Bancos americanos: um saco sem fundo



A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que mais de 50 milhões de trabalhadores poderão juntar-se aos desempregados em todo o mundo, em 2009 e 2010, se a reativação econômica for tão lenta quanto prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Já existe um consenso entre especialistas que só haverá recuperação para valer quando o saneamento dos bancos estiver avançado.
 
Os bancos, infelizmente, ainda estão cheios de ativos podres — créditos de alto risco — e a limpeza continua lenta, principalmente nos EUA, segundo a avaliação mais ouvida durante a semana.
 
As autoridades americanas foram pressionadas dentro e fora dos salões do FMI em reuniões encerradas em 27 de abril para apressar o trabalho.

Segundo o FMI é necessário selar o compromisso geral de fazer o necessário para “garantir a solidez das instituições sistemicamente importantes e de restaurar a saúde financeira dos bancos, o crédito interno e os fluxos internacionais de capital”.
 
Em entrevista, Strauss-Kahn, presidente do FMI foi mais enfático: cada governo deve fazer o necessário, em suas condições particulares, para resolver o problema, recorrendo à estatização, se isso for necessário.
 
Nos EUA, o esquema proposto pelo governo Obama inclui a participação de investidores privados. Pode ser bom negócio, em princípio, comprar ativos podres, porque alguns desses títulos poderão valorizar-se, quando a situação melhorar.

Contudo, o governo dos EUA tem bom motivo para não se animar com a estatização mascarada: seria preciso, de alguma forma, supervisionar bancos muito grandes e muito complexos e a burocracia estatal não está preparada para isso.
 
Mesmo na Europa, onde a intervenção no mercado está mais avançada e os governos já aplicaram 150 bilhões na recapitalização dos bancos — de um total projetado de 27 bilhões —, o setor bancário continua frágil.
  
  Um ano atrás os economistas do Fundo avaliaram em US$ 1 trilhão as baixas de créditos podres.  Houve quem considerasse o número um exagero.  Em outubro a projeção havia chegado a US$ 1,4 trilhão.  O número foi revisto para US$ 2,4 trilhões em janeiro e elevado para US$ 2,8 trilhões no relatório divulgado na semana passada.  Esses valores se referem só aos créditos originados na bolha imobiliária americana.  As perdas globais, segundo cálculos mais amplos, podem chegar a US$ 4,1 trilhões.

E como anda o Plano Americano?
 
No dia 21 de abril, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, defendeu perante o Senado Americano, o resgate setor bancário do país, em meio a advertências sobre um possível desvio de fundos do plano de ajuda e previsões de perdas multimilionárias das instituições financeiras.

Geithner, respondeu a uma bateria de perguntas sobre o programa público-privado da Casa Branca para sanear os balanços bancários de ativos tóxicos. O programa usa fundos do plano de resgate de US$ 700 bilhões conhecido como Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês), aprovado no fim do ano passado pelo governo Bush.

O Tarp foi criado pelo Congresso dentro do Ato Emergencial de Estabilização Econômica para salvar Wall Street da crise. Uma parte do Tarp é um programa de compra de garantias e ações preferenciais conhecido como Programa de Compra de Capital (CPP).

Em carta de 20 de abril para Elizabeth Warren, professora da Universidade Harvard, que comanda o painel que supervisiona os esforços do governo para estabilizar os mercados, Geithner detalhou os recursos do Tarp: "Hoje, o Tesouro estima haver pelo menos US$ 109,6 bilhões em recursos disponíveis, mas antecipamos que US$ 25 bilhões serão reembolsados por meio do CPP ao longo do próximo ano - para um total de US$ 134,6 bilhões." Ou seja, o governo ainda tem US$ 134,6 bilhões para resgatar os bancos. O Tesouro projeta que os programas do governo anterior usaram US$ 355 bilhões, enquanto que os de Obama usaram US$ 235 bilhões.

Suspeita de fraudes

O plano do Tesouro para retirar os ativos tóxicos dos balanços dos bancos é vulnerável a fraudes e abusos e precisa de regras duras contra o conflito de interesse, afirmou na semana passada o inspetor do pacote de socorro financeiro do governo, Neil Barofsky. Em relatório, ele explicou que os subsídios às parcerias público-privadas (PPP) para a compra de ativos poderiam expor os contribuintes a perdas maiores sem aumento correspondente no lucro potencial.

Segundo ele, os contribuintes poderiam sofrer perdas maiores se os fundos de investimento público-privados tivessem autorização para financiar compras de papéis com empréstimos do Programa a Termo de Empréstimos Respaldado por Ativos do Fed. Os subsídios dos contribuintes poderiam diluir as obrigações financeiras dos investidores privados.

O relatório destacou ainda que foram abertos quase 20 inquéritos criminais associados ao programa de resgate de US$ 700 bilhões, incluindo desde questões relativas a fraude de títulos afetando investimentos do Tarp até corrupção pública e fraude em hipotecas.

Além disso, Barofsky conduz seis auditorias, incluindo uma que questiona se os recentes pagamentos de bônus a funcionários da AIG estavam de acordo com as condições de ajuda do governo.

É como minha avó sempre disse: "Nada está tão ruim que não possa piorar";

Bibliografia:
Jornal O Estado de São Paulo de 22 de abril de 2009
Jornal O Estado de São Paulo de 27 de abril de 2009

Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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