Queda na SELIC: de grão em grão...



Não adianta, a SELIC já entrou para o inconsciente coletivo nacional.

É quase como "a barriga do Ronaldo" ou o "linfoma da ministra", a cada reunião do COPOM só se pensa nisso: em quanto será fixada a SELIC?

A reunião desta semana tem ainda um gostinho especial. O Banco Central (BC) vai reduzir a taxa básica de juros (SELIC) para o menor nível da história.

Embora seja dada como certa, a queda deverá ser mais modesta do que se esperava 40 dias atrás, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) realizou sua última reunião. Naquele momento, a aposta majoritária entre os especialistas era de uma baixa de 1,5 ponto porcentual, para 9,75% ao ano. Agora, a maioria espera 1 ponto e há até quem crave 0,75. A cautela ganhou força, principalmente, porque o mercado e o próprio BC já conseguem ver uma melhora tênue, mas consistente, da atividade econômica no Brasil.

Na semana passada o diretor de Política Monetária do BC, Mário Torós, se reuniu com economistas de grandes bancos na sede da autoridade monetária em São Paulo. No alto do prédio da Avenida Paulista, ele mostrou, com números, que a economia não está tão deprimida como muitos imaginavam e uma recuperação mais forte da atividade deve ocorrer no segundo semestre.


Um dos exemplos dado por ele foi a demanda. Em fevereiro, as vendas do varejo aumentaram 1,5% na comparação com janeiro e avançaram 3,8% em comparação a fevereiro de 2008, quando não havia qualquer sinal da crise.

Além disso, analistas chamam a atenção para os estímulos fiscais dados pelo governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para produtos como geladeira, fogão e carros.

No mundo rico o consumidor não reage nem levando choques seguidos no peito. Aqui, um choquinho no braço já leva as pessoas a comprarem um carro zero quilômetro.

A torcida é grande

Até o Palácio do Planalto está torcendo nos bastidores para que o Banco Central reduza a taxa básica de juros da economia em mais 1,5 ponto porcentual na reunião desta semana.

A medida é defendida não tanto pela sua eficácia na recuperação da atividade econômica, mas por sua repercussão fiscal e, principalmente, pelo seu simbolismo: o de reduzir a taxa Selic para a casa de apenas um dígito (9,75% ao ano) e colocar o Brasil num novo patamar de juros mais compatível com o mundo desenvolvido.

A situação atual de baixa inflação e dívida pública sob controle, segundo fontes da equipe econômica, abriram uma janela de oportunidade para o Brasil reduzir não apenas transitoriamente, durante a crise, mas permanentemente, a taxa de juros.

Atualmente, o Brasil tem uma das taxas de juros mais altas do mundo. E isso ficou ainda mais nítido depois que os bancos centrais do mundo inteiro decidiram reduzir suas taxas para tentar amenizar os efeitos da crise econômica internacional. Muitos países estão com juros próximos de zero, enquanto a taxa Selic brasileira está em 11,25%. Mesmo descontando a inflação de cada nação para obter a chamada "taxa real de juros", a diferença contra o Brasil é enorme.

Posição do Meirelles
O presidente do BC, Henrique Meirelles, como é do seu feitio já jogou um pouco de água na fervura.

Na semana passada, alertou contra o que chamou de “otimismo exagerado” e advertiu que é “prematuro” cogitar juros interbancários de apenas um dígito neste momento. “não há dúvida de que há sinais importantes de recuperação de alguns setores da economia. mas não se pode confundir sinais de melhora com a superação do problema. Vamos devagar. otimismo exagerado pode levar a novas decepções”, disse.

Como meirelles nunca foi de desperdiçar palavras, o mercado entendeu que um corte de 1,5 ponto percentual na Selic é praticamente carta fora do baralho. o presidente Lula também recebeu o mesmo recado. Meirelles lembrou a Lula que é melhor ir com calma agora para que o Copom não seja obrigado a elevar a taxa em 2010, ano de eleição presidencial. E deixou uma mensagem que agradou ao presidente: mesmo uma redução mínima esta semana levará a taxa básica ao menor patamar da história. uma menção ao fato em discurso presidencial está até mesmo programada. a Selic atual, de 11,25%, já foi praticada por cinco meses entre final de 2007 e início de 2008, antes de uma nova escalada dos juros quando os preços internacionais das commodities estavam em alta e ameaçavam a inflação.


Impacto da queda da SELIC

Para aumentar a expectativa, a seguir elencamos os impactos da taxa de juros:

- na atividade econômica: em tese, os juros mais baixos podem incentivar o nível de produção por dois meios (barateando o consumo e os novos investimentos), mas na situação atual de crise não adianta reduzir o custo do dinheiro se os bancos resistem em emprestar e as pessoas e empresas resistem em tomar emprestado.

- na inflação: juros mais baixos também podem ser um risco à inflação em momentos em que a demanda está muito aquecida, o que não é o caso atual; ao contrário, alguns índices de preços no atacado já apontam deflação e indicam que existe folga para cumprir a meta de inflação de 4,5% não só em 2009 como 2010.

- na taxa de câmbio: se a taxa de juros no Brasil é mantida bem mais alta do que no resto do mundo, isso incentiva os investidores estrangeiros a aplicarem seus dólares no nosso País, principalmente em títulos da dívida pública. A entrada de dólares ajuda a fechar as contas externas, mas também pode pressionar o real a se valorizar desproporcionalmente em relação ao dólar, criando novos problemas para os exportadores.

- no equilíbrio fiscal: mais da metade dos títulos da dívida pública estão atrelados à taxa Selic definida pelo Banco Central; ou seja, quanto mais baixa a Selic, menor é o custo que o governo paga por sua dívida. Se o custo é mais baixo, o governo pode manter sua dívida equilibrada mesmo reduzindo o seu superávit primário (economia para pagamento de juros), como anunciado recentemente.

- na poupança: se a taxa de juros cair abaixo dos 10%, o rendimento líquido dos fundos de renda fixa mantidos pelos bancos poderia ficar menor do que o da caderneta de poupança, que equivale a 0,5% ao mês mais variação da TR. Atualmente, a poupança está rendendo cerca de 7,3% ao ano.

- na estabilidade macroeconômica: a redução da Selic no Brasil pode criar no mercado financeiro um ambiente favorável a uma redução permanente (e não apenas transitória) dos juros, o que aproximaria o custo do dinheiro no Brasil daquele praticado no desenvolvido.

Bibliografia:
Revista Isto É Dinheiro, edição 603 de 29 de abril de 2009
Jornal O Estado de São Paulo de 26 de abril de 2009


Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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