DOENÇA DE ALZHEIMER COMO A PRINCIPAL CAUSA DE DEMÊNCIA NOS IDOSOS E SEU IMPACTO NA VIDA DOS FAMILIARES CUIDADORES



DOENÇA DE ALZHEIMER COMO A PRINCIPAL CAUSA DE DEMÊNCIA NOS IDOSOS E SEU IMPACTO NA VIDA DOS FAMILIARES CUIDADORES

Karina Prado de Araújo[1]

Vanni de Jesus Silva2

Jackson Weliton Teixeira de Souza 3

Maria Madalena Matos Torres4

Resumo: O envelhecimento é inevitável e condiciona o ser humano a um progressivo decréscimo nas funções fisiológicas, em particular as funções cerebrais, favorecendo o aparecimento de transtornos mentais típicos e mais comuns da velhice como a demência, depressão, ansiedade, delirium e transtornos psicóticos segundo Filho e Netto (2006). A demência apresenta prevalência muito alta na população idosa, dobrando a cada cinco anos após os 65 anos de idade. Definida por Filho e Neto (2006), como uma síndrome com múltiplas causas, sendo a Doença de Alzheimer (DA) a principal causa de demência em idosos. O presente artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre a Doença de Alzheimer e seu impacto sobre os cuidadores. Será uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório com abordagem qualitativa para que possamos melhor entender a doença e de que forma ela influência a vida das pessoas que tem no seio familiar um portador desta patologia.

Palavras Chave: envelhecimento, demência, Alzheimer, cuidadores.

Summary: The aging is inevitable and conditions the human being a gradual decrease in the physiological functions, in particular the cerebral functions, favoring the appearance of typical and more common mental upheavals of the oldness as the dementia, depression, anxiety, delirium and psychotic upheavals according to Filho and Netto (2006). The dementia very presents high prevalence in the aged population, folding to each five years after the 65 years of age. Defined for Son and Grandson (2006), as a syndrome with multiple causes, being the Illness of Alzheimer (OF) the main cause of dementia in aged. The present article has as objective to present a study on the Illness of Alzheimer and its impact on the cuidadores. It will be a bibliographical research of exploratório character with qualitative boarding so that let us can better understand the illness and of that it forms it influences the life of the people that has in the familiar seio a carrier of this pathology.

Words Key: aging, dementia, Alzheimer, caregivers


INTRODUÇÃO

O ser humano passa por diversas fases desde sua concepção até a morte. Infância, puberdade, maturidade ou fase adulta e envelhecimento são etapas distintas e que apresentam mudanças características. O envelhecimento é marcado fundamentalmente por uma série de mudanças que vão desde o nível molecular até o morfofisiológico. Essas mudanças têm início ao final da segunda década de vida, sendo pouco perceptível por longo período, até que surjam as primeiras alterações funcionais e/ou estruturais atribuídas ao envelhecimento (GOTTIELA e CARVALHO, 2007).

Segundo Gottiela e Carvalho (2007), o envelhecimento é inevitável e condiciona o ser humano a um progressivo decréscimo nas funções fisiológicas e na redução da habilidade em responder ao estresse ambiental, deixando-o mais suscetível e vulnerável ao aparecimento das doenças.

Dados epidemiológicos têm mostrado atualmente um crescimento da população idosa, como conseqüência da diminuição da taxa de mortalidade e menor taxa de nascimentos. Esses dois marcadores afetam diretamente, e de forma significativa, a estrutura etária da população e, conseqüentemente, intensificam os problemas de uma determinada sociedade (FREITAS et al, 2006).

Os avanços da ciência e a melhoria das condições sanitárias são fatores que vem contribuindo para o aumento da população idosa. Nos países em desenvolvimento como o Brasil, este aumento está ocorrendo rapidamente, tornando-se necessária à reorganização dos serviços de saúde, a fim de melhorar a assistência prestada a esta crescente população (MONTANHOLI, 2006).

Segundo Zaslavsky e Gus (2002) a velhice é uma etapa da vida com características e valores próprios, em que o indivíduo sofre modificações na estrutura orgânica, no metabolismo, no equilíbrio bioquímico, na imunidade, na nutrição, nos mecanismos funcionais, nas características intelectuais e emocionais, e não pode ser vista como uma doença.

O idoso é mais vulnerável a doenças degenerativas de começo insidioso, como as afecções cardiovasculares e cérebro-vasculares, os cânceres, os transtornos mentais, as patologias que afetam o sistema locomotor e os sentidos. Também não se pode negar que há uma redução sistemática do grau de interação social como um dos sinais mais evidentes de velhice e ainda concorrem para agravar essa situação vários fatores demográficos, sócio-culturais e epidemiológicos, como aposentadoria, perda de companheiros de trabalho, aumento de tempo livre, mudanças nas normas sociais, impacto da idade sobre o indivíduo, impacto social da velhice, perda de segurança econômica, rejeição pelo grupo, filhos que se afastam, condução difícil, trânsito congestionado, poluição ambiental afetando a sua saúde, o aparecimento de determinadas enfermidades, dificuldades em aceitar as novas formas de pensamento que não condizem com as suas, fazendo com que a mente do idoso passe por um processo de despersonalização (ZASLAVSKY; GUS, 2002).

A expectativa de vida aumentada neste século é reflexo de eventos que culminaram na substituição das causas de morte, antes atribuídas a doenças infecciosas e parasitárias em maior escala, e atualmente, estudos apontam que a maioria das causas de morte estão relacionadas com as doenças crônicas, que são mais comuns em idades avançadas. Por se tratar de um fato atual, apesar de algumas mudanças terem acontecido no contexto do envelhecimento, as políticas de proteção aos idosos não acompanham as necessidades e comprometimentos advindos do crescimento exponencial dessa população, visto que a assistência a esse grupo deve ter uma visão multidimensional, e ser pautada em questões específicas e programadas para real e efetiva intervenção nos diferentes níveis de realidades e necessidades. Faz-se necessário entender o envelhecimento populacional como um fato coletivo e social, que não pode ficar restrito a práticas individuais e exclusivamente medicalizantes, priorizando-se uma assistência voltada para prevenção (FONSECA; SOARES, 2007).

O processo natural de envelhecimento envolve alterações biológicas e psicobiológicas que somadas à influência do meio em que vive o idoso, estão relacionadas à ocorrência de doenças crônico-degenerativas, que podem vir acompanhadas de dependência e incapacidades, e ao aparecimento de transtornos mentais típicos e mais comuns da velhice como as demências, depressão, ansiedade, delirium e transtornos psicóticos segundo Filho e Netto (2006).

A demência apresenta prevalência muito alta na população idosa, dobrando a cada cinco anos após os 65 anos de idade. Definida por Filho e Neto (2006), como uma síndrome com múltiplas causas, sendo a Doença de Alzheimer (DA) a principal causa de demência em idosos, vem exigindo que os médicos que atendem indivíduos nesta faixa etária busquem maior conhecimento a respeito dos princípios que direcionam a conduta prática para o problema.

Diante da variedade de problemas que acometem os idosos, sobretudo a demência, o presente artigo tem como objetivo apresentar um estudo sobre a Doença de Alzheimer como a principal causa de demência nos idosos e seu impacto sobre os familiares cuidadores. Será uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório com abordagem qualitativa para que possamos melhor entender a doença e de que forma ela influência a vida das pessoas que tem no seio familiar um portador desta patologia.

DOENÇA DE ALZHEIMER

Segundo Freitas et al (2006) a Doença de Alzheimer (DA) foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer e recebeu essa denominação em 1910 por Kraepelin, e nesta época acreditavam que tal desordem estava restrita a formas graves de demência pré-senil de evolução rápida, com presença de placas senis e de emaranhados neurofibrilares. Atualmente é considerada a forma mais comum de demência entre os idosos. Trata-se de uma doença degenerativa que se instala de forma insidiosa e causa progressivo declínio das funções cognitivas, ligadas à percepção, à aprendizagem, à memória, ao raciocínio e ao funcionamento psicomotor e também, o aparecimento de quadros neuropsiquiátricos com diversas manifestações graves (MORAES, 2007).

Segundo Smeltzer e Bare (2005), a doença de Alzheimer é uma neuropatologia degenerativa, progressiva e irreversível, com início insidioso, caracterizando-se por perdas graduais da função cognitiva e distúrbios do comportamento e afeto. Não é uma doença exclusiva dos idosos, podendo acometer indivíduos na meia-idade em 1 a 10% dos casos. Um histórico familiar de DA e a presença da síndrome de Down são dois fatores de risco estabelecidos para a DA. Estudos genéticos mostram que as formas autossômicas dominantes da doença de Alzheimer estão associados com início precoce e morte também precoce.

Smeltzer e Bare (2005), relatam que:

"A demência caracteriza-se por um declínio irregular da função mental. Por vezes, a demência por multiinfarto é confundida com a doença de Alzheimer, paranóia ou delírio por causa de sua condição clínica imprevisível. O diagnóstico pode ser ainda mais difícil se o paciente estiver sofrendo da doença de Alzheimer e demência por multiinfarto".

Múltiplos fatores estão relacionados ao aparecimento dessa doença, e dentre os principais, destacam-se a idade avançada por se tratar de uma moléstia mais comum após os 65 anos; o sexo visto que ocorre com mais freqüência nas mulheres; o histórico familiar, pois a incidência é maior em pessoas que possuem casos de Alzheimer ou de outras demências na família, e alguns estudos indicam que essa enfermidade também pode decorrer de traumas cranianos (MORAES, 2007).

De acordo com Freitas et al (2006) a DA é considerada a forma mais comum de demência nos países ocidentais, estima-se que o número de indivíduos acometidossupere 15 milhões em todo o mundo e sua prevalência vem aumentando de forma significativa nas diversas faixas etárias. Nos Estados Unidos a DA é a quarta causa de óbito em pessoas entre 75 e 84 anos de idade, e a terceira maior causa de incapacidade e mortalidade. No Brasil, apesar das estatísticas não serem precisas, estima-se que cerca de 500 mil pessoas sejam acometidas pela DA, o que causa um impacto nanossa sociedade.

Esse impacto na sociedade se dá principalmente pelos custos diretos envolvidos no cuidado com os portadores de DA, com previsão de que em 2030 nos EUA, as despesas cheguem a 30 bilhões de dólares por ano, sem levar em conta os gastos indiretos, que incluem o tempo despendido por cuidadores, a perda de produtividade e o impacto negativo na saúde do cuidador em virtude da assistência prestada ao doente. Todos esses fatores colocam a DA, assim como outros tipos de demência, como importante problema de saúde pública em todo o mundo (FREITAS et al, 2006).

Freitas et al (2006) afirmam que a incidência e prevalência das demências aumentam exponencialmente com a idade, dobrando a cada 5,1 anos a partir dos 60 anos, aproximadamente. Após os 64 anos, a prevalência é de cerca de 5 a 10%, e a incidência anual é de cerca de 1 a 2%, subindo após os 75 anos, para 15 a 20% a prevalência e 2 a 4% a incidência.

NEUROPATOLOGIA DA DOENÇA DE ALZHEIMER

Segundo Freitas et al (2006), embora a comunidade científica venha se esforçando nas últimas duas décadas para desvendar os mecanismos patológicos responsáveis pela DA, suas bases moleculares continuam em grande partedesconhecidos, sendo os principais achados neuropatológicos que justifiquem a patologia, a perda neuronal e a degeneração sinápticaintensas, com acúmulo e deposição no córtex cerebral de duas lesões principais: placas senis ou neuríticas (PS) e emaranhados neurofibrilares (ENF).

Clinicamente, os pacientes desenvolvem comprometimento progressivo da memória, degeneração do córtex temporal e parietal de associação (produzindo dispraxia e disfasia) e, freqüentemente, distúrbios emocionais. Com a progressão da doença, ao longo der muitos anos, os pacientes tornam-se imóveis e emaciados, e a morte é comumente conseqüência de uma pneumonia (STEVENS & LOWE, 2002).

Ainda segundo Stevens e Lowe (2002), a causa da doença é desconhecida, mas há casos familiares bem definidos que têm fornecido importantes informações na pesquisa de defeitos gênicos específicos na doença.

O cérebro, na doença de Alzheimer, apresentar-se menor do que o normal, com peso reduzido evidenciado como encolhimento dos giros e dilatação dos sulcos nos hemisférios cerebrais. A atrofia é mais evidenciado no lobo temporal, particularmente no giro para-hipocampal, embora possa ser observada também nas regiões frontal e parietal. O lobo occipital e o córtex cerebral, via de regra são preservados (STEVENS & LOWE, 2002).

QUADRO CLÍNICO

Na avaliação médica, os idosos ou seus familiares, queixam-se constantemente de piora do desempenho cognitivo com o envelhecimento. Os profissionais de saúde devem estar atentos, em todas as oportunidades, para identificar e avaliar a importância relativa das queixas ou dos sintomas detectados e, dessa forma, possibilitar a determinação do estado de acuidade mental atual do paciente, sempre considerando as variações individuais influenciadas, sobretudo pela idade e pelo grau de escolaridade (FREITAS et al, 2006).

A DA frequentemente inicia-se após os 60 anos de idade, apesar de raros casos descritos em pessoas com até 30 anos de idade. A dificuldade de se ter com precisão a data de início da doença é notória. A piora progressiva dos sintomas ocorre de forma gradual e contínua, usualmente num período de 8 a 12 anos. Existe, todavia, grande variabilidade na velocidade de progressão da doença, desde períodos tão curtos de 2 anos até tão longos de 25 anos. Os fatores que afetam a sobrevida são: idade, gênero e gravidade da demência (FREITAS et al, 2006).

A fase inicial dura, em média, de 2 a 3 anos e é caracterizada por sintomas vagos e difusos, que se desenvolvem insidiosamente. O comprometimento da memória é, em geral, o sintoma mais proeminente e precoce, principalmente de memória declarativa episódica. Os déficits de memória de evocação nas fases iniciais dizem respeito principalmente à dificuldade para relembrar datas, compromissos, nomes familiares e fatos recentes (FREITAS et al, 2006).

A fase intermediária cuja duração varia entre 2 e 10 anos, é caracterizada por deterioração mais acentuada dos déficits de memória e pelo aparecimento de sintomas focais, que incluem afasia, apraxia, agnosia, alterações visuoespaciais e visuoconstrutivas. Os distúrbios de linguagem, inicialmente caracterizados pela dificuldade de nomeação, progridem, com dificuldade de acesso léxico, empobrecimento do vocabulário, parafasias semânticas e fonêmicas, perseverações, circunlóquios, perda de conteúdo e dificuldade de compreensão. A apraxia é, sobretudo ideatória e ideomotora (FREITAS et al, 2006).

Na fase mais avançada das demências, com duração média de 8 a12 anos, e no estágio terminal, todas as funções cognitivas estão gravemente comprometidas, havendo, até mesmo, dificuldades para reconhecer faces e espaços familiares. Devido à perda total da capacidade para realizar atividade da vida diária, os pacientes tornam-se totalmente dependentes. As alterações de linguagem agravam-se progressivamente, ficando evidentes as dificuldades para falar sentenças completas e compreender comandos simples. Com a progressão da doença, ao longo de muitos anos, os pacientes apresentam imobilidade crescente, incontinência urinária e fecal, tendência em assumir a posição fetal, mutismo, fica restrito a poltrona ou ao leito, presença de úlceras por pressão, perda progressiva de peso, infecções urinárias e respiratórias freqüentes, término da comunicação, tornando-se por fim imóveis e emaciados (FREITAS et al, 2006).


DIAGNÓSTICO

Em termos práticos, para o estabelecimento do diagnóstico da DA, o primeiro passo é a confirmação do diagnóstico de demência. Para tanto, é fundamental considerar os critérios propostos para o diagnóstico de demência e o diferencial com as demais condições clínicas, neurológicas e psiquiátricas que podem apresentar-se, de inicio, com quadro clínico semelhante às demências. Demência pode ser definida como uma síndrome caracterizada pelo comprometimento de múltiplas funções corticais superiores (FREITAS et al, 2006).

Entre os déficits cognitivos, incluem-se os da memória, do pensamento, da orientação, da compreensão, da linguagem, do cálculo, da capacidade de aprendizagem, do pensamento abstrato e do julgamento. Para o diagnóstico de demência, é essencial que os déficits causem significativo comprometimento nas atividades profissionais, ocupacionais e sociais do individuo e representem declínio significativo com relação aos níveis prévios de funcionamento, na ausência de alterações de consciência (FREITAS et al, 2006).

Para o diagnóstico diferencial, é importante considerarmos várias outras condições que podem apresentar-se, de início, com quadro clínico semelhante às demências, entre as quais se incluem as desordens amnésicas, o retardo mental, as desordens fictícias, o estado confusional agudo (delirium), as desordens psiquiátricas funcionais (depressão maior, esquizofrenia), o comprometimento cognitivo leve, o declínio cognitivo associado ao envelhecimento ou o comprometimento da memória associado à idade (FREITAS et al, 2006).

Assegurados os requisitos mínimos para o diagnóstico de demência,o segundo passo é identificar os déficits cognitivos e não-cognitivos presentes e correlacioná-los às características clínicas típicas potencialmente associadas à DA, ao desempenho na avaliação cognitiva e aos resultados de exames laboratoriais e de neuroimagem. Com isso, busca-se firmar o diagnóstico da DA, considerando-se a ausência, no presente, de marcadores biológicos que permitam a detecção pré-sintomática ou o diagnóstico pré-morbido definitivo, bem como a inexistência de alterações patognomônicas clínicas, laboratoriais ou radiológicas da DA que possibilitem firmar o diagnóstico definitivo, em vida, da doença (FREITAS et al, 2006).

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

O tratamento farmacológico da Doença de Alzheimer pode ser realizado em quatro níveis: terapêutica específica, que tem como objetivo reverter os processos patológicos que conduzem à morte neuronal levando o indivíduo à demência; abordagem profilática, que visa retardar o início da demência ou prevenir declínio cognitivo adicional, uma vez descoberto o problema; tratamento sintomático, no intuito de restaurar, ainda que parcial ou provisoriamente, as capacidades cognitivas, as habilidades funcionais e o comportamento dos pacientes portadores de demência; e terapêutico complementar, que busca o tratamento das manifestações não-cognitivas da demência, tais como depressão, psicose, agitação psicomotora, agressividade e distúrbio do sono (FORLENZA, 2005).

Inúmeras substâncias psicoativas são usadas com a finalidade de preservar ou restabelecer a cognição, o comportamento e as habilidades funcionais do paciente com demência, contudo, os efeitos das drogas hoje aprovadas para o tratamento da Doença de Alzheimer limitam-se ao retardo na evolução natural da doença, permitindo apenas uma melhora temporária do estado funcional do paciente. As principais drogas utilizadas são os inibidores das colinesterases, memantina, antioxidantes, estrógenos, antiinflamatórios não-hormonais, estatinas e ginkgo-biloba. Outras substâncias como melatonina, vasodilatadores, bloqueadores de canais de cálcio e nootrópicos, são muito usadas na prática clínica por acreditarem em seu efeito sobre o SNC, embora não se tenha comprovação científica (FORLENZA, 2005).


IMPACTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER PARA OS FAMILIARES CUIDADORES

Segundo Sena e Gonçalves (2008), o envelhecimento é um fenômeno intrínseco à vida no planeta, mas o crescimento da população idosa tem assustado adultos, idosos, famílias, profissionais da saúde, líderes do governo e de organizações não-governamentais, entre outros. Sena e Gonçalves (2008) ainda afirmam:

"No Brasil, há uma tradição de que o cuidado de um familiar doente ou com limitações fisiológicas próprias da velhice deva ser desenvolvido pela própria família, especialmente se a pessoa dependente do cuidado for o cônjuge, os filhos, os pais ou avós idosos, ou seja, há uma naturalização da idéia de família cuidadora".

A Constituição Federativa do Brasil, no artigo 229, dispõe que "os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade", em parceria com o Estado e a sociedade, legitimando a tradição da família cuidadora. A família tem "o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida". A intensa mobilização de profissionais do serviço social, da saúde, do governo, a sociedade civil organizada e outros, culminou com a criação da Lei Nº 8.842 de 1994, regulamentada em 1996, possibilitando a instituição de uma Política Nacional para o Idoso (PNI) que, entre suas diretrizes, estabelece que os idosos sejam atendidos, prioritariamente, pela própria família em detrimento da atenção asilar, exceto aqueles que não possam garantir sua sobrevivência. Em 2003, entrou em vigor, no Brasil, a Lei Nº 10.741, estabelecendo o Estatuto do Idoso. Entre as disposições da Lei, o art. III responsabiliza a família, a comunidade, a sociedade e o poder público em assegurar à pessoa idosa a efetividade do direito à vida (SENA E GONÇALVES 2008).

De acordo Sena e Gonçalves (2008), os estudos sobre familiares cuidadores em gerontologia tiveram início há aproximadamente 26 anos, e a posição predominante dos cientistas a respeito do assunto é que assumir a função de cuidador de um familiar idoso com capacidades funcionais limitadas, em particular nas situações de maior dependência, como na demência do tipo Alzheimer, constitui uma experiência que produz enorme impacto no processo de viver do cuidador, pois envolve alterações em sua saúde física, emocional e social, visto que geralmente o cuidado é contínuo, envolve várias ações, acontece de forma inesperada, exigindo conhecimento específico e habilidades para cuidado, o que somando-se às outras atividades cotidianas do cuidador, sobrecarrega-o com uma intensa jornada de trabalho, sem contar a possível dificuldade na relação do cuidador com a pessoa de quem cuida, ou o fato de acompanhar a progressiva degeneração funcional de um ente querido.

Conviver com pacientes em situação de demência exige mudanças geralmente relevantes na vida cotidiana dos cuidadores, pois não se trata de um problema passageiro e sim de uma doença progressiva, que acompanha o idoso acometido até o final da sua vida, processo que pode durar muitos anos (LEMOS et al 2006).

Os problemas sociais relacionados ao impacto provocado pelo aumento da expectativa de vida das pessoas são muito complexos e refletem diretamente na manutenção da saúde dos idosos e na preservação de sua permanência junto à família. A doença de Alzheimer é uma forma de demência que vem cada vez mais participando deste contexto e compromete significativamente a integridade física, mental e social do portador, acarretando uma situação de dependência total necessitando de cuidados cada vez mais complexos, quase sempre realizados no próprio domicílio, influenciando na dinâmica cotidiana dos familiares. A necessidade de cuidados contínuos, a dificuldade no manejo das manifestações psiquiátricas e comportamentais, a lembrança das vivências, tanto positivas como negativas, principalmente os laços afetivos compartilhados antes da instalação da doença, produzem desgaste físico, mental e emocional. (LUZARDO et al 2006).

Em estudo realizado por Garrido e Menezes (2004), os cuidadores foram principalmente mulheres, filhas ou esposas, casados, com idade média de 51,3 anos, sem emprego ou do lar, com oito ou mais anos de escolaridade e a maioria morava com os pacientes. Mais da metade dos cuidadores passava mais de oito horas por dia com os pacientes e 18 cuidavam dos pacientes há menos de um ano. Clinicamente, a maioria dos cuidadores apresentava saúde física excelente ou boa.

Ainda falando do estudo realizado pelos referidos, na avaliação das respostas dos cuidadores sobre o impacto do cuidar, mais da metade sentia que os pacientes não pediam ajuda desnecessariamente, e raramente se sentiam envergonhados com o comportamento dos pacientes ou tensos com sua presença, mas 48,9% responderam que freqüentemente ou sempre não tinham dinheiro suficiente para cuidar do paciente e quando questionados sobre a freqüência com que, de maneira geral, se sentiram sobrecarregados por cuidar do paciente, 42,8% dos cuidadores responderam "nunca ou raramente" e 38,7% "freqüentemente ou sempre".

Segundo Zimerman (2000), um grande problema que encontra no atendimento das pessoas com DA é a reação da família, que muitas vezes tem dificuldade em aceitar o diagnóstico, e por ter pouca informação sobre o problema ficam com vergonha de terem uma pessoa com demência na família. Outros reagem negativamente porque ao verem a situação em que se encontra seu pai ou sua mãe, pensam na possibilidade de no futuro estarem passando pela mesma situação. E por fim tem aqueles que se recusam a voltar a ver o pai ou mãe, alegando que não os consideram mais como tal, pelo fato de não ser reconhecido por eles. Zimerman (2000) relata na pagina 105:

"A fase inicial da doença de Alzheimer é uma das que costuma suscitar maiores problemas de convivência. Os familiares e as outras pessoas que lidam com o velho costumam irritar-se e perder a paciência com seus constantes esquecimentos, até que a situação se torna tão problemática que é buscada ajuda profissional. Diagnosticada a doença, costuma sobrevir o abalo e a desorientação que já relatei".

O processo inicial da doença de Alzheimer muitas vezes é confundido com as alterações naturais do envelhecimento, sendo normalmente aceito pelos familiares. A medida que a doença progride, mesmo que da forma inadequada, a família passa a dar importância às alterações de comportamento apresentadas pelo doente. Quando o grau de dependência torna-se muito acentuado é que os familiares começam a dar o verdadeiro valor e o apoio necessário para que o indivíduo acometido possa realizar atividades simples, até que passe de dependência para incapacidade, onde os membros da família precisam criar estratégias para suprir as necessidades do paciente, acarretando alterações significativas na rotina familiar (NETTO, 2005).

As maiores dificuldades enfrentadas pelos familiares envolvem questões emocionais, econômicas e do cotidiano, e conforme Netto (2005), mesmo com os esclarecimentos sobre como se dá a evolução da doença, sentimentos como a angústia, ansiedade, o medo, a raiva, a culpa, e a depressão acompanharão os familiares a cada mudança de fase da doença.

Segundo Vilaça e Barreiros et al (2005), o cuidador familiar, considerado um cuidador informal, necessita receber orientações sobre como proceder nas situações mais difíceis no cuidado com os pacientes e receber em casa visitas periódicas de profissionais médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outras modalidades de supervisão e capacitação, que constituem os cuidadores formais. Este apoio é fundamental para ajudá-lo a lidar com a grande mudança em seu estilo de vida, já que além de ser responsável pelo seu bem-estar passa a responsabilizar-se pelo indivíduo doente. Além disso, pode não demonstrar essa necessidade de orientação ou mesmo não perceber que está precisando de ajuda para seu autocuidado e o cuidado com o outro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi apresentado neste artigo, podemos concluir que o cuidar de uma pessoa portadora de DA pode ser muito difícil em alguns momentos. Requer principalmente amor, solidariedade e tudo que estas duas palavras englobam: paciência, dedicação e, sobretudo, uma assistência que merece a divisão de tarefas entre os familiares, visto que os cuidados exigem atenção ininterrupta, gerando grande desgaste físico e emocional para aqueles que lidam diretamente com o portador.

A assistência ao portador de doença de Alzheimer deverá ser realizada por uma equipe multiprofissional, sendo que o enfermeiro e sua equipe podem ser destaque neste atendimento, pois têm importante significado na comunicação e possui uma proximidade maior com o paciente tanto no cuidado como nas intervenções e orientações. A assistência de enfermagem também se assemelha a de um cuidador, e baseado nisto, estuda-se os sintomas do portador de Alzheimer, para poder realizar intervenções corretas, baseadas em dados científicos podendo assim delegar funções para sua equipe.


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Autor: Vanni de Jesus Silva


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