A Língua Portuguesa e a Sociolinguistica



O desenvolvimento de uma língua é um processo natural, inevitável, e semi-aleatório. Tem marcações temporais, regionais e socioculturais. Possui alguns fatores de interferência, independe de normas gramaticais e decretos governamentais.

Alguns fatores são essenciais ao desenvolvimento de uma língua, independente do que pensam os estudiosos desta língua sobre uma possível influência negativa ou positiva e dos preconceitos linguísticos de determinadas comunidades.

A fala, por exemplo, adquire um papel fundamental na sedmentação desse alicerce lingüístico e, apesar de desagradar alguns filólogos ou lingüistas: a fala é a individualidade da língua em seu aspecto mais abrangente. Existem nordestinos com sotaques diferentes vivendo sempre em uma mesma região: a fala é prática, nunca teoria.

Os meios de comunicação como TV, rádio, internet, revistas e livros; são as tradicionais interferências ao desenvolvimento natural da língua. Mas como dizer que essas tecnologias da comunicação não são naturais? Claro que são e o homem adapta-se a elas e cria uma nova linguagem sobre as suas existências.

A escola, enquanto local de socialização ou como promotora da linguagem classificada erroneamente como padrão ou norma culta, é forte influencia linguistica. Mas, existe no ar um discurso comum que a escola não ensina... por que então o que a escola ensina de errado, que o preconceito lingüístico, então a criança aprende?

As artes de uma maneira geral, principalmente a música, pela sua capacidade de atingir um grande número de pessoas em diferentes regiões; e a literatura, pela originalidade da escrita e da inovação lexical, seriam sem dúvidas interferências no desenvolvimento natural da língua. Mas é necessário lembrar que quem pratica arte também e principalmente é o povo, o dono da língua.

O preconceito linguístico.

As influências históricas sofridas pela língua portuguesa no Brasil foram inúmeras, a começar pela própria invasão portuguesa a partir de 1500. Todos sabem que as línguas faladas pelos nativos (Tupi, Guarani, Nheengatu...), apesar de praticamente devastadas pelos colonizadores, contribuíram com o léxico brasileiro.

A chegada de escravos africanos e seus dialetos (Nagô, Iorubá...) influenciou no léxico e no ritmo da língua. As invasões e dominações (francesa, espanhola, holandesa...) também deixaram marcas na língua do Brasil. Os imigrantes (italianos, alemães, japoneses, açorianos...), a partir do século XVIII, trouxeram também inúmeros vocábulos e construções sintáticas novas, além de manter diferenças regionais específicas.

No entanto, foram as influências ideológicas internacionais (estrangeirismo), principalmente da França, nos séculos XIX e XX, e dos Estados Unidos, nos séculos XX e XXI, que modificaram e ainda modificam constantemente o jeito de falar do povo brasileiro, dando-lhe uma identidade importadora que provavelmente nenhum outro país tenha. São palavras, utensílios, roupas, comidas, entonações e fonética, ritmo e expressões idiomáticas que se misturam de tal forma que parece algo muito natural. Talvez esta seja a única interferência não natural, pois ela tem uma parcela muito grande da mão política, das intenções econômicas e das questões socioculturais que estabelecem uma relação eterna de inferiorização do Brasil em relação aos países de Primeiro Mundo.

A Geografia da fala.

Cada região admite sotaques locais e regionalismo, o que modificam a língua em variações de ritmo da fala, pronúncia dos vocábulos, construções sintáticas e significações semânticas.Infelizmente, as regiões mais desenvolvidas economicamente tendem a impor sua variação como forma padrão.

As influências geográficas não podem ser analisadas dissociadas das variações históricas, pois a formação da língua está diretamente associada à própria formação do povo, sua cultura e jeito de falar. As regiões mais populosas terminam evidenciando uma variação dominante pela quantidade de falantes e pela Lei de Coinê (ou Lei dos Centros), que favorece grandes centros em detrimento de regiões interioranas.

As possibilidades de ampliação lexical das classes média e alta favorecem um enriquecimento vocabular em detrimento de classes menos favorecidas, o que conduz a uma falsa imagem de incompetência linguística de determinadas classes sociais. O ensino superior também pressupõe a esta incompreensão de língua, o que corrobora para o preconceito línguístico.


Autor: Roberto Remígio


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