Moda: Entre a Ética e a Estética



INTRODUÇÃO

Na atualidade, a moda não ocupa somente o espetáculo daquilo que é atraente, que tem glamour. Ela é vista como um fenômeno social, econômico e cultural que apresenta inúmeras objeções a seu respeito, como por exemplo: o que é moda? Qual sua função? A moda é uma arte? Que implicações éticas a moda reflete na sociedade? Para responder a estas questões propostas faz-se necessário analisá-las com muita perspicácia, mas antes vamos ver um pouco da história da moda e alguns nomes dos mais badalados estilistas.

Moda: uma elegância histórica

Para Nieta, "na Idade Média o vestuário manifestará a pertença a um grupo. É a época dos grêmios que se diferenciavam, entre outras coisas, pelo seu atavio. Começa, portanto, a variedade e o movimento dos modelos". Contudo, a França no século XVII ganha os olhos do mundo tornando este século o "Século de Ouro" francês. Desde este período até nossos dias, a França assume a batuta da moda e além disso passa a ser a primeira potência política converte-se no principal cenário da moda. Nieta ressalta que neste mesmo período, depois da revolução de 1789, a França proclama-se oficialmente uma lei que outorga a liberdade total de vestimenta.

Nos anos de 1868-1968 foi um século de muita elegância onde começa o chamado "Século de Ouro" da elegância que inicia com Christian Worth passa por Coco Chanel e encerra com Cristóbal Balenciaga. Nas últimas décadas do século XX observa-se uma determinada ressurreição daquela Alta Costura do Século de Ouro pela mão, dentre outros tantos, de Christian Lacroix e Karl Langerfeld. A moda, no entanto, não ficou somente nas mãos destes ditames da indumentária, ele se expandiu por todo o universo. Desta expansão da moda por tudo território internacional, o Brasil vem se destacando com grandes estilistas e ótimas semanas de moda.

O Brasil impôs respeito no mundo fashion com suas semanas de moda, a saber: São Paulo Fashion Week (SPFW) e Fashion Rio onde os grandes criadores desfilam suas belíssimas criações e também por suas top modelos inigualável. Sem esquecer das múltiplas grifes brasileiras que fazem sucesso no exterior.

A alfaiataria brasileira hodierna, quer dizer, na atualidade, abrem alas para badaladíssimos nomes, como por exemplo: Alexandre Herchcovitch _ dono da grife Herchcovitch e diretor de criação da Cori _, Tufi Duek _ proprietário das marcas: Triton e Forum (esta vai se desdobrar em três friges: Forum, Forum Tufi Duek e Tufi Duek)_, Ronaldo Fraga, Reinaldo Lourenço, Mário Queiroz, André Lima e muitos outros.

Moda: uma realidade ética e estética

A moda é sempre ditada pelos criadores. Mas isto não cabe dizer que a moda não tenha limites. Neste caso, o limite da moda perpassa toda cultura, não só por ser variante, mas sobretudo, pelo limite mesmo da moda. Segundo o filósofo Saussure, "a moda, que fixa nosso modo de vestir, não é inteiramente arbitrária: não se pode ir além de certos limites das condições ditadas pelo corpo humano".

Qual é, então, os limites da moda? Os limites da moda são as condições ditadas pelo corpo e a ética. Desta resposta pode-se alcançar uma objeção em relação aos limites da moda. Eis a interrogação: se o limite da moda é o corpo humano _ no seu modo de vestir _, porque modelos desfilam nuas nalgumas passarelas? O nu, por acaso, não ultrapassa os limites da moda? As respostas para estas duas perguntas se encontram na falta de ética humana na moda, pois na nulidade dos limites da moda o que irá reger a própria alfaiataria é realmente os valores que desconsideram o homem na sua totalidade.

A moda é uma arte de cobrir o nu que, além de refletir um determinado período da história, tem em sua definição uma dimensão ética muito relacionada com a dignidade da pessoa humana e, sobretudo, da mulher, principal consumidora deste produto (veja nas páginas 6 e 7 um croqui criado por mim onde a "modelo" usa um vestido que valoriza a sensualidade e o glamour da mulher sem que fira sua própria dignidade). A moda nos insere num período determinado da história, visto que cada época é influenciada por ela seja nos âmbitos sociais, econômicos, culturais ou em tantas outras esferas. Com efeito, a roupa que cada pessoa veste mostra um pouco de sua identidade e sua posição social. Por isto é que se pode dizer que a moda a qual uma pessoa veste reflete sua atitude e personalidade.

A alfaiataria como arte "conseguiu estabelecer uma ponte entre a beleza e a vida. A moda é uma arte que se usa, que se leva para a rua; é uma arte de consumo a que todos têm acesso" diz o filósofo Manuel Fontán de Junco. Será que a alfaiataria é realmente "uma arte de consumo a que todos têm acesso" como disse Junco, visto que ela tem uma classe social muito definida.

A moda é uma arte de cobrir o nu. Por isso, "o desenhista não pode esquecer a dignidade da pessoa ao concretizar as suas criações. A roupa tem que servir para salientar essa dignidade; por isso têm sentido as críticas que se fazem a um tipo de moda que mostra a mulher como um objeto" (Ana Sánchez de la Neita), ou seja, como uma coisa.

Esta coisificação da mulher presente no "mundo fashion" elimina completamente, não só a sua dimensão transcendental, como os valores que as constituem como pessoa e também destrói a própria mulher com suas capacidades inatas. Esta coisificação pode ser visualizada em diversos contextos, como nos desfiles de moda nos quais as "top-models" são "obrigadas" a se adequarem à roupa proposta pelo estilista, enquanto deveria ser o contrário, a roupa é que deveria adequar-se ao seu corpo. Com isso, as "top-models" se igualam ou se rebaixam à coisa, na sua consciência e no seu espírito. Tais coisas fazem com que alguns estilistas esquecem a própria função da moda.

O filósofo Alfredo Cruz cita três finalidades da moda: "a primeira, agasalhar-se, a segunda não ser visto, isto é, cobrir-se, e a terceira ser visto pelos outros de uma maneira agradável". Desta forma, uma das múltiplas funções da moda é agradar, aproximar-nos do que é atraente.

A realidade da moda transcende a simples necessidade de cobrir-se, ao passo que ela tem uma função social. Kant nota na sua Crítica da Razão que só em sociedade a pessoa interessa-se pelo gosto de vestir e que, se alguém se visse limitado a uma ilha deserta por um naufrágio, só se vestiria para evitar o frio e o calor. Assim, o estilista Ted Lapidus situava a beleza, a elegância em "saber-se olhar com os olhos dos outros".

Esta função de vestir para cobrir o nu leva-me a questionar sobre até que ponto algumas aberrações nas passarelas são realmente moda ou se são algo imoral que se convertem em redutos nos quais continua a considerar a mulher como uma coisa sexual, tais como modelos desnudos ou desfilando nuas.

Por exemplo, na 10º São Paulo Fashion Week Verão 2006, no desfile da grife Huis Clos apresentado por Clô Orozco apareceu uma modelo desfilando nua. Um ato deste tipo não cabe analisar se o modelo é belo ou não, pois todo ser humano é belo porque participa da Beleza do Criador. Todavia, o que é apresentado numa performance desta não é a moda e sim o corpo nu do modelo que esteja desfilando. "O corpo é manifestação do indivíduo, da lama do homem, o corpo é uma parte, e muito importante da própria pessoa... Sendo o corpo parte da pessoa, o seu tratamento estético não pode ser desvinculado da ética" (Neita).

Por outro lado, dizia o Filósofo Ricardo Yepes "o homem veste-se para proteger a sua indigência corporal do meio exterior mas também o faz porque o seu corpo faz parte da sua intimidade e não está disponível para qualquer [...]. o nudismo não é natural porque não é natural renunciar à intimidade".

As implicações éticas que a moda deve suscitar na sociedade são, primeiramente um respeito à dignidade da pessoa e depois educar as pessoas em relação à fealdade, ao gosto pelo exagero, pela extravagância, pelo disforme e o agressivo que na são indiferentes a uma série de mensagens éticas. Com efeito, o look da fealdade associa-se a realidades não positivas, como imagens referidas à anorexia, à bulimia, às drogas, à violência ou à agressão sexual. A anorexia, dizia o desenhista Jesús Del Pozo: "É algo que me angustia e me deprime. Uma coisa é ser esbelto e outra, muito diferente, ser doente".

CONCLUSÃO

Contudo, a estética não pode esconder que a moda tem também uma vertente ética que se refere ao bem. Aristóteles, na sua Retórica, define assim o belo: "aquilo que sendo bem, seja agradável, porque é bem" e antes dele, Platão tinha mencionado que "todo o bem é belo".

Em suma, vestir de forma ética, quer dizer, coerente a cada ocasião, pressupõe unir não só o glamour, mas a beleza com o bem, ou seja, o belo (pulchrum).

Brasília, 20 de novembro de 20006.

BIBLIOGRAFIA

FRAGA, Renata. Holofote. Correio Brasiliense, Brasília, 17 set. 2006. Revista do Correio, p. 30.

HERNANDÉZ, Ana S. De la Nieta. A moda: entre a ética e a estética. Tradução de: Manuel Alves de Sá. Lisboa: Diel, 2000.

LEITE NETO, Alcino. Última moda: jeans brasileiro vai à luta. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 nov. 2006. Folha Ilustrada E, p. 10.

TORRES, Rosane. Moda: saudosismo explícito. Correio Brasiliense, Brasília, 10 jul. 2005. Revista do Correio, p. 16-19.


Autor: Joacir Soares d'Abadia


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