A AUSÊNCIA TECNOLÓGICA NO AMBIENTE ESCOLAR



A AUSÊNCIA TECNOLÓGICA NO AMBIENTE ESCOLAR[1]

FINGER, Johanna Emile[2]

SILVEIRA, Jonathan dos Santos da

RESUMO

O presente trabalho originou-se devido a condições enfrentadas durante o período do estágio curricular do Curso de Ciências Biológicas Licenciatura, Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, incentivando o uso de recursos didáticos práticos sem a utilização de qualquer outra tecnologia como estratégia metodológica no ensino de Ciências e Biologia. A vivência dessa situação objetivou o uso de métodos práticos com finalidade de proporcionar a aprendizagem educacional, auxiliando a construção do conhecimento científico do aluno, devido a condições adversas proveniente da ausência de recursos tecnológicos. A pesquisa foi realizada com base em observações e intervenções em duas turmas de 2ª ano do Ensino Médio, no Colégio Nereu Ramos, no município de Itajaí/SC. A necessidade e o interesse do planejamento das aulas propiciaram a utilização em maior volume de aulas práticas, com significativa contribuição no processo de ensino-aprendizagem dos alunos.

Palavras-chave: Ciências Biológicas, Estratégia de Ensino, Aula Prática, Recurso Tecnológico.

1. INTRODUÇÃO

A educação escolar é um espaço e tempo onde se dá o processo do desenvolvimento da mente humana, conseqüentemente necessita de artifícios metodológicos que possam beneficiá-la a fim de estimulação, compreensão e capacitação. A ação do tempo forma e transforma conceitos sobre o educar, onde o sentido da palavra é capaz de incorporar outras formas por meio de outros pontos de vista.

A educação era capaz de produzir filósofos-reis. Platão.

A educação deve livrar o aluno da tirania do presente. Cícero.

A função da educação era de ensinar os jovens como proteger a sua liberdade. Jefferson.

A educação serve para libertar os jovens dos constrangimentos não-naturais de uma ordem social malévola e arbitrária. Rosseau.

A educação serve para ajudar o aluno a funcionar sem certeza, num mundo de mudanças constantes e ambigüidades que confundem. Dewey.

Comparada a tempos atrás, a educação escolar tem como foco essencial a aprendizagem do aluno, diferente da lógica do tecnicismo cujo foco principal para um bom aprendizado era o emprego da técnica pela técnica. Esse tecnicismo tornou–se na prática, um aprendizado baseado no "decorar conceitos" onde os alunos ao invés de se apropriarem do conhecimento, acabavam somente decorando e esquecendo o conteúdo trabalhado. Essa educação foi mudando aos poucos, através de estudos na área do desenvolvimento humano, as estratégias e métodos educacionais diferenciados passaram a ser considerados um meio para tornar as aulas mais interessantes e fazer com que o aluno se participasse ativamente das aulas.

Estratégias e metodologias educacionais diferenciadas são recursos de suma importância para prender a atenção do aluno. O quadro negro é um bom aliado e não precisa ser deixado de lado, mas sabemos que com o auxilio da tecnologia, temos maiores possibilidades em fazer com que os alunos possam desenvolver suas habilidades de raciocínio, senso crítico, tornando o ambiente em sala harmonioso.

Em busca dessa qualificação no aprendizado escolar destacou-se nos últimos anos o uso de tecnologias como os recursos audiovisuais, que permitem e conciliam conteúdo prático e teórico em um espaço de tempo, proporcionando melhorias na qualidade das aulas. Em função da praticidade, ganhasse em aproveitamento e rendimento do tempo em sala de aula.

Mesmo conhecendo a eficiência dos recursos tecnológicos e como eles podem colaborar com o trabalho docente, infelizmente, não são todas as instituições de ensino que têm acesso a essa tecnologia. O Ministério da Ciência e Tecnologia[3] afirma que até o ano de 2015 todas as escolas da rede pública terão acesso a novas tecnologias, incluindo computadores, recursos áudio - visuais entre outros. Sabemos que esse tipo de projeção para nossas escolas é muito bom, mas o que dizer de escolas que não possuem recursos para que o uso de tecnologia possa estar no ambiente? A falta de energia elétrica suficiente para desenvolvimento de aulas que a utilizem.

No Estágio Supervisionado enfrentamos situação semelhante - a escola encontrava-se em obras, não podendo fazer uso de energia elétrica. Tal situação nos fez pensar em como utilizar novos recursos para melhorar as aulas de Biologia, como obter a atenção dos alunos com aulas diferenciadas quando recursos simples (como eletricidade) não se encontram disponíveis? Para gerenciar a situação, foi utilizado além das aulas tradicionais, aulas práticas em sala, com o uso de materiais cedidos pelos laboratórios da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI).

Daí a importância da competência técnica e humana do educador em estar preparado para o enfrentamento de situações escolares inesperadas, principalmente na rede pública de ensino, onde as dificuldades referentes a recursos inovadores didáticos são sensivelmente maiores.

2. Relação professor-aluno versus uso da tecnologia educacional

O processo educacional é permeado pela interação professor-aluno, pois é um processo de comunicação entre seres humanos e destes com a cultura. Nesse processo, ocorrem diversos obstáculos a serem superados e grandes são as lições que ocupam espaço na bagagem das pessoas envolvidas. Através desse ambiente de interação, oposição, adequação, é possível destacar a construção de laços entre os educadores e seus aprendizes, e decorrente disso molda-se o perfil do professor na visão de cada aluno.

Na questão voltada ao perfil do professor e a interação para/com o educando, Freire (1996, p.73) cita:

O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca.

Utilizando o momento dessa proximidade dos indivíduos, é necessário destacar a importância do inicio da interação - é um dos momentos em que se pode trabalhar de forma inovadora procurando aplicar novas estratégias para seduzir o aluno a se envolver com o processo de ensino.

Muitas vezes essa relação pode vir a ser o espelho da realidade vivenciada em grande parte das instituições de ensino, servindo como um método investigativo para uma futura intervenção em sala de aula. Nesta mesma situação a possibilidade de entender e compreender a realidade escolar pode vir acrescentar o "como ensinar", "como trabalhar", "de que forma estimular"? Com o uso destas indagações, é possível derrubar as barreiras encontradas no início do trabalho docente, podendo inibir que o fato da falta de recursos tecnológicos afete o aprendizado e empenho destes estudantes. Isso demonstra o compromisso do professor para/com seus alunos, e torna ainda mais concreta essa relação professor-aluno, acrescentando de forma facilitadora todo o processo do aprendiz.

No contexto da sala de aula, inúmeras são as formas da compreensão sobre o uso da tecnologia e inúmeras são as possibilidades, pelo fato de ser uma área que incessantemente se inova e evolui.

A internet e outras tecnologias estão cada vez mais presentes e incorporadas em nossas vivências, por isso, ela é denominada, a era da geração digital. O ensino pode ser mediado de várias formas, como no caso da EAD (Educação à Distância), que caracteriza-se, pela separação do professor e aluno no espaço e/ou tempo, pelo controle do aprendizado realizado mais intensamente pelo aluno do que pelo instrutor distante e pela comunicação entre alunos e professores que é mediada por documentos impressos ou alguma forma de tecnologia. Hoje, com o surgimento de tecnologias interativas sofisticadas, educadores passaram a utilizar ferramentas como: e-mail, Internet, áudio-conferência baseada em telefone e videoconferências com 1 ou 2 caminhos de vídeo e 2 caminhos de áudio. Uma ferramenta da Internet que tem sido muito utilizada é o WWW, o qual possibilita a elaboração de Cursos à Distância com avançados recursos de multimídia.

Essas novas tecnologias nos remetem a uma nova visão integradora no campo educacional.Ao tratarmos de inovações, os recursos tecnológicos vêm sendo inseridos no ambiente escolar, através de atividades curriculares, permitindo ao aluno usufruir desse modelo de educação e capacitação escola - individuo.

Um dos grandes desafios docente consiste na escolha do método a ser empregado diante de inúmeros recursos didáticos tecnológicos, que melhor possam se ajustar diante do plano de ensino e propósitos educacionais que o mesmo possui. Pergunta-se: como integrar o interesse por parte dos alunos juntamente com os programas curriculares das escolas? Trata-se de uma questão que não somente engloba a ação do sujeito professor em trazer para sala de aulas didáticas inovadoras, como também de espaços físicos que possam atender as necessidades do emprego dessas tecnologias.

A partir do entendimento da tecnologia na Educação como meio do processo ensino-aprendizagem, expressou-se o termo "Tecnologia Educacional", sendo entendida como uma maneira, através de processos sistêmicos tecnológicos, de avaliar o processo do conhecimento combinando recursos humanos e matérias com a finalidade da aprendizagem efetiva. De acordo com (Lipsman, 1997), o incorporar a tecnologia à sala de aula trata-se de um analisar as informações dos meios, criando contradições, novos discursos, etc.

Deve-se ressaltar que a linguagem humana falada e escrita, assim como materiais impressos (livros, revistas, jornais, etc.,) são artifícios tecnológicos empregados nos sistemas de educação, assim sendo, podemos considerar que o uso da tecnologia está e esteve presente durante todo o momento no aprendizado do ser humano.

Segundo Moran (1991),

[...] Educar é procurar chegar ao aluno por caminhos possíveis: pela experiência, pela imagem, pelo som, pela representação (dramatizações, simulações), pela multimídia. É partir de onde o aluno está, ajudando-o a ir do concreto para o abstrato, do imediato para o contexto, do vivencial para o intelectual, integrando o sensorial, o emocional e o racional" (p. 146).

Sabe-se que o uso da tecnologia no processo educacional, por si só, sem a capacitação e qualificação de corpo docente, é incapaz de melhorar a qualidade de ensino em qualquer disciplina, pelo fato de muitas vezes o meio empregado em determinado conteúdo e situação, pode-se apresentar ineficaz em outra oportunidade. Outro fator limitante na questão do aprendizado, consiste no interesse dos estudantes, pois sem este, toda e qualquer tecnologia empregada para o melhoramento das aulas, acaba se tornando insignificante.

Tira Calvin

Recursos tecnológicos versus Ambiente escolar

O ambiente estrutural do EEB. Nereu Ramos conta com espaço físico suficiente para realização de inúmeras atividades educacionais nas mais diversas áreas disciplinares, cotando com terreno plano, ambientes bem arejados, e localização privilegiada, próximo ao centro da cidade - Avenida 7 de Setembro, s/n – Bairro Fazenda, Itajaí (SC).

O uso da tecnologia educacional ou a falta dela já se tornou questionávelem todo e qualquer instituição de ensino. Podemos destacar que são inúmeras as causas da falta de recursos tecnológicos em sala de aula, e que por muitas vezes este acaba sendo um dos fatores da exclusão tecnológica e digital. É sabido que em algumas ocasiões a falta do recurso é resultante de verbas governamentais insuficientes para a aplicação deste tipo de metodologia, ocorrendo em outros casos à situação desta mesma ser aplicada em outros recursos (saúde, esporte, etc.) ou até mesmo sendo desviada durante o processo de aplicação.

No caso do campo de estágio – Colégio Nereu Ramos, a ausência do recurso de tecnologia é conseqüência de melhorias estruturais por que passa a unidade escolar - uma reivindicação da população local. As obras estão sendo feitas paralelamente ao período das aulas, e por isso, em algumas situações (como no caso de uso energia elétrica) a capacidade da utilização de recursos instrucionais que dependem do uso de energia, passa a ser um fator é limitante. Ressalta -se que, as reformas não afetam diretamente o processo educacional dos alunos.

Aulas práticas como metodologia complementar

"Se podes olhar vê, Se podes ver, repara". (José Saramago)

 

Visando superar as dificuldades momentâneas em relação aos recursos multi-mídia, aplicamos outra alternativa didática: aulas prática e muito empenho por parte docente (estagiário) em substituir o verbalismo das aulas expositivas.

O uso de aulas práticas no ensino da Ciência e Biologia apresentam-se inquestionável pelo fato do experimento ser a base de todo o compreender do estudo desta disciplina. A contrapartida sabe-se da enorme carência de espaços físicos escolares com finalidade de desenvolvimento de atividades específicas que estejam disponíveis para o uso do docente e de educandos para eventuais atividades práticas (laboratórios).

Além disso, ainda existe o mal uso de laboratórios nas escolas que o possui devido à falta de materiais, capacitação de monitores e irresponsabilidade e interesse por parte do corpo docente. De acordo com Smith (1975), a importância do trabalho prático é inquestionável na disciplina de Ciências e Biologia e deveria ocupar lugar central no seu ensino.

A aplicação de aulas práticas do ensino de biologia em sua totalidade vem a acrescentar conceitos que por muitas vezes não estão explícitos em livros. Segundo Luneta (1991):

As aulas práticas podem ajudar no desenvolvimento de conceitos científicos, além de permitir que os estudantes aprendam como abordar objetivamente o seu mundo e como desenvolver soluções para problemas complexos (et al., [s.d])

O uso da aula prática fundamenta os conceitos colocados impressos no livro didático, e torna o momento da aprendizagem mais assimilativo. A partir do momento em que o educando tem a possibilidade de trabalhar o conteúdo, tendo a disposição o objeto de estudo a compreensão resultante ter maior expressividade, pelo fato de haver a possibilidade de questionamentos e indagações que muitas vezes não seriam possíveis, como na questão visual, por exemplo; o estudo em aula teórica de um determinado organismo fica "restrito" as informações presentes no livro, o mesmo organismo estudado no livro e conseqüentemente sendo foco de uma possível aula prática, pode condicionar o aluno a perceber estruturas, características, que não seriam possíveis somente com as imagens impressas na página.

Tira Mafalda

O grande objetivo do material prático dentro do estudo biológico é justamente mostrar a importância de poder presenciar situações, como o conhecimento através do "tocar", "ver", "observar", e não somente fazer o uso de ilustrações e conceitos que por muitas vezes não trazem explicações explicitas. O material prático tem a capacidade de fazer o sujeito aluno, tornar-se o sujeito investigador, onde ele é capaz de buscar conceitos, além de, criar questionamentos, vivenciar situações, e buscar soluções e explicações para estas.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o desenvolvimento dos trabalhos desse estágio, observou-se adimensão que engloba a utilização de recursos tecnológicos no contexto de educação formal, passando a ser um diferencial em diversas áreas do conhecimento. Por outro lado, percebeu-se que a ausência de aparelhos sofisticados (microscópios, lupas, etc.) ou mesmo de espaços específicos (laboratórios, sala ambiente) não é impedimento para se criar um ambiente cientifico em sala de aula na busca de soluções e alternativas para se alcançar os objetivos educacionais.

É possível suprir a carência de determinadas ferramentas e recursos didáticos de cunho tecnológico e realizar um aprendizado significativo, por meio de conceitos claros e objetivos, adequação, incentivo e criatividade do professor.

A busca de uma educação igualitária é constante para muitos, as alternativas são diversas e muitas delas não exigem muito para serem aplicadas de fato, basta permitir-se e acreditar no potencial educador, e perceber que o ato de educar sempre valerá a pena.

Através do estágio a possibilidade de contribuir com maneira inovadora o conteúdo relacionado a Biologia esteve presente, onde a prioridade consistia em tornar as aulas mais interativas e alternativas, representando para nós estagiários, um método que muitas vezes encontra-se inexplorado no campo da educação, quando não se tem metodologias sofisticadas ou recursos tecnológicos.

Nesse sentido, o campo de estágio possibilita diferentes vivências, preparando profissionais para a vida docente por meio de um movimento constante entre o suporte teórico e a prática contextualizada em estruturas de ensino, muitas vezes distintas e realidades opostas, porém com significativo grau de suporte, parao amadurecimento e posicionamento do futuro educador.


4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

FRACALANZA, H. et al. O Ensino de Ciências no 1º grau. São Paulo: Atual. 1986. p.124.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MORAN, José Manuel. Como ver televisão: Leitura crítica dos meios de Comunicação. São Paulo: Paulinas, 1991.

Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/educacao/educacao-no-brasil.htm > Acesso em: 25 out. 2008.

Faculdade de Educação. Disponível em: http://www.fae.ufmg.br/ensaio/volume7especial/artigo_leiteetal.pdf. Acesso: (25/10/2008)

O Portal Colaborativo do Educador

Disponível em: http://e-educador.com/index.php/mundo-high-tech-mainmenu-99/2394-tecnologia1 - Acesso (01/11/2008)

Tiras Mafalda. Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.com/

Acesso: (11/11/2008)

Uol Educação.Disponível em: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/06/20/ult105u6650.jhtm Acesso: (12/11/2008)

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – Supervisionado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia http://www.cgee.org.br/noticias/viewBoletim.php?in_news=663&boletim=9

Acesso: (08/12/2008)


[1] Artigo apresentado como requisito para aprovação final na disciplina de Estágio Supervisionado: Pesquisa da Prática Pedagógica, 6° Período do Núcleo das Licenciaturas da Universidade do Vale do Itajaí, sob a orientação da Professora Maria Luiza Pinto Lemos, 2008 – 2.

[2] Acadêmicos do curso de Ciências Biológicas - Licenciatura.

[3] Http://www.cgee.org.br/noticias/viewBoletim.php?in_news=663&boletim=9


Autor: Jonathan Silveira


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