HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA - VARNHAGEN



José Carlos Reis adentra nos seus comentários fazendo uma afirmação: "Os historiadores reescrevem continuamente a história", está asserção é o tema central de todo o seu comentário, que é tratado de forma exaustiva na introdução, ela tenta convalidar toda estrutura de suas idéias, nesta linha de pensamento o autor nos permite compreender que sempre a história deve ser reescrita e isto é vital para a sua existência como ciência-social, para que não torne apenas narrativas lendárias, mas narrativas construtivas. A história reescrita faz o cidadão (analista social) compreender sua posição política na sociedade, o cidadão inflamado de compreensões renovadas de sua história, torna-se desta forma um cidadão completo. O historiador que não analisa a reescrita da história fica imerso a "verdades absolutas", que compromete uma plena exegese da história.

Outra asserção feita pelo autor diz: "A história só se torna visível e apreensível com a sucessão temporal... É somente com algum distanciamento, apenas no final do dia vivido, que o seu sentido pode ser interpretado", nesta afirmação vemos a relação tempo/história, dois termos aparentemente divergente, mas na historiografia o tempo é essencial para o manuseio da história, nesta citação do autor, o tempo deve ser visto como fator de maturação da história, o historiador que escreve no seu tempo sobre um fato presente, sua veias historiográficas encontram-se inflamada pelo calor da situação vivida pelo mesmo, este se torna um advogado de causa própria, com este ato, a historiografia perde o sentido original e passa a servir a conceitos particulares que estão arraigados num sentimento presente. Não se pode pensar também que a historiografia é fruto de pensamentos destituídos de influência presente, mas o tempo é o maior analista da história.

A reinterpretação da história é motivada por sentimentos presentes no âmago do historiador, ninguém a reinterpreta só por reinterpretar, existe por detrais da tinta no papel um sentimento, José Carlos Reis confirma esta asserção dizendo: "Novos historiadores, ligados organicamente a novos sujeitos históricos, reinterpretam a história segundo a necessidade e a sua forma particular de relacionar o passado e o futuro." A reinterpretação da história não é equânime, pois quem a escreve não é um deus, e mesmo se fosse estaria contra o diabo, nada da vida é imparcial, nem mesmo a histografia, todos os historiadores no seu tempo estava iluminado por sentimentos do seu tempo presente, continuando nesta linha de pensamento o autor reafirma suas convicções dizendo: "Todo historiador é marcado por seu lugar social, por sua data e por sua pessoa.", nesta asseveração ele exemplifica três fatores influenciadores da historiografia, o lugar social, a data e a pessoa (o sentimento pessoal), o lugar não geograficamente falando, mas socialmente se desponta no campo historiográfico como grande formador de opinião, pois todas as ideologias históricas são pré-formatada usando como base fatos e ideologias sociais-locais, a outra é a data, todo um acontecimento é analisado de forma particular por pessoas em certos momentos, por exemplo, uma mulher que foi agredida por seu marido, quando inquirida a descrever a personalidade masculina, o descreverá como arrogante, bruto e outro sinônimos, esta descrição é fruto de um momento (data), na historiografia todo o escritor encontra-se inspirado por sentimentos presente como já afirmamos, o ultimo fator é o sentimento pessoal, ninguém descreve algum fato sem ausentar sua convicções, seja ela religiosa, moral ou política, todos os historiadores são humanos, eles reproduziram a história inspirado por suas consciência social-temporal, não podemos ser inocentes ao pensarmos numa história atemporal, toda a historiografia foi influenciada por seu tempo e sociedade.

Este comentário não afirma que existe história verdadeira e mentirosa, o que ele afirma é que existem histórias, histórias num tempo, afirmando isso José Caros Reis diz: "Para se conhecer uma interpretação histórica, esclarece Koselleck, é sempre preciso saber que a formulou: um nativo ou um estrangeiro, um amigo ou inimigo, um erudito ou um cortesão, um burguês ou um camponês, um rebelde ou um súdito dócil. As narrativas podem se contradizer e , paradoxalmente, ser verdadeira. Pode-se olhar sobre o mesmo tempo e representá-lo diferentemente, mas coerente e corretamente." A história é fruto de interpretações humanas, e todos os homens tem visões diferentes, ou seja, sua ótica é diferente, não olham todos para o mesmo detalhe, todos não tem os mesmos gostos, todos não sentem o mesmo sabor da vida, isto é evidente e claro na historiografia, todos não escrevem da mesma forma, são pessoas diferentes, em mundos diferentes e com sentimentos diferentes, como um escravo descreverá a escravidão? E como o senhor de engenho do século XVI analisava a escravidão? É lógico, cada um descreverá a situação ao seu modo, é quem está certo? Os dois, isto parece demagogo e hipócrita para quem está lendo, mas isto, ou melhor, este sentimento pessoal do leitor é uma afirmação deste pensamento, só escrevemos e falamos o que acreditamos e o que sabemos, nós historiadores não escrevemos o que não cremos no que não sentimos, por isso é fascinante a necessidade da reescrita da história, reiterando este pensamento o autor completa: "O progresso consiste em absorver o predecessor, sem diluí-lo, mas preservando-o em sua diferença, e apoiar-se nele; toda superação é negação, e toda verdadeira negação é uma conservação."

Para conhecermos uma obra historiográfica é necessário fazermos uma viagem no tempo, não podemos ler um texto da reforma protestante e compreendermos se não viajarmos para o passado, exatamente no século XVI, sobre esta viagem histórica necessária o autor diz: "A data de uma obra diz muito sobre ela, é a sua definição, pois revela o mundo histórico em que foi produzida." Não podemos interpretar autores que se passaram de forma preconceituosa, o que eles escreveram foi para o seu tempo, não para o nosso, sua vida era diferente, seu mundo era diferente, tudo era diferente, historiadores não são profetas, são homens normais, todos os escritos históricos responderam as perspectivas do seu tempo, e não do nosso, o que devemos fazer é analisarmos de forma coerente, e não preconceituosa, pois uma narrativa não supera a outra, mas a completa.

PARTE II – O DESCOBRIMENTO DO BRASIL

Varnhagen e a verdade histórica

Na elaboração da primeira obra historiográfica brasileira, ou seja, a primeira História Geral do Brasil escrita por Francisco Adolfo Varnhagen foi usado um conceito de verdade histórica baseada em partes na historiografia cartesiana, Varnhagen era um intenso observador de documentos históricos, isto fica notório na afirmação de José Carlos Reis: "A verdade, Afirma ele, é alcançada ao reunir o maior número de testemunho, acareando-os entre si e com certos fatos já estabelecidos." Varnhagen utilizou de documentos oficiais da coroa portuguesa para elaborar uma verdade histórica para o Brasil, por isso não pode apenas ser criticado por sua postura, ele não queria descrever um Brasil baseando em fontes apenas orais, pois se assim fizesse quebraria um dos pilares da historiografia moderna, a analise dos documentos históricos, esta afirmação não está menosprezando fontes orais, mas dando o devido valor para os documentos escritos, como fez Varnhagen.

Outro fator para a elaboração da verdade histórica é a consciência do escritor, sobre isto afirma: "O bom critério é o que aprecia devidamente os fatos apurados deles a verdade. Afirma enfaticamente que sempre há de dizer a verdade, segundo a sua consciência, mesmo que lhe cause dissabores." A consciência de Varnhagen era patriota, mas de uma patriota português, e não de um tupiniquim, ele é puramente verdadeiro, verdadeiro e comprometido com sua consciência, a consciência portuguesa, suas verdades históricas são de um homem comprometido com a coroa portuguesa, mas isso não tira o seu mérito, nem seu valor historiográfico, em meados do século XIX esta era a mais pura verdade histórica, ou seja, a história do colonizador, este pensamento fica mais nítido nesta afirmação: "A História Geral do Brasil é uma história, sobretudo político-administrativa, repleta de fatos, nomes e datas, individualista e psicológica. Ela não abrange todos os aspectos da vida nacional. Assemelha-se a um nostálgico e prazeroso álbum de fotografia das ações dos heróis portugueses." Varnhagen é um historiador iluminista, sua função era compor uma história que legitimasse a colonização e a autoridade da coroa portuguesa no Brasil, ele nunca elaboraria uma história que exaltasse o povo tupiniquim, isso iria contra as suas idéias, Varnhagen pertencia a escola iluminista, e sua função era como diz José Carlos Reis criar um álbum dos heróis portugueses no Brasil, na época foi a melhor narrativa histórica, foi a plena verdade histórica, pois a verdade histórica ela é metamórfica, ela muda de acordo com o tempo histórico.

Varnhagen e seus Críticos

A obra História Geral do Brasil, suscitou e ainda suscita grandes criticas, Varnhagen da mesma forma que ganhou admiradores no século XIX, ganhou em maiores números críticos ulteriormente com exceção de José Honório Rodrigues, este analisa a obra de Varnhagen de forma excelente, alducorada, ou seja, o melhor de sua época e trata ainda como indispensável para hoje, deixando claro esta asserção, José Carlos Reis diz: "José Honório Rodrigues o considera o maior historiador da sua época e ainda hoje incomparável pela vastidão da obra, pelo fatos que revelou, pela publicação de inéditos, pelo seu enorme esforço e determinação. Ele foi incomparável na história geral e parcial. Antes dele, o Brasil não tinha consciência de sua história. Rodrigues é enfático: ninguém pode graduar-se em história do Brasil sem ter lido Varnhagen." O que mais chama-nos atenção é a ultima asserção, José Honório extrapola ao dizer que ninguém pode graduar-se em história do Brasil sem ter lido Varnhagen, não mente com esta afirmação, mas assusta, Varnhagen não pode ser endeusado na historiografia, pois ele escreveu para o seu tempo, e neste tempo foi o melhor, mas hoje não, temos sim que ler Varnhagen, mas não como regra, o tempo fez acontecer a magia da reescrita da história, suas tintas e penas, foram ultrapassadas, os historiógrafos não servem mais a coroa portuguesa, José Honório Rodrigues comete a falha da super-valorização, o que não pode acontecer na historiografia.

Outro crítico de Varnhagen que pensava semelhante a José Honório Rodrigues é Canabrava, o autor descreve sua postura sobre Varnhagen assim: "Para A. Canabrava, a sua obra é o momento da história brasileira do século XIX. Sua nova história, como ele a chamava com orgulho, abasteceu-se de valioso material inédito, que lhe deu uma consistência nunca antes alcançada." Canabrava é mais moderado nos seus elogios a Varnhagen, fazendo notar que ela foi importante para a compreensão do Brasil naquela época, e não mais hoje, a obra de Varnhagen é maravilhosa sim, mas seu uso didático ficou para o século XIX, Varnhagen fez uso de documentos histórico, sim "documentos", foi isso que manifestou grande louvor de Canabrava, foi o cartesianismo de Varnhagen, a criação da História do Brasil, com analise de documentos, e não de vazias lendas, isto sim é merecedor de ovações, hoje Varnhagen é apenas um clássico, um bom livro de "uma história do Brasil".

P. M. Campos é outro crítico de Varnhagen, estes continua na linha de pensamento lisonjeiro ao historiógrafo, sobre este crítico José Carlos Reis dizem: "P. M. Campo o considera o principal historiador brasileiro do século XIX." P. M. Campos é um dos mais completos no comentário lisonjeiro a Varnhagen, ele compreende Varnhagen no seu tempo, isso é o mais correto ao analisarmos um texto histórico, pois o historiador escreve sempre no seu tempo, isto pode parecer cansativo nesta dissertação, mas é ela o seu tema central. Varnhagen foi sim o maior historiador do seu tempo, foi o primeiro a narrar o Brasil, sim o Brasil português, mas era no século XIX a história do Brasil. Não encontramos apenas comentários lisonjeiros a Varnhagen, vamos conhecer também outros críticos, esses sim são críticos, N. Odália, por exemplo, é um dos mais duros em analisar Varnhagen, José Carlos Reis descreve seu pensamento desta forma: "Para ele, a história geral do Brasil foi escrita num estilo literário monótono, sem mostrar o dramático das tensões e opções. Varnhagen teria, segundo Odália, o estilo de um botânico descrevendo a flora: árido e distante... séria um autor superando não só por suas limitações, mas porque a história do Brasil é outra, hoje. Deverá ser lido somente como testemunho valioso de uma época. Ele revela a ideologia histórica que legitima o processo de dominação social inerente à jovem nação brasileira." Odália avilta os escritos de Varnhagen, tratando como ultrapassado, mas não está? Não a história nunca é ultrapassada, a história é reescrita, Odália empobrece sua crítica quando trata o escrito de Varnhagen superado, a historiografia de Varnhagen sim foi superada, mas os escritos nunca serão; o que muda é a forma de ver, o que muda é quem olha, o que é imutável é a paisagem, para Varnhagen o Brasil era daquele jeito, e devia continuar assim, Varnhagen era iluminista, tinha aprendido a legitimar o absolutismo, e foi isso o que ele fez, e o fez bem.

Já Capistrano de Abreu identifica o grande problema da Obra de Varnhagen, a falta de periodização, a prisão do detalhes e o afastamento do povo; sobre Capistrano o autor diz: "Capistrano de Abreu, mais próximo de Varnhagen no tempo e no tipo de história, reconhece numerosos problemas na obra dele: em sua história do século XVIII, deixou a desejar; seu estilo mais à crônica, faltando-lhe a intuição, o espírito de conjunto, perdendo-se em acontecimentos irrelevantes; uniformizou a história do Brasil, tornando-se sempre igual, repetitiva, não percebendo o ritmo especifico de cada época; era irascível, matando mosca a pedrada; não tinha o espírito plástico e simpático, compreensivo, que o tornasse confidente dos homens e dos acontecimentos de que tratava; era resistente aos movimentos populares, rebeliões e outros problemas." Capistrano descreve também o historiógrafo como alguém desprovido de sentimentos poéticos, chegando a dizer que se irritava com facilidade, o que Capistrano ainda identifica é a falta de povo em sua obra, mas isto é explicado pela razão da escrita da história geral do Brasil, que era legitimar o governo Português sobre o Brasil, este crítico desponta com ares menos preconceituosos do que Odália, Capistrano olha para a obra, analisa o problema da obra no seu tempo, não faz críticas da história/tempo, mas da história/grafia, essa razão é explicada pela proximidade de ambos.

Na analise cartesiana que José Carlos Reis faz, ele conclui que Varnhagen não passava de um historiador a favor dos pensamentos do imperador, confirmando esta asserção ele diz: "(Varnhagen) Foi um historiador oficial, um adulador dos poderosos e juiz severo das revoltas populares, a história, para ele, é feita pelos grandes homens, por reis, guerreiros e governadores, bispo e não pelos homens incultos. Foi à casa de Bragança que construiu o Brasil integro e independente." O autor reproduz realmente a consciência histórica de Varnhagen, que o patrocinava era o imperador, sua ideologia era o iluminismo, então o que Varnhagen escreveria sobre o Brasil? Escreveria a história do colonizador e não do tupiniquim, ele ainda faz outra afirmação sobre esta idéia: "O Olhar de Varnhagen sobre a história do Brasil é, portanto, o olhar do colonizador português."

A obra: história Geral do Brasil

O estudo que José Carlos Reis faz sobre a Obra história geral do Brasil, é dividida em vários tópicos, ele perpassar desde a visão geográfica de Varnhagen até ao modo de produção escravista-colonial. Na descrição geografia Varnhagen segundo o autor tenta passar a visão de descobrimento e não de conquista, José Carlos afirma: "A história geral do Brasil se inicia com uma descrição feita por alguém que a descobre, que a vê pela primeira vez." Uma das funções do IHGB era descrever a fauna e flora brasileira, e isto Varnhagen faz e com muita propriedade, mas no ponto de vista português, esta obra tinha outro objetivo, que era legitimar a colonização do Brasil, argumentando que Portugal foi o melhor colonizador que o Brasil, poderia ter tido, até neste ponto segundo José Carlos Reis, o historiador não comete tantos delitos, mas quando é colocador de frente com os aspectos sociais brasileiros, este deixa aflorar seu sentimento preconceituoso português, mas vejo isto numa ótica boa, pois assim da para analisar como o português olhava para o verdadeiro brasileiro.

Na sua descrição sobre o indígena, Varnhagen, segundo o autor começa a dar ares de sujidade a sua literatura, quando descreve o índio como vagabundo, violento e bárbaro, essas características ficam nítidas quando José Carlos Reis diz: "possuíam vários vícios: hostilidade, a antropofagia, a sodomia, a vingança, comiam terra e barro." Com esta descrição Varnhagen não passava de um malíssimo analisador de culturas alheias, Varnhagen não conhecia a sociologia, algo que é visto por seus críticos, ele chega ao ponto de chamar o indígena brasileiro de alcatéia de selvagens, neste caso que coisa era o português? Varnhagen era um bajulador do imperador, ele não queria ver qualidade nas sociedades mesoamericanas aqui no Brasil, ele escrevia no Brasil, com a cabeça na Europa. Uma citação chama atenção: "Esse é o passado do Brasil que deverá ser esquecido ou que não deverá influenciar na construção do futuro da nação brasileira, se preservado. Deverá até ser preservado como antimodelo, como modelo daquilo que o Brasil não quer ser. Aliás, os capítulos dedicados ao indígena na História Geral do Brasil teriam esta função: mostrar que o futuro do Brasil não poderia ter nesse passado a sua raiz." Mas uma vez, a pena e a tinta iluminista volta a bajular o império português, a descrição do indígena era apenas para mostrar quanto benévola era a metrópole para com a colônia, Varnhagen falhou, falhou feio neste trecho, perdeu sua característica de bom historiógrafo, suas qualidades são esquecidas quando seus defeitos afloram.

No tratamento com o negro, o africano tirado de sua o pátria, José Carlos Reis diz assim sobre Varnhagen: "Para ele, os traficantes negreiros fizeram um grande mal ao Brasil, entulhando as sua cidades do litoral e engenhos de negrarias. A colonização africana teve uma grande entrada no Brasil, podendo ser considerada um dos elementos da sua população, o que nos obriga a consagrar algumas linhas a essa gente de braço vigoroso.", mas uma vez Varnhagen nos decepciona, ele demonstra quanto era preconceituoso, não ele não tinha preconceito, eu minto, ele tinha conceitos firmados sobre os verdadeiros brasileiros, ele expõe de forma ampla o sentimento europeu sobre a terra de vera cruz. Os negros podiam ser africanos, mas se tornaram brasileiros quando colocados do nosso lado por Varnhagen, este autor "coisifica" o negro quando diz que este melhorou sua cultura quando obrigado foi a aceitar a cristã, a portuguesa, José Carlos Reis explanando o a historiografia de Varnhagen diz: "os negros melhoram de sorte ao entrar em contato com gente mais polida, com a civilização e o cristianismo." Na ótica de Varnhagen existia cultura superior, e era a portuguesa, não sabia ele que os portugueses já foram excremento social para os romanos, ele peca contra sociologia cultura, mas por que o acusá-lo deste pecado? Varnhagen escrevia num tempo onde se pensava assim, não dava para ser melhor.

A História Geral do Brasil é uma ampla postagem de heróis portugueses, na sua historiografia, ele amplifica os feitos destes homens, tornando membros do panteão português, Jose Carlos Reis diz: "Varnhagen passa a apresentar o desfile dos heróis portugueses pela paisagem e pela história do Brasil. A Vasco da Gama deve-se a descoberta do Brasil, pois foi ele quem orientou a navegação de Cabral. Vasco da Gama e Cabral são os primeiros heróis da numerosa galeria de Varnhagen." HGB é uma ilusória realidade brasileira, não somos nós verdadeiros brasileiros postos nesta frívola castas de heróis, mas isto é bom, pois a ela não pertencemos.

As revoltas nativistas são vistas pó Varnhagen de forma depreciativa, pois segundo ele fragmentava a nação, mas isto nos incita a pensar além, Varnhagen e os seus patrocinadores tinham na verdade medo das revoluções, pois elas ameaçavam o poder explorador e discriminante da metrópole, o que Varnhagen passa é um pseudônimo a registrar isto.

Com relação às guerras contra franceses e holandeses, este é expõe como positiva para o Brasil português, pois aumentarão os laços de unidade, José Carlos Reis diz: "as guerras também são civilizadoras, pois trazem energia e atividade a povos entorpecidos pela preguiça e pelo ilhamento." Segundo o autor Varnhagen viu estes acontecimentos como formadores da ordem nacional, o povo lutando por interesses comuns, falsidade, o interesse era apenas de Portugal, o que dizer da colonização holandesa? Varnhagen apenas defendia os interesses da coroa portuguesa.

A família Real e a Independência

Descrevendo os acontecimentos do começo do século XIX, Varnhagen segundo o autor estabelece uma troca de favor do Brasil para com Portugal, quando este sem outra escolha acolhe a família real, diz o autor: "Para ele, o Brasil não se esquecerá jamais do seu tutor na infância, e Portugal não se esquecerá jamais dos socorros que o Brasil lhe prestou." Quê tutor de infância? Onde foi que Portugal nos defendeu? Pois esta é a definição de tutor, tutor é aquele que defende, protege, Varnhagen exagerou. Portugal defendeu os seus interesses, sua economia, a colonização portuguesa foi de exploração, e exploração é tirar utilidade de alguma coisa, é aproveitamento, o historiador cada vez mais afunda em sujidades históricas.

Quanto a independência do Brasil este é totalmente contra as revoltas, as revoltas do povo brasileiro para trona-se independente de Portugal, e ver desta forma porque tem compromissos bajuladores com a coroa portuguesa, sobre isto José Carlos reis diz: "Varnhagen expressa as formas de pensamento ajustadas ao sistema colonial. Ele vê o Brasil como o vêem os seus administradores e demais representantes da mentalidade oficial e os não-inquietos." Seu pensamento historiográfico tem o compromisso de estar em consonância com o pensamento dos "donos" do Brasil. Ele critica de forma não analítica, pois não analisa fatos ele descreve de acordo com sua ótica, ou seja, a ótica do colonizador, ver com mal olhos a revolução baiana de 1798, e a considera como feliz aborto, com relação a pernambucana, ele entristece com ela, que romântico! Varnhagen chegou a este ponto, não achamos censo critico em Varnhagen.

Ao contrario de como descreve as revoluções, ele trata a família real sem criticas, D. João VI é bom exemplo, José Carlos Reis diz: "D. João VI era bom, religioso, justo, honrado, fino, sem ambições, dotado de felicíssima memória, apreciava os sermões, o pregador e sua retórica." Com este trecho comentado pelo autor, o cronista quase coloca D. João VI nos céus, mas era esta sua função.

Glorificar os feitos portugueses, seus heróis, a família real, esta era o principal encargo de Varnhagen, descrever um Brasil português, um Brasil não Brasileiro, um Brasil sem identidade, todas essas verdades fica notória na leitura de José Carlos Reis, o historiador tinha a como objetivo validar a colonização, nunca poderíamos esperar algo diferente de um historiador patrocinado pelo império e, além disto, ser da escola iluminista, mas com isto não podemos abandonar Varnhagen, ele escreveu no seu tempo para as pessoas do seu tempo.


Autor: ANDERSON BRUNO DA SILVA OLIVEIRA


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