O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA



Manoel Henraich Romanelo podia ser considerado um brasileiro típico. Sua árvore genealógica abrangia grande parte da Europa bem como brasileiros natos. Era ainda, um empreendedor. Conseguia como muito suor montar própria empresa, que agora trabalhava com alta tecnologia. Apesar de pouco estudo, geria engenharia de ponta. Tinha sob seu comando biólogos, físicos, matemáticos e químicos, além de excelentes administradores, todos escolhidos a dedo. Na versada Manoel, em seu íntimo, se achava em ser superior. Em seu intimo nenhuma das melhores cabeças que se achavam sob sua direção em eram melhores que ele. Em sua opinião todos dependiam dele, aliás, ele é que não dependia de ninguém.

Por mera curiosidade, Manoel, certo dia, começou a interessar-se pelos campos de pesquisa de seus trabalhadores. Por iniciativa própria, iniciou algumas pesquisas sobre o campo da Física, achou interessante e, aprofundou-se, começou a entender que o mundo não era propriamente como ele o enxergava. Apesar de saber que seus produtos utilizavam capôs eletromagnéticos, nunca tinha procurado saber de que se tratava, ou, no fundo, o que isso queria dizer. Mais abismado ainda ficou ao saber que se havia partículas subatômicas, que essas partículas eram interdependentes e não conseguiam se manter individualmente nem por milésimo de segundo, o núcleo do átomo, então, era formado pela união de várias partículas e que só essa união tornava possível sua existência.

Nesse ponto é necessário lembrar que Manoel, em termos de estudo acadêmico, fora muito fraco, seus estudos se limitaram ao segundo grau e ainda feito de afogadilho, pois desde sua juventude seu objetivo limitava-se a subir na vida, isto é, ganhar dinheiro, e em sua vida, ganhar dinheiro se resumia em ter seu próprio negócio. Foi desta forma que fora ensinado. E assim ele se tornou o que é hoje. O Deus do Olimpo, tendo a seus pés toda uma multidão de subordinados.

A historia do átomo já o deixou encabulado. Pelo pouco que ele entendeu, e não foi pouco, todas as substancias e mesmo aqueles que pareciam totalmente independentes, seus átomos se uniam para formar a matéria. A mais elementar, a seu ver, aquela de qual toda vida na Terra depende, ou seja, o oxigênio era formado por dois átomos de mesma natureza.

Quanto mais Manoel se aproximava no conhecimento, mais interessado ficava e mais seus horizontes se abriam. Começava já a enxergar sua empresa de forma diferente. Começava a ver seus funcionários com outros olhos, pois eles faziam parte de um todo dentro interdependente. O setor de finanças, apesar dos lucros financeiros, já não era mais importante que o setor administrativo, ou o setor produtivo, ou até mesmo o setor de limpeza ou manutenção. Porém, Manoel ainda era mais importante do que os demais, pois ele criara tudo aquilo.

Certo dia, sua criatividade foi despertada por uma pergunta lida ao acaso: o que é vida? O que é um ser vivo? Esta questão o levou a pesquisar o campo da biologia. Mas o aprofundamento em biologia embaralhou tudo em sua cabeça, misturando Física, Química, Biologia, Matemática, Historia e Geografia. Tudo se interligava. Nada podia ser visto apenas por uma óptica.

Aprendeu para que o surgimento de uma simples célula houve a necessidade de condições físicas e químicas, além de um estado geológico.Começou a entender que para a vida continuar é necessário todo um sistema ecológico, para que ele próprio sobrevivesse era necessário que a mais simples célula, um bactéria, também vivesse.

Aprendeu que a vida é um sistema. Esse sistema é uma rede metabólica, autogerada e fechada em relação à própria organização. Soube também que ela é aberta em relação a outras necessidades e que consegue reparar-se e perpetuar-se. E, finalmente, para perpetuar-se são necessárias a criatividade, o intercâmbio, a mutação e a simbiose.

Tinha gora uma visão diferente de sua empresa, ela se parecia muito com o conceito de vida, pois surgira praticamente do nada, de uma idéia, utilização de uma grande quantidade de energia, muita troca de informações, empréstimos financeiros, agregação de pessoas capazes, isto é, muita simbiose, muitas mudanças e vários momentos em que teve que escolher um caminho em bifurcações.

O comportamento de Manoel dentro da empresa estava mudando, já interagia mais com seus funcionários, assim mesmo assim ainda se achava o catalisador de todo o processo. Em uma conversa, agora mais liberal com um de seus funcionários, ouviu falar do mito da caverna, de como as pessoas tinham medo das mudanças, pois elas lhes traziam incertezas e teve consciência que este não era seu caso, nunca tivera medo de mudar, sempre saindo para a claridade e para o novo. Porém, começou a interessar-se pela Filosofia.

Por sugestão de amigos e até mesmo de subordinados começou a estudar, em suas horas de folga, os filósofos gregos, passando a querer saber mais. Chegou, então, a Descartes e à separação em mente e matéria. Essa distinção pareceu-lhe absurda, uma vez que em sua concepção, sua mente era seu cérebro; logo, não podiam estar separadas.

A busca pelo conhecimento agora era uma obsessão. Queria saber mais, queria entender mais. E como era de sua índole, buscou.

Encontrou em uma nova teoria uma idéia central que dizia ser o processo de conhecimento o próprio processo de viver. Isso ele entendia, já que se formara na violência, no dia-a-dia, e assim passara bons maus bocados. Ele sofrera mudanças até mesmo radicais durante a evolução de sua empresa. Aprendeu que a alma e espírito em várias línguas queriam dizer sopro, ele se achava não o sopro, mas a ventania que erguera um império. Apesar de tudo ainda não atingido um estado de consciência.

A cabeça de Manoel girava. Onde entrava o Deus criador que ele sempre acreditara? Ele não aceitava as novas religiões ou seitas que se baseavam apenas nos evangelhos, ele acreditava piamente nas escrituras, ou seja, no velho testamento. Tinha consciência dos avanços da ciência, pois hoje era dia-a-dia, era seu ganha-pão. Em seu íntimo ele acreditava na ciência, porém, algo estava errado: onde estava seu espírito que podia ser destinado ao Céu ou ao inferno? Onde ele poderia encontrar as respostas às suas dúvidas? A ciência lhe dava certezas. A religião lhe dava certezas. E ele, agora, não tinha certeza alguma.

Ao lhe restava a busca. E de acordo com sua índole, ele foi buscar. Mas onde buscar?

Encontro, afinal, nos escritórios de um beneditino, a lógica da vida, o espírito que caracterizava s experiência espiritual, como um momento de vitalidade intensificada. Esses momentos espirituais são os momentos em que nos sentimos mais intensamente vivos. Nesses momentos é que sentimos a presença da mente. São nesses momentos que sentimos a plenitude da vida e do corpo.

Isso lhe fazia sentido, pois já tivera esta sensação, ou premonição, várias vezes. Mas sua dúvida estava relacionada à própria realidade, seu credo ou à experiência. Porém, em sua busca encontrou explicações de que a consciência de que a consciência dominante, nos momentos espirituais, é um momento profundo da própria unidade com todas as coisas, uma percepção de que pertencemos ao universo côo um todo.

Sua mente agora girava como um pião, ou seja, no popular "ele estava em parafuso". Para ele, ser ou não ser era a verdadeira questão. O que era ele? O que era sua vida? O que era, afinal, sua empresa? Finalmente, qual era seu papel ou tudo o mais em um contexto de vida?

Descobriu, porém, que os indivíduos atribuem um determinado significado ao seu ambiente e agem de acordo com essa atribuição e que as interpretações se baseiam em interpretações individuais, ditadas pela tradição e que nem todos têm a mesma percepção. Essa afirmativa satisfazia o ego megalomaníaco de Manoel.

À medida que ele se aprofundava na busca pelo conhecimento, mais ele se afastava da sua empresa. Já não era tão assíduo, passava ás vezes, dias sem aparecer. Porém, percebeu que ela continuava evoluindo muito bem, ás vezes achava que estava até melhor do que com sua presença. Percebeu que seus administradores tomavam as decisões corretas, por conta própria, coisa que anteriormente não ocorria, pois as decisões dependiam de suas ordens.

Na verdade, ele começava a pensar que sua empresa era um ser vivo. Crescia e se multiplicava. Produzia novos equipamentos, aumentava de tamanhos e novos departamentos eram criados. A impressão que ele tinha agora era a uma cognição.

Outro ponto importante em seu crescimento foi o momento em que começou a enxergar a empresa como um ser social que cumpria vários papéis. Dava empregos, permitia o crescimento das pessoas que lá trabalhavam, produzia equipamentos que eram fundamentais ao diagnóstico de doenças, enfim, levava o bem-estar para muitas pessoas no mundo inteiro.

Percebeu, então, que ele, como pessoa, não era a mais importante, que poderia, e deveria distribuir um pouco de sua posses financeiras aos menos favorecidos pelas oportunidades. Sim, pois nem todos tinham as mesmas oportunidades, que dizer daqueles que nasciam nos interiores que nem sequer tinham um local para estudar, ou dos índios em suas malocas ou dos negros que durante o império eram até mesmo proibidos de freqüentar uma escola e por muito tempo continuaram a ser excluídos.

Resolveu, então, participar de uma fundação. Doando boa parte de seus bens materiais, ou seja, dinheiro. Ele que sempre pensou que aqueles que não atingiam a independência financeira, não tinham escolaridade suficiente ou mesmo não conseguiam um emprego, se devia a preguiça ou mesmo à falta de vontade.

Após todas estas elucubrações, Manuel mudou. Mudou seu modo de ver o mundo. Mudou seu modo de ver as pessoas. Mudou o modo de ver seu próprio papel no mundo.

Agora ele entendia os ambientalistas, as organizações não-governamentais que defendia a preservação ambiental. Os que lutavam para que os animais fossem preservados, que a destruição de uma simples flor poderia modificar toda uma cadeia alimentar. Enfim, que o homem poderia destruir a vida na Terra e com isso a própria humanidade.

O que Manoel percebeu é que agora ele era outra pessoa, a transição fora lenta, duradoura e até mesmo dolorosa. Agora ele era parte do universo, era irmão das estrelas, sua composição química básica era a mesma de qualquer outro ser, os átomos que habitavam em si habitavam em todas as partes do Universo, com ou sem vida. Tinha agora a totral consciência de qual era seu papel no mundo e, lógico, ele iria usar todo seu conhecimento, sai inteligência, sua força e seus bens em favor da humanidade.


Autor: gesiel meira


Artigos Relacionados


O Discurso / Mídia / Governo

As Pontuais Mudanças Trazidas Pela Lei 11.689/08 = Júri

Pasma Imaginação

A Inadimplência E A Suspensão Do Fornecimento De Energia Elétrica

Recursos Produtivos / Cadeias De Suprimentos

Os Nós Do Eu

Fragmentos - Além Do Espírito