Perder Tempo Para Quê?



Nos últimos tempos, estamos atolados por informações de catástrofes, epidemias, guerras, loucuras, maluquices e outras notícias sobre a natureza, os animais e os seres humanos.

Tudo parece tão distante de nós, mesmo o que acontece bem debaixo do nosso nariz, como a devastação da Amazônia. Recebemos essas notícias, com a frieza com a qual nos acostumamos a ouvir sobre as chacinas da periferia, as rebeliões nos presídios e os muitos mortos nas estradas em um feriado qualquer.

O que será que nos tornou assim? Pedras de gelo? Onde deixamos nossa sensibilidade? Será tão longe que não podemos resgata-la? Acredito que não a perdemos para sempre. Apenas estamos anestesiados pelo excesso de informação. Não podemos perder tempo analisando, pensando, raciocinando sobre os fatos, afinal existem outras tantas informações chegando aos meus sentidos.

Não podemos perder tempo pensando nas conseqüências do desmatamento de nossas florestas, nem nas inúmeras espécies animais que estão sendo extintas do planeta. Muito menos avaliar nossa parcela de culpa nas catástrofes naturais que estão ocorrendo com cada vez mais freqüência. Colocamos nossas vidas no piloto automático e deixamos rolar.

Sobre a febre aftosa e a gripe aviária, a única coisa que nos preocupa são as conseqüências econômicas. Aliás, é esse aspecto que vem norteando nossos pensamentos nos últimos tempos.

Promovemos e aplaudimos rodeios, onde touros são submetidos a maus-tratos. Levamos nossas crianças ao circo para que elas se encantem com os animais que estão ali em atitudes totalmente antinaturais, presos e subjugados por nós, seres humanos.

Usamos cosméticos, produtos de limpeza, remédios sem ter a menor noção de que eles foram produzidos a custa de atrocidades cometidas nos laboratórios contra animais indefesos.

Comemos nosso inocente e delicioso “baby-beef”, sem saber que se trata de um bezerro de leite, tirado da mãe assim que nasce e confinado, sem poder sequer se mexer para que a carne fique mais macia.

Abandonamos nossos cães e gatos à própria sorte, sem castração e que vão aumentando a população de animais de rua que serão levados aos centros de controle de zoonoses para serem sacrificados.

Além de tudo isso, usamos a água como se ela fosse uma fonte inesgotável. Compramos coisas das quais não precisamos. Comemos muito, enchendo nossos corpos com agrotóxicos e hormônios achando que estamos nos alimentando.

Recuperarmos nossa sensibilidade para tais fatos se faz urgente. Em vez de derretermos o gelo das calotas polares, porque não tentamos derreter o gelo de nosso coração. Não podemos esperar da mídia, dos governantes, dos empresários. Nós como população consumidora temos de abrir nossos olhos, mente e coração para não sucumbirmos. Para que nosso planeta tenha ainda muitos milênios de vida é preciso assumirmos nossa responsabilidade desde já.

Que planeta queremos deixar para as futuras gerações? Um planeta onde as nações terão de brigar pela água, como fazemos agora pelo petróleo? Onde conheceremos um panda ou um papagaio somente por meio de uma enciclopédia eletrônica?

Parece que estamos nos tornando ricos em tecnologia e muito pobres em biodiversidade. Queremos brincar de criadores e, sem perceber estamos destruindo a vida. Temos que parar um pouco e perder um tantinho de nosso precioso tempo para ver e ouvir o pedido de socorro da natureza e aprender que somos parte dela e se ela morrer, morreremos todos juntos.


Autor: Luciene Cardoso


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