O VELHO E A MINA



Um rapazinho gritava a todo pulmão:

- Atenção passageiros para Estreito, Imperatriz e Açailândia no Maranhão! Ônibus saindo agora! Andando de um lado para o outro gritava...

O velho chegou atrasado, mostrou o bilhete ao motorista, que conferiu, destacou sua parte e devolveu a parte que cabe ao passageiro:

- Poltrona 18, senhor! Corredor à direita.

O velho subiu no veículo com dificuldade, mesmo levando apenas uma velha mala surrada e uma pequena valisa,que dependurara pela alça no ombro. Levantando a vista, vez em quando, para identificar o número da poltrona e não tropeçar numa perna que eventualmente pudesse estar em sua passagem, encaminhou-se para o fundo do ônibus e logo a encontrou.

Colocou a mala no guarda volumes interno do onibus, mais ou menos emparelhada com o local onde se acomodaria, notou que sua poltrona ficava realmente no corredor do ônibus, como informara o motorista. Sentou-se.

Retirou a alça da pequena valisa do ombro, colocou e mesma sobre as pernas e a abriu. Remexeu seu interior, retirando dali uma pequena caderneta com algumas anotações. Começou a folhear a caderneta como que procurando alguma anotação importante...

- Dá licença senhor!

O velho levantou a vista meio que desperto de seus pensamentos momentaneos, atendendo à voz que ouvira, levantou a vista e se deparou com uma mulher alta, linda e jovem. Trajava uma blusa muito pequena e calça branca muito justa.

-A poltrona 17 é a minha. Posso passar?

-Claro!

O velho se levantou, saiu para o corredor do onibus e cedeu passagem à moça.

-Obrigada!

Sem falar mais nada a moça acomodou-se no assento ao lado do velho e ato contínuo, para espanto do ancião, desabotoou a calça e baixou o zíper chegando a mostrar, do lado do quadril, a estreita alça de uma calcinha branca, feito que puxara um pouco a calça para baixo, parecendo buscar mais conforto.

-Se não fizer isso não agüento. A calça é muito apertada!

-Hummrumm! Retrucou o velho.

Em seguida, a moça cobre o colo com uma jaqueta jeans que carregava.

O ônibus dá partida e o velho começa a pensar em sua vida. Pensa em sua ida para o garimpo, há trinta anos atrás. Nos amigos que deixara ao longo de sua vida garimpeira. Não tinha mulher e filhos porque saíra da casa de seus pais muito jovem, sem nunca ter se aventurado no mundo dos casados ou dos compromissos sérios. Pensava tambem nas vezes que bamburrou e nas outras que trabalhara meses a fio em um barranco sem achar uma pepita sequer, nas maleitas que contraíra. Pensava também naquela imagem maravilhosa da moça a seu nado, quando desabotoara a calça tão perto dele e tão sem serimonia.

Debruçado em seus pensamentos adormeceu.

Em seu sono acabou sonhando que viajava a pé em uma estrada deserta e que a água que carregava acabara. Com muita sede procurava algum vestígio de um riacho, uma grotinha ou mesmo uma cacimba, onde pudesse encher sua velha cabaça. Seguia, observando atentamente quando viu adiante uma tapera velha. Observava atentamente na expectativa de encontra ali um poço ou nascente. Rodeou a casa velha e um pouco afastado de onde parecia ter sido os fundos da casa, notou uma moita de taioba numa área de matagal bem verde. – Deve ser um poço. Pensou.

Aproximou-se e viu que, de fato havia ali um poço e que, embora perecesse tão velho quanto a casa, pelas características da vegetação ao redor deveria ainda conter água, pelo que podia se constatar no mato nas bordas internas. Ali haviam crescido lindas samambaias e outras trepadeiras.

O valho debruçou-se sobre a borda tentando ver o fundo, mas não dava para ver direito devido à pouca claridade, já que o diâmetro do boca da cisterna não era muito grande. Mas a pouca luz podia das a idéia, tambem, da profundidade – parecia bem fundo. Pensou em uma maneira de puxar a água para encher sua cabaça. Não dispunha de nenhuma corda ou qualquer vasilha que pudesse usar para puxar a água do interior do poço. Não dava sequer para saber se havia a água. Olhou para os lados e viu uma moita de cipó mufumbo e logo pensou: - Vou tirar um cipó, desço no poço, mato minha sede e encho minha cabaça!

Pegou o canivete – única arma que trazia – no interior da velha valisa, cortou um pedaço, de mais ou menos dez metros, o quanto imaginou ser a fundura do poço – e voltando para o local do poço pensou como fazer para descer.

Próximo à borda do poço havia uma estaca de aroeira que parecia ter servido de suporte para o sarilho do poço, quando em funcionamento. Ali amarrou o cipó, bem forte no tronco da estaca. Voltando novamente à borda do poço lembrou-se que não carregava qualquer outra roupa, se não usava no corpo.

– E se eu me molhar ou me sujar, como vou fazer? Nem um trapo velho eu tenho pra me limpar!

Resolveu tirar toda a roupa e descer somente com a cabaça.

Segurando firme no cipó e com o cordão da cabaça nos dentes, o velho desceu. Encostando as pernas nas bordas do poço, para afastar o mato que crescera e melhorar a luminosidade no interior, ele desceu, desceu até que chegou ao fundo. Quando tocou no fundo, notou que não havia água, mas, a superfície era coberta por uma graminha bem fina e lisa, e estava bastante úmida. Concluiu que com poucas "cavucadas" a água ia "merejar". Baixou e, usando os dedos começou a cavar a terra molhada do fundo do poço. Ia cavando e afastando a terra para um lado, já que o diâmetro do poço era pequeno. Não dava para fazer movimentos sem muitos problemas, pelo risco de um desmoronamento, já que não dava para avaliar as condições de sustentação das bordas do poço. Mas, aos poucos ia formando um pequeno buraco e notava que, à medida que mexia, cada vez mais a água ia aumentando. De repente, numa das vezes que colocava a terra ao lado, um poço acima, na borda do poço, sua mão esbarrou em algo liso e de características roliças que não pôde definir o que era, pela forma. Pensou que poderia ser uma garrafa e estar quebrada e assim poderia se cortar. Com cuidado, tateando, notou que o objeto era arredondado e um pouco maior que a parte superior (cabeça) de sua cabaça. Tinha, na extremidade superior, uma parte superior uma protuberancia um pouco mais áspera. Parecia só mais um detalhe daquele objeto indefinido. Tateou mais uma vez e notou que ao lado do primeiro, havia outro com as mesmas características. Apalpava agora os dois. À medida que apalpava os dois objetos lembrou-se de seu intento e, baixando a mão para o pequeno furo que havia cavado, notou que a água aumentava cada vez mais. Voltando aos objetos recém encontrados, utilizou as duas mãos para limpar um pouco a samambaia em volta dos mesmos descobrindo seus contornos bem definidos. Eram de fato objetos arredondados e bem lisos.

Quando os de descobriu totalmente, afastou se um pouco para poder entrar mais de luz no interior do poço e...

- Não pode ser. São duas pepitas de ouro. E são enormes. Meu Deus, depois de tantos anos procurando ouro em garimpos por este mundo afora, vou encontrar ouro justamente dentro de um poço velho e abandonado! Lembrou-se que aquela era uma região de mineração e que ali havia sinais de catas e barrancos na beira de todas as grotas.

Emocionado o velho passava as mãos nas enormes pepitas sem se dar conta de que estava dentro de um poço e havia entrado ali a procura de água. Na pequena escavação que havia feito no fundo do poço já havia água o bastante para encher sua cabaça. Mas: - E as pepitas? Pensava como chegar lá na superfície com as mesmas.

Hora acariciava, hora beijava emocionado e pensava numa maneira de chegar lá em cima.

Passou para a ação: primeiro tentou arremessar uma das pepitas de cada vez até a superfície. Não conseguiu. Suas forças não davam conta do peso para o arremesso. Depois pensou em subir no cipó, segurando com uma das mãos no cipó e com a outra uma das pepitas. Seriam preciso duas viagens para levar uma de cada vez. Chegou à conclusão que não teria forças para conseguir chegar à borda do poço com uma, imagine com duas e a cabaça . Não havia nada que pudesse amarrar as pepitas. Tentou colocar uma pepita na boca, mas ela era grande demais para caber e se coubesse o sufocaria na subida.

O velho acariciava as pepitas enquanto baixou a boca até o local que havia acumulado água, saciou a sede bebendo na fonte de uma água que tinha um gosto diferente, mas parecia maravilhoso. Talvez gosto de terra, já que hão havia decantado direito. Nesse momento pensou:

- Meu Deus! Tanto tempo procurando a riqueza, encontro e agora não tenho como levar. Se fosse em meu tempo de jovem, atirava as duas para cima de uma vez só. Ou então subiria com um pé de cada lado do poço levando as duas. Uma em cada mão. Poderia até subir pelo cipó com uma mão só. Dava duas viagens, mas levava. Lembro que eu jogava uma pá de barro de dentro de um barranco a cinco metros de distância. Tinha fôlego para ficar dois minutos debaixo d'água "injetando" uma maraca.É, talvez se eu não fosse viciado em fumo e bebida, me restasse mais forças e conseguiria chegar à borda do poço, com pelo menos uma das pepitas. Garimpeiro é mesmo tudo burro, quando pega algum dinheiro só quer saber de gastar com a mulherada. Acaba tudo ficando velho mais cedo.

- Atenção senhores passageiros que irão desembarcar em Imperatriz, chegamos! Demais passageiros, temos dez minutos para um lanche.

O velho foi interrompido em seu sonho e, olhando para o lado, notou que moça se agasalhava na poltrona. A calça branca que usava estava mais baixa que quando sentara na poltrona e a pequena blusa, com os botões da parte superior abertos, deixava à mostra um lindo par de seios próprios de seus dezenove anos. Ela, olhando meio sem graça para o velho perguntou:

- O senhor fica aqui? Enquanto fechava os botões da blusa e colocava a jaqueta jeans sobre o colo para levantar, ajeitar a calça e fechar o zíper.

- Sim! Daqui pego outro carro para João Lisboa.

Retirou a velha mala do bagageiro quase sobre a cabeça da moça. ...Saiu sem dizer mais nada...

Mimi Aires (2000)


Autor: Emivaldo Aires da Silva


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