As Práticas Educacionais e as Políticas de Língua



Considerações Iniciais

"Os homens brancos gostariam de trazer para nós os seus tesouros, suas coisas, para que nós também fôssemos ricos. Estas coisas, no entanto, não são mais do eu flechas envenenadas que matam aqueles em cujo peito se penduram."[1]. Sob este prisma, o da conquista, é que se começa a observara as práticas educacionais instituídas pelos colonizadores portugueses durante a pseudo-descoberta do Brasil, o que os povos indígenas chamam de invasão.

Porém é difícil dominar uma sociedade cuja língua é ininteligível, cujos costumes e crenças, ou seja, cultura é diferente e aos olhos do civilizado parece inferior, merecedora da extinção, e que precisa ser civilizado, como demonstração de piedade e espírito cristão, esses povos precisavam conhecer a "salvação" e o preço para isso era servir a Deus, ou pode-se dizer a Igreja, e posteriormente a Coroa e o Estado.

De forma bem sintática e didática, o presente trabalha busca abordar os aspectos históricos das praticas educacionais e as políticas de língua instituídas neste processo de colonização pelo qual o Brasil submeteu seus povos nativos por anos e, que atualmente tenta pagar uma dívida sócio-cultural e, porque não econômica também, por meio de implantação de projetos que beneficiem os remanescente dessas populações.

Um pouco de história sobre a colonização brasileira

A historia do Brasil no século XVI não pode ser desvinculada dos ocorridos na Europa, pois de acordo com ARANHA[2] ARRUDA & PILETTI[3], essa colonização se fazia necessária devido a expansão comercial da burguesia enriquecida coma Revolução Comercial, as colônias, dentre elas o Brasil, representavam não somente a ampliação no comercio, como também são fornecedoras de produtos tropicais e metais preciosos.

No Brasil, a propescção de metais preciosos demandava tempo, desta forma a exploração restringiu-se à extração do pau-brasil e algumas expedições exploratórias, somente a partir de 1530, deu-se início a colonização, com os sistema de capitanias hereditárias e a monocultura de cana-de-açúcar.

A economia colonial se expande em torno do engenho de açúcar, e o grande proprietário de terras recorre ao trabalho escravo, inicialmente dos índios e, depois dos negros africanos. Desta forma, latifúndios, escravatura, monocultura, eis as características da estrutura econômica colonial que explicam o caráter patriarcal da sociedade, centrada no poder do senhor do engenho.

Nesse contexto, a educação não é meta prioritária, já que não há necessidade de formação especial para o desempenho de funções na agricultura. Apesar disso, a metrópole européia enviava religiosos para o trabalho missionário e pedagógico, com a finalidade principal de converter o gentio e impedir que os colonos se desviassem da fé católica.

A intenção não é de toda boa, como se diria, em época de absolutismo, a Igreja, submetida ao poder real, era instrumento importante para garantir a unidade política, já que por suas ações uniformizava a fé e a consciência.

A atividade missionária facilita sobremaneira a dominação da coroa sobre a colônia, e dessa maneira a educação assume o papel de instrumento, ou estratégia, colonizadora. No Brasil, os jesuítas estabeleceram-se em maior numérico, e apresentavam maior atuação efetiva, obtendo um resultado mais significativo, pois se empenhavam na atividade pedagógica, a qual denominava de catequese, e desta forma a consideravam primordial, pois esta era responsável por salvar o gentio, apresentando-lhe os ensinamentos bíblicos e os dogmas da Igreja e as regras da Coroa.

Práticas educativas no Brasil colonial: os jesuítas, principais agentes deste processo.

Grupo organizado, homens intrépidos, determinados, zelosos, soldados de Cristo – os jesuítas. Que sentido emprestaram à educação no Brasil?

A fim de responder esse questionamento, mais uma vez recorrendo a Historia Geral do século XVI, em especial ao que diz respeito à Reforma Protestante, pode-se ver que a Europa estava sendo varrida por críticas à Igreja Medieval e por conseqüência aos sistemas educacionais vigentes naquela sociedade, pois enquanto a igreja fundava colégio dirigidos por clérigos com o objetivo de proteger os filhos da nobreza das "más influencias", Lutero (1483-1546) trabalhava pela implantação de escolas primárias para todos, sendo esta universal e pública. É bem verdade que ao defender somente o direito á escola primária para as classes trabalhadoras, Lutero privilegiava as classes nobres com o ensino médio e superior, conforme afirma ARANHA (1996: 91).

Para dirigir os Colégios, a Igreja católica cria ordens religiosas, no Brasil, a ordem designada para servir no período da colonização foi a Companhia de Jesus, ou seja, os Jesuitas, em seus colégios a formação era destinada à uma elite letrada, ao passo que os seminários se destinavam à formação de futuros sacerdotes membros da Companhia. Considera que a expulsão dos jesuítas provocou o desmantelamento do processo educativo, contudo "O objetivo do ensino continuou a ser a formação religiosa-humanista, seguindo os métodos utilizados pelos mestres-jesuítas" (GILES, 1987, p. 286)[4]. De acordo com LARROYO (1974, p. 883)[5], durante todo o período colonial, os jesuítas, por 210 anos (1549-1759), "foram os únicos responsáveis pela nossa educação".

Entre os jesuítas fundadores que construíram a base da educação brasileira, destaca os padres Nóbrega, Aspilcueta Navarro, Anchieta e também Luís Figueira, autor da Arte de gramática latina da língua brasileira (1621), com a qual "muito contribuiu para a evolução e o aprimoramento do idioma". O referido padre "percorreu todo o Maranhão e o Amazonas, com sua obra catequética e pedagógica", sendo morto pelos indígenas na ilha de Marajó, em julho de 1643. Considera a obra jesuítica como "marco fundamental da nossa civilização". A grandiosidade do trabalho educacional dos jesuítas é medida pela evolução de uma modesta Escola de Letras fundada em 1549 na Bahia, para, além das escolas de primeiras letras, mais de uma dezena de colégios, quando de sua expulsão.

Segundo ROMANELLI (1980:33)[6] durante o período colonial chama-se a atenção para a importação "de formas de pensamento e idéias dominantes na cultura medieval européia [...] através da obra dos jesuítas", favorecida pela família patriarcal e pela classe dominante, desejosa de hábitos aristocráticos de vida. Mas era apenas "a um limitado grupo de pessoas pertencentes à classe dominante que estava destinada a educação escolarizada", aos demais, a ação educativa se dava através da catequese, que segundo o mesmo autor:

[...] A catequese assegurou a conversão da população indígena e foi levada a cabo mediante criação de escolas elementares para os "curumins" e de núcleos missionários no interior das nações indígenas. A educação que se dava aos curumins estendia-se aos filhos dos colonos, o que garantia a evangelização destes [...]

Assim, os padres acabaram ministrando, em princípio, educação elementar para a população índia e branca (salvo as mulheres), educação média para os homens da classe dominante, parte da qual continuou nos colégios preparando-se para o ingresso na classe sacerdotal, e educação superior religiosa só para esta última. A parte da população escolar que não seguia a carreira eclesiástica encaminhava-se para a Europa, a fim de completar os estudos, principalmente na Universidade de Coimbra, de onde deviam voltar os letrados.

A obra de catequese, que, em princípio, constituía o objetivo principal da presença da Companhia de Jesus no Brasil, acabou gradativamente cedendo lugar, em importância, à educação da elite. E foi com essa característica que ela se firmou durante o período em que estiveram presentes no Brasil os seus membros e também com essa mesma característica que ela sobreviveu à própria expulsão dos Jesuítas, ocorrida no século XVIII. Dela estava excluído o povo e foi graças a ela que o Brasil se "tornou, por muito tempo, um país da Europa", com os olhos voltados para fora, impregnado de uma cultura intelectual transplantada, alienada e alienante. Foi ela, a educação dada pelos jesuítas, transformada em educação de classe, com as características que tão bem distinguiam a aristocracia rural brasileira, que atravessou todo o período colonial e imperial e atingiu o período republicano, sem ter sofrido, em suas bases, qualquer modificação estrutural.

Ao se perguntar sobre o tipo de cultura que poderia se desenvolver nas condições materiais daquela época, conclui:

[...] uma que fosse marcada pelo autoritarismo típico da religião institucionalizada, pelo elitismo de uma estrutura social brutalmente dividida em extremos intocáveis e pelo caráter contemplativo adequado às existências ociosas, dos que viviam da produção primária de produtores compulsórios. (Larroyo, p. 33)

Segundo o autor pode-se ver que os Colégios Jesuíticos foram os centros por excelência de formação das elites e das lideranças da sociedade colonial. Mas que não se tratava de um ensino alienado, dogmático e acrítico e sim de possibilitar, também na colônia, o modelo cultural existente na metrópole, consoante com as diferenças em razão da posição dos indivíduos na sociedade (XAVIER, 1994, p. 46-47)[7].

Também adota como marco inicial da escolarização no Brasil a chegada dos quatro padres e dois irmãos jesuítas chefiados por Manoel da Nóbrega, fazendo a seguinte análise:

E assim se iniciou a educação no Brasil, respondendo aos interesses políticos da Metrópole e aos objetivos religiosos e políticos da Companhia de Jesus. A Companhia se propunha, desde suas origens, a combater o protestantismo, ocupando uma posição proeminente nas lutas que se travavam na Europa contra a Reforma e o "modernismo" que esta representava. À Metrópole interessava a catequização dos indígenas que, assim, se tornariam mais submissos e poderiam mais facilmente aceitar o trabalho que deles exigiam os colonizadores. (WEREBE, 1994, p. 21)[8].

O governo colonial do Brasil, ao contrário dos governos coloniais de outros povos, como o da Espanha, sempre foi hostil ao desenvolvimento da instrução pública e – salvo raras exceções – sempre reprimiu a expansão do espírito nacional. Desde os fins do século XVIII, vê-se despontar, nas instruções do governo metropolitano, o temor da futura independência da colônia. (ALMEIDA, 1994, p. 37).

Práticas Pedagógicas e Administração do Sistema Educacional: estratégias de colonização (I)

Os jesuítas organizaram o processo educativo sob um conjunto de preceitos que simbolizavam essencialmente:

A experiência pedagógica dos jesuítas sintetizou-se em um conjunto de normas e estratégias chamado de Ratio Studiorum (Ordem dos Estudos). O objetivo dessa Ordem era o de "formação integral do homem cristão" de acordo com a fé e a cultura daquele tempo.[9]

A estrutura pedagógica que marcou a atuação dos jesuítas no Brasil foi um breve curso de Humanidades, estabelecendo a relação entre filosofia e teologia.Como já fora citado a atuação dos jesuítas se deu inicialmente pelo seu objetivo principal com a instauração da catequese aos povos originários. Posteriormente desenvolveu o ensino de primeiras letras para atender a grande população pobre que habitava o território. A finalização da proposta jesuítica foi a construção de vários colégios religiosos para promover a educação da elite.

A administração geral da Companhia de Jesus era executada em Roma, tendo como articulador a figura do provincial geral, responsável pelo andamento das casas e colégios em todas as províncias. Na colônia, o cargo deprovincial era o nível máximo e obtinha a função de promover o estudo na província e vigiar o cumprimento das normas do Ratio Studiorum. O Ratio simbolizava as formas de administração e organização dos currículos e métodos de ensino que orientavam os professores em suas aulas.[10]

O elemento central para se entender como funcionavam as regras da educação cristã na colônia referencia o pensamento e a mentalidade que marcou o homem do Antigo Regime europeu, ressaltando que:

Nessa grande tradição da eminência do detalhe viriam se localizar, sem dificuldade, todas as meticulosidades da educação cristã, da pedagogia escolar ou militar, de todas as formas, finalmente, de treinamento. Para o homem disciplinado, como para o verdadeiro crente, nenhum detalhe é indiferente, mas menos pelo sentido que nele se esconde que pela entrada que aí encontra o poder que quer apanhá-lo. Característico, esse hino às "pequenas coisas" e à sua eterna importância, cantado por Jean-Baptiste de La Salle, em seu Tratado sobre as Obrigações dos Irmãos das Escolas Cristãs. A mística do cotidiano aí se associa à disciplina do minúsculo.[11]

A presença da Igreja na colônia, com a imposição dos valores cristãos, transmitidos pela educação, asseguraram a imposição de uma disciplina às populações indígenas, treinando-os e condicionando estes a iminência da catequese, objetivando consolidar os projetos do absolutismo português, criando o ideal de conformismo e aceitação das regras impostas, para desta forma assegurar a paz social e consolidar a empreitada da colonização.

O sociólogo Gilberto Freyre[12] observou que no desenvolvimento da educação marcada pelos valores europeus, tinha por objetivo formar uma nova geração baseada na fé católica. Desta maneira perderiam os seus costumes e hábitos tradicionais. A aculturação se deu quando os educadores jesuítas conseguiram que os índios dessem os seus curumins para os colonos brancos educarem, tornando-os mais filhos dos padres e da Igreja do que dos caciques.

A crise da educação jesuítica no Brasil se deu no reinado de D. José I, principalmente pelas estratégias do seu primeiro ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. As ações de Pombal visaram modernizar Portugal abolindo com algumas das estruturas do Antigo Regime, principalmente pelo monopólio da Igreja.

O Período Pombalino se inicia na segunda metade do século XVIII quando D.José I, rei de Portugal, influenciado pelas idéias iluministas que se espalhavam pela Europa, nomeia Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, Ministro de Estado com a incumbência de recuperar a economia de Portugal; tornando-o um país rico, culto, com uma indústria que fizesse frente à Inglaterra. Para tanto, Pombal promoveu uma série de reformas que causaram impactos econômicos, políticos e educacional.

Em 1759, os jesuítas são expulsos de Portugal e de todas as suas colônias e o governo Português toma o encargo de administrar a educação, sendo esta considerada de interesse do Estado e não mais da Igreja. A proposta ideológica de Pombal sobre a educação objetivava utilizar a educação como uma ferramenta a serviço dos interesses do Estado. O processo da administração escolar no período Pombalino foi marcado pela ingerência do Estado na educação, passando a se criar um sistema nacional de educação, interligando definitivamente a educação em Portugal aos processos políticos e sociais.

O Alvará Régio representou a consolidação das medidas políticas de Pombal destinadas a educação. Pombal instaura o Alvará Régio na tentativa de dar continuidade ao trabalho pedagógico implementado pelos jesuítas, a partir deste período o Estado passa a intervir na administração e gestão do sistema escolar.[13]

Práticas Pedagógicas e Políticas de Língua: estratégias de colonização (II)

As invasões na Amazônia iniciaram-se por volta de 1616, através das expedições de Francisco Orellana e Pedro Texeira, durante as expedições, os registros trazem luz sobre a grande população de indígenas que viviam na região e suas variedades lingüísticas conforme se pode conferir em Carvajal e Acuña (1941 apud Montenegro 2009: 33):

Os índios estão reduzidos nas terras que os portugueses possuem, e os que são amigos e podem, convertidos, receber a fé cristã, são mais de um milhão falam diferentes línguas do Brasil. [...] Com a sobrada razão, sobretudo o que foi descoberto, adquirirá o titulo de grandioso o Rio Amazonas, pois a extensão de quase mil léguas de contorno, encerra mais de cento e cinqüentanações de línguas diferentes, bastando cada qual por si para formar um dilatado reino, e todas um novo e dilatado império. [...] Passam cento e cinqüenta, todas as línguas diferentes, tão dilatadas e povoadas de moradores como as que vimos por todo este caminho.

Desta forma, tornava-se complicado a colonização de um país multi-linguistico, e que dentre estas línguas não se falava o português, que era a língua de origem dos colonizadores, pois já que o objetivo dos jesuítas era catequizar e somente depois enquadrar o indígena como mão-de-obra, se fazia necessário o mínimo de comunicação, e assim, as políticas de língua influenciaram as práticas pedagógicas e foram de suma importância.

Conforme afirma o padre Antonio Vieira (FREIRE 1983[14] apud MONTENEGRO, 2009: 35) os índios eram "os braços e as pernas da Colônia", e por esse motivo a necessidade de comunicação eficaz crescia, o que levou os colonizadores, em um primeiro momento, a tentativa de aprenderem algumas línguas, o que depois se mostrou inviável devido à grande variedade de línguas.

Em um segundo momento, pensou-se em uma língua que servisse de comunicação interétnica nas aldeias, ditas domésticas, ou nas repartições onde eram colocados índios de diversas tribos. Essa Língua Geral foi trazida pelos colonos portugueses de Pernambuco e Maranhão, e seria ensina como língua oficial, daí a primeira ação educativa na Colônia do Grão-Pará e Rio Negro, essa língua era o Nheengatu.

O processo de ensino do Nheengatu de forma sistemática à índios de diversas etnias, a abertura de colégios para ensino da leitura e da escrita, fez com que em 1689, por meio de uma Carta Régia, o Nheengatu, fosse oficializado como língua oficial da Amazônia, conforme MONTENEGRO (2009:37).

Diferentemente de Montenegro, 2009, que ao afirmara que a necessidade de uma nova língua, a fim de unificar as etnias se dava apenas com o objetivo de facilitar a comunicação a fim de agilizar os processos de dominação para a utilização do então chamado "ouro vermelho", FREIRE (2008: 48)[15] afirma que para além de somente explorar a mão-de-obra, Portugal possuía a necessidade afirmara a sua hegemonia enquanto Metrópole, enquanto comerciante, enquanto Monarquia Católica, pois em contra-partida, os índios transmitiam suas experiências de forma oral, pois ainda não conheciam a escrita.

Essa intenção velada, até mesmo por muitos historiadores, é explicitada por Freire (2008: 49) ao afirmar que com a implantação do Nheengatu, o qual substituiu várias línguas indígenas, "rompeu com a tradição oral e não constituiu um veículo escrito para transmitir às novas gerações as experiências passadas, apesar de ser dotado de alfabeto pelos jesuítas. O processo de hegemonia da língua portuguesa iniciou-se em 1854."

Essa hegemonia da língua fez o homem amazônida perder a sua identidade, assim como afirma o escritor amazonense Marcio Souza (apud FREIRE 2008: 49) este homem pode ser visto como: "um homem geralmente desfibrado e incoerente, um farrapo atravessado entre dois mundos contraditórios, entre colonizado e colonizador."

As palavras de Marcio Souza parecem duras, porém como um espelho refletem a realidade de um povo que foi desarraigado de sua cultura, de seu passado e foi-lhe transplantado uma nova cultura sem significado, apenas para hegemonizar o colono, a fim de facilitar-lhe a vida, nesta perspectiva Marcio Souza continua: " a Amazônia Índia é uma anátema, um purgatório onde culturas inteiras se esfacelam no silencia e no esquecimento"

Com o silêncio do índio, pois este não contava mais a sua história, o Colono retoma a palavra, e assim surgem os primeiros ensaios sobre a História do Brasil e da Amazônia, o que fez com que a História, afirma Freire (2008), se resumisse a uma parcialidade e primária "visão dos vencedores", e isso fica bem claro conforme afirma o historiador Arthur Reis, que ao analisar o período colonial na Amazônia percebe que os portugueses se referiam a esta como "nossa conquista".

Assim percebe-se que o processo de portugalização da Amazônia não foi apenas um processo de esmagamento das línguas indígenas e que ficou no passado, mas foi, principalmente, uma ruptura dos veículos de transmissão das experiências histórica, e ainda uma montagem de toda uma ideologia colonizadora, afirma Freire (2008), que baniu a questão indígena do currículo oficial das escolas, dos meios de comunicação e da memória do povo que vive hoje, sobretudo na Amazônia.

Foi justamente essa a ação educativa da Companhia de Jesus que solidificou o processo de dominação do povo indígena, servindo de drenagem entre a aldeia tribal e a povoação nacional, e indo além, da memória e da identidade do homem amazônido.

Considerações Finais: apenas para continuar a reflexão

Ao longo de todo este estudo, procurou-se mostrar, segundo Romanelli (1980, p 19), que "a forma como se origina e evolui uma cultura define bem a evolução do processo educativo". Então, resolveu-se, mediante as considerações postas neste trabalho, resgatar e situar as práticas pedagogias, sejam elas em viés da administração do processo educativo ou das políticas de línguas.

Ao passo que avançou-se nas leituras, percebeu-se que no campo especificamente educativo, é ilusório pensar que, simplesmente, a partir do diagnóstico de seus problemas, o educador encontra-se apto para enfrentar e superar as dificuldades presentes nas relações que conectam poder e cultura. Além do diagnóstico preciso, entende-se que o elemento fundamental é a vontade política daqueles envolvidos diretamente na prática escolar. Não assumir lugar e responsabilidade nesse espaço, significa entregá-lo a forças que certamente irão moldá-lo de acordo com seus próprios objetivos. Este não é, contudo, um processo fácil e simples, pelo fato de herdar uma história, cujos alicerces são profundamente de base autoritária e alheia aos interesses da coletividade.

Como pode-se ver, os interesses religiosos e políticos da Companhia de Jesus, sem dúvida, moveram a ação educativa desses padres, que encontraram no ensino, um meio eficaz de submissão e domínio. O sentido da educação parece bastante evidente, referindo-se a um sentido de educação basicamente elitista. Isso porque esse tipo de educação não visava à formação do indivíduo, mas privilegiava, mediante um conteúdo

clássico, a ascensão social de um pequeno grupo dominante. Portanto, é fundamental compreender que: "As desigualdades econômicas e sociais se refletem no sistema educacional. Assim, ao lado de uma elite bem educada, formada em boas escolas, encontra-se uma população analfabeta ou semi-analfabeta que não conseguiu ingressar no sistema escolar ou foi dele excluída precocemente" (Werebe, 1994, p. 283).

Entretanto, a grande perspectiva que se deve ter é a de poder examinar criticamente o que há nas entrelinhas da história da educação, no sentido de entender que tipo de democracia, eventualmente, se pode construir como perspectiva futura.

Referencias Bibliográficas

ALMEIDA, Jerusa da Silva Gonçalves, TEIXEIRA, Gilson Ruy Monteiro. A educação no período colonial: o sentido da educação na dominação das almas.Artigo publicado no site <HTTP:// www.scielo.org.br> acesso 24 de abril de 2009, as 15:40.

ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Historia da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

ARRUDA, José Jobson de A., PILETTI, Nelson. Toda a história: história geral e história do Brasil com atlas histórico em cores. 7.ed. São Paulo: Ática, 1997.

COLARES, Anselmo Alencar. ASPECTOS HISTORIOGRÁFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO COLONIAL. Artigo publicado no site <HTTP:// www.scielo.org.br> acesso 24 de abril de 2009, as 14:30.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petropólis: Vozes, 1989.

FREIRE, José Ribamar Bessa.(org.). A Amazônia Colonial: 1616-1798. 6.ed. Manaus: BK Editora, 2008.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez, 2008.

GILES, Thomas Ransom. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.

LARROYO, Francisco. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Mestre Jou, 1974. 2 v.

MONTENEGRO, Márcia. Sociedades indígenas e educação. Edição em revisão.Manaus: BK editora, 2009.

ROMANELLI, Otaíza. História da educação no Brasil. 2 ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1980.

SECO, Ana Paula. Antecedentes da administração escolar até a República (...1930). In; Revista HISTEDBR. Campinas: Editora da UNICAMP, ago. 2006, 54-101.

WEREBE, M. J. Grandezas e misérias do ensino no Brasil: 30 anos depois. São Paulo: Ática, 1994.

XAVIER, M. E. S. P. A sociedade agroexportadora e a constituição do ensino de elite (1549-1920). In: XAVIER, M. E. S. P.; RIBEIRO, M. L. S.; NORONHA, O. M. História da educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994.


[1] Cf. MONTENEGRO, Márcia. Sociedades indígenas e educação. Edição em revisão.Manaus: BK editora, 2009. p. 13.

[2] ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Historia da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.

[3] ARRUDA, José Jobson de A., PILETTI, Nelson. Toda a história: história geral e história do Brasil com atlas histórico em cores. 7.ed. São Paulo: Ática, 1997.

[4] GILES, Thomas Ransom. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.

[5] LARROYO, Francisco. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Mestre Jou, 1974. 2 v.

[6] ROMANELLI, Otaíza. História da educação no Brasil. 2 ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1980.

[7]XAVIER, M. E. S. P. A sociedade agroexportadora e a constituição do ensino de elite (1549-1920). In: XAVIER, M. E. S. P.; RIBEIRO, M. L. S.; NORONHA, O. M. História da educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994.

[8]WEREBE, M. J. Grandezas e misérias do ensino no Brasil: 30 anos depois. São Paulo: Ática, 1994.

[9]GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez, 2008.

[10] Cf.: SECO, Ana Paula. Antecedentes da administração escolar até a República (...1930). In; Revista HISTEDBR. Campinas: Editora da UNICAMP, ago. 2006, 54-101.

[11]FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petropólis: Vozes, 1989.

[12]FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

[13] Cf.: SECCO, Op. Cit. p. 74

[14] Cf.: FREIRE, José Bessa. Da "fala boa" ao português na Amazônia brasileira. Ameríndia nº08. Paris, 1983.

[15] FREIRE, José Ribamar Bessa. (org.). A Amazônia Colonial: 1616-1798. 6.ed.Manaus: Bk editoras, 2008.


Autor: Priscilla Lima


Artigos Relacionados


A Função Da Escola E Da Educação

Um Presente Atrasado

A Ética Docente Como Influência No Ensino – Aprendizagem De Crianças Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental

Ppp - Projeto Político Pedagógico

Futsal: Força E Resistência Em Alunos De 10 A 12 Anos Praticantes De Futsal

Conteúdos Essenciais Para Uma Metodologia Da Produção De Textos

Emancipação Da Educação