A RELEVÂNCIA DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA JUNTO ÀS FAMÍLIAS



A RELEVÂNCIA DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA JUNTO ÀS FAMÍLIAS

 

 

Lourdes Bernadette Milhomem Rocha *

 

 

RESUMO

No presente artigo relata-se, através de análises feitas no CAPSIJ – Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil de Imperatriz, a importância e a compreensão da atuação psicopedagógica junto aos pais, avaliando as principais dificuldades encontradas pelos profissionais especializados durante as intervenções com as famílias das crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem. Os sujeitos pesquisados foram famílias de crianças / adolescentes atendidos com problemas de aprendizagem. Os instrumentos utilizados para coleta de dados e levantamento de hipóteses, foram a observação, entrevistas e questionários aplicados às psicopedagogas e famílias. Os resultados apontaram para a falta de conhecimento das famílias com relação ao seu papel e do psicopedagogo como suporte para minimizar as dificuldades de aprendizagem, como também para uma reflexão sobre a relevância do cuidado às famílias, com ênfase na cultura, seus valores, costumes, tradições, afetividade e cognição em seu contexto sócio familiar.

PALAVRAS-CHAVE: Dificuldade de Aprendizagem. Atuação Psicopedagógica. Família. Desenvolvimento cognitivo-cultural-afetivo.

SUMMARY 

 

In the article it is told, through analyses done in CAPSIJ – Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil de Imperatriz, the importance and the understanding of the performance (psicopedagógica) close to the parents, evaluating the main difficulties found by the specialized professionals during the interventions with the children's families present learning difficulty. The researched subjects were children's families / teenagers assisted with learning problems. The instruments used to collect data  and rise of hypotheses, they were the observation, interviews and applied questionnaires to the (psicopedagogos) and families. The results appeared for the lack   of   knowledge    of   the  families  with   relationship  to  your  role  and  of    the

 

 

(psicopedagogos) as support to minimize the learning difficulties, as well as for reflection about the relevance of the care to the families, with emphasis in the culture, your values, habits, traditions, affectivity and cognition in your context family partner.  

 

WORD-KEY: Difficulty of Learning. Performance (Psicopedagógica). Family. Cognitive-cultural-affective development.  

 

1 INTRODUÇÃO

              A atuação psicopedagógica é concebida como uma área de conhecimento que proporciona uma melhor compreensão do significado do não aprender apresentando como objeto de estudo o processo de aprendizagem, suas interfaces. Esta área visa valorizar a construção de uma educação mais ampla que integre as diversas áreas do conhecimento, minimizar os fatores que impedem a aprendizagem, adotar uma postura crítica frente aos transtornos mistos das habilidades escolares e propor novas alternativas fundamentais para os profissionais envolvidos no atendimento das crianças, famílias e nas suas inter-relações com a aprendizagem.

Implica compreender que a situação de aprendizagem, individual ou em grupo, requer uma modalidade particular de atuação. Não há procedimentos pré-determinados e sim, observação e uma análise profunda de uma situação concreta e necessária para reconhecer e considerar a interferência, não só nas causas dos problemas, como também na forma de atuação do profissional, voltado cada vez mais para uma ação preventiva, contribuindo para a construção de uma formação sólida e consistente frente às dificuldades e limitações encontradas diante da complexidade de novas configurações familiares que surgem a cada dia.

É mediante o pressuposto de uma modalidade particular de atuação, que o trabalho psicopedagógico se faz atuante, descobrindo nas crianças suas capacidades e desenvolvimento das atividades que o auxiliam na ordenação e coordenação de suas idéias, manifestações intelectuais e reconhecimento das capacidades da criança com o fim último de retirar o obstáculo que a impede de aprender.

A intervenção psicopedagógica realizada no CAPSIJ - Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil de Imperatriz , procura ver a maneira como as pessoas aprendem e se desenvolvem com as dificuldades e os problemas que encontram, auxiliando-as a superar essas dificuldades com atividades planejadas e executadas para uma melhor aprendizagem.

Na tentativa de buscar soluções, é comum as famílias apresentarem problemas comportamentais inadequados, pois a maioria das famílias não são alfabetizadas; outras não lembram de dados importantes para a construção da anamnese; algumas não conseguem acomodar as orientações das psicopedagogas, deixando de comparecer às sessões. Assim, como encontramos famílias que têm formas próprias de lidar com estratégias de aprendizagem e de enfrentar dificuldades, buscando a psicopedagogia como apoio.

Os psicopedagogos assumem grandes desafios levando em consideração que junto ao funcionamento cognitivo de cada sujeito estão as suas emoções, com todos os seus significados e conteúdos. A aprendizagem é parte do contexto familiar e social do qual a criança faz parte, sendo assim, a origem do problema não se encontra na estrutura individual. Como também, o sintoma está nos vínculos familiares que se cruzam com uma estrutura individual.

A teoria Walloniana nos diz que são as pluralidade das emoções que possibilitam a interação da criança com o meio social. E, nesse sentido, o primeiro meio com o qual interage a criança, não é o meio físico dos objetos, mas o meio das pessoas. E ainda, que a sociedade humana, portanto, tem uma função genética (Wallon, 1975).

Wallon diz ainda, que o outro da mesma espécie é determinante para a identidade do indivíduo, pois é por meio de suas interações, que além de transformar suas estruturas orgânicas desenvolvendo o psiquismo, os indivíduos criam sociedades e geram conhecimentos, como também que, na dimensão expressiva do movimento, encontramos elementos interessantes, no sentido de podermos atentar mais como profissionais para a ‘ concretude ’ da criança, suas posturas corporais, gestos que nos sinalizam questões importantes que fazem parte da criança como um todo (WALLON, 1975).

                     O conhecimento e a aprendizagem não são adquiridos somente na escola, mas também são construídos pelo contato social. A família é responsável por grande parte da educação e aprendizagem das crianças. E é por meio dessa aprendizagem que as mesmas são inseridas no mundo cultural, simbólico e começam a construir seus conhecimentos e saberes (Oliveira, 2008).               Partindo do processo de análise de dados obtidos, formulou-se alguns questionamentos levantando hipóteses de que as famílias necessitam de mais informações sobre os atendimentos realizados no CAPIJ, e também, o papel de cada um, como contribuição para diminuir as dificuldades, principalmente as que possuem baixo grau de escolaridade, ausência de condições ou por falta de conhecimentos, recursos ou profissionais especializados nas escolas que possam orienta-las com procedimentos adequados e de acordo com cada especificidade.

               No desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se de instrumentos tais como: observações, entrevistas informais com as famílias, estudos bibliográficos e aplicação de questionários tanto para a equipe psicopegagógica quanto para algumas famílias atendidas com a finalidade de melhor conhecer e também contribuir em outro momento (através de pesquisa exploratória), com proposições que venham possibilitar o diagnóstico das intervenções, como forma de auxiliar e melhor compreender os limites e possibilidades da atuação psicopedagógica junto às famílias.

No referido trabalho, busca-se descrever a partir das reflexões e análises feitas com relação à psicopedagogia e famílias das crianças atendidas com problemas de aprendizagem, a compreensão de como se configuram as relações a partir do cruzamento das informações colhidas junto a pais e profissionais, como forma de nortear o trabalho, objetivando identificar as principais dificuldades encontradas pelas psicopedagogas  do  CAPSIJ , durante  as  intervenções com as famílias; avaliar em qual momento e como são feitas as intervenções; se acontecem momentos de conscientização sobre o real papel da família, das psicopedagogas e da escola no processo educativo das crianças; se existe afetividade entre os membros da família; como são detectadas as dificuldades de aprendizagem pelas famílias; se as famílias e profissionais percebem as mudanças positivas nas crianças após os atendimentos recebidos; se a maioria dos encaminhamentos são feitos pela escola e ainda, se as famílias estão satisfeitas com as orientações recebidas das psicopedagogas para auxiliarem o trabalho em casa.

1.1 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E SEU DIAGNÓSTICO

             As dificuldades de aprendizagem, segundo Rogers (2000), podem significar uma alteração no aprendizado específico da leitura e escrita, ou alterações genéricas do processo de aprendizagem, onde outros aspectos, além da leitura e escrita, podem estar comprometidos (orgânico, motor, intelectual, social e emocional).

          Para Polity (2001) a dificuldade de aprendizagem pode ser definida como um sintoma psicossocial, com pelo menos três constituintes básicos: a criança, a família, a escola / profissionais especializados. Sua evolução está intimamente relacionada com a estrutura e dinâmica funcional do sistema familiar, educacional e social no qual a criança está inserida.

[...] As dificuldades de aprendizagem devem ser analisadas e compreendidas não somente como uma falha individual de um sujeito que resiste a adequar-se ao pré – estabelecido, mas como uma confluência de fatores que incluem a escola, a família, os profissionais da educação e o sistema  de relações sociais envolvidos (Polity ,2001, p. 71).

                  A natureza das causas do problema de aprendizagem aponta para o psicopedagogo, quando da sua intervenção, pontos importantes e necessários. E a participação com responsabilidade e comprometimento dos pais, amplia a percepção sobre os problemas de aprendizagem de seus filhos.

[...] A proposta de trabalho direcionado para o investimento na competência dos educadores, capacitando-os não só para perceber as dificuldades decorrentes do processo educativo, mas para interferir nelas, a partir da escola consciente de uma teoria de ensino – aprendizagem, a fim de que possam, também conscientemente selecionar as estratégias de ensino que julgarem mais adequadas (Scoz, 2007, p.153).

                 As características da família, escola ou até mesmo do ensinante, podem ser a causa desencadeante dos problemas de aprendizagem frente ao cotidiano da atuação psicopedagógica. A partir daí, acredita-se que o ambiente familiar estável e afetivo contribui positivamente para o bom desempenho da criança no processo de aprendizagem, embora não garanta o seu sucesso, uma vez que este depende de outros fatores que não exclusivamente os familiares (Portela, 2006).

               Para Fernández (1991), no sistema familiar, quando as fronteiras de funções da família , criança e profissionais, são nítidas e entendidas como regras de quem participa e como participa no grupo, promove-se a diferenciação do sujeito como: Complementação, acomodação, socialização e desenvolvimento da autonomia, que são matrizes de apoio a novos padrões de aprendizagem.

 [...] Nosso ‘olhar através da família’ leva em conta simultaneamente três níveis: individual, vincular e dinâmico, que se entre cruzam, por sua vez, com dois olhares: o que considera principalmente as imagens, sensações e ideais de cada um dos membros do grupo familiar e o que a equipe terapêutica percebe (Fernández, 1991, p 92).

Concordamos com o ponto de vista colocado por Pain , quando aponta o sintoma do problema de aprendizagem e sua relação com a família, como a concepção de articulação entre a Instância e a Estrutura.  Dizendo “As perturbações nas aprendizagens, normais ou patológicas, tendem a evitar aquelas modificações que o grupo não pode suportar, em função do seu particular contrato de sobrevivência” (Pitombo, 2007).

Cabe aqui a advertência de PAIN (1992, p.75)

[...] O tratamento psicopedagógico adquire sentido na ação institucional. Isto permite uma rápida orientação destinada aos pais, seja para seu ingresso num grupo, seja para uma terapia familiar ou de casal;garante um bom controle do aspecto orgânico e neurológico ; oferece a possibilidade de diálogo quando o paciente recebe mais de uma atenção e assegura a complementação integrada de outras técnicas pedagógicas  (Pain, 1992, p. 75).

              Desta maneira, a natureza das causa do problema de aprendizagem apontam para o psicopedagogo, quando da sua intervenção, a melhor forma de atuar. E a participação com responsabilidade e comprometimento dos pais, amplia a percepção sobre os problemas de aprendizagem de sues filhos, resgatando a família no papel educacional complementar á escola diferenciando as múltiplas formas de aprender.

            Como também, quando as fronteiras de funções da família, criança e profissionais, são nítidas e entendidas como regra de quem participa e como participa, promove-se a diferenciação do sujeito como: complementação, acomodação, socialização e desenvolvimento da autonomia, que são matrizes de apoio a novas padrões de aprendizagem.

2 MÉTODO

A metodologia de pesquisa empregada no presente estudo, distingue-se pela pesquisa descritiva, dedutiva e, pesquisa bibliográfica, que é importante por ser um método que implica na seleção, leitura e análise de textos relevantes do estudo, tendo como principais objetivos a redefinição de um problema, as técnicas de coleta de dados e a interpretação dos resultados. A proposta metodológica constitui-se de trabalho diagnóstico, observativo e não de intervenção. O tema principal é o estudo dos aspectos relevantes para o diagnóstico e atendimento psicopedagógico das famílias com filhos que apresentam dificuldades de aprendizagem.

O Estudo fundamenta-se na verificação de situações detectadas no CAPSIJ de Imperatriz, com famílias de sujeitos caracterizados pela queixa de dificuldade de aprendizagem. São atendidas 25 crianças/adolescentes na faixa etária de 3 a 17 anos e que as escolas públicas não contam com o trabalho psicopedagógico. O atendimento às crianças é feito semanalmente e com as famílias, uma vez ao mês.

 A coleta de dados deu-se, inicialmente através de observação do local, das famílias e ficou claro que, as famílias que possuem filhos com dificuldades de aprendizagem demonstram sentimentos de impotência, de estresse e cansaço, em função das dificuldades em fazer com que os mesmos aprendam.

 Em seguida, foi realizada entrevista (conversa informal), também com as famílias, no qual se abordou sobre os relacionamentos interpessoais na escola, em casa, com os filhos, amigos e com as psicopedagogas.   A partir daí, estabeleceu-se o vínculo e consequentemente a confiança. As famílias foram exprimindo seus sentimentos de maneira natural. Colocando a forma de ser de cada membro da família, as interações, os relacionamentos, suas experiências de vida, seus acertos e seus erros.

Após o processo de estudo e avaliação dos dados já adquiridos, com perguntas centradas nas observações feitas e também das necessidades detectadas. Elaborou-se questionários com perguntas abertas e fechadas para a equipe psicopedagógica e para as famílias, no intuito de ampliar a visão de construção do conhecimento, compreender cada experiência vivida, como sendo movimentos onde cognição, afeto e inserção social possam, efetivamente, contribuir para o processo de aprendizagem. Assim, como , sistematizar idéias sobre o olhar psicopedagógico, buscando incorporar conhecimentos, teorias e saber acerca do aprender e os obstáculos pelos quais os profissionais especializados e famílias enfrentam em função das diferentes situações encontradas.

3 RESULTADOS

 Os resultados obtidos na presente pesquisa possibilitou confirmar que um trabalho especializado com famílias que possuem crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem, não é suficiente apenas transmitir aos pais as atividades específicas a serem realizadas, outros aspectos ligados à família, à escola ou em outras áreas do desenvolvimento também estão presentes, e é necessário analisar e buscar caminhos que facilitem o desenvolvimento global da criança.

 Detectou-se também a necessidade de uma maior conscientização junto aos pais, com relação ao processo de aprendizagem dos filhos, pois algumas famílias ainda demonstraram ansiedade para detalhar a problemática defrontada ao lidar no seu cotidiano com o comportamento de seus filhos, apresentando questões para que as respostas fossem dadas pelos profissionais especializados de imediato.

Neste trabalho observou-se que para a compreensão das possíveis alterações no processo de aprendizagem, é necessário considerar-se tanto as condições internas do organismo, quanto às condições externas.  Esse trabalho refere-se ao papel da família no desenvolvimento da aprendizagem da criança em todos os aspectos: emocional, social e de estimulação dos aspectos cognitivos.

Observou-se que as famílias atendidas com filhos que apresentam dificuldades de aprendizagem no CAPSIJ, geralmente possuem uma baixa auto-estima em função de seus fracassos, por não conseguirem que seus filhos aprendam. Os dados foram sendo colhidos e percebeu-se que as famílias desconhecendo as necessidades da criança e a maneira apropriada de lidar com esses aspectos acabam por impossibilitar as intervenções.

Ressalta-se que essa fase foi de fundamental importância e conveniente para se perceber os aspectos facilitadores e dificultadores das famílias e profissionais no processo de aprendizagem, visando um aprofundamento na hipótese de diagnóstico do problema e ampliação de informações. Assim como, avaliar até que ponto os objetivos são comuns aos profissionais e famílias.

                 Com isso, apresenta-se os principais resultados dos questionários, como forma de contribuição para um melhor entendimento do processo de diagnóstico psicopedagógico.

3.1 Dados obtidos com as Psicopedagogas:

  • As intervenções junto às famílias são realizadas através de entrevistas: com as crianças semanalmente; com a família uma vez ao mês e com a escola; são elaborados relatórios, visitas e quando necessário, solicita-se a presença das mesmas em horários exclusivos individuais ou junto com a família, de acordo com a natureza de cada caso, para que sejam realizadas as intervenções necessárias;
  • Os principais problemas de aprendizagem foram diagnosticados pelos profissionais como: transtornos mistos das habilidades, transtornos de aprendizagem grande maioria centrada na leitura e escrita e dificuldades devido a déficits cognitivos;
  • As principais dificuldades enfrentadas pelas psicopedagogas durante as intervenções estão centradas principalmente na resistência e ausência das famílias às sessões, caracterizado pelo baixo nível de escolaridade, situação sócio econômica e falta de conhecimento. A grande maioria das famílias são analfabetas, outras não lembram de dados importantes para a construção da anamnese dos pacientes.
  • Os dados obtidos citaram aspectos psicodinâmicos de famílias como possíveis dificultadores da aprendizagem das crianças.
  • Quanto ao retorno dado pelas famílias, foram visualizados pelos profissionais que, apesar das dificuldades informadas, alguns casos apresentam grau de satisfação significativo, outros não opinam como também não demonstram com ações que possibilitem os profissionais a formularem uma hipótese sobre o nível de aceitação das famílias;

·         As relações vinculares entre psicopedagogas e famílias, são pautadas no acolhimento, destacaram aspectos da interação entre profissionais e famílias, como sendo possíveis fontes de uma construção saudável, que irá influenciar na construção da aprendizagem e que essas relações são conquistadas ao longo dos atendimentos. Quando as famílias passam a acreditar, confiar no profissional, de modo a facilitar a compreensão das particularidades de seus funcionamentos e reflexos no desenvolvimento das crianças, mas sem subtrair-lhes a autonomia, e a responsabilidade que possuem.

3.2 Dados obtidos com as famílias:

  • As orientações para trabalhar com as crianças são feitas pelas psicopedagogas, mas pelo fato das famílias serem atendidas apenas uma vez ao mês, não são acomodadas de forma satisfatória, pois entre o intervalo de um, atendimento ao outro, surgem situações conflituosas as quais elas não sabem lidar, gerando medo, insegurança e angústia. Finalizaram dizendo que não são suficientes para minimizar a situação de desconforto por não conseguirem resolver os problemas de seus filhos;
  • Algumas famílias sentem dificuldades para realizar as atividades propostas pelos profissionais especializados, por nem sempre entenderem as orientações recebidas para trabalhar as crianças;
  • A maioria das famílias não são alfabetizadas, causando dificuldades na compreensão de determinados procedimentos;
  • A maior parte das respostas dadas apontou para a falta de percepção ou omissão das escolas com relação às dificuldades apresentadas pelas crianças e ainda, que as dificuldades só foram detectadas e encaminhadas, quando as pessoas mais próximas à família como: vizinhos, madrinhas, mãe de colegas dos filhos e profissionais dos postos de saúde perceberam e encaminharam ao CAPSIJ;
  • Quando perguntado sobre relacionamentos, afetividade e comunicação entre os membros da família, algumas colocaram que não existe, justificando a falta de tempo e os afazeres domésticos como causa principal;
  • Predominou entre as famílias, que sempre participam das reuniões nas escolas (sempre as mães), mas que a escola não aborda as situações dos filhos como dificuldades de aprendizagem e sim “Eles não querem nada”, mas são comportados e ficam só olhando o que os outros fazem. “Isso passa, é apenas uma fase”;
  • Ao questionar o motivo da ausência às reuniões, os pais responderam que faltam às reuniões por já saber o assunto a ser tratado e por isso não têm interesse em comparecer;
  • As mudanças das crianças após os atendimentos com as psicopedagogas, melhoraram, as famílias ficaram mais seguras, suas posturas e procedimentos com relação ao não aprender dos filhos ficaram mais claros, embora relatem que suas limitações às vezes impedem que percebam alguns sintomas indicativos de mudanças.

4 DISCUSSÃO

Os resultados da pesquisa sinalizaram que partes das famílias ainda não acomodaram com precisão que a construção do conhecimento não pode se limitar a contribuições isolada de qualquer área, mas sim da inter-relação entre elas em função de um objetivo maior. Dessa forma, o desafio da integração das diversas áreas de conhecimentos visando o desenvolvimento de ações interdisciplinares é fundamental para a obtenção de resultados positivos.  E que na medida em que diminui a disponibilidade de tempo da família para com os filhos, em função de causas sócio – econômicas e falta de conhecimento, os pais necessitam contar cada vez mais com outras fontes de recursos – como a escola - CAPSIJ - que os auxiliem no exercício do processo de aprendizagem das crianças e dividam com as famílias tal responsabilidade.

Neste contexto, não se pode ignorar os responsáveis estudos de Visca (2002) que, ao enfocar o processo de ensino e aprendizagem, propõe uma nova perspectiva que, denominou de epistemologia convergente. Esta proposta procura compreender a contribuição dos aspectos afetivos, cognitivos e do meio sócio educacional tendo como base a integração dos conhecimentos da genética, da psicanálise e da pedagogia social.

Nas relações de vínculos familiares permitiu constatar, que as crianças que apresentam algum tipo de dificuldade, recebem menos atenção de seus pais, uma vez que as próprias dificuldades ocasionam desgaste na relação afetiva. Sendo assim, os pais se voltam para esses filhos, quase que exclusivamente para tentar contornar as dificuldades apresentadas na relação com eles. Torna-se importante analisar sobre o atendimento psicopedagógico e, sobretudo, refletir a respeito de sua condução e manejo com crianças, com a sua família e com a escola.

A pesquisa mostrou através das observações e entrevistas, que as famílias desconhecendo as necessidades das crianças e a maneira apropriada de lidar com esses aspectos, necessitam de orientações mais claras que lhes dêem suporte e lhes possibilitem ajudar seus filhos. Fatores como motivações, formas de comunicação e estresses existentes no lar, influenciam o desempenho da criança no processo de aprendizagem e os psicopedagogos, muitas vezes, sentem-se limitados quanto às orientações a serem dadas, pela falta de dados sobre aspectos relativos aos familiares, não relatados pelos pais.

Portanto acredita-se que a equipe psicopedagógica possa promover as capacitações, orientações conscientizações, de forma sistemática tanto para as famílias quanto para a escola, objetivando o progresso da aprendizagem.

Outro fator de muita importância observado e que merece ser destacado e questionado sob um olhar especial dentro do processo de aprendizagem, diz respeito a alguns comportamentos observados como: Algumas famílias demonstram excessiva ansiedade quanto à superação das dificuldades dos filhos, já outras negam essas dificuldades quando informadas sobre algumas hipóteses de dificuldades das crianças, punindo-as pelos seus fracassos e caracterizando-as como distraídas. E é o que precisa ser analisado, pois o fato da criança possuir “algo” que justifique uma dificuldade não é o suficiente para possuir dificuldades para aprender.

Essa realidade leva à reflexão sobre a maneira de adequação do processo educativo, para possibilitar à criança, o sucesso na aprendizagem, proporcionando-lhe a motivação, o interesse e concentração necessária para a apreensão do conhecimento. Havendo, portanto, a necessidade de maior compreensão desse processo no sentido de estar inserindo nas escolas a figura do psicopedagogo atuante como forma de favorecer novas possibilidades de identificação e de restituição do saber.

5 CONCLUSÃO

Este trabalho de pesquisa suscitou algumas conclusões quanto à importância da atuação psicopedagógica junto às famílias no CAPSIJ, como, a compreensão e constatação sobre as dificuldades encontradas pelas famílias e profissionais especializados, ao lidarem com as complexidades das situações envolvendo as dificuldades de aprendizagem.

Percebeu-se que as famílias por desconhecerem o processo de aprendizagem, onde buscar orientações e a melhor maneira de lidar com as questões do não aprender de seus filhos dificultam hipóteses diagnósticas.

Assim, torna-se urgente a necessidade de ampliação nas capacitações, orientações e conscientizações por parte da equipe psicopedagógica com relação às famílias atendidas com filhos que apresentam dificuldade de aprendizagem, intervindo, buscando soluções, acompanhando as orientações tanto na escola quanto em casa, como mediador e facilitador do conhecimento.

Desta forma, o valor da psicopedagogia é considerada como diferencial para a aquisição de melhorias educacionais.  Acredita-se que o principal papel do psicopedagogo é interagir os agentes, para que haja desenvolvimento mútuo proporcionando melhoras no que diz respeito ao afetivo, cognitivo e social, o que acarreta para o indivíduo um modo melhor para se viver em sociedade.

Conclui-se que, apesar dos progressos junto às áreas de educação, ainda há muito que caminhar para a popularização da psicopedagogia. Para isso, dentre outras questões, a necessidade e ampliação do número de atendimentos psicopedagógico vinculados à rede pública, levando em consideração o grande número de crianças com dificuldade de aprendizagem e poucos ou nenhum profissional especializado, o que compromete a qualidade da educação, podendo destacar, ausência de formação dos membros das escolas; condições mínimas para desenvolvimento do trabalho e principalmente, a desestruturação das famílias.

Através deste artigo e dos resultados obtidos, chagou-se à compreensão dos problemas de aprendizagem, cujas causas envolvem aspectos sócio cultural e pedagógicos, colocando a questão da dinâmica familiar e vínculos familiares, como uma das principais fontes do problema na aprendizagem,

Por outro lado, entende-se que o trabalho do psicopedagogo também deva propiciar uma oportunidade de refletir acerca de seus próprios projetos educacionais e o apoio psicopedagógico, além da escuta da família, de modo a facilitar reflexões entre seus membros que possam contribuir para a construção de um espaço de saúde em torno da aprendizagem.

 

 


REFERÊNCIAS

 

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Trad. Iara Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

GARCIA, Jesus. Manual de Dificuldade de Aprendizagem.   Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4. ed.Trad Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes médicas, 1992.

PITOMBO, Elisa. Família, psicopedagogia e pós modernidade. Dispónivel Cad.psicopedag. v.6 art. n11 –São Paulo 2007.

POLITY, E. Dificuldade de aprendizagem e família: Construindo novas narrativas – 1º encontro Paranaense de Psicopedagogia – ABPppr- nov./2003.   

PORTELA, Fabiani. Família e Aprendizagem.  Uma relação necessária.    Rio de janeiro: Work, 2006.

ROGERES, C. O tratamento clínico da criança – problema. Revista Facilitaja.com.br. São Paulo: Martins fontes, 2000.

SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e Realidade Escolar – O problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis: vozes, 2007.

OLIVEIRA, Silvia. O psicopedagogo e a família do educando – Artigo : ABpp .Associação Brasileira de Psicopedagogia nov.2006  .

SCOZ, Beatriz Psicopedagogia e Realidade Escolar – O Problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2007.

VISCA, J.L. Clínica Psicopedagógica: A Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

WALLON, Henri. Coleção Grandes Educadores. Teorias de Wallon. Rio de janeiro: Edic, 1975.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

APÊNDICES

 

 

 


Apêndice A - Questionário para subsidiar o trabalho da disciplina: Praticas Pedagógicas da Especialização em Psicopedagogia.

 

Universidade Gama Filho – Idaam Maranhão

Questionário com a equipe Psicopedagógica.

 

 

01 – Com que freqüência e como são realizadas as intervenções com as famílias e escolas?

 


Autor: Lourdes Bernadette Milhomem Rocha


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