VERNÁCULO: A PRIMEIRA VEZ QUE SE PROVA, NUNCA SE ESQUECE



Ousando cruzar mares nunca antes explorados, audaciosos marujos oriundos das Terras de Além Mar, lançaram suas caravelas ao oceano, para hipotéticas rotas desbravarem.

Em uma de suas viagens, almejavam o conhecido caminho das especiarias. Mas, os alísios, decidiram em outra direção bradejar.

Diante das incertas de um incógnito destino, muitos Sóis passaram-se... Quando tudo parecia perdido, numa terça-feira das oitavas de Páscoa, eis que surge a salvação! Um Porto Seguro. E pelo bradar de terra a vista, o achamento de um Novo Mundo - o paradisíaco recanto Tupinambá.

Imediatamente retratado por um hábil escrivão, e batizado pela cruz do bom cristão. O Éden incitou os olhos, sobretudo, quando exibia pardus corpos robustos, que sem qualquer cerimônia, misturava-se a exótica natureza local. E instigou o desvendar de coisas outras, que não só os mareantes descobririam ao longo de mais de quinhentos anos de intensa demarcação territorial e, exploração das belezas naturais.

Embriagados pela eufórica visão que o lado de cá do Atlântico provocara, os audazes desbravadores apeteceram, boa impressão causar, aos que deitados em berço esplêndido, desfrutavam do sol da liberdade.

Um mimo foi à forma cogitada. Então, o bem mais precioso que traziam - a última Flor do Lácio, com todo o seu esplendor e formosura na ponta da língua, fora de bom grado ofertada.

Sem fazer-se de rogada, ao aportar na Nova Terra, à inculta língua-flor, tratou logo de mostrar seu néctar - as erudições, interferências fôni-cas, sintáticas e lexicais, a todos os que sem receio algum, mostravam suas saradinhas vergonhas.

Contudo, ao ressoar por estas bandas, a mesma percebeu que sua sobrevivência carecia de tons outros além daquele que trazia. E apesar de não lhe soar bem tal constatação, sábia idéia lhe brotou.

Primeiro, se matizaria com as cores das "selvagens" flores, ainda que estas, pelo realce das bentas águas de um gramático riacho se deixassemseduzir.Etempos depois, com os nuances de outras finas flores que por aqui semeadas fossem.

Ante tal atitude, pétalas de tons diversos passaram numa só gêmula, a existir.

Mas por acharem feio o que não era espelho, literatos e, um Marquês Pombal jardineiro,rejeitarama heterogeneidade das cores,e a fragrância plural adquirida pela suposta unidade flor. E ainda, as diglossias, um dos deleites prediletos da deusa Sócio-linguística que esta, consigo trazia.

Em virtude disso, os referidos jardineiros trataram de ilustrar em espessa tela, a parte da flor última que veneram como realeza. A majestosa raiz, norma culta ou padrão.

Como os mesmos alçaram a condição de grafiteiros, persis-tem no ignorar dos oxente, uai sô, orra meu!, barbaridade tche!, e muitas outras pérolas que utilizampara roçarem as pétalas da sua flor-língua na língua-flor de Camões.

Mas diante do verde-louro da flâmula, embora ostente título de nobreza, Vossa Alteza - a Língua-Flor, com "súditas" espécies, amistosa relação cultivou, e o pólen trocou. E diante de uma primavera inteira que se formou, a mesma logo floresceu, e delicioso fruto deu.

Alcunhado como Vernáculo brasileiro, o polarizado fruto cultivado, típicas caracterís-ticas apresentou. Dentre elas, estão o seu inesquecível e sócio-dialetal sabor. E as três grandes variedades que num só galho germinou: a culta, na haste, a vernácula na corola, e na raiz, um exemplar norma-tivo-prescritivo, que se encon-tra em processo de mudança para em pouco tempo, de comum acordo com sete grandes hortos, sua raiz integrar.

É! Não se pode negar: a unidade derradeira do Lácio, apresenta diversidade em solo Tupinambá.


Autor: Arlane Rodrigues Soares


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