ODOIÁ! DAS TERRAS DE AIOCÁ ÀS TERRAS DA BAHIA: Yemanjá, a sobrevivência de um mito no mar do tempo



Autoras: Carla Cibele; Keiza Sampaio; Lucília Oliviera; Lígia Sumi e Silvânia Almeida.

Este trabalho tem por objetivo evidenciar a relação entre o mito Iorubá de Yemanjá e a obra amadiana Mar Morto. Através dessa narrativa Jorge Amado nos convida a navegar num intenso mar, cheio de mistérios e magia, onde mitologia e realidade se fundem e quem as vivencia não consegue desvencilhar uma da outra, como num jogo de semelhanças e diferenças que constituem o individuo como integrante desse universo simbólico de Mãe - África. Nesse romance, Amado estabelece o diálogo entre Literatura e Sociedade mítica dos afrobrasileiros, configurando seu texto como matriz simbólica para a representação do mito iorubano de Yemanjá.
Palavras-chave: Mito. Mar. Yemanjá. Jorge Amado.

AGORA QUERO CONTAR AS HISTÓRIAS DA BEIRA DO cais da Bahia. (...) O povo de Iemanjá tem muito que contar.

Vinde ouvir essas histórias e essas canções. Vinde ouvir a história de Guma e Lívia que é a história de vida e amor no mar. E se ela não vos parecer bela, a culpa não é dos homens rudes que a narram. É que a ouvistes da boca de um homem da terra, e, dificilmente, um homem da terra entende o coração dos marinheiros. (...) Pois o mar é mistério que nem os velhos marinheiros entendem. (AMADO, 2001, prefácio).

Mito, Mar, Iemanjá... assim, Jorge Amado nos convida a navegar num intenso mar, cheio de mistérios e magia, através de mais uma de suas preciosas obras - Mar Morto -onde mitologia e realidade se fundem e quem as vivencia não consegue desvencilhar uma da outra, como num jogo de reconhecimento de semelhanças e diferenças que constituem o indivíduo como integrante desse universo simbólico de Mãe-África.

Para se falar na representação mítica de Iemanjá[1] na obra Mar Morto de Jorge Amado, é preciso navegar na história que antecede o aspecto cultural dos homens do cais, retrocedendo em águas salgadas até o mito iorubá em terras africanas. Em primeiro movimento, é necessário recortar o maremoto de conceitos que envolvem a idéia de mito. No romance, Amado estabelece o diálogo entre literatura e sociedade mítica dos afro-brasileiros, configurando seu texto como matriz simbólica para representação do mito iorubano de Iemanjá. A narrativa ficcional amadiana é revestida de misticismo e encontra-se povoada pela preocupação social, histórica e poética. O mito é sentido e vivido pelos homens do mar e não é estranho crer em mulher-sereia emergindo em águas turvas ao temporal da noite:

Mitos são histórias contadas para desvendar mistérios, mas fazem parte de um saber cultivado pelos antigos que é secreto em grande parte. Saber iniciático reservado a poucos, o mito fala por símbolos e enigmas, por imagens e parábolas – para entreabrir, não para escancarar. (PERUCCI. In:PRANDI, 2001, posfácio).

O mito tem como função retomar da ancestralidade os ritos e as atividades, para que haja entendimento do homem e do mundo; e o texto amadiano, dentro dessa perspectiva, retoma o mito iorubá através de uma aproximação entre ficção e realidade, ligando o sagrado e o profano como forma de resistência da culturade origem africana presente no Brasil e manifestada em toda a sua essência na Bahia de Todos os Santos. Lavallée (2003) ressalta que "(...) é através do poder do mito que os povos reverenciam seus antepassados, estabelecendo novos limiares para a travessia da vida e decifrando seus mistérios" (In: OLIVEIRA; SOUZA (Org.), p.50), a autora ainda acrescenta:

O grego "mythos" com significado de feitos relevantes, nomeia exatamente esse produto da espécie, palco natural de enredos e conteúdos de que se nutrem as artes e, em especial, a literatura. Quanto ao caráter religioso de mito, sempre esteve vinculado ao fato de que ele manifesta a dependência humana das forças sobrenaturais, gerando narrativa sobre a origem do mundo e sobre o destino dos seres que o habitam. (p.52).

A literatura é, portanto, um dos veículos disseminadores da cultura, e a leitura de Mar Morto permite adentrar no inconsciente dos homens do mar, no que eles possuem de mais trágico (os perigos que o mar representa) e mais vibrante (a crença em Iemanjá). A morte não representa simplesmente o fim da vida humana, mas a vida terrestre se prolonga em direção a outra vida, em algum dos nove espaços de Orum[2]. O romancista recorre ao cenário litorâneo, como espaço para compor o romance de Lívia e Guma, num processo intertextual, entrelaça mito e realidade num cenário sobrenatural e grandiosamente poético, permitindo que o seu pensamento transgrida a ordem social que o cerca e navegue em busca de outro espaço vivencial. Rafael Lucas (2004) explica que "De acordo com uma certa tradição do romance marítimo, o mar condensa uma intensidade muito forte de sentidos devido a duas características: a imensidade de sua extensão e a morte violenta." (In: OLIVIERI-GODET; PENJON, p.197).

A obra em análise articula temáticas como a denúncia social, a aventura, o cotidiano heróico e o maravilhoso afro-brasileiro com a presença encantadora e encantatória da deusa Iemanjá. Nesse canto lírico-amoroso, Amado "pescou palavras" para falar das mazelas sociais e atuar novamente em defesa do seu povo, maior vítima do descaso e incoerência das leis que protegem os ricos e sufocam os pobres, apontando as falhas do sistema político-ideológico. O autor utiliza essa narrativa para nos apresentar a vida precária e cheia de turbulências dos homens e mulheres da beira-mar. Diante do descaso e da miséria por estes vividos, contam com o apoio das leis do cais, indicador ético e moral que norteia a vida dos homens do mar, regido pela solidariedade, amor, família, educação, caráter, honestidade e fé.

Em terras firmes, é Iemanjá quem dá sentido à vida dos pescadores do cais, as questões sociais a eles impostas não é empecilho para a procura de outro espaço de sobrevivência:

Os homens da beira do cais só têm uma estrada na sua vida: a estrada do mar. Por ela entram, que seu destino é esse. O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiro que não viajam mais, e, apenas, remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor e vem a morte. E não é sobre o mar que a Lua é mais bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos homens dos saveiros. (AMADO, 2001, p. 21).

O mar é a estrada da liberdade, um dos maiores elementos da criação, símbolo da força grandiosa da vida, mas também da morte. "O mar é belo e é terrível. O mar é livre, dizem, e livres são os que vivem nele." (AMADO, 2001, p.46). Esse ambiente líquido impõe sua grandeza, mistério e simbolismo, num movimento mágico do "vaivém da maré", quando elementos antagônicos tomam forma e se constituem como espaço de sobrevivência, onde transbordam lendas, mitos e canções. A vastidão do mar do "poeta Amado" constitui-se como um oceano de infinita beleza e poesia para expressar a cultura do povo de santo da Bahia. O oceano na literatura é objeto de inspiração nos diversos períodos de nossa historicidade, presença constante desde as descobertas quinhentistas. Impossível desvincular história, arte, literatura da referência simbólica do mar. Desde que o Brasil foi "colonizado", o oceano serviu de rota e de porta de entrada dos alvores da nacionalidade. Em suma, a força grandiosa do mar desemboca em terra, desbravando, castigando, amando e libertando os que aqui estavam, chegavam e nasciam; símbolo da fertilidade, uma das grandes metáforas do amor.

E é nesse espaço que o mestre baiano direciona o enredo com a simplicidade de uma história contada à beira do cais, e a obra Mar Morto poderia ser assim definida:

O mito, a lenda, a alegoria, a metáfora, a imagem conferem especial colorido ao texto, veiculando poemas de sal e de enigmas, repletos de fervor popular e de insólitas surpresas, "pois o mar é mistério que nem os velhos marinheiros entendem". São histórias de sal e de sol, de mar e de mel, recortes de lendas, segredos e violentas paixões. (LAVALLÉE. In: OLIVEIRA; SOUZA (Org.), 2003, p.58).

O mar amadiano significa a tranqüilidade necessária para manter o equilíbrio entre liberdade e felicidade, mas é também fronteira "o mar costeiro" que é visto da terra pelos habitantes da cidade alta. Dessa ótica, as águas salgadas apresentam-se profundamente perigosas, ondas e marés que desatinam uma visão de águas negras, tempestuosas e letais, contrastando com o olhar apaixonado dos habitantes da beira do cais, os marinheiros, filhos das águas. O ambiente marítimo é também instrumento de construção dos valores culturais dos personagens, estes, sentem-se parte integrante desse universo mítico que comporta a sobrevivência dos marinheiros. O mar exerce verdadeiro fascínio aos homens do cais, é o local dos encontros, das seduções, é um elemento potencialmente transformador, um "produto audiovisual"que motiva a fé em Iemanjá: "Nesse palácio de infinita beleza, a um só tempo leito nupcial e sepultura, habita a mãe-mítica, a senhora dos mares, com seu espelho mágico entre as mãos". (LAVALLÉE. In: OLIVEIRA; SOUZA (Org.), 2003, p.59).

É desse lugar permeado de encantamento e magia que emerge Iemanjá, sedutora, dona do destino, senhora, mulher, mãe e amante dos seres litorâneos. A figura imaginária dessa divindade transita entre os dois espaços da narrativa, o aquático e o terrestre, transborda como as águas e materializa-se ora como mulher, ora como amante, ora como mãe, representando, assim, a vida social desse plano e traçando novas perspectivas para a travessia da vida, decifrando seus mistérios e reafirmando suas origens. Nesse sentido, podemos entender que o mar não é uma fronteira, mas sim uma extensão espacial do cotidiano da narrativa, sendo que a deusa padroeira desse universo é a protetora daqueles que navegam no mar:

(...) Ela se chama Iemanjá, sempre foi chamada assim e esse é seu verdadeiro nome, de dona das águas, de senhora dos oceanos. No entanto os canoeiros amam chamá-la de Dona Janaina, e os pretos, que são seus filhos mais diletos..., a chamam de Inaê, com devoção ou fazem súplicas à Princesa de Aiocá, rainha dessas terras misteriosas que se escondem na linha azul que as separa das outras terras. (...) Ela é sereia, é a mãe-d'água, a dona do mar, Iemanjá, Dona Janaina, Dona Maria, Inaê, Princesa de Aiocá. (AMADO, 2001, p. 74).

Na descrição da deusa, é perceptível como o autor navega no sentido de mostrar como o imaginário africano permeia a memória do povo brasileiro. Os personagens da narrativa não são simplesmente pequenos barqueiros, pescadores do porto, marinheiros e mulheres à espera dos maridos. Pai Ancelmo, Frederico, Chico Tristeza, Dona Dulce, Esmeralda, Rosa Palmeirão, Lívia e Guma são, na verdade, "porta-vozes" de um povo que, cruzando o Atlântico, das terras de Aiocá[3] às terras da Bahia, trouxeram consigo sua crença, sua cultura.

A narrativa amadiana parte da cidade de Salvador, do cais do porto, para ancorar no mar de Janaína, contrapondo Aiê (a Terra) e Omi (a água). Guma, nesse cenário, é o menino do mar, criado pelo tio, pois fora abandonado pela mãe ainda criança. Como todo menino do mar, tem como destino o saveiro e passa o tempo a procurar nas mulheres a imagem da mãe que não conheceu. Guma é homem de muitas mulheres, até encontrar Lívia  mulher da terra  numa noite de macumba em casa de Pai Ancelmo, acreditando ele ter sido enviada por Iemanjá. Assim, o profano (a terra) e o sagrado (as águas) se encontram para que a maresia solitária de Guma se traduza numa comunhão apaixonada com a terra. "Da união entre Obatalá, o Céu, e Odudua, a Terra, nasceram Aganju, a Terra Firme, e Iemanjá, as Águas. Desposando seu irmão Aganju, Iemanjá deu a luz a Orugã." (PRANDI, 2001, p.382). Dessa união incestuosa, nascem todos os Orixás, e dos seios fartos de Iemanjá nascem as águas do mundo. Guma exerce na obra a função de Orugã[4], apaixona-se pela própria mãe. Essa passagem do enredo da obra nos remete ao "mito da fecundação" de Iemanjá. Embora Amado não tenha citado o incesto no texto, esse ato vem a ser "consumado" de maneira introspectiva pelo personagem Guma, no momento em que este sente o desejo sexual por sua mãe:

Por muito tempo, porém, a sua imagem, o seu perfume, perturbaram o sono tranquilo de Guma. Desejava que ela voltasse, mas não como sua mãe, não com palavras doces de afeto, mas como uma mulher da vida, com os lábios abertos para beijos de amor. Não teve mais sossego. Misturou no seu coração tão jovem a imagem daquilo que todos achavam a própria pureza - a imagem da mãe - com a das mulheres que se entregam por dinheiro, das que fazem do amor o seu ofício. (...) Só há uma mãe que pode ser ao mesmo tempo esposa: é Iemanjá, e por isso ela é tão amada dos homens do cais. (AMADO, 2001, p.39).

Daí a representação simbólica da mãe-mulher Iemanjá. A figura mitológica da Senhora das águas e suas diversas vertentes representativas[5] advêm desde o alvorecer da cultura humana e acham-se espalhadas por diversas regiões. Assim como os grandes mitos de todas as épocas exercem, através de símbolos e metáforas, um papel fundamental sobre a estrutura emocional do ser humano, fornecendo-lhe respostas às indagações sobre as mais variadas faces da vida, percebe-se, no decorrer da narrativa de Mar Morto, um elo entre o mito da Deusa Iemanjá à realidade que cerca os personagens do enredo dessa obra. Toda historicidade que rege a vida dessa divindade gera um círculo de respeito, sentimentos morais e religiosos, como se tudo fosse uma unidade, indizível e indescritível. A suposta vidadessa princesa, na realidade, são como rios com centenas de nascentes e afluentes que deságuam, formando um imenso oceano de fé. Guma, assim como outros marinheiros pescadores que vivem do mar, no mar e para o mar, entrega-se a essas águas como aos braços de uma amante, sem nunca perder a esperança, "porque um navio, uma canoa, um saveiro, uma tábua, qualquer coisa sobre o mar é a pátria desses homens do cais, do povo de Iemanjá." (AMADO, 2001, p. 70).

Amado criou em terra arquétipos de mulheres cujas representações psicológicas e físicas estão intrinsecamente ligadas e regidas pela divindade das águas. Rosa Palmeirão exerce no enredo o poder de sedução e respeito, mulher de navalha na saia, punhal no peito e flor no vestido, temida e desejada pelos homens do cais. É a representação do lado justiceiro e heróico de Iemanjá. Por trás dessa forte mulher emerge,vibrante, a mãe-amante nos braços de Guma:

Rosa Palmeirão tem alguma coisa de mãe no seu amor. Não é mais nova e o acarinha como a um filho, muitas vezes se esquece dos beijos doidos de desejo e beija suavemente com maternais. (...) Se esquecia que ele era seu amante e fazia dele filho, acalentava no colo. Talvez fosse até isso que houvesse desencadeado a cólera de Iemanjá. Só D. Janaína pode ser mãe e mulher. (AMADO, 2001, p. 69).

As histórias de Jorge Amado revelam a figura feminina, de personalidade forte. Prostituta ou recatada, ela tem presença marcante em suas narrativas. Esmeralda é a figura que expressa a face sensual e traiçoeira de Iemanjá: "Era uma mulata bonita, peituda, ancas roliças, um pedaço de mulher. Falava muito também, ria de mais, uma gargalhada escancarada (...)". (AMADO, 2001, p.153). Mulher fascinante, aproveita-se de sua condição de amiga e da semiologia do seu corpo, para induzir Guma a trair seu amigo e esposa, conduzindo-o às "profundezas de suas águas", assim como a deusa sedutora que leva os marinheiros a singrar os mares num último passeio.

Após a morte de Guma, para quem "é doce morrer no mar", o narrador nos esclarece o significado de Mar Morto: "(...) para os olhos de Lívia as águas estão paradas e são cor de chumbo. É como se o mar tivesse morrido junto com Guma. (...) Águas plúmbeas para Lívia, águas de um mar morto." (AMADO, 2001, p. 248). Lívia é a mulher da terra enviada por Iemanjá, que não se rende ao mesmo destino das viúvas do mar, não vai ganhar a vida como prostituta para sustentar-se e ao filho. Decide enfrentar o mar e seus perigos, para dar continuidade à vida e também ao destino de seu amado, encontrando, assim, a maneira de estar ao lado dele. Sob o signo da Grande-Mãe, instaura um novo tempo nesse território outrora de morte, agora de esperança. Abandona a figura de mulher singela e indefesa para assumir a guerreira determinada existente em seu interior, ritualizando o mito da criação, o encontro entre as águas e a terra, agora mãe-amante de Guma, a própria Iemanjá. Lívia é o símbolo do "milagre" e da transformação:

Lívia suspendeu as velas com as suas mãos de mulher. Seus cabelos voam, ela vai de pé. (...) Aves marinhas volteiam em torno do saveiro, passam perto da cabeça de Lívia.(...) E não é ela quem vai agora de pé no Paquete Voador? Não é ela? Ela é, sim. É Iemanjá quem vai ali. E o velho Francisco grita para os outros no cais:

- Vejam! Vejam! É Janaína.

Olharam e viram.(...) Viu uma mulher forte que lutava. A luta era seu milagre. Começava a se realizar. No cais os marítimos viam Iemanjá, a dos cinco nomes.(...)

Assim contam na beira do cais. (AMADO, 2001, p. 262).

Conforme Lavallée (2003) "No arcabouço amadiano parecem preexistir puros conteúdos visíveis representativos de uma visão mística e animista, conferindo ao texto além da beleza estética, um movimento de transcendência que o torna único." (In: OLIVEIRA; SOUZA (Org.), p.48). Em Mar Morto, Jorge Amado conduz seu leitor ao mundo mítico da Senhora das Águas Salgadas e mostra a força de devoção entre seus filhos orgulhosos. Presenteia seu público com um conjunto de informações e a unidade necessária para compreender o culto à Iemanjá, como elo sagrado que fortalece os afro-brasileiros em torno de uma formação cultural comum, que dá significado à vida. O culto à Iemanjá se constitui como fonte de identidade e representação simbólica, que atravessou os limites de Mãe-África para alimentar, em terras brasileiras, os sentimentos de uma população que aprendeu, através da reafirmação da sua cultura, recriando e redefinindo símbolos, a abrir novos caminhos e perspectivas, para evidenciar nossa verdadeira face, confirmando, assim, a sobrevivência de um mito no mar do tempo.

REFERÊNCIAS

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DURAND, Gilbert. O imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. 2. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2001.

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LAVALLÉE, Denise Gurgel. O mito e a realidade nas obras de Jorge Amado e Yves Thériault. In: OLIVEIRA, Humberto Luiz L. de; SOUZA, Lícia Soares de (Orgs.). Heterogeneidades: Jorge Amado em diálogo. 2. ed. Feira de Santana: UEFS, 2003. p. 45-64.

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VALLADO, Armando. Iemanjá, a grande mãe africana do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2002.


[1] Segundo a mitologia, Iemanjá, a divindade da Água, surgiu do mar pela ação do Olodumaré, o deus supremo. No momento da criação do mundo, Iemanjá aparece como coadjutora de Olodumaré na criação dos demais orixás, criando-se depois a Terra, que é em seguida povoada pela humanidade. (VALLADO, 2002, p. 27).

[2] Espaço sagrado onde vivem os orixás é considerado também o conjunto dos nove espaços que se divide o infinito. (VALLADO, 2002, p.255).

[3] Aiocá é o reino das terras misteriosas da felicidade e da liberdade, imagem das terras natais da África (...) (AMADO, 1956, p. 137. In. httt:www.faced.ufba.br/~dept02/calendário/yemanja.html).

[4] Filho de Iemanjá com seu irmão Aganju. Orugã, segundo mitologia dos orixás, apaixona-se loucamente pela mãe, até que um dia, aproveitando-se da ausência do pai, violentou-a. (PRANDI, 2001,p.382).

[5] Refere-se às denominações recebidas por Iemanjá como: Iara, Mãe d'água, Janaína, Inaê.


Autor: Silvânia Almeida


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