A Educação como Prática da Liberdade



"A educação como prática da liberdade, ao contrário daquela que é a prática da dominação, implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo,assim também a negação do mundo como uma realidade ausente dos homens"

Paulo Freire

FREIRE, Paulo. A Educação como Prática da liberdade.

23ª. Ed.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

Paulo Freire


A educação na visão de Paulo Freire deve realizar-se como prática da liberdade. Os caminhos da libertação só estabelecem sujeitos livres e a prática da liberdade só pode se concretizar numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica.

Quando se pensa em Educação Popular, logo se recorre às idéias de Paulo Freire, pois, durante toda a sua vida dedicou-se com a questão do educar para a vida, através de uma educação preocupada com a formação do indivíduo crítico, criativo e participante na sociedade. Nestes termos, é relevante observar que o ser humano nesta educação, é um sujeito que não deve somente "estar no mundo, mas com o mundo", ou seja, fazer parte dessa imensa esfera giratória, não apenas vivendo, mas construindo sua própria identidade e intervindo no melhoramento de suas condições enquanto cidadão e buscando o direito de construir uma cidadania igualitária e justa.

A melhor forma de ensinar é defender com seriedade, apaixonadamente uma posição, estimulando e respeitando, ao mesmo tempo, o direito ao discurso contrário. Estará ensinando, assim, o dever de brigar por nossas idéias e, ao mesmo tempo, o respeito mútuo.

Paulo Freire achava que o problema central do homem não era o simples alfabetizar, mas fazer com que o homem assumisse sua dignidade enquanto homem. E, desta forma, detentor de uma cultura própria, capaz de fazer história. Ainda segundo Paulo Freire o homem que detém a crença em si mesmo é capaz de dominar os instrumentos de ação à sua disposição, incluindo a leitura.

O pensamento de Freire (1921-1997) surge como produto das condições histórico-sociais em que vivia o Brasil e o Chile na década dos 60, lugares onde realizou sua prática educativa mais relevante. A "Educação como prática da liberdade", um dos seus primeiros ensaios, não se pode compreender nem submeter à crítica sem vinculá-lo ao contexto brasileiro dos anos 1960-1964. Ainda que se deva chamar a atenção para o fato de que o pensamento foi-se gerando desde os anos finais da década de 40 e durante toda a década dos 50; e mais, continua enriquecendo-se até o dia de hoje.

De acordo com critérios sociológicos de sua época, Freire reconhece no Brasil uma "sociedade fechada" à qual pertencia à sociedade, a cultura e a educação que se discute. Mas, no Brasil, também havia uma "sociedade aberta" que propunha uma educação participativa, onde toda pessoa podia "dizer sua palavra", uma sociedade à qual pertencia uma cultura livre. O Brasil também tinha uma "sociedade em transição" à qual pertencia uma "consciência transitiva", em processo de libertação.

Educação como Prática da Liberdade

O modelo pedagógico de Paulo Freire que aproxima a educação como ação cultural, de conscientização e suas técnicas para alfabetização têm sido adotadas e adaptadas  para ajustar milhares de projetos onde a situação de aprendizagem é parte da situação de conflito social.

Este modelo apresenta uma educação construída sobre a idéia de um diálogo entre educador e educando, onde ocorra sempre partes de cada um no outro, que não poderia começar com o educador trazendo pronto do seu mundo, do seu saber, o seu modelo de ensino e o material para as suas aulas baseados na sua cultura e valores. Dentro desta percepção é que um dos pressupostos do modelo se fundamenta na idéia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho.

O diálogo consiste em uma relação horizontal e não vertical entre as pessoas implicadas, entre as pessoas em relação. No seu pensamento, a relação homem-homem, homem-mulher, mulher-mulher e homem-mundo são indissociáveis. "Os homens se educam juntos, na transformação do mundo". Nesse processo se valoriza o saber de todos. O saber dos alunos não é negado. Todavia, o educador também não fica limitado ao saber do aluno. O professor tem o dever de ultrapassá-lo. É por isso que ele é professor e sua função não se confunde com a do aluno.

Esta resenha tem a pretensão de apresentar reflexões no que considera peculiar na obra "Educação como prática da Liberdade", onde Paulo Freire aborda o "Método" de Alfabetização de Adultos de maneira detalhada dentro de um contexto sócio-político no Brasil na década de 1960.

Paulo Freire faz uma crítica à educação tradicional no Brasil, o autor defendia que seria necessária uma educação para decisão, para uma responsabilidade social e política. Educação que o colocasse em diálogo sempre com o outro, através de uma visão crítica e não apenas passiva. Freire concebia um processo pedagógico de educar o sujeito histórico e politizado dentro de uma análise crítica da sociedade.

A Pedagogia Crítica recusa a tese de que o conhecimento e a escola são neutros e que, portanto, os professores devem ter uma atitude neutra. A escola é um processo político, não apenas porque contém uma mensagem política ou trata de tópicos políticos de ocasião, mas também porque é produzida e situada em um complexo de relações políticas e sociais das quais não pode ser abstraída.

Paulo Freire apresenta uma linguagem político-pedagógica, completamente progressista e renovadora para a época. O autor também ressalta o valor dos "conteúdos programáticos", que deveriam ser democraticamente escolhidos pelas partes interessadas no ato de alfabetizar, dentro de uma proposta mais ampla de educar (Freire, 1993 p. 241).

Ao contrário da concepção tradicional de escola, que se apóia em métodos centrados na autoridade do professor; Paulo Freire comprovou que os métodos em que os alunos e professores aprendem juntos, são mais eficientes.


Autor: Wendel Silva


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