HOMO SAPIENS, HOMO FABER OU HOMO ZAPPIENS?



Apenas o ser humano trabalha e educa (Saviani, 2007). Partiremos desta afirmação para resgatar idéias imprescindíveis à reflexões sobre o fato de que a existência humana não é garantida pela natureza, mas sim um produto do trabalho dos próprios homens, o que "significa que o homem não nasce homem, ele forma-se homem". Saviani, analisando os fundamentos histórico-ontológicos da relação trabalho-educação chega a propor que buscássemos nos despir de todo orgulho para verificarmos que a história nos apresenta características constantes do homem e da inteligência que poderia culminar em uma mudança de denominações: talvez não devêssemos ser o Homo Sapiens, mas sim Homo Faber. Como a existência humana não pode ser garantida pela natureza, mas deve ser produzida pelo próprio homem, podemos entender que a produção do homem é, ao mesmo tempo, a formação do homem, isto é, um processo educativo. A origem da educação coincide então, com a origem do próprio homem.

Quais seriam então os pré-requisitos para que este homem compreenda e atue neste mundo em que vive atualmente? Aprender a ler, escrever e contar, dominar princípios das ciências naturais e sociais e poder interagir de forma autônoma e reflexiva com tecnologias cada vez mais poderosas e abrangentes que o cerca. É a escola o local privilegiado, não o único, onde pode o indivíduo ter contato com trabalhos pedagógicos que visem desenvolver estas e outras habilidades e competências.

De acordo com Perrenoud (1999), "a evolução do mundo, das fronteiras, das tecnologias, dos estilos de vida requer uma flexibilidade e criatividade crescentes dos seres humanos" (p.15). Tal missão, proporcionar um ambiente propício à criatividade, à descoberta, ao diálogo e à reflexão, destinada em geral à escola não deve necessariamente ser encarada como uma utopia, mas uma possibilidade real e prioritária onde se possa trabalhar o "desenvolvimento da inteligência como capacidade multiforme de adaptação às diferenças e às mudanças".

Vivemos em um mundo globalizado onde as barreiras físicas das escolas, das bibliotecas e qualquer outro prédio onde se abriga formalmente os saberes, caem de forma a derramar para quem se dispuser a coletá-los, todo o conhecimento acumulado pelo ser humano, em todas as áreas do conhecimento. O espaço onde é fácil encontrar toda essa gama de informação vem sendo chamado por alguns autores de ciberespaço. Segundo a historiadora Priori (2008), estamos diante do nascimento de um "sétimo continente", um ciberespaço feito de redes de comunicação, capazes de "gerar e diminuir as desigualdades de informação" e conhecimento. Um mundo virtual que já existe e se expande em uma velocidade assustadora.

Com a evolução constante deste novo mundo, poderemos acompanhar a evolução de um novo homem, o nativo digital ou Homo Zappiens (VRAKKING & VEEN, 2008), uma geração de seres humanos que cresceram em meio às tecnologias digitais, e que aprenderam desde muito cedo que tais tecnologias lhes permitem acessar de forma rápida uma gama imensa de informações e se comunicar com pessoas. Eles "zapeiam" entre as diversas informações que julgam interessantes ou úteis, da mesma forma como ficam mudando de canal no aparelho de televisão.Esta possibilidade de mudar rapidamente o foco da atenção de acordo com os interesses, de acordo com os autores, pode ser observada também no ambiente escolar, onde é cada vez mais difícil despertar-lhe a atenção. Os professores que irão trabalhar com estes alunos precisam ter ciência destas características de uma nova geração que aprendeu a "cooperar em redes e negociar sobre as informações e confiança", aceitam as novas tecnologias sem medo, porém ainda necessitam que lhes indiquem caminhos para tais benefícios sejam utilizados de forma reflexiva e autônoma.

Este é o grande desafio da educação de hoje, encontrar formas de fazer mesclar o poder de reflexão, inteligência, construção e destreza com a tecnologia desta nova geração, em outras palavras, mesclar o Homo Sapiens com o Homo Faber e estes dois com o Homo Zappiens.


Autor: Adriano Freitas


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