Pactual: o negócio é vender caro e comprar barato



Lembra no primeiro grau que você enganou aquele seu coleguinha mais "lentinho", vendendo sua coleção completa de figurinhas do Jaspion por 31 cruzados novos (?!) e depois recomprava por 25 cruzados?

Foi mais ou menos o que fez o financista André Esteves no dia 20 de abril ao se tornar o novo dono da butique de investimentos Pactual.

Numa operação que foi considerada pelo mercado comorápida e barata, Esteves voltou ao topo do mundo dos bancos de investimentos no país, ao recomprar as operações do Pactual das mãos do UBS. Menos de três anos atrás, antes de ser abatido pela crise das hipotecas de alto risco, o banco suíço havia comprado o banco de investimentos brasileiro por US$ 3,1 bilhões, num cenário em que os grandes bancos globais não paravam de expandir suas fronteiras e tomar novos riscos.

A rapidez da negociação foi impressionante.

Desde que os suíços procuraram Esteves para dizer que, finalmente, estavam prontos para atender seu desejo de devolver-lhe o banco, apenas duas semanas se passaram. E o negócio só pôde ser fechado tão rapidamente, sem qualquer auditoria, porque o comprador conhece profundamente o que está levando. Até meados do ano passado, Esteves estava no comando do UBS Pactual.

O contrato assinado com os suíços em Nova York, prevê que nenhum dos lados pode voltar atrás. A BTG Investment está comprando toda a operação do UBS no Brasil, inclusive o private bank. Só ficam de fora as operações de private bank offshore. Esse é um segmento delicado, que muitas vezes envolve dinheiro não declarado e tem colocado o UBS na mira do governo americano.

O preço da venda do Pactual ao UBS, em 2006, e o de recompra podem parecer equivalentes. Mas as aparências não poderiam ser mais enganosas. Quando o UBS se comprometeu a desembolsar US$ 3,1 bilhões pelo Pactual, estava pagando o equivalente a 9 vezes o patrimônio líquido do banco brasileiro à época, de US$ 300 milhões (os US$ 3,1 bilhões seriam pagos a prazo e, quando levados a valor presente, equivaliam a cerca de US$ 2,7 bilhões). Os US$ 2,475 bilhões de agora correspondem a apenas 1,36 vez o patrimônio atual do banco, que está em US$ 1,8 bilhão. O PL cresceu graças aos lucros acumulados de lá para cá. No período, houve apenas uma distribuição de dividendos ao UBS, em torno de US$ 300 milhões.

O preço caiu, refletindo o cenário mundial adverso, que derrubou o valor dos bancos mundo afora. Em janeiro de 2008, Esteves acenou com proposta de US$ 5 bilhões ao UBS, em sua primeira tentativa de recomprar o Pactual.

Agora, do preço total, cerca de US$ 600 milhões serão pagos em dinheiro à vista, tão logo o Banco Central aprove a venda. Uma pequena parte do preço será financiada pelo próprio UBS. A maior parte do preço corresponde à assunção dos pagamentos que o UBS ainda tem a fazer aos ex-sócios pela venda do Pactual. São US$ 1,6 bilhão da segunda parcela (a primeira, de US$ 1 bilhão, foi paga em 2006), que seria paga em julho de 2011. E outros US$ 500 milhões de bônus de retenção, a serem pagos aos sócios que ficarem no banco até julho de 2011. Aqueles que deixaram o banco, inclusive Esteves, perderam direito ao bônus, que reverteu em favor dos que ficaram.

A maior parte da dívida do UBS era com o próprio Esteves e, portanto, essa dívida se anula. Aos demais sócios do Pactual, Esteves vai oferecer duas alternativas: trocar o valor a receber por capital do novo banco, voltando à condição de sócio, ou receber antecipadamente os valores devidos pelo UBS. Nesse caso, o executivo estará livre para deixar a instituição.

Oficialmente, os suíços decidiram se desfazer do banco brasileiro devido à mudança na estratégica da organização. Se, antes, eles queriam correr mais riscos nos mercados emergentes, agora querem uma gestão mais conservadora. Os sócios brasileiros, que antes estavam motivados em fazer parte de uma agressiva instituição global, não aceitaram a mudança de postura e alguns deixaram o banco, inclusive o próprio Esteves, rumo ao BTG. Adivergência estratégica era constante. O UBS nega que atritos de gestão no Brasil determinaram a venda.

O que o UBS não menciona é que vem sendo pressionado desde 2007 a vender o Pactual por um grupo de acionistas liderado pelo ex-presidente do banco, Luqman Arnold. Em carta enviada ao vice-presidente do UBS, Sergio Marchionne, Arnold pede a venda do Pactual e de outros bancos de investimento que o UBSpossui no mundo. "Essas vendas não devem ferir o foco das operações globais do UBSe devem atrair compradores dispostos a pagar o preço justo nesse competitivo mercado. O Pactual, a área de Global Asset Management e os negócios na Austrália e na Ásia preenchem esses requisitos", escreveu Arnold. Esteves, que teve uma breve passagem na matriz do banco como diretor global de renda fixa antes de voltar ao Brasil, estava atento.

Para o suíço UBS, a venda, ou como preferem alguns, a devolução do Pactual representa o cumprimento de promessas feitas recentemente a acionistas. Há uma semana, o novo CEO do banco, Oswald Grübel, disse durante a assembleia anual de acionistas que, como parte dos esforços para dar a volta por cima, o banco iria reduzir sua atividade de banco de investimentos global, focando no negócio de gestão de riquezas. "(Em banco de investimentos), vamos nos concentrar nos mercados de capitais mais importantes e sair de alguns lugares", afirmou ele. Doug Morris, porta-voz do UBS em Nova York, disse que a venda "melhora a estrutura de capital do UBS e aumenta seu foco estratégico e geográfico".

Como dizia o calendário: "Nada como um dia depois do outro".

Bibliografia:
Revista Isto É Dinheiro, edição 603 de 29 de abril de 2009
Revista da Semana, edição 85 de 30 de abril de 2009
Jornal O Estado de São Paulo de 21 de abril de 2009
Jornal Gazeta Mercantil de 22 de abril de 2009
Jornal Valor Econômico de 22 de abril de 2009
Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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