Afinal, quem tem razão?



O DADO É DA DADÁ

(lembrando a cartilha...)

 

                                                                       De Sergio C. Andrade

 

         Vindos da rua, passaram pelo quintal feitos andorinhas cortando o vento. Os meninos, animados já de um pega-pega pelos morros da fazenda correram até a Dadá. Entraram pelo casarão adentro e ela estava em um pequeno quarto passando roupas. Recebeu-os com belo sorriso de dentes bem alinhados e brancos, satisfeita em vê-los.

         - O que querem dessa vez?

         Abriu a boca a pedir o menino Didi.

         - Tia, é o dado!

         - O que tem o dado?

         - Precisamos para jogar.

         - Então vá lá na minha gaveta do quarto e pegue. Depois reponha no lugar.

         - Está bem. Obrigado, tia.

         - Se quiserem comer antes, tem paqueca e couve-flor no forno.

         - já viremos a almoçar. O Dedé desafia que tira menos que eu e avança dez, em três jogadas seguidas: impossível!

         - Nada é impossível quando Deus quer, filho.

         - Ah, tia, nem Deus seria capaz disso!

         E correram saltantes até a sala em alegria.

         Os dedos da mão de Dedé pegaram o dado, colocou-o entre as mãos e soprou, desejando em ter sorte. Balançou-o um tanto na mão direita e disse, vendo-o cair:

         - Deu 1, Dedé! - exclamou Dudu, feliz com a sorte.

         - Um é pouco, mas não é menos! Deixe a ver - provocou Didi.

         - Só se der nada, menos que um é nada - pensou alto Dudu.

         Didi pegou o dado, balançou um pouco e logo lançou.

         Deu 3.

         - Agora é a sua vez, Dedé, e já ganhei - sorriu Dudu; ou empato com você se tirar um...

         Dedé nem balançou, pegou o dado e jogou pro alto, a sorte estava lançada. Ao cair posicionou-se numa rachadura do piso e ficou de quina entre 1 e 2 para cima.

         - Ganhei, Dudu, veja aí! Deu zero!

         - E quina vale zero?

         - Vale sim. É zero.

         - Está bem, Dedé, então a gente aceita, começa o jogo.

 

 

 

 

O MENINO LEITOR

(E quem tem razão?)

 

                                                                       De Sergio C. Andrade

 

         Que livro lê este menino?... Parece interessante. A história está é boa demais.

 

         - Ô, menino, largue este livro, vá jogar bola! - passa alguém pela sala a lhe dizer.

 

         Mas o menino está tão interessado no assunto lido... Ou será as bonitas letras, os desenhos coloridos?

 

         - Calma, já vou, só falta o... -

 

         - Falta o quê? Falta nada! Vem me ajudar no afazer da cozinha, depois termina isso!

 

         - É agora que vai descobrir, quero saber...

 

         - Já descobre já, leia a última frase desse livro e pronto! Vá assistir TV, brincar com seus carrinhos.

 

         - Não, já li a frase do fim e não é a descoberta..., preciso montar o código, o quebra-cabeça, se não seguir lendo não dá, não descubro...

 

         - Então dê aqui que já descubro! - tomou do rapazinho o livro.

 

         E remexeu página adiante, atrás, e nada... Ficou curiosa... Esqueceu da vida e da casa... Agora é ela que está no sofá, e não sai mais do sofá...

 

         - Mãe, quero tomar um café...

 

         - Espere, já estou quase chegando a descobrir...

 

         - Depois a senhora termina, estou com fome...

 

         - Calma, menino, é só mais umas letras...

 

         - Se quiser conto tudo até onde parei.

 

         - Está bem, que houve até esse pedaço que fala isso...

 

         O garoto narrou o que lembrava, passo a passo, disse o que sabia já do código, e até onde o quebra-cabeça do enigma embaraçado parecia em se montar...

 

         - Ah, então foi assim é!?

 

         - Foi. Agora deixa que leio para a senhora alto, o final só tem uma página e meia, a gente já descobre...

 

         - Então tome, e leia em devagar não correndo demais, e vamos matutando, essa coisa parece que é e não é... Ou será a jornalista da TV? Ontem ela falou um assunto desses, eu ouvi e vi, aquela notícia pode ser o X da nossa questão filho!

         - Como assim?!

 

         - Isso tem a ver com a TV e jornal das notícias...

 

         - Que notícia?

 

         - Assisti, e foi assim e assim.

 

         - Talvez que sim e que não, mãe. Vamos ver. Agora só falta quase uma página.

 

         Quando leu desanimou-se...

         - Ah não, mãe!

         - Que houve, filho!?

         - A peça e o final do código não está.

 

         - Tem umas letrinhas miúdas no final, tu viste!?

         - Não. Vou pegar a lupa! - alegrou o jovenzinho esperto.

         Trazendo o instrumento leu o seguinte: "Calma quem isto leia, o deciframento será no volume 2".

 

         Qual a cara da mãe e do filho depois dessa? Como reagiram? Foram a fazer a comida ou correndo até à primeira livraria ou jornaleiro?

 


Autor: sergio carneiro de andrade


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