INVENTÁRIO BIOLÓGICO RÁPIDO DE FAUNA E FLORA NA ÁREA DO EXÉRCITO, PAULO AFONSO-BA.
Lígia Mara Borges Camacan1, Maria das Graças da Silva1, Nábila Valesca Soares Brás1, Rafaela Ramos Varjão1, Rafaella Ramos de Oliveira Lima1, Cássia Alves1, Lívia Maria1, Talita Meriele1, Thiago Gomes1 & Carlos Alberto Batista Santos.
1Graduandos do Curso de Ciências Biológicas da Universidade do Estado da Bahia – Campus VIII
2Professor Orientador – Universidade do Estado da Bahia – Campus VIII
INTRODUÇÃO
A redução da vegetação original e fauna característica do Bioma Caatinga, determinada pelos processos degenerativos resultantes da desordenada atividade humana sob estes ambientes em áreas urbanas, não representam boas perspectivas para a conservação, visto que a perda da diversidade biológica e genética gera redução na capacidade de adaptação das espécies às mudanças ambientais, aumentando drasticamente as possibilidades de extinção.
O conhecimento da situação inicial de uma determinada área de estudo que se encontra degradada é fundamental para a elaboração do diagnóstico e planejamento de projetos que busquem a transformação desta realidade (LIMA et al., 2003).
A preservação e o manejo dos pequenos fragmentos florestais, apesar deles poderem conter as últimas espécies, populações, comunidades e ecossistemas naturais, é ainda enfocado de forma secundária no Brasil (VIANA, 1990 apud LIMA et al., 2004). Este comenta que, com isto, pode-se estar menosprezando a importância das pequenas reservas, normalmente pouco amparadas pelas políticas conservacionistas e que, em muitos casos, representam a maior parte dos remanescentes de florestas naturais. Da mesma forma, essas são ainda são pouco estudadas, no que se refere à estrutura e dinâmica, sendo, porém, de grande importância esses dados para o planejamento da recuperação e manejo dessas áreas degradadas (LEITÃO et al., 1996 apud LIMA et al., 2004).
Recentemente surgiu no município de Paulo Afonso a proposta de criação do Parque ecológico na área do Caminho dos Lagos, através de sistemas de utilização sustentáveis que prevê a conservação da área e da biodiversidade existente. No entanto, existem lacunas para a elaboração destes planos, a área ainda não dispõe de planos de manejo e se encontra carente de informações básicas sobre a diversidade biológica. Todas estas características abrem importantes possibilidades de estudos da fauna e flora ainda preservados nesta área.
Poucos inventários biológicos já foram realizados na Caatinga, e em especial no Estado da Bahia, o que compromete diretamente o real conhecimento da diversidade biológica deste bioma, pré-requisito essencial para a elaboração de planos de manejo e conservação (LEAL et al., 2005 apud MARQUES, 2007).
De forma a suprir parte destas necessidades, foi estabelecido um estudo para inventariar e mapear a ocorrência de espécies de grupos ecológicos representativos na área. Este estudo executou inventários rápidos da flora e da fauna dentro da área citada, gerando conhecimento científico sobre a biodiversidade e subsídios para a elaboração dos planos de conservação e implementação do Parque.
MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização da área
O estudo foi realizado no município de Paulo Afonso que está assentado sobre uma área de 1.574km2, o clima dominante é o Tropical do tipo Semi-Árido com temperaturas anuais de
O crescimento desordenado desse município provocou a ocupação de terrenos desobedecendo às normas ambientais, invadindo locais susceptíveis e importantes para a conservação de seus recursos biológicos. O resultado foi a redução das áreas de mata conservada com fins ecológicos, paisagísticos, recreativos e que possam diminuir o superaquecimento do ar atmosférico, como conseqüência temos o surgimento de uma “Ilha de calor” na sede do município.
Um exemplo das consequências enfrentadas por conta desse crescimento é o estado que se encontra o terreno do Exército que possui
Etapa de campo
Os inventários biológicos realizados seguem o Programa de Avaliação Rápida (RAP) desenvolvido pela Conservation International (MARTINS et al., 2006), que consiste na execução de estudos de curta duração, focados no registro do maior número possível de espécies em grupos pré-determinados de organismos em áreas pouco conhecidas.
O objetivo desta abordagem não é gerar uma lista completa de espécies para os locais visitados, mas sim fornecer dados primordiais sobre a diversidade de uma área, para que estes sejam disponibilizados rapidamente, seja para embasar futuros estudos ou para iniciativas emergenciais de conservação.
Para este estudo foi estabelecido que as amostragens devessem ficar restritas a uma linha amostral a partir do ponto estabelecido e que esta receberia um esforço de 12 horas de inventário. As espécies inventariadas foram amostradas ao longo de trilhas no meio da vegetação através de busca ativa e a orientação destas trilhas foi feita de modo a cobrir a maior diversidade possível de habitats.
As observações foram realizadas no período vespertino, utilizando coletas de vestígios diretos ou indiretos, encontros visuais, auditivos e registro fotográfico. Além disso, foram registradas a presença de ações antrópicas e a incidência de espécies vegetais conhecidas pelos observadores e representativos do ambiente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aspectos físicos
A área de estudo encontra-se em estado avançado de degradação por ações antrópicas. A área de borda desse fragmento urbano de Caatinga apresenta pouca vegetação, a maioria herbácea e arbustiva, e o centro, apesar do maior número de espécimes arbóreos e possibilidades de formação de habitats, também possui inúmeros vestígios de alteração.
Os principais problemas ambientais verificados em campo estão descritos a seguir:
- Evidências de incidência de fogo, caracterizada pela queima de lixo;
- Depósito de lixo de várias fontes (entulho, lixo comercial, lixo doméstico);
- Proximidade ao lago em nível avançado de eutrofização;
- Erosão do solo, provocada pela retirada de areia e extração da vegetação.
Aspectos biológicos
No levantamento da flora foi observada a presença constante das espécies: Catingueira Caesalpinia pyramidalis, Pinhão Jatropha sp., Favela Cnidoscolus phyllacanthus, Quipá Opuntia inamoena, Xiquexique Pilosocereus gounellei, Juremas Mimosa sp., umbuzeiro Anacardium ocidentale (Santana et al., 2006).
Damos destaque à presença de espécies da família das anacardiaceae, como o umbuzeiro que com sua fronde gera em meio a Caatinga uma espécie de micro-clima, podendo dizer assim sendo um oásis em meio a um deserto, servindo de abrigo pra muitas espécies de animais e vegetais inferiores.
É notória a grande quantidade de indivíduos da família Euphorbiaceae, tais como a faveleira e o velame que são bio-indicadores de degradação por apresentar uma grande plasticidade e tolerância aos níveis de estresse ambiental, contudo foi observada a presença de musgos indicando que apesar de sofrer ação antrópica a área mostra sinais de regeneração, em determinadas áreas próximas as habitações a vegetação mostrava-se ressequida e distantes uma das outras, mais na área central a vegetação mostrava-se mais densa nos impossibilitando transpô-la estando todas em fase intermediaria nos levando a crer que aquela é uma em regeneração devido ao afastamento da ação humana, pois foi observado uma quantidade mínima de lixo nessa região,
Em trabalhos qualitativos e quantitativos sobre a flora e vegetação da caatinga, foram registradas cerca de 596 espécies arbóreas e arbustivas, sendo 180 endêmicas. Esse número de espécies tende a aumentar se considerarmos as herbáceas. As famílias arbóreas e arbustivas mais frequentes são Caesalpinaceae, Mimosaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae e Cactaceae, sendo os gêneros Senna, Mimosa e Pithecellobium com maior número de espécies. A catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.), as juremas (Mimosa spp.) e os marmeleiros (Croton spp.) são as plantas mais abundantes na maioria dos trabalhos de levantamento realizados em área de caatinga.
A partir do trabalho do PROBIO 2000, chegou-se à conclusão que o conhecimento sobre os invertebrados do bioma Caatinga ainda é muito insipiente. Os grupos mais conhecidos são: as abelhas, as formigas e os cupins. A seguir apresenta-se figuras de invertebrados encontrados na área estudada para o qual não encontrou-se informação sistematizada sobre a sua diversidade no bioma, sendo alguns coletados para posterior identificação.
Além dos invertebrados ilustrados acima, foi possível observar a presença de alguns répteis sobre as rochas, besouros voando sobre as folhas, aves através de vestígios em frutos de xiquexique e conchas de moluscos presentes no Bioma Caatinga.
Entre os animais vertebrados foram registrados a presença das aves através de encontros visuais e auditivos: Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), Anu-preto (Crotophaga ani), Canário da terra (Sicalis flaveola), Anu-branco (Guira guira), Pica pau do campo (Colaptes campestris),e a Rolinha-caldo-de-feijão (Columbina talpacoti). Entre os mamíferos a presença do mocó (Kerodon rupestris) foi registrada através de encontros visuais e vestígios de fezes. Dentre os répteis, através de encontros visuais a presença marcante da lagartixa Tropidurus torquatus.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O enfoque do trabalho foi centrado na presença biológica independente da perda de diversidade devido, principalmente, a supressão de habitat. Perda essa que pode ser reparada em maior ou menor velocidade, dependendo das medidas propostas nos programas de conservação e suas implantações efetivas.
Entre os fatores que contribuíram para esta diminuição de habitats e que devem ser evitados ao máximo para que haja sucesso no programa de conservação estão: a supressão da vegetação e de habitats de fauna, o afugentamento da fauna, e dispersão de animais. As sugestões que serão feitas no plano de conservação à fauna e flora deverão abordar estes pontos e partir daí decidir quais medidas poderão ser tomadas para minimizá-los.
A restauração ecológica deve assistir e manejar a recuperação da integridade ecológica do ecossistema, possibilitando a inclusão da biodiversidade e variabilidade necessária para a estrutura e o funcionamento dos processos ecológicos. É aconselhável, portanto, a retirada das espécies invasoras e a implantação de árvores de grande porte nativas.
Em médio e longo prazo a restauração deve incluir entre suas metas, o enriquecimento e aumento da complexidade estrutural dos habitats, da biodiversidade, da regeneração de espécies nativas e o desenvolvimento da autosustentabilidade do ecossistema.
REFERÊNCIAS
LIMA, I. A. Flora e fauna: Relatório final microbacia córrego das Três Barras no município de Marinópolis. 2004. Consultoria para monitoramento. Disponível em: http://www.cati.sp.gov.br/novacati/microbacias/documentos/fauna_flora/Marinopolis_%20Fauna_Flora.pdf. Acesso em: 25 de mar. 2009.
MARTINS, A. C. M.; BERNARD, E.; GREGORIN, R. Inventários biológicos rápidos de morcegos (Mammalia, Chiroptera) em três unidades de conservação do Amapá, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia. V. 23, Nº. 4, 1175–1184p. Dezembro, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbzool/v23n4/26.pdf. Acesso em: 25 de mar. 2009.
MARQUES, J. (Organizador). As Caatingas: Debates sobre a ecorregião do Raso da Catarina. Paulo Afonso-BA: Fonte Viva, 2007. 216p.
O bioma da Caatinga. Disponível em: http://www.biosferadacaatinga.org.br/o_. bioma _ caatinga. php. Acesso em: 27 mar. 2009.
REIS, R. R. A. Paulo Afonso e o Sertão Baiano: sua geografia e seu povo. Paulo Afonso: Fonte Viva, 2004.
SANTANA, J. A. da S.; SOUTO, J. S. Diversidade e estrutura fitossociológica da caatinga na estação ecológica do Seridó-RN. Revista de Biologia e Ciências da Terra. V. 6, Nº 2. 2006. ISSN 1519-5228. Disponível em: http://eduep.uepb.edu. br/rbct/sumarios/pdf/serido.pdf. Acesso em: 25 de mar. 2009.
Autor: Carlos Alberto Batista Santos
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