antes de trabalhar com criança, é necessário se conhecer, conhecer seus limites, dificuldades e potenciais. O cuidado era tanto, que se ela percebia que um educador não estava bem, nesse dia ele não trabalhava com as crianças. Além de toda essa preocupação com cada educador, havia a preocupação do relacionamento entre a equipe. Por isso, semanalmente havia reuniões onde se discutia o dia a dia da escola e o relacionamento entre professores, alunos e pais.

Portanto, na Te-Arte, por trás de um espaço simples, repleto de terra, areia, árvores, plantas, desníveis, brinquedos, construções coletivas de casinhas, rios, bancadas, etc...,havia uma concepção de infância que valorizava o contato com a natureza, as brincadeiras, as artes, aconvivência. Tudo isso repleto de cuidado e profissionalismo que fez de "Quintal Mágico" um espaço único de desenvolvimento pleno de cada criança que pode frequentar a Te-Arte.


Autor: Cristina Soares da Fonseca


Artigos Relacionados


A Importância Da Arte No Processo Educativo

A Perspectiva Construtivista De Ensino

O Papel Do Professor De Educação Infantil

O Brincar Na Educação Infantil

A Importância Do Lúdico No Desenvolvimento Da Criança

Os Jogos Na Clínica Psicopedagógica

As Dificuldades De Leitura E Escrita Nas Séries Iniciais