O que as escolas têm feito pelo mal dos nossos filhos.



 

Que as famílias estão pessimamente estruturadas, isso é notório. Não porque as famílias têm se modificado ao longo do tempo, pois essa modificação só melhora o nível de compreensão da realidade. Exemplos: pais bem separados podem educar melhor do que pais mal casados; pais que trabalham fora podem se doar mais que pais presentes apenas fisicamente. Aliás, egoísmo em nada combina com paternidade. No entanto, a desestrutura aqui abordada faz relação com diversos problemas da estrutura, ou a falta dela, familiar, como a gravidez na adolescência. O que é o fim de uma educação permissiva, sem conscientização por parte dos pais das moças e dos rapazes que caem nesse problema, mas é também o início de outro grave problema que certamente irá ocasionar um círculo vicioso de más educações. Em que os prematuros pais jamais terão condições financeiras ou emocionais ou éticas ou de outras naturezas que realmente atenda as necessidades dos filhos nascidos de uma relação sem responsabilidade e, muitas vezes, sem respeito.

Independente do que pensem ou queiram os governos, por mais democráticos que sejam, é impossível reestruturar as famílias partindo tão-somente das escolas. O trabalho de educação de uma sociedade não pode jamais ser relegado às instituições de ensino. Aliás, é mister, antes de tudo, reestruturar as escolas e, entenda-se escola não somente o prédio escolar, mas todo o aparato governamental por trás de uma máquina enorme, enferrujada e onerosa.

A sociedade precisa de uma reestruturação em que nenhum dos seus setores seja privilegiado, em que a justiça funcione, aja rapidamente e seja realmente igual para todos, em que uma reforma política tenha como objetivo reais melhorias para o povo e para a justiça e não para os conchaves políticos ou para a impunidade.

A escola tem sido cobrada para cumprir muito além do seu papel, na verdade, um papel que não é o dela. Não que a escola sirva só para o desenvolvimento do conhecimento acadêmico, já seria muito trabalhoso, mas ela se tornaria apenas tecnicista, outra vez. Mas que pare de ser exigida em uma tarefa que é de todos: governo, partidos políticos, órgãos públicos, sociedade, emissoras de TV, rádio, jornais, igrejas, associações, grandes empresas, conselhos, ONG’s. O conceito de ética precisa ser rediscutido e a forma de se desenvolver a cultura deve ser redimensionada. Essa empreitada não pode ser jamais somente da escola, ela não tem poder para tanto.

Alunos que agridem professores ou colegas, chegando a ferir ou até matar, devem ser punidos pelo poder judiciário. Hoje, no Brasil, prospera a imunidade estudantil, em que o aluno não pode sequer ser tocado no braço por um educador. Ninguém quer a volta da palmatória nem de outros castigos, mas antes se respeitar e acreditar em um professor a aceitar a futura delinqüência juvenil nas nossas ruas. Os exageros são as molas-mestras das leis brasileiras. Em nome dos direitos humanos, nada pode acontecer ao agressor, mas nenhuma visita é feita à casa da vítima.

O poder público tem investido em uma expressão que virou moda e provavelmente vai perdurar por muito tempo: a geração de emprego e renda. Mas, na prática, tudo se resume em corporativismo, em que se aplica um sistema de beneficiamento rápido, de retorno político imediato, mas de conseqüências a longo prazo inimagináveis, que é o bolsa-família, por exemplo. A distribuição de bolsas às famílias mais carentes deve ser encarada como uma solução paliativa, imediatista, mas de pouca duração, pois, como dizia Luís Gonzaga há mais de 40 anos: “uma esmola a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.” Será que a escola pública será depósito de fichas que dão direito à bolsa-família?

E a escola, mais uma vez, é punida com professores despreparados, mal remunerados e assoberbados de trabalho, com cargas-horárias que não possibilitam o aperfeiçoamento tecnológico, a inovação didático-metodológica e o respeito e a dignidade social. São profissionais mal formados por universidades e faculdades desprovidas de recursos físicos e humanos que possibilitem uma formação de qualidade. São homens e mulheres que não têm seus direitos básicos assegurados, no entanto, têm que trabalhar a formação crítica do cidadão com seus alunos. A diferença entre a escola pública e particular na prática está quase extinta, mas nas avaliações, a pública sempre fica em uma grande desvantagem. Sai mais cara ao estado e oferece piores resultados.

Por tudo isso é que a escola tem desenvolvido muito mal o seu papel de educadora, promotora do desenvolvimento tecnológico e formadora dos novos cidadãos que irão construir a nação nas inúmeras vertentes do conhecimento. A escola hoje está simplesmente preocupada em acolher e acolhida é uma função genuinamente da família. Se isso não acontecer no seio familiar, nenhum outro componente da sociedade poderá substituir a contento tal procedimento. É simples verificar isso no rendimento escolar ou na convivência social entre crianças de famílias acolhedoras, participativas e envolvidas no processo de educação em relação a crianças vindas de famílias desestruturadas, com envolvimentos com drogas e crimes ou apenas negligências em relação ao acompanhamento do filho. A escola deve ensinar, educar, acolher, possibilitar desenvolvimentos, mas tudo isso é função também da família e da sociedade como um todo. No entanto, a punição, que também é uma forma de aprendizagem, deve existir tanto no âmbito familiar, como na sociedade e principalmente na escola. A escola que não pune é conivente. A reprovação não deve ser incentivada, mas não pode ser proibida. Um aluno pode sim ser suspenso das atividades escolares por um período como punição por um comportamento fora do padrão de estudante. Um casal de namorados deve respeitar as dependências escolares assim como se respeitaria a presença dos pais em suas casas. Os afagos mais intensos devem ser proibidos como já é o uso de cigarros, drogas e álcool. O professor merece ser respeitado como profissional que é, no gozo de suas funções, sem ser parado na rua para dar explicações sobre o seu trabalho a pais que não foram às reuniões escolares. O salário de um profissional da educação deve ser condigno com a sua função de capacitar crianças e jovens para o exercício da cidadania, dando-lhe o direito de se especializar, ter férias, ter tempo disponível para preparar aulas e avaliações, corrigir trabalhos e provas, estudar, ter lazer e viver confortavelmente como qualquer outro profissional graduado.

Do profissional da educação, a escola tem até exigido demais, mas dos alunos a exigência está se nivelando por baixo, cada dia mais. O aluno que deveria estar alfabetizado dentro do código da língua portuguesa no início da educação básica, nas series iniciais do ensino fundamental, tem chegado à 4ª. serie sem saber ler e escrever com a desenvoltura necessária para se entender um texto. Ou seja, o nível desejado para uma série está sendo conseguido com cerca de três anos de atraso. A atual gestão governamental tem como meta 4,5 de média no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), já que a média atual é de 3,8. Em uma avaliação com valores entre 0 e 10, é, no mínimo, estranho contentar-se com notas tão baixas.

Então, a educação pública hoje no Brasil está realmente fadada ao fracasso e principalmente por fazer um grande mal aos nossos filhos: subjugá-los, conscientizando-os de que o que eles já sabem é o bastante e que não precisam se esforçar para galgar outros patamares de desenvolvimento. A lei do menor esforço começa nos bancos escolares e termina em lugares e ações que conhecemos muito bem: compra de votos, corrupção, nepotismo, corporativismo, falta de ética e decoro no Congresso, formas de arte apelativas, falta de educação no trânsito, impunidade, preconceito social, destruição do meio ambiente, poluição e analfabetismo funcional, entre tantos outros problemas que a escola sozinha não tem como resolver.

  

 


Autor: Roberto Remígio


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