Pseudo Identidades Como Consequência da Globalização



Pseudo identidades como conseqüência da globalização

No meio de tanta coisa globalizada e culturas que se fundem, é meio difícil afirmar se possuímos uma identidade própria. Basicamente ela é forjada nas fimbrias do neoliberalismo e suas armas manipuladoras são o consumo e o jogo de exclusão social. Diante de tudo isso surgem questionamentos como "de qual lugar faço parte?", "qual entidade defende meus direitos?". O estado acabou sendo substituído e as respostas vem mais dos meios de comunicação de massa e do consumo individual.Contemporaneamenteo olhar da globalização sobre o homem o vê apenas como consumidor, até mesmo quando ele reivindica algo como cidadão. Essa visão global descentraliza o homem em detrimento ao dinheiro. O modelo de ser humano ideal ou perfeito é o que consome desenfreadamente e luta para se firmar "topo", permanecer na "moda", comprando o que é classificado como " de ultima geração". Somos marionetes e brinquedos nesse campo, isso retira a nossa individualidade, afinal o sentido de escolha, gosto e outros conceitos própriossão abandonados, por algo que é imposto e nesse sentido é difícil encontrar uma identidade pura, intocada pela globalização. Se analisarmos que a escolha pessoal é configurada por algo que domina os meios de comunicação de massa, podemos concluir que a identidade tenta ser manipulada e a grande maioria parece cair nessa cilada, nesse circulo vicioso chamado consumismo. Em contrapartida, aqueles que não se encaixam nesse sistema são qualificados como ultrapassados ou fora de moda e o mecanismo de defesa do neoliberalismo funciona, a exclusão e a denominação desses grupos como tribos urbanas, que são ainda carregadasde esteriótipos e representações, feitos então por esses meios de comunicação, tomando como base costumes, organização social, modos de vida sendo e assim sendo qualificados como retrógrados, primitivos,e muitas vezes selvagens, por terem encontrado sua identidade própria ou a buscam em um grupo de indivíduos semelhantes, que não se encaixaram nos moldes do consumo ideal e portanto tiveram sua imagem distorcida pela mídia, como punks, metallers e rappers.

As identidades automaticamente se configuram no consumo, independente de grupo e ideologia, mas o panorama social é que você é aquilo que possui. Essa busca pelo reconhecimento e prestigio acontece no campo do poder aquisitivo, comprar produtos importados, usá-los no cotidiano e exibindo-os para a sociedade, refletem assim inicialmente e superficialmente sua posição social e seu status.

A cultura nesse processo, a partir dos efeitos da globalização, que antes firmavam identidade própria,não existe mais, ela é quase universal, possui elementos dasmais variadas nações e culturas,são o que podemos identificar como identidades pós-modernas, como Hall nos mostra "A transformação cultural é um eufemismo para o processo pelo qual algumas formas e práticas culturais são expulsas do centro da vida popular e ativamente marginalizadas.Em vez de simplesmente "caírem em desuso" através da longa marcha para a modernização, para que outras pudessem tomar seus lugares". O que realmente acontece é que elas são excluídas e descartadas como se fossem lixo em um processo, onde a modernidade tem a tendência de substituir aquilo que é tradicional.

O dinheiro é o instrumento de perversão do homem e atualmente pode-se vê-lo como centro da vida pública e privada e é a engrenagem do capitalismo e fator de diferenciação social, quem o não possui não é bem visto e consequentemente é afastado de alguns lugares da vida social. É necessário reformular esse conceito, criado pela cultura do consumo desenfreado e que enxerga apenas os que o praticam e o resto é descartado como "lixo". O estado consegue enxergar essa minorias como cidadãos, ainda que de forma falha ou muitas vezes injusta, e não como objetos e nesse ponto talvez seja onde ele faz mais falta. O que é preciso entender é que o objetivo das industrias é a obtenção do lucro, a qualquer custo e por isso não possuem um olhar voltado para o social, preocupado com seus trabalhadores , por tanto consumir é sustentar esse sistema.

Nele podemos observar cada vez mais o distanciamento das classes sociais, uma sempre elevando seu patamar e outra gradativamente excluída.E os grandes arautos da globalização, que erguem seus impérios sobre sangue e suor do proletariado ocultam sua verdadeira face e exibem uma imagem que é a favor de movimentos ambientais, que ajuda em campanhas sociais, como o combate à fome e a miséria, ou qualquer outro assunto que esteja em discussão atualmente, sempre tentando criar uma visão de bom moço.É o que Georges Duby qualifica como ideologia mascarada.Diante da falta de credito para com o Estado, esses sujeitos excluídos se apóiam nas ONGs e acreditam que a situação pode melhorar desde que o poder fosse transferido para a sociedade civil.Mas a grande questão que devemos analisar é se o Estado tem poder e autonomia suficiente hoje para isso, ou se todo seu poder foi transferido para uma força extraterritorial, que influencia a economia, política ou qualquer outro setor primordial do país?

Essa questão da exclusão social origina sérios problemas na sociedade como a violência. Podemos entender que há uma negação da cidadania, representada pelas ações do individuo em uma dinâmica de relações e quanto mais o neoliberalismo se firmar, mais essa questão se agravará, visto que é um sistema que sempre visa o lucro, como conseqüência disso aumenta-se o empobrecimento de milhões de pessoas, que usam da violência para justificar sua condição social e seus atos, isso faz aumentar a tensãopublico/privado.No entanto a tendência é o aumento, visto que a cada ano a globalização cresça desimpedidamente.

E é no espaço urbano que as minorias reivindicam a cidadania, não apenas saúde e segurança mas também outros pontos pertinentes da atual vida social como acesso à informação digital. No meio desse processo vemos a tensão entre público e privado que ora se misturam, ora se conflituam, em um espaço que constantemente é modificado pela crescente tecnologia, filiada ao capitalismo que busca sempre a inovação, ligada ao consumo e a marginalização daquilo que é tradicional tratado como obsoleto. Essas reivindicações surgem a medida que o Estado decresce, em sua falta quem iria expressar então a voz do povo? Nesse vazio ocasionado pela política degradada, um esteriótipo criado pelos meios de comunicação de massa, viu-se a ascensão do mercado e da mídia, que subordinaram tudo ou distorceu ideologias com a sua estabilizadora que defende apenas os seus interesses. É normal ver a mídia distorcendo fatos sobre o Estado, é do conhecimento de todos que uma emissora de televisão e outra grande revista manipulem as noticias em defesa de seus privilégios. Comumente vemos na televisão criticas ferrenhas ao governo, sem observar os pontos positivos, como o trabalho voltado ao lado social. e essas entidades são tão circunstanciais que fizeram tudo isso pelo fato de que o governo lhe deu o apoio que foi pedido.

A força da mídia é tão grande que derrubou a crença popular no Estado e tomou seu lugar, com sua pseudo verdade e ela como peça chave da globalização fez com que a palavra cidadão perdesse seu significado e a palavra social fosse abandonada.

É necessário buscar soluções possíveis para essas questões, analisar algumas linhas possíveis de projetos denominados enviáveis ou utópicos, classificados assim por uma elite mundial, voltar ao olhar principalmente para a sociedade, vendo o homem, enquanto cidadão, como o centro do mundo e não visualizar preponderadamente a industrialização e o capital, que desalinha o ser humano usa o como instrumento descartável de enriquecimento, seja através do consumo ou do trabalho.


Autor: Marcelo Bernardes


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