As Relações Professor-Aluno no Ensino de Ciências da Natureza e Matemática



As relações professor-aluno no ensino de Ciências da Natureza e Matemática.

Por: Maria José Lacerda Vasconcelos[1]

Penso que para compreender a relação professor–aluno e as conseqüências desta relação no processo ensino-aprendizagem em especial no ensino de ciência e da ciência é preciso entender a concepção de educação que o professor tem e o tipo de educação que as instituições de ensino estabelecem.

A postura do professor em sala de aula e/ou nas suas falas revela suas crenças que orientam o seu fazer pedagógico e a sua vida. Estas crenças traduzidas didaticamente podem contribuir para avançar, dificultar ou mesmo impedir a construção do conhecimento. Assim um profissional que acredita ser o detentor do conhecimento e que seu papel e de transmiti-lo para os "diamantes não lapidados" e molda-los de acordos com suas convicções, acabam por produzirem ditadores e sujeitos subservientes, anulados em sua capacidade criativa.

Nesta visão empirista, o conhecimento é de natureza externa, se encontra fora do sujeito e a resposta do organismo ocorre através de um estímulo proveniente do meio. Desta maneira o sujeito tem um papel insignificante na elaboração e aquisição do conhecimento, sobrando para ele o ato de memorizar, sintetiza e resumir dentro de um processo formal de educação os conhecimentos transmitidos.

A relação professor-aluno nesta concepção denominada empirista se estabelece hierarquicamente, dificultando o dialogo, a exteriorização dos sentimentos e das emoções e ainda o desenvolvimento dos vínculos necessários para a vida do sujeito e do seu aprendizado.

Na visão empirista o ensino é centrado no professor: os papéis da escola e do ensino estão em patamares superiores em relação ao papel do aluno na instituição de ensino.

O aluno não é concebido como o agente do processo e sim como uma tábula rasa que nada sabe e precisa de alguém para transmitir as informações, sendo que essas estão desvinculadas da vida do aluno e da sua realidade social.

Os modelos tradicionais de ensino na grande maioria das escolas de ensino médios são orientadas pela concepção empirista o que dificulta um ensino de ciência voltado para a curiosidade e para o desenvolvimento da estética da sensibilidade como preconiza a LDB [2] e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio.

Em contra partida a pedagogia centrada no aluno, o papel da educação é limitada, uma vez que o desempenho do aluno é visto como decorrente de suas capacidades inatas, gerando certa imobilidade, pois as diferenças individuais não serão superadas por meio da educação. Nesta visão, atribui-se ao aluno qualidades que muitas vezes ainda não os têm como: domínio do conhecimento sistematizado em determinada área, capacidade de abstração suficiente, nível considerável de informações e principalmente o conhecimento da didática.

O ensino de ciências desenvolvido numa epistemologia onde os desafios são limitados em decorrência do pré-suposto que o ser humano já nasce com a inteligência pré-moldada torna-se secundária a relação professor x aluno, pois a construção do conhecimento vai depender do talento, aptidão e maturação do sujeito. Nesta perspectiva a afetividade quase não interfere no desenvolvimento cognitivo.

Na visão inatista, o ser humano já nasce com as estruturas do conhecimento prontas, elas se atualizam, à medida que ele se desenvolve. O organismo e quem determinam o conhecimento e suas estruturas cognitivas, são dados biológicos que tem seu tempo certo para a maturação, abstraindo às interações sócio-culturais na formação das estruturas cognitivas do sujeito.

Na pedagogia centrada nas relações, os diálogos estão presentes entre os atores do processo do ensino-aprendizagem. Nesta visão a hegemonia prévia do professor ou do aluno está distanciada do processo, pois tanto o professor como o aluno tem a sua visão de mundo e de homem[3] e na sua bagagem traz conhecimentos sistematizados ou não que fazem parte do seu mundo.

Os fundamentos epistemológicos da pedagogia centrada nas relações, têm na teoria Interacionista do tipo construtivista[4] defendidas pelos teóricos Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henry Wallon seus alicerces.

O construtivismo parte do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio.A idéia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob a influência do meio, ao contrário responde aos estímulos externos, agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento de forma cada vez mais elaborada.

Na concepção construtivista a construção do conhecimento é sempre um processo dialético de invenção e descoberta. Nesse processo o erro está presente como parte integrante do mesmo, tornando algo necessário e não se constituindo numa ação a ser evitada de qualquer maneira. O aluno é visto como sujeito ativo que responde aos estímulos age sobre eles, construindo e organizando seu próprio conhecimento.

As características de cada indivíduo vão sendo formadas a partir da constante interação com o meio, entendido como mundo físico e social, que inclui as dimensões interpessoais e cultural.

O professor de ciências que se identifica com essa concepção, tem uma posição peculiar na relação com seus alunos, atua como instigador e mediador do processo, promovendo momentos de aprendizagem apoiada na circulação de saberes e conhecimentos entre ensinantes x aprendizes isto é, o sujeito que tenta compreender o mundo e o outro que se interpõe entre ambos.

Para o professor de ciência em especial o que leciona a disciplina física, os erros são entendidos como obstáculos epistemológicos que determinam o modo de pensar de seus alunos que muitas vezes são os mesmos encontrados na história da ciência. Os erros são entendidos como fundamentais para que haja mudanças de estratégias e metodologias facilitadoras que estimulem os alunos a persistirem nas descobertas. Isto acontece através de reequilibrações sucessivas possibilitando a organização lógica do pensamento.

Conhecendo a epistemologia do professor torna-se mais fácil perceber a relação professor – aluno no ensino de ciências do ensino médio, visto que nesta etapa do ensino básico a clientela é fundamentalmente formada por adolescentes. Nesta fase as mudanças são profundas e marcantes.A sensibilidade do sujeito e seus humores são alternados constantemente. O trabalho do professor em sala de aula, seu relacionamento com os alunos é expresso pela relação que ele tem com a sociedade e com cultura. ABREU & MASETTO (1990: 115), afirma que:

"é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade".

Até agora refletimos sobre a relação do sujeito com o objeto do conhecimento, focando nossa atenção nos aspectos cognitivos e colocando à margem os aspectos afetivos. De certa forma as teorias pedagógicas que fazem parte da formação dos professores e do cotidiano das escolas colocam à margem o papel da emoção na sala de aula. Este fato fica bastante claro quando consultamos a produção cientifica produzida nessas últimas décadas.

È surpreendente a constatação quando nós damos conta que desde a década de trinta do século passado Henri Wallon dedicava-se das emoções.

A "bagunça" em sala de aula com os gritos de euforia dos alunos ao receberem os resultados satisfatórios dos seus desempenhos nas avaliações, consideradas pela coordenação e /ou diretoria como indisciplinas dos alunos e falta de controle de classe do professor é simplesmente a liberação do tônus[5] que Wallon denomina de eutonia. A leitura equivocada dos fatos denota o total desconhecimento das manifestações do tônus nos comportamentos dos estudantes no ambiente escolar.

Wallon preconiza em seus estudos sobre a vida emocional do sujeito que as emoções devem ser consideradas por todos que participam das atividades do dia-a-dia dos indivíduos.

É imprescindível que o professor conheça o papel das emoções e intencionalmente ajude a quebrar o "circuito perverso" [6] em que se vê envolvido seus alunos na sala de aula e na relação professor x aluno e aprendizagem, reagindo corticalizandamente[7], em outras palavras, que conheça seus alunos no aspecto cognitivo e também no aspecto emocional. Para Wallon as emoções:

"são reações organizadas e que se exercem sob o comando o sistema nervoso central e é na sua ação sobre o meio humano que vamos encontrar o seu significado".

O professor que leciona ciência em especial o professor da disciplina física que é considerado pelos alunos como o terror das disciplinas e esta é a responsável pelas alterações dos tônus dos mesmos alternando entre a hipertonia, eutonia e hipotonia, precisa está atento para as emoções contidas dos seus alunos, que na grande maioria das vezes é conseqüência da concepção epistemológica do professor.

Penso que uma reação emocional contida as alterações do tônus acontece de forma moderada na hipertonia e eutonia. A corticalização demora a acontecer, muito embora o indivíduo possa mudar de comportamento em virtude de ter mudado de "polaridade" dentro de um mesmo circuito perverso. A emoção contida diminui a auto-estima, provocando descargas espontâneas, como o balançar das pernas, dos pés e da respiração dos alunos.

A não exteriorização das emoções será canalizada para outros interesses como uma válvula de escape e ainda refletindo na postura corporal, no brilho dos olhos, na fala, na concentração e sem dúvida na aprendizagem.

Salvador, maio de 2009.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES,Celso. As Inteligências Múltiplas. Petrópolis: Editora Vozes -2001.

AUSUBEL, D. P; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1985.

BECKER, Fernando. Epistemologia do Professor: O cotidiano da escola. Petrópolis Editora Vozes, 9º Edição, 2001.

PIAGET, J. Eqüilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.




Autor: Maria Vasconcelos


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