DEPENDÊNCIA E ABUSO DE DROGAS: UM PARADOXO QUANTO OS PREJUÍZOS CAUSADOS AO ORGANISMO; E O IMPACTO DO VÍCIO NA VIDA SOCIAL DO INDIVÍDUO.



Aline Wanderley 1

Dayane Oliveira 1

Hélvia Haynnoan 1

Anderson Feitosa 2

RESUMO:

O uso de substâncias psicotrópicas tem sido objeto de diversos estudos no Brasil, devido a crescente preocupação com os hábitos de consumo de drogas lícitas e ilícitas, seus impactos sociais, econômicos e, sobre tudo, suas implicações na saúde da população. O artigo desenvolve a especificidade do processo de dependência e abuso de drogas, visto que este denota uma desaprovação social e pode ter significados diferentes para cada tipo de indivíduo, abordando a especificidade do processo de toxicofarmacologia e toxicodinâmica de algumas substâncias entorpecentes como: etanol, opiáceos, benzodiazepínicos, maconha, nicotina e tabaco, bem como novas abordagens terapêuticas. O mesmo trata de uma pesquisa bibliográfica incluindo vários referenciais teóricos com publicações recentes, é de caráter exploratório e abordagem qualitativa. A característica da dependência de substâncias consiste na presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos, contudo a necessidade de crescentes quantidades da substância para atingir a intoxicação (ou efeito desejado) pode ser considerada como um efeito contínuo da mesma quantidade da substância, o que se denomina tolerância, logo podemos considerar abstinência como uma alteração comportamental mal adaptativa, a qual ocorre quando as concentrações de uma substância no sangue e nos tecidos diminuem em um indivíduo que manteve um uso pesado e constante da substância. Entretanto, é difícil prever a verdadeira propensão ao abuso, visto que muitas variáveis entram na decisão do uso abusivo de drogas ressaltando que são essas variáveis que interferem na decisão do consumo e abuso de drogas pelos usuários.

Palavras - chave: Abuso de Drogas, Uso Indevido de Drogas, Dependência de Drogas.

ABSTRACT:

The use of psychotropic substances, have been object of many resources in Brazil, owning to crescent preoccupation with the habits of consume of illegal and legal drugs, its social impacts, economics and, therefore, its implications on population heath. The article develop the specificity of process of dependence and abuse of drugs, once that this denote a social disapprove and can have different means for each type of person, broaching the specificity of process of toxic-pharmacology and toxic-dynamic of some substances as: ethanol, opium, benzodiazepines, marihuana, nicotine and tobacco, as such new therapeutics broaches. The same treats of bibliographic resource, including many theories referential with recent publications, is of exploratory character and qualitatively abroad. The characteristic of dependence of substances consist in presence of one group of cognitive symptoms, behaviors and physiologic, thus the necessity of crescents quantities of substances to came at poisoning (or wishes effects), can be considered how a continuous effects of same quantities of substance, what call tolerance, therefore we can consider abstinence as an behavior alteration bad adaptive, witch occur when the concentrations of one substance on blood and on tissue, get low in one person that had an heavy use e constant of substance. Therefore is difficult to see the truly inclined at abuse, such many variables get in the decision of use abusive of drugs, remember that be these variables that interfere in decision of consume and abuse of drugs by consumers.

Key-words: Abuse of Drugs, Use not legal of drugs, Dependence of drugs.

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(1)Acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da FASB.

(2)Professor de Farmacologia da FASB, Especialista em Análises Clínicas.

INTRODUÇÃO

A característica essencial da dependência de substâncias consiste na presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando que o indivíduo continua utilizando uma substância, apesar de problemas significativos relacionados a ela. A necessidade de crescentes quantidades da substância para atingir a intoxicação (ou efeito desejado) ou em uma diminuição acentuada do efeito continuado da mesma quantidade da substância denominamos “tolerância”. O grau em que a mesma se desenvolve varia imensamente entre as substâncias, no entanto, vários graus de tolerância podem ser desenvolvidos para diferentes efeitos sobre o sistema nervoso central. A abstinência consiste em uma alteração comportamental mal adaptativa, com elementos fisiológicos e cognitivos, que ocorre quando as concentrações de uma substância no sangue e nos tecidos declinam em um indivíduo que manteve um uso pesado e prolongado da substância (5).

O uso de substâncias psicotrópicas tem sido objeto de diversos estudos no Brasil, devido a crescente preocupação com os hábitos de consumo de drogas lícitas e ilícitas e seus impactos sociais, econômicos e, sobre tudo, suas implicações na saúde da população (3).

Segundo Buchalla (2006), um levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) feito em 2007 revela que o percentual de adolescentes que já consumiram drogas entre os 10 e 12 anos de idade é: 51.2% usaram álcool; 11% tabaco; 7.8% solventes; 2.4% ansiolíticas e 1.8% já usaram anfetamínicos nessa faixa etária.

O artigo aborda a especificidade do processo de dependência e abuso de drogas, visto que este denota uma desaprovação social e pode ter significados diferentes para cada tipo de indivíduo. O abuso de uma droga pode ser considerado como qualquer uso de droga para fins não-médicos; ou seja, apenas para alterar a consciência e modelar o corpo, entretanto, é mais difícil prever a verdadeira propensão ao abuso, visto que muitas variáveis entram na decisão do uso e abuso de drogas, pois esta interage, entre três fatores: o usuário, o contexto em que a droga é tomada, e a droga em si (1).

O presente artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica incluindo vários referenciais teóricos com publicações recentes, o mesmo é de caráter exploratório e abordagem qualitativa. A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas (em livros, revistas, etc); já o estudo exploratório trata-se de uma observação não estruturada, ou assistemática de fatos da realidade sem que o pesquisado utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas (8).

Em suma, abordaremos aspectos importantes a respeito da toxicofarmacologia e toxicodinâmica de substâncias entorpecentes ou que determinam dependência física ou psíquica, tais como: etanol, opiáceos, benzodiazepínicos, maconha, nicotina e tabaco, bem como novas abordagens terapêuticas.

ETANOL

A morbidade e a mortalidade associadas ao abuso de álcool possuem considerável impacto nos problemas de saúde pública, os quais envolvem três problemas clínicos e psiquiátricos: intoxicação aguda pelo álcool; reações de abstinência ao álcool (delirium tremens); alcoolismo crônico (com seus efeitos físicos associados, por exemplo, cirrose). O consumo de etanol é geralmente expresso em termos de unidades, sendo uma unidade igual a 8g (10 ml) de etanol e é a quantidade contida em 250 ml de cerveja com potência normal, uma medida de bebidas alcoólicas ou uma taça pequena de vinho. No entanto a recomendação oficial atual é o máximo de 21 unidades/semanas para homens e 14 unidades/semanas para mulheres. O etanol atua como depressor geral do sistema nervoso central de forma semelhante aos agentes anestésicos voláteis produzindo os efeitos familiares da intoxicação aguda. Visto que as principais teorias da ação do etanol são: aumento da inibição mediada por GABA, semelhante à ação dos benzodiazepínicos; inibição da entrada de Ca2+ através dos canais de cálcio controlados por voltagem; inibição das funções dos receptores de NMDA; e inibição do transporte de adenosina (9).

O delirium tremens é uma reação de abstinência aguda cujo reconhecimento é importante, pois é manifestada por hiperatividade, delírio e hipertemia grave, a qual que pode ser fatal, ocorrendo em qualquer alcoólatra crônico que interrompe o consumo de álcool. Os sintomas do delirium tremens aparecem dentro de poucas horas após a última dose e aumentam nos próximos 2-3 dias (6).

Mediante a concepção de Rang (2001), os efeitos da intoxicação aguda pelo etanol no homem são bem conhecidos e consistem em fala arrastada, descoordenação motora, aumento da autoconfiança e euforia. Os principais efeitos periféricos do etanol são: diurese aumentada, vasodilatação cutânea e retardo no trabalho de parto devido à redução da secreção de ocitocina, podendo ocorrer degeneração neurológica em bebedores inveterados, causando demência e neuropatias periféricas. O consumo de etanol em longo prazo causa hepatopatia, que evolui para a cirrose e a insuficiência hepática; o consumo moderado possui um efeito protetor contra a cardiopatia isquêmica. Já o consumo excessivo durante a gravidez causa comprometimento do desenvolvimento fetal, associado a um tamanho pequeno ou desenvolvimento anormal da face e outras anormalidades físicas, bem como retardo mental (9).

O etanol é rapidamente absorvido, sendo uma quantidade apreciável absorvida do estômago. Uma fração substancial é removida por metabolismo hepático de primeira passagem. O metabolismo do etanol ocorre quase inteiramente no fígado e principalmente por uma via que envolve oxidações sucessivas, primeiramente a acetaldeído e depois a ácido acético. A álcool desidrogenase é uma enzima citoplasmática solúvel, confinada principalmente às células hepáticas que oxida o etanol ao mesmo tempo em que reduz NAD+ a NADH. O etanol pode afetar o metabolismo de outros fármacos metabolizados pelo sistema de oxidases de função mista, com efeito inibitório inicial produzido por competição, seguido por aumento causado pela indução enzimática (9).

O tratamento clínico da abstinência ao álcool (incluindo delirium tremens) envolve a manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, a administração de vitaminas, dieta rica em carboidratos e calorias e uso de agentes sedativos para suprimir os sintomas e evitar as convulsões. Se uma pessoa dependente em álcool busca tratamento para sintomas de abstinência, os benzodiazepínicos são comumente usados na desintoxicação, pois intensificam a atividade de GABA, esta suprimida pela ingestão crônica de álcool (6) (9).

O Acamprosato é um remédio que ameniza as sensações desagradáveis decorrentes da abstinência da bebida. E age no bloqueio a atividade no cérebro de substâncias associadas ao consumo crônico de álcool, seu índice de sucesso varia de 20% a 60% em seis meses. A Naltrexona bloqueia os efeitos associados ao prazer de beber, reduzindo a compulsão por álcool, sendo que, recentemente, foi aprovada nos Estados Unidos a versão injetável do medicamento o que facilita adesão do paciente ao tratamento. Um benzodiazepínico de ação curta tem a vantagem de não apresentar metabólitos que possam produzir efeitos adversos adicionais em pessoas com doenças hepáticas concomitantes. A carbamazepina é também efetiva ao reduzir a freqüência de convulsões e alguns dos sintomas psiquiátricos associados à abstinência (2).

OPIÁCEOS

A dependência de opiáceos representa uma ameaça mundial à saúde humana e está associada a um elevado grau de atividade criminosa. A heroína é o opiáceo escolhido por 75% dessas pessoas, e os encaminhamentos decorrentes do uso de heroína estão aumentando em pelo menos 15% por ano entre os indivíduos de 15 a 19 anos de idade (6).

Segundo Katzung (2003), a curiosidade e a posição social constituem os fatores mais fortes que levam ao início do uso de opiáceos, sendo que a tolerância aos efeitos mentais dos opiáceos desenvolve-se com o uso crônico da droga. No entanto a maior parte das doses de heroína disponíveis nas ruas tem menos de 25 mg e produz efeitos de 3-5 horas de duração, por conseguinte são necessárias várias doses ao dia para evitar as manifestações da abstinência em dependentes.

Durante o uso inicial, podem ocorrer náuseas, vômitos e ansiedade, porém esses sintomas desaparecem com o uso subseqüente, e a euforia torna-se predominante; quanto aos sintomas de abstinência, surgem dentro de 8 horas após a última dose e atingem um pico em 36-72h, estes desaparecem gradualmente no decorrer de cerca de 5-10 dias, durante os quais o mal-estar geral e as cólicas abdominais persistem (6).

Muitos desses sintomas assemelham-se aos de atividade aumentada do sistema nervoso autônomo. Em primeiro lugar, aparecem lacrimejamento, rinorréia, bocejo e sudorese. Nos estágios mais avançados da síndrome de abstinência, há o sono inquieto, seguido de fraqueza, calafrios, arrepios, náuseas e vômitos, dor muscular e movimento involuntário, hiperpnéia, hipertemia e hipotensão (7).

De acordo com Grahame-Smith (2004), a superdosagem acidental representa sempre um risco, por causa do conteúdo extremamente variável de diamorfina na heroína que pode ser de 10 a 80% e tem como efeito potencialmente fatal a depressão respiratória. Além do risco sempre presente de superdosagem fatal, existem outras complicações graves associadas ao uso de opióides, como o risco de hepatite B e C e de infecção pelo HIV em decorrência da transmissão do vírus através do equipamento, de injeções compartilhadas, complicações neurológicas, cardiovasculares e pulmonares.

O tratamento da dependência de opiáceos é difícil e a curto prazo não tem muito sucesso, no entanto, depois de 10 anos cerca de 50% dos dependentes que receberam tratamento estarão abstinentes. A metadona e a buprenorfina potentes anestésicos que agem sobre os receptores opióides responsáveis por ligar e desligar o sistema de recompensa e prazer que a heroína ativa. A metadona é um dos remédios que mais contêm a dependência de heroína, o problema é que a mesma droga que trata a dependência pode levar a síndrome de abstinência, sendo assim é impossível estabelecer um índice de eficácia para o tratamento terapêutico (2).

BENZODIAZEPÍNICOS

Existem duas amplas categorias de uso abusivo de benzodiazepínicos, como por exemplo, o uso de benzodiazepínicos adquiridos através de meios que não a sua prescrição e os prescritos para fins terapêuticos, estes atuam na pontencialização do GABA e na freqüência de abertura dos canais, deixando a membrana hiperpolarizada (9).

Para Grahame-Smith (2004), os indivíduos que fazem uso abusivo de benzodiazepínicos adquiridos com prescrição provavelmente constituem uma categoria muito maior e representa um sério problema. Se um benzodiazepiníco for tomado durante algumas semanas ou mais, pode ocorrer dependência. Quando o fármaco é interrompido, existe a probabilidade de desenvolvimento de uma síndrome de abstinência de intensidade variável. Essa síndrome surge dentro de 2-3 dias após a interrupção de um benzodiazepiníco de ação curta (por exemplo, lorazepam) e dentro de cerca de 7 dias no caso de um benzodiazepiníco de ação longa (por exemplo, diazepam).

É difícil prever o nível de dependência de um indivíduo, porém a síndrome de abstinência de benzodiazepínicos é comum e, hoje em dia, sabe-se que os benzodiazepínicos não devem ser prescritos para a ansiedade por mais de 2-4 semanas, e somente nos casos graves (6).

Na dependência grave, a síndrome de abstinência consiste nos sinais e sintomas psicológicos e físicos de ansiedade, com sudorese, insônia, cefaléia, tremores, náuseas e sensação de percepção alterada, como pensamentos irreais, sensações corporais anormais, dores e hipersensibilidade a estímulos, podendo ocorrer psicose e epilepsia; convém ressaltar a semelhança dessa síndrome com a síndrome de abstinência de álcool (delirium tremens). Os sintomas de abstinência podem durar 1-2 semanas; todavia, em alguns casos, continuam por várias semanas ou meses (6).

Segundo Grahame-Smith (2004), se um paciente que estava tomando um benzodiazepiníco de ação curta for incapaz de efetuar essa redução gradual, o fármaco deve ser substituído pelo diazepam, que pode ser administrado uma vez ao dia; a seguir, deve-se começar a suspender lentamente o diazepam, em etapas de 2mg a cada 2 semanas, até que a droga seja suspensa ou que haja retorno dos sintomas. Se houver recorrência dos sintomas, deve-se prescrever a menor dose em que não ocorreram sintomas e começar a suspendê-la mais lentamente (por exemplo, ao reduzir a dose diária em 1mg a cada 2 semanas), em casos extremos, se mais de 30mg de diazepam estão sendo tomados por dia, a suspensão do fármaco deve ser lenta, no decorrer de vários meses a 1 ano, exigindo assim o apoio de um especialista.

Um estudo publicado na revista inglesa The Lancet estabeleceu um ranking das drogas mais nocivas á saúde física e mental mediante alguns critérios: o grau de danos ao organismo e a capacidade de induzir dependência, no entanto os benzodiazepínicos foram classificados em 5° lugar no ranking das substâncias mais danosas ao organismo humano, sendo a heroína classificada em 1° (2).

MACONHA

Extratos da planta cânhamo, Cannabis sativa, que cresce livremente em regiões temperadas e tropicais, contém a substância ativa ∆9–THC (substância que atua sobre os receptores CB1 canabinóides, que estão amplamente distribuídos no cérebro, desencadeado efeitos psicomiméticos e depressores, juntamente com vários efeitos autonômicos periféricos). Maconha é o nome dado às folhas e as flores, preparadas como misturas para fumo; haxixe e a resina extraída. Os canabinóides mais abundantes são o THC, seu precursor canabidiol e canabinol, que são formados espontaneamente a partir do THC, sendo este abundante, constituindo aproximadamente 1 a 10% por peso de preparações de maconha e haxixe (9).

Os receptores CB1 são abundantes no hipocampo (comprometimento de memória), cerebelo e substancia negra (distúrbio motor) e vias mesolímbicas de dopamina (gratificação), bem como no córtex. Os principais efeitos periféricos da maconha são: taquicardia, que pode ser prevenida por fármacos que bloqueiem a transmissão simpática; vasodilatação, que é particularmente acentuada nos vasos da esclera e da conjuntiva, produzindo aspecto injetado característicos dos que fumam maconha; redução da pressão intra-ocular e broncodilatação (7).

O efeito da maconha, usada por um fumo ou por injeção intravenosa, leva cerca de 1 hora para desenvolver-se inteiramente e dura 2-3 horas. Uma pequena fração é convertida em 11-hidróxi-THC, que é mais ativo que o próprio THC, porém a maior parte é convertida em metabólitos inativos. Em parte, é conjugado e passa por recirculação êntero-hepática. Em superdosagem, o THC é relativamente seguro, produzindo sonolência e confusão, mas não efeitos respiratórios ou cardiovasculares que coloquem a vida em risco. A este respeito, é mais seguro do que a maioria das substancias das quais se faz abuso, particularmente os opiáceos e o etanol. Mesmo em doses baixas; o THC e derivados sintéticos, como a nabilona, produzindo euforia e sonolência, algumas vezes acompanhadas por distorção sensitiva e alucinações, além do mais ocorrem certos efeitos endócrinos no homem, notavelmente diminuição da testosterona no plasma e redução da contagem de espermatozóides (9).

Evidências não comprovadas sugerem que o fumo de maconha possa ser eficaz em algumas afecções, particularmente nas seguintes: alívio de dor e espasmo musculares associados a esclerose múltipla; alivio de outros tipos de dor neuropática crônica, inclusive a dor relacionada a AIDS; melhora do apetite e prevenção da caquexia na AIDS; e alívio das náusea induzidas pela quimioterapia (9).

Segundo Rang (2007), a possibilidade da maconha em causar doença psicótica tem recebido muita atenção após relatos do uso durante a adolescência, aumentando a probabilidade de esquizofrenia em mais de seis vezes. A questão é altamente controversa, mas, em geral, acredita-se que o uso de maconha durante a adolescência possa causar psicose, que se torne manifesta, em indivíduos “pré-psicóticos”, antes da época em que se manifestariam, e que isso possa torna os sintomas piores. Estima-se que a eliminação do uso da maconha em indivíduos abaixo de 15 anos reduziria a incidência de esquizofrenia em 8%; entretanto, ainda continua obscuro se a maconha pode induzir psicose em indivíduos que, de outra forma, não ficariam doentes.

A tolerância à maconha e a dependência física ocorrem em grau pequeno principalmente nos usuários crônicos. Os sintomas de abstinência são semelhantes aos do etanol ou dos opiáceos, a saber, náuseas, agitação, irritabilidade, sudorese, confusão, taquicardia, etc; mas são relativamente leves e não resultam em urgência compulsiva para usar a substância. A dependência psicológica, acompanhada por desejo compulsivo, contudo, ocorre em certo grau com a maconha, embora seja insuficiente para classificá-la como verdadeiramente viciante. Não há medicação especifica contra o vício em maconha, porém, um remédio antiobesidade, o rimonaleanto por exercer seu mecanismo sobre os receptores canabinóides, parece ter alguma eficácia contra esse tipo de dependência sendo impossível estabelecer um índice de eficácia (2).

NICOTINA E TABACO

O fumo do tabaco propagou-se pela a Europa durante o século XVI, em virtude da primeira visita dos exploradores europeus ao subcontinente Americano. O cultivo do tabaco e o hábito de mascá-lo e fumá-lo tornaram se costumes nesses locais, visto que hoje a cerca de 1,1 bilhão de fumantes no mundo (18% da população adulta); o número nos países em desenvolvimento esta aumentando rapidamente, sendo, os cigarros, responsáveis por 98% do consumo de tabaco por aproximadamente 10 % das mortes no mundo todo, principalmente por cânceres, cardiopatias e bronquite crônica; e 10% das crianças com 10 a 15 anos de idade são fumantes regulares (9).

Uma pesquisa patrocinada pelo laboratório Pfizer contou com a participação de 4.253 fumantes de todo o Brasil e divulgou que 53% das pessoas deram à primeira tragada entre 16 e 20 anos de idade; 32,5% começaram entre 10 e 15 anos, as mulheres, em geral, começaram a fumar mais cedo; 36% iniciaram entre 10 e 15 anos de idade, contra 29% dos homens; 47% fumaram de onze a vinte cigarros por dia; 30% acendem o primeiro cigarro do dia cinco minutos depois de acordar; para 56% dos fumantes, o primeiro cigarro do dia é o que dá mais prazer; 91% já tentaram parar de fumar pelo menos uma vez e as principais justificativas para o fracasso foram a falta de força de vontade de fumar pelo menos uma vez (2).

De acordo com Rang (2007), os efeitos agudos do tabagismo podem ser limitados pela injeção de nicotinas e são bloqueados pela mecamilamina, um antagonista em receptores neuronais nicotínicos de acetilcolina (nAChRs) do subtipo α4β2 que se expressam amplamente no cérebro, particularmente no córtex e hipocampo. É provável que o efeito global da nicotina reflita o equilíbrio entre a ativação de nAChRs, causando excitação neuronal, e dessensibização, causando bloqueio sináptico; já os periféricos decorrem da estimulação de gânglios autônomos (taquicardia,aumento da pressão arterial e redução da motilidade gastrintestinal e de receptores sensitivos periféricos, principalmente no coração e nos pulmões.

A nicotina é metabolizada, na sua maior fração no fígado, no período de 1 a 2 horas. Sabe-se, que um cigarro comum, fumado durante 10 minutos, faz com que a concentração plasmática de nicotina no plasma se eleve a 15-30 ng/mL (100-200 nmoL), caindo a cerca de metade em 10 minutos e depois mais lentamente durante as duas primeiras horas seguintes. O rápido declínio resulta principalmente da redistribuição entre o sangue e outros tecidos; o declínio mais lento deve-se ao metabolismo hepático, principalmente por oxidação a um metabólito cetona inativo, a cotinina, a qual tem longa meia-vida plasmática e pode ser usada como medida dos hábitos de tabagismo; embora a capacidade de dependência do tabagismo deve-se unicamente a nicotina (9).

A estimulação dos receptores sensoriais periféricos desencadeia várias respostas que causam elevação do débito cardíaco e pressão arterial, taquicardia, redução da motilidade gastrintestinal e sudorese, portanto, no ato de fumar pela primeira vez é comum o individuo sentir náuseas e vômitos, provavelmente com origem decorrente da estimulação dos receptores sensoriais no estômago (9).

Os efeitos da nicotina associados á estimulação ganglionar periférica exibem rápida tolerância, talvez em conseqüência da dessensibilidade dos receptores nicotínicos de acetilcolina pela nicotina. Da mesma forma que outras drogas produtoras de dependência, a nicotina causa excitação da via mesolímbica e aumenta da liberação de dopamina no núcleo acumbente. As principais características da síndrome de abstinência incluem: aumento da irritabilidade, redução do desempenho de tarefas psicomotoras, agressividade e distúrbios do sono (9).

Rang (2007) afirma que, a expectativa de vida dos tabagistas é mais curta do que a dos não tabagistas, pois os efeitos nocivos do tabagismo oferecem vários riscos à saúde que incluem câncer, em específico do pulmão com responsabilidade por cerca da metade de mortes por câncer nos homens, sendo o alcatrão o principal fator responsável; cardiopatia coronariana e outras formas de doença vascular periférica que incluem a nicotina e o monóxido de carbono como principais responsáveis e, os efeitos durante a gravidez incluem um aumento na taxa de aborto e mortalidade perinatal.

A maioria dos tabagistas gostariam de parar, mas poucos tem sucesso. Um exemplo clássico é o de Freud, que tentou, sem sucesso, abandonar os charutos por 45 anos antes de morrer de câncer de boca, aos 83 anos de idade. No entanto, as clínicas para o tratamento do tabagismo com maior êxito fazem o uso de tratamento psicológico e farmacológicos com uma taxa de sucesso em torno de 25% dos pacientes, visto que utilizam os dois principais tratamentos farmacológicos a terapia de reposição de nicotina (a qual é usada para auxiliar os tabagistas a abandonarem o tabagismo por meio de alivio da síndrome de abstinência psicológica e física) e a bupropiona (a qual reduz o limiar para crises convulsivas, de modo que está contra-indicada em pessoas com fatores de risco para crises convulsivas) (9).

As gomas de mascar contendo nicotina e os emplastros de nicotina podem ajudar o indivíduo a abandonar o fumo. Em estudos clínicos de discos de nicotina, 22% dos indivíduos tornaram-se abstinentes dentro de seis meses após o tratamento, em comparação a 6% após o uso de placebo (6).

A vareniclina recém chegada ao Brasil, age nos receptores de nicotina no cérebro, além de diminuir a vontade de fumar. O remédio não deixa o fumante sentir prazer nas possíveis recaídas do tratamento o que possibilita um índice de sucesso de 23% em um ano. A bupropiona aumenta a atividade dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina o que parece beneficiar mais as mulheres do que os homens, seu índice de sucesso e de 16% em um ano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De fato, todo o conteúdo abordado neste artigo especifica de forma geral, dinâmica e clara o processo de dependência e abuso de drogas relacionado à tolerância e abstinência das mesmas.

O mesmo enfatiza esses parâmetros, uma vez que estes denotam uma desaprovação social e pode ter significados diferentes para cada tipo de indivíduo, ou seja, apenas alterar a consciência e modelar o corpo, entretanto, é difícil prever a verdadeira propensão ao abuso, visto que muitas variáveis entram na decisão do uso abusivo de drogas.

É válido ressaltar que são essas variáveis que interferem na decisão do consumo e abuso de drogas pelos os usuários.Com base na temática exposta é que se faz necessário uma maior inserção de políticas educativas na sociedade para enfrentar o uso abusivo de drogas pela população em geral, a fim de minimizar o uso indiscriminado de substâncias psicotrópicas lícitas e ilícitas que vem causando graves problemas para á saúde pública.

Dessa forma, fazendo uso de nossos atributos como acadêmicas da área de saúde é que podemos propor atividades educativas voltadas para a promoção, proteção e recuperação do individuo, assim como orientações e informações a respeito do consumo abusivo de drogas e principais causas relacionadas a ela

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) I SEMINÁRIO NACIONAL ANTIDROGAS. Evento discute as principais questões sobre uso de drogas nas escolas superiores. São Paulo, nº 34, ano 06, p.34-40, jul/ago2006.

(2) BUCHALLA, Anna Paula. Para Desligar o Circuito do Vício. Veja São Paulo, nº 20, ano 40, p. 78-85, maio de 2007.

(3) CARLINI, E. A. et al. I levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil- 2001. São Paulo: Centro Brasileiro sobre Drogas Psicotrópicas; 2002.

(4) CLAYTON, Bruce D; STOCK, Yvone. Farmacoclogia: na Prática de Enfermagem. 13 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

(5) DSM - IV- T: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

(6) GRAHAME-SMITH, D. G. et al. Tratado de Farmacologia Clínica e Farmacoterapia. 3 ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2004.

(7) KATZUNG, B. G. et al. Farmacologia Básica e Clínica. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

(8) RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica: para alunos dos cursos de graduação e pós–graduação. São Paulo: Loyola, 2002.

(9) RANG, H.P et al. Farmacologia 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
Autor: Hélvia Haynnoan


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