A Ampulheta



Porque a ampulheta deveria ser mais que um relógio? Síria mas prática para voltar o tempo, ou o relógio também teria essa finalidade? Mas se pudessem voltar os ponteiros da vida. Se pudéssemos resolver uma questão que ficou pendente, e assuntos de tal natureza nunca mais nos incomodariam. São questões que seu honorário escritor debate-se. Digo isso, por que estou com uma sensação de estagnação, imobilidade absurda, que não sei o que aconteceu? Debato-me no meu quadrado redondo, num absurdo. Qual a vantagem de ser da raça humana? Que coisa é essa que a vida nos impõe, desdobrando-nos, digladiando. Esse obscuro destino que me joga ribanceira a baixo. Ter que ir vivendo assim é foda. Agüentando as vaias dos vencedores, os que não admitem erros. Escárnio e zombaria dos românticos que se beijam em praça pública e com suas bocas úmidas espreitam-me. No rodopio do caos, e não foi por querer. Agora agüento o fanfarronar de toda essa gente. Só quero ir pra longe, bem longe, mas o que faço, vou ali, logo perto. Fico perto de tudo, e eu quero ficar longe, bem longe!

Perdendo tempo com as mesmas coisas, mesmos erros, todos calmos como se aquilo fosse natural. Até queria saber escrever, só para dizer coisas horríveis. Que falta de futuro, perda de tempo, de juventude, de paciência, com as mesmas coisas. Que repetição inútil e viciosa são nossas vidas. Aí quando você pensa que já se fudeu todo na vida, que não existe possibilidade de acontecer mais nada...

Eis que toca o telefone.

- alô, com quem quer falar?

- senhor, quem fala, é aquela atendente paulista chata que pede seu CPF e trabalha para o Credicard. O senhor e que fez uma dívida astronômica com a gente? Queremos informá-lo que se o senhor não pagar essa fatura, vamos colocar seu nome no Serasa, e o senhor nunca mais vai ter paz ahahahah!

- eu liguei para vocês parcelando essa fatura, que foi feita em 500 meses, sem juros.

- senhor, o senhor só parcelou a fatura do mês. O senhor não parcelou o total da fatura. Sua divida real continua a mesma.

- quer dizer, que eu paguei um dinheirão para ficar devendo tudo de novo? Mas eu pedi para parcelar a fatura?

- o senhor tinha que dizer; parcelamento em faturas. O senhor falou parcelar a fatura.

- quer dizer, que por causa de um S eu me fodi.

- exatamente, a questão do plural para o sistema financeiro é crucial!

- como faço para pagar isso?

- senhor tem que negociar tudo de novo.

- bem, você quer dizer que eu tenho que pagar 1000 meses agora.

- o sistema financeiro não perdoa pobre e burro. O senhor não acha que esses defeitos acabam com a boa educação?

- tudo bem, atendente paulista. O que é um peido para quem já está cagado!

Ninguém pode se fuder tanto assim, ou pode? E só adquirir um cartão de crédito, que você já era. Sua vida se transforma de uma forma que você não acredita. São essas mulheres paulistas ligando para você. Senhor eu sou paulista e quero seu CPF. Todo dia elas pedem meu CPF. É CPF para cá, CPF pala lá. Tem que ter CPF. O senhor tem CPF. Disque seu CPF. Merda de CPF. Sem falar, que perdi um dia todo, falando com São Paulo inteira, meus dedos doíam de tanto discar 08000, 4004, 4005, 4006, 4007, 4008. De sotaque em sotaque, de vozes graves a finas, de tenor a soprando. Foi convidado até para um piquenique no Banco Central. Sinceramente nunca me senti tão importante. Até me mandaram uma carta convite linda, coisa de gente fina. Não sei se era a caixa de Pandora, mas que era bonitinha era; uma gracinha de Papel, e parecia ser papel caro. Nem no casamento do meu tio, que tinha uma loja de móveis, os convites eram tão Vips assim. O convite dizia com letras prateadas; que eu tenho setenta e duas horas para pagar y000000000, 00 se não...

Ass. Lathea


Autor: joao pereira


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