Dr. Dimitri - N° 06
Ronyvaldo Barros dos Santos
Dr.
Dimitri
N°06
Parte I – Do que se
conta sobre o assassinato de um cruel homicida
Wesley da Silva era um homem que vivia num mundo
de orgias e abduções. Fora ele o assassino do garoto-prodígio Júnior, parente
da atriz Kristin James. O homem era um assassino frio e já havia feito muitas
vítimas. O detetive Dimitri Kosovski já o havia descoberto. Sabia, por exemplo,
quantas vítimas havia feito e onde ele se encontrava.
Às seis horas da manhã do dia dez de fevereiro
Wesley fora encontrado morto num sótão de um casebre há apenas dois quilômetros
de onde se encontrava o investigador Kosovski. Ao cabo das seis e meia da manhã
os policiais haviam chegado e avistaram muito sangue que estava espalhado pela
casa toda. Havia sido aquele um assassínio demasiado bárbaro.
O Dr. Dimitri chegara até a cena do crime às
sete horas em ponto junto ao seu aprendiz, Julius. Tomava o seu periódico e
indispensável chá das sete. Ficou a par dos fatos e tencionou ter podido evitar
aquele agravamento. Porém o delegado, o Sr. Roberto da Silva e Mello, disse que
não passava de um fato corriqueiro e que se não fosse aquele homem poderia ter
sido qualquer outro.
Parte II – Kristin James,
assassina?
O Sr. Kosovski ainda tomava o seu chá da tarde
quando chegou em sua casa, localizada na Rua Primeiro de Abril, Residência dos
Kosovski, 25, Cidade do Brasil, a belíssima Kristin James. Ela trajava uma
calça jeans apertada, uma blusa de
seda preta e usava ainda óculos de sol. Apresentou-se como interessada em saber
detalhes sobre o novo caso do Dr. Dimitri. Foi sucinta e grave. Pediu desculpas,
por fim, pelo incômodo, porém o detetive apenas disse-lhe:
— Não me deve desculpas, mas sim eu, que não
consegui evitar a morte do seu sobrinho.
— Um sobrinho muito querido — completou a
senhorita James.
— Pois sei que ele era querido para a Vossa
Magnífica. O que sabemos sobre o episódio é que o assassino, ironicamente, foi assassinado
em seu esconderijo, que fica bem próximo daqui.
Dimitri então pediu que entrasse e, chamando por
Julius, disse à senhorita que se sentasse num sofá, depois lhe ofereceu o chá
da tarde, ao que ela aceitou de bom grado. Dr. Dimitri, como era chamado por
todos, principiou um discurso sobre a ciência criminalística, revelou que
quando era médico pediatra vivia enfastiado. Kristin perguntou-lhe se já fora
casado.
— Não me lembro de nenhum matrimônio, porém
recordo-me de uma donzela que sempre vinha visitar-me em meu escritório. Ela
era formosíssima, minha noiva. Também terminamos o caso, porque ela era pouco
esperta.
A senhorita James achou o homem um pouco
estabanado. Denunciou as causas perdidas, dizendo que há pessoas que vêem no
sucesso um caminho único e sem volta, mas ela acreditava que o sucesso durava
pouco e que em breve teria que desempenhar uma tarefa nova e agradável;
declarou então ter um sonho de ser pediatra.
Ao se despedir do Sr. Kosovski, Kristin James
deu-lhe um beijo na testa e se foi calculando algumas idéias inacabadas. Enquanto
isso, o nosso herói ficou cogitando mais sobre o assassinato de Wesley da
Silva.
Segundo confiava Dimitri, um assassinato de um
bandido bárbaro é o mais complexo de ser desvendado, por surgir muitos
suspeitos e pela vítima, neste caso, possuir muitos inimigos que desejam a sua
morte; por isso o nosso herói acreditava que teria muito trabalho pela frente,
até porque ele sempre resolve um caso em poucos dias e este era o seu principal
triunfo. Deveria, deste modo, encontrar alguns suspeitos críveis e supor
hipóteses concretas e, como sempre de costume, procurar pelo homicida da forma
mais pretensiosa possível.
Julius estava em estadia na casa do
investigador, pois o apartamento em que vivia estava
Dali a duas horas, Dimitri se dirigiu à
delegacia para saber as novidades sobre o caso. Segundo contara o delegado
Roberto, havia uma testemunha que disse ter visto uma mulher entrar no local às
vinte e uma horas e sair acerca da meia-noite. Segundo contara a mesma
testemunha, a fisionomia da mulher se assemelhava à pessoa da atriz Kristin
James. No momento em que o delegado contou a Dimitri o relato da testemunha,
ele deu um salto para trás e, receoso, questionou quase que vociferando:
— Como, a minha modelo preferida? Vocês
suspeitam daquela formosura?
Em seguida o nosso herói percebeu que estava
sendo imaturo, pois a sua tarefa era provar o contrário desta história.
— Pois bem, apresente-me a testemunha — afirmou
o detetive.
— Não podemos, prometemos a ela que manteríamos
sigilo e que ninguém iria incomodá-la.
Dr. Dimitri ficou enfurecido e se retirou sem
dizer mais nenhuma palavra ao delegado.
Parte III – Apresentemos
o réu
Kristin James era uma atriz pouco requisitada;
porém, segundo pensava Dimitri, ela era a melhor atriz que havia. Ele não
poderia apenas aceitar que ela fora a assassina daquele bandido que, apesar de
ter merecido tal golpe, não deveria o crime ter sido executado. Mas pela
primeira vez não encontrava saída, pois não poderia provar, até aquele momento,
o contrário do que aludira a testemunha.
Ao mesmo tempo em que se deu o relato da
testemunha, a atriz fora avisada de que deveria prestar esclarecimentos sobre o
fato. Ela então apareceu na delegacia às oito horas da manhã do dia seguinte. Dimitri
estava presente com uma exorbitante expectativa. Ali estavam também Julius e
uma amiga da senhorita. Contara Kristin James:
— Eu nunca estive naquele local, nem conheço um
milímetro daquela região da cidade. Ontem estava àquela hora em meu apartamento
próximo à Rua Primeiro de Abril. Assim que amanheceu parti para o estúdio e
todos os meus colegas podem provar isso. Será que tenho cara de assassina? —
assim terminou Kristin James após respirar profundamente.
Dimitri ficou felicíssimo ao saber que a mulher
estava em estadia próximo à sua residência; todavia não sabia como tudo aquilo
iria terminar, mas acreditava no álibi apresentado por Kristin.
Após o interrogatório, a atriz se retirou com a
amiga e o Sr. Kosovski prontamente se aproximou da senhorita (atrás dele estava
Julius). Ao passo que a atriz cessou os passos, Dimitri fitou-lhe com um ar
misterioso e em seguida disse:
— Desculpe-me pela intromissão, mas gostaria de
saber se podes me prometer que nunca duvidarás da minha confiança
— Meu caro senhor Kosovski, — Dimitri sentiu um
ar mais romântico ao ouvir dela essas palavras anteriores, principalmente o
“MEU” — não há como questionar a testemunha em sua amplitude; mas acredito que
ela pode estar sendo subornada para denunciar-me. Não saberia dizer-lhe o
motivo, porém estou prestes a acreditar que o meu álibi é infalível, meu
senhor.
Dimitri sabia que se o álibi da senhorita
pudesse ser confirmado, ela estaria livre deste crime. O homem resolveu agir prontamente,
intensificando as suas investigações em relação a este caso principal. Deste
modo, junto a Julius, partiu à procura da testemunha oculta. Aliás, contara-lhe
o delegado de polícia que a testemunha era do sexo feminino e habitava uma casa
vizinha à da vítima. Segundo pensava o nosso herói, ao pronunciar “vizinha”, o
delegado Roberto havia-lhe dado a conclusão desta questão; pois não seria
ninguém que passava próximo à casa da vítima, mas uma mulher que habitava ali
próximo, o que restringiria as averiguações a algumas suspeitas, podendo
eliminar os homens e as crianças.
Achegando-se às propriedades vizinhas, Dr.
Dimitri começou a observar cada ângulo e pontos de vista em relação à casa
acometida e as residências ao redor. Ficou muito tempo em frente a um casebre
em particular, uma mansarda de cor verde que tinha o teto encanecido. Dali
poderia avistar detalhes sobre o que havia dentro do local do delito, porque
havia em frente uma vidraça grande e pouco rígida. Assim, o Sr. Kosovski chegou
à conclusão de que muito se sabia sobre o crime e que a testemunha omitira
fatos primordiais. Este fato apresentado ao tribunal já daria mais tempo ao
detetive para que fosse procurar mais indícios de que a sua amada era inocente.
Foi com este pensamento que o Sr. Kosovski tocou
a campainha da residência em que estava. A casa era verde e ali morava uma
velha senhora que estava em companhia do seu neto mais novo, de mais ou menos
vinte anos de idade. Identificou-se e pediu desculpa pelo incomodo, mas estava ali
a trabalho. A velhota confirmou que havia testemunhado o acontecido, porém o
neto interveio com um ar nebuloso:
— Olhe como ela está velha, não deve se irritar
com essas baboseiras da polícia! Deixem-nos
Julius, que estava próximo a Dimitri, disse:
— Tenha calma, bom homem.
O jovem fitou o aprendiz com um olhar rarefeito,
o seu semblante era sombrio e ereto (desafiador). E então Julius se calou, ao que
o detetive disse à senhora:
— Desculpe-me mais uma vez, mas não há nada a
ser feito senão dizer-me a verdade, minha senhora.
A velha senhora cerrou os olhos por três
segundos e depois começou:
— Meu senhor, avistei sim a senhorita entrar e
sair da casa. Ela era a atriz da TV. Eu estava respirando um pouco, quando vi
as luzes se apagarem na residência. Pensei que fosse normal. Imaginei o óbvio,
que os dois estavam namorando. Mas o estranho era que a casa vivia vazia e o
homem ficava no sótão.
Dr. Dimitri, sendo um visionário, imaginava que
poderia haver algo que pudesse explicar a ocorrência em relatividade à
inocência da sua amada atriz Kristin James. Por isso tratou de se retirar dali.
Estava com um ar melancólico. Julius então percebeu que este caso particularmente
atingia o Sr. Kosovski.
Parte IV – Um romance e
uma sentença
Julius apresentava a Dimitri uma chávena
totalmente preenchida de chá. O investigador Kosovski tinha em mãos um enigma
tão enfadonho e decisivo que as suas mãos estremeciam, seguravam a xícara com
súbitos espasmos. O aprendiz compreendia a agonia do mestre, por isso nada
dizia, deixando-o refletir sem incomodá-lo.
Dr. Dimitri cogitava a possibilidade de haver
uma segunda testemunha. Ponderava que ainda assim deveria descobrir o que realmente
ocorrera naquela casa. Deste modo, deveria investigar o local do crime e
acarear tanto a testemunha quanto a senhorita James.
Dimitri foi à casa da atriz para conhecer a sua
história sobre a noite do crime. A senhorita James confirmou o que havia dito
anteriormente, que havia adormecido cedo, pois no outro dia tinha que
trabalhar.
Sabia-se, contudo, que o homem havia sido morto
acerca das onze e meia da noite. A testemunha estava afim com o que instituíra
a perícia, pois havia dito ter visto a personagem se retirar da casa acerca da
meia-noite.
Conforme o Sr. Kosovski conversava com Kristin,
percebia uma sombra em seus olhos, a sua voz vacilava e os seus lábios estremeciam.
Logo lhe tocou a mão propositalmente e sentiu que ela estava apreensiva, o que
a sua fisionomia não demonstrava com exatidão. Retirou-se da casa da senhorita
com um ar um tanto melancólico e alquebrado. Para o nosso herói Kristin James
representava um alento para desvendar os mais importantes delitos. Agora ela
estava sendo vítima da astúcia do Dr. Dimitri, antigo médico pediatra e o mais
terrível detetive de toda uma geração. Denunciava morrer de amores pela atriz,
num romance tosco e insano.
O investigador ainda tentava encontrar algo que
afastasse a sua amada da cena do crime; contudo parecia algo muito penoso.
Julius percebeu o desânimo do Sr. Kosovski e
apresentou-lhe o chá das vinte, mas pela primeiríssima vez ele não aceitou o
irrecusável néctar. O homem então adormeceu sobre o seu divã com um livro
intitulado “Amor de Perdição” aberto de par em par, segurando-lhe com a mão
esquerda, e a direita apoiada sobre o peito imóvel.
Continua.
Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos
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