O Espírito Santo na História do Cristianismo



Joacir Soares d'Abadia e Flávio Luis Soares

Introdução

O Espírito Santo se faz presente na obra da criação, assim como também em toda história da Salvação. Podemos fazer referencia ao Espírito de Deus desde as primeiras linhas da bíblia, no hino do Deus criador de todas as coisas celestes e terrestres, a que se enquadra principalmente o homem e a mulher como ponto culminante de toda criação, dando ênfase ao principio que da vida e existência a tudo, com que se refere o livro do Gênesis: "O Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas" (Gn 1,2), o Espírito que move, transforma e renova todas as coisas.Esse mesmo Espírito que se manifestou no decorrer da história, falou através de nossos primeiros pais na fé, seguindo através dos profetas, chegando à plenitude do tempo, quando "Deus enviou o seu filho, nascido de uma mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam sob a lei, a fim de que recebêcessemos a adoção filial. E porque sois filho, enviou Deus aos nossos corações o Espírito do seu filho, que clama : Abba, Pai!" (Gl 4, 4-6).

Tendo consistência nesta pequena introdução, queremos apresentar os fatos históricos sobre o Cristianismo, que se constituem pela ação do Espírito Santo, como terceira pessoa da Santíssima Trindade, Deus uno e trino, evidenciando também a sua presença e a sua manifestação no decorrer da história cristã. Eles eram enviados pelo Senhor Jesus, para proclamar aos outros a Boa Nova. Assim como o Pai enviou o seu filho ao mundo, do mesmo modo os discípulos e os discípulos dos discípulos sentiam-se mandados, enviados.Assim como a Missão de Cristo provinha do Alto, eles também iam para os outros.

O Espírito Santo suscitou novas lideranças na adesão ao evangelho de Jesus Cristo. É só ter presente os Atos dos Apóstolos e perceber como a comunidade crescia em número pelas adesões que ocorriam (At 2,47). Nesse sentido percebemos que os discípulos tinham consciência de que não estavam sozinhos, mas contavam com a presença do Espírito Santo atuando na vida da comunidade cristã, como foi dito pelo próprio Jesus a seus discípulos: "E eis que eu estarei convosco todos os dias , até a consumação dos séculos!" (Mt 28,20).

1. O Espírito Santo na História do Cristianismo

1. 1 A Ressurreição e Pentecostes

Em virtude de missão, dois acontecimentos foram essências para a comunidade primitiva: a Ressurreição de Jesus e Pentecostes. A morte de Jesus trouxe desânimo à vida dos discípulos. Lucas diz que pessoas ligadas ao discipulado de Cristo voltavam para casa tristes e em seu rosto refletiam isso. "Esperávamos a libertação de Israel" (Lc 24,21) manifesta muito bem o ânimo de vida em quase todos os discípulos. Muitos não admitiam que Jesus passasse pela cruz; isso era algo inconcebível para a mentalidade judaica e de seus discípulos (Mt 16, 22-23). Alguma coisa, no entanto, modificou tal situação de desânimo em que eles estavam. Aconteceu uma transformação: a ressurreição de Jesus (Mt 28,6), portanto, as promessas de Deus eram cumpridas em Jesus. E ligada à ressurreição, a comunidade transformou-se com a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes (At 2). Esse acontecimento inaugurou o nascimento oficial da Igreja em Jesus Cristo, o novo povo de Deus que mais tarde, no decorrer da história nas perseguições, serão denominados pelos perseguidores de Cristãos.

A descida do Espírito Santo, evento prometido para o final dos tempos, possibilitou vida nova, no anúncio do Ressuscitado para o mundo. O Espírito Santo é conferido aos apóstolos e eles conseguem comunicar-se com "partos, elemitas, medas, e habitantes da Mesopotâmia, da Judéia, da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia vizinha a Cirene, estrangeiros de Roma" (At 2,9-10). A Missão dos Apóstolos com a difusão do Evangelho de Cristo e também obra do Espírito Santo, porque ele esteve sempre presente na vida e Missão do Filho: na Igreja nascente ele dará forças para os apóstolos viverem a fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo. Assim se parte de uma unidade fundamental, de uma pregação que tinha raízes na pessoa de Jesus.

1.2 Jerusalém, ponto de Partida

Jerusalém, cidade cosmopolita, desde os tempos antigos abrigava em seu seio judeus nascidos em diversas partes do mundo. E ainda os peregrinos que visitavam a Cidade Santa por motivo da Festa das Semanas, parecem referir-se aos judeus residentes em Jerusalém. (Lc 2,25; At 8, 2; 22, 12).

A ouvir o estrondo, o povo acorre; mas o motivo de sua estupefação não é nem o fragor que já haviam passado, e sim os Apóstolos que, sendo todos galileus, proclamavam as grandezas de Deus nos idiomas próprios dos ouvintes. Os discípulos, pois, possuídos do Espírito, começaram a dar testemunho de Jesus, "um testemunho de fogo com a força do Espírito", isso deve ser interpretado no sentido de que o Espírito Santo conferiu aos Apóstolos o carisma da xenoglossia (dom de falar idiomas estrangeiros) com o objetivo de poderem comunicar a mensagens aos ouvintes cuja língua nativa para muitos deles não era o aramaico. E no nosso caso, é a ação salvífica de Deus que ressuscitou Jesus Cristo, seu Filho, ao qual glorificou e lhe comunicou a plenitude do Espírito. Agora Jesus, por sua vez, derrama esse mesmo Espírito sobre os discípulos.

Assim esta escrito no At 2, 1-4; quando fala do batismo no Espírito: E ao chegar o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar: v.1. Este versículo nos apresenta as circunstâncias de tempo e lugar da vinda do Espírito Santo de forma solene e visível . Era o dia de Pentecostes, literalmente, 'da Cinquenta': O 50.º dia depois da Páscoa. O nome Pentecostes dado à festa da sete Semanas nós o encontramos na Bíblia grega: Tb 2,1; 2Mc 12, 32.Essa festa da Ceifa comemorava também a doação da Lei no Sinai e a declaração da Aliança, o dia da Assembléia: Dt 9, 10.

Com a realização da promessa de Jesus que pediria ao Pai a vinda do Paráclito (Pentecostes), a missão cristã inicia-se pelo mundo, tendo como ponto de partida Jerusalém. No início, eles se detiveram mais no templo, como nos relata os Atos dos Apóstolos. A base da nova vida que se estava desenvolvendo na comunidade cristã possuía os seguintes pilares: Cristo ressuscitado que aparece aos apóstolos; Jesus como cumprimento das profecias, das promessas feitas a Abraão, da lei dada a Moisés (At 2,17), a pregação dos Apóstolos que constituiu o princípio da unidade da Igreja, a sua unidade com o Senhor possibilitou à da comunidade, na qual era um só coração uma só alma(At 4,32)

1.3. O testemunho de Pedro com os onzes sob o impulso de Espírito

O primeiro discurso de Pedro será, pois de todos os seus e será o primeiro "testemunho apostólico sobre Jesus", com, "a força e o fogo do Espírito". O testemunho é composto de duas partes. Na primeira, que se inicia com a interpelação Varões Judeus, Pedro da à interpretação autêntica dos acontecimentos daquela manhã: cumpriu-se a profecia de Joel sobre a efusão do Espírito Santo: 2, 14-21.Na segunda, divididas em duas partes rubricadas pelas interpelações varões israelitas e varões irmãos, Pedro proclama o primeiro testemunho sobre Jesus: 2, 22 – 35. O testemunho termina com solene declaração de fé: 2, 36.O Espírito Santo, pela boca de Pedro, dá testemunho de sua própria obra. As palavras de Pedro explicam o que está acontecendo. Deus começa a cumprir o que ele próprio havia anunciado pelo profeta Joel.

O testemunho sobre Jesus em At. 2, 22-35 é dado por Pedro e os onzes, esse testemunho não é um discurso, mas uma proclamação , ou seja, um querigma, um evangelho, um anúncio feliz. E os pontos fundamentais desse querigma evangélico são: Jesus o profeta v. 22, o Morto na cruz v.23, o Ressuscitado por Deus: vv. 24-32 e Jesus glorificado e cheio do Espírito Santo para derramá-lo: vv. 33-35. Finalmente, uma vez ressuscitado, Jesus foi exaltado pelo poder soberano de Deus. E Pedro enfatiza: "E exaltado pela direita de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou-o como vós vedes e ouvis": v. 33. Este é o ponto culminante da mensagem. Aqui está substância do mistério de Pentecostes.

Pedro termina seu testemunho com esta solene declaração de fé: "que toda a casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza que este Jesus que vós crucificastes Deus o constituiu Senhor e Cristo" e assim sintetiza em três palavras o mistério de Jesus, que será objeto de fé para todo o crente. Jesus ressuscitado e glorificado é: Jesus Salvador, o messias Cristo Senhor. Essa é uma confissão essencial da fé que ficou providencialmente cunhada na solene fórmula bíblico-liturgico com que comumente se concluem as orações: "Isto te pedimos por Nosso Senhor, Jesus Cristo, Teu Filho, que sendo Deus..."

1.4. A Igreja Criação do Espírito Santo, Nasce para a vida: At 2, 37 – 41

"Que devemos fazer , irmãos?" Pedro lhes respondeu: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor , nosso Deus": At 2, 37-39.

As palavras de Pedro contêm elementos da iniciação cristã: a conversão interior e abandonar o pecado com tudo o que a ele relacione, ser batizado em nome de Jesus Cristo que confere o perdão dos pecados, receber o Dom do Espírito Santo que é um presente que o próprio Deus prometeu, assim o números "três mil adepto" marca os efeitos admiráveis da efusão do Espírito. Jesus continuava a sua obra que acabava de iniciar, continuava batizando no Espírito Santo...

1.5.O Espírito Santo nas primeiras comunidades

"varões cheios de Espírito e de Sabedoria" At 6, 3-6. Ao multiplicar-se o número de discípulos, os Apóstolos se viram logo assoberbados por suas tarefas pastorais, de ordem espiritual e material. Esse serviço material fora realizado primeiro pelos próprios Apóstolos e depois pelos "Presbíteros" de Jerusalém. Este grupo deveria constar de "sete varões".O número'sete', além de ser símbolo de perfeição e plenitude, evocaa equipe de governo e administração de cada cidade que, segundo Flávio José,constava de sete Juízes. Os 'sete' constituíram, pois, uma organização judeu-helenista paralela à dos judeu-hebreus e teve por meta assumir a responsabilidade material e espiritual cristã dos helenistas.

"Estevão, varão cheio de fé e do Espírito Santo": At 6, 5.8.10; 755, a assembléia elege Estevão para o ministério entre os cristãos helenistas porque "era um varão cheio de fé e do Espírito Santo". Esta palavra define Estevão como um homem cheio de carismas, "manifestações" do Espírito.

Doação do Espírito na Samaria: At 8, 14-18, para compreender com maior exatidão a passagem de Filipe, evangelizador da Samaria: 8, 5-13, é necessário conhecer a situação histórica da Igreja naqueles dias. Em At 8,1 lê-se: "Naquele dia irrompeu uma grande perseguição contra a comunidade de Jerusalém. Todos se dispersaram pelas regiões da Judéia e da Samaria, com exceção dos Apóstolos". "Os que haviam dispersado iam por toda parte anunciando a boa nova da Palavra": 8,4.Na trama dos Atos, o evangelho vai ultrapassar as fronteiras de Jerusalém para espalhar-se pelo mundo inteiro. Lucas nos informa de maneira sintética que as aldeias da Judéia e da Samaria receberam a Palavra e fixa em seguida sua atenção na evangelização de uma cidade da Samaria, realizada por Filipe, um dos sete ministros helenistas.

Há, porém um detalhe importante: se de Jerusalém deveria partir a proclamação da boa nova (Lc 24, 47-48; At 1´8), os Apóstolos – testemunhas pessoais de Jesus morto e ressuscitado primeiros beneficiários do Espírito Santo (At 1,5; 2,14) – deveriam vigiar para o Evangelho conservasse sua pureza e sua autenticidade.

Alguns pensavam que ao serem batizados, os samaritanos não receberam o Dom do Espírito; este lhe foi transmitido somente quando Pedro e João lhes impuseram as mãos. Contra esta opinião surge uma objeção: como é possível que, tendo sido batizados em nome de Jesus Messias, não tivessem recebido o Dom do Espírito Santo, de acordo com que foi afirmado pelo próprio Lucas em Atos 2,37-39

Pensamos que Lucas, ao apresentar esta passagem, tem intenções particulares que deseja pôr em destaque.

1-A passagem da evangelização da Samaria não parece ter como principal finalidade ensinar quem são os ministros autorizados para dar o Dom de Espírito.

2-Este relato, que narra a primeira expansão do Evangelho fora de Jerusalém, visa a insistir em que o colégio apostólico, e dentro dele Pedro em particular, tem o dever de zelar pela autenticidade e unidade de fé.

3-A evangelização na Samaria tenciona também recordar que, além do batismo em nome de Jesus Messias, a efusão do Espírito é elemento indispensável para ser discípulo de Cristo em toda plenitude.

4-A cena de Simão, o Mágico, tem, por sua vez, sua finalidade própria. "Vendo Simão que pela imposição das mãos dos Apóstolos se dava o Espírito, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: "Daí-me também a mim esse poder de que àquele a quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo". Pedro lhe respondeu: "Maldito seja o teu dinheiro e tu com ele, pois pensaste que o dom de Deus se compra com dinheiro..." (8, 18-20). Essa intervenção visa combater desde o principio abusos no campo dos carismas do Espírito Santo.

Filipe a à mercê do Espírito Santo: (At 8,26.29.39) S. Lucas nos oferece um novo relato sobre Filipe, o Evangelizador: At 8, 26-40. Filipe, "Varão cheio do Espírito e de sabedoria" é um instrumento dócil do Espírito. Parece encontrar-se em Jerusalém. O Anjo do Senhor lhe ordena que tome o caminho de Gaza. Alcança um ministro etíope, sentado em seu carro; estava lendo o profeta Isaías. É cântico de Javé: "Foi levado como uma ovelha ao matadouro; e como um cordeiro, mudo diante daquele que o tosquia, assim ele não abre a boca. Em sua humilhação foi-lhe negada justiça; quem poderá contar sua descendência? "Porque sua vida foi arrancada da terra": 53,7-8.Filipe então anunciou-lhe a boa nova de Jesus, partindo do texto de Isaías. Descobre-se Jesus lendo as Escrituras à luz do evento pascal.

O ministro etíope aceitou a mensagem e creu em Jesus. E chegando a um lugar onde havia água Filipe o batizou.

Ananias, instrumento do Espírito Santo em favor de Paulo: At 9, 17, no relato da conversão de Saulo (Paulo), há uma menção do ao Espírito Santo. Quando Ananias, obedecendo a ordem de Jesus entrou na casa onde estava Saulo, impôs- lhe as e lhe disse: "Saulo, meu irmão: O Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo" At9,17.Se Saulo foi escolhido pelo Senhor como instrumento para levar o seu nome até os gentios, os reis e os filhos de Israel: 9,15, é necessário que também ele receba a efusão do mesmo Espírito prometido por Jesus aos Doze para poder ser testemunha sua até confins da terra: 1,8.

"A Igreja se multiplicava com a assistência do Espírito" At 9,3, num resumo rico em conteúdo, Lucas descreve a Igreja ou as Igrejas da Palestina, gozando de paz e crescendo ao impulso do Espírito : "Enquanto isso, a Igreja gozava de paz em toda a Judéia, Galiléia, e Samaria; estabelecia-se ela, caminhando no temor do Senhor, e se multiplicava com a assistência do Espírito Santo". O autor do Livro dos Atos utiliza o vocábulo Igreja para designar o grupo dos primeiros fiéis de Jerusalém, reunidos em "uma comunhão nascida do testemunho apostólico, centrada na fé em Jesus ressuscitado a animada pelo Espírito Santo" (Tob)

A Igreja caminhava "se multiplicava com a assistência do Espírito Santo" . Graças à ação fecunda do Espírito Santo, presente nas comunidades cristãs, o número de discípulos ia aumentando. Assistência traduz a palavra técnica paráclesis, que significa consolação, apoio, assistência.

"O Pentecostes dos Gentios"; At 10,44-48; 11, 15-18, a conversão de Cornélio é uma culminância doutrinária no Livro dos Atos dos Apóstolos. O acontecimento ultrapassa os limites do individual e tem repercussões de valor universal: os gentios são chamados à fé. Lucas manifesta a importância do fato pelas dimensões que empresta ao relato composto por peças de diferentes gêneros literários e, sobretudo, pelo recurso à dupla visão que o autor se compraz em referir várias vezes: a visão de Cornélio: 10,3-8.22.30-33;11,13-14 e a visão de Pedro: 10,9-16.28; 11, 5-10.

1.6. O Espírito Santo nas grandes missões

O Espírito Santo na Igreja de Antioquia: At 11, 24.28; 13,1-3,fundação da Igreja de Antioquia, a primeira predominaram os discípulos vindos do paganismo, podemos situá-la por volta dos anos 38-39. A Antioquia sobre o rio Orontes, capital da província romana da Síria, era a terceira cidade do Império depois de Roma e de Alexandria. A missão em Antioquia foi coroada com êxito surpreendente: muitos abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. "A mão do Senhor estava com eles". Deus assistia com seu poder e sua proteção a iniciativa evangelizadora dos helenistas.

Entre varias outros assuntos, se fossem situar e elencar com mais precisão, teríamos: Barnabé e Paulo, missionários do Espírito: At 13, 1-3, o Espírito Santo, alma da Missões: At 13,4.9.52, o Concilio de Jerusalém: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós" At 15, 8.27.29.32,o Espírito Santo no discurso de Paulo em Mileto: At 20, 23-38, o Espírito Santo prediz o cativeiro de Paulo: At 21, 4.11, o Espírito Santo falou por Isaias: At 28,25.

O Espírito Santo, o Espírito de Jesus, continuará sua obra , impulsionando os missionários de todos os tempos para que continuem levando o testemunho de Jesus até os confins da terra. E assim se fez, o Espírito Santo, vai agindo na história da humanidade, através da Igreja e no tempo da Igreja.

Diante dessa perspectiva da ação do Espírito Santo, podemos ressaltar em vários momentos da historia da Igreja, atestado no tempo e lugar em que acontece essa ação: O Espírito Santo na oração do Ocidente durante a "Idade Média" através da Sagrada Liturgia que efetua um movimento de Deus para nós e de nós para Deus, um movimento que vai do Pai pelo Filho no Espírito e sobe no Espírito pelo Filho. O Espírito Santo também é invocado em toda ação litúrgica, para estar ai presente e ativo. O Espírito Santo segundo os teólogos, que age na história, Ele suscita o novo, embora esse novo seja para nós algo desconcertante. Na primeira metade do século XII era o caso do surgimento de numerosas ordens religiosas. Essa Peneumatologia se faz presente na história do protestantismo, que tem seu lugar no catolicismo da contra reforma-reforma e da restauração pós revolucionária, que não foi só vivida na vida da Igreja mas também confirmada ao dos séculos, enfim, a pneumatologia do Concilio Vaticano II, que só poderá encontrar o seu pleno desenvolvimento graças aquilo que dela será realizado e vivido na Igreja.

2 O Espírito Santo nos Padres da Igreja

2.1 A noção de "Espírito"

É verdade que "a crença do Espírito Santo não é peculiar ao cristianismo, mas uma das crenças herdadas do judaísmo", como diz Wolfson[1], é igualmente verdade que ela, no cristianismo, teve de mudar e trouxe diversos problemas. Um deles diz respeito sobretudo ao "modo" e a "forma" da revelação do Espírito, humanamente não tão fáceis de compreender como a figura do Filho em Jesus e a do Pai.

Não sem razão se falou de urna kenosis do Espírito Santo, que se dá a conhecer somente pelo que realiza em nós[2].

Balthasar, segundo Ladaria, chaga a falar de uma kenose original das pessoas divinas em sua doação mútua: assim, só no fato da geração do Filho se daria no Pai mesmo uma espécie de esvaziamento de si, uma kenose histórica primordial q que corresponderia a doação eterna total do Filho, a qual por sua vez encontraria sua expressão e manifestação na konose histórico-salvífica de Jesus, o Filho encarnado, sua expressão e manifestação[3].

Um outro problema diz respeito à própria noção de "Espírito", que na Escritura não é unívoca e aparece com três acepções:

—Espírito como natureza divina ("Deus spiritus est", Jo 4,24); essa definição de Deus como Espírito encontramos em Taciano, Padre Apologeta. Mas, além do "Deus espírito", ele fala do "Espírito de Deus"[4];

—Espírito de Deus, como componente divino do Filho (cf Rm 1,3-4), que pode habitar no corpo humano e dá ao homem sua perfeição[5].

—Espírito Santo, como Terceira Pessoa.

Não admira que essa linguagem tenha originado alguns equívocos ou, pelo menos, interpretações diferentes (por exemplo, a identificação de Cristo preexistente com o Espírito Santo (Wolfson), ou o fato de, mesmo século IV, diversos escritores considerarem o Verbo, e não o Espírito Santo, o agente da encarnação). Uma ulterior dificuldade de ordem doutrinal consistirá depois em integrar intelectualmente a doutrina monoteísta com os dados mais recentes da revelação cristã.

Em outros termos, se o cristianismo deseja defender o monoteísmo veterotestamentário como pode harmonizá-lo com a tríplice manifestação do Pai, Filho e Espírito Santo no NT? Talvez se trate apenas de três "máscaras" da realidade divina por si incognoscível? A Trindade da economia salvífica idêntica à Trindade imanente? Será Deus como Ele se nos revela transforma para adaptar-se à nossa capacidade de percepção? E, quando oramos, entramos realmente em contato com Ele ou será antes com as "Mascaras" que Ele assume?

2. 2 Espírito Santo tanto nos Padres Apostólicos como nos Padres Apologetas

A história da Igreja mostra que os axiomas fundamentais da fé trinitária se "decantaram" no confronto com duas orientações doutrinais antitéticas: de um lado, o monarquianismo em sua dupla forma de adocionismo e de modalismo, e, de outro, o subordinacionismo, que considerava o Filho inferior ao Pai e o Espírito inferior ao Filho.

É preciso recordar que a clareza teológica que pouco a pouco foi obtida nos embates com o monarquianismo e o subordinacionismo refere-se sobretudo às relações Pai/Pilho e ao problema da divindade deste último. Pelo menos até o século IV o problema da divindade do Espírito o despertou pouco interesse. De fato, admitindo-se que a divindade não era unitária, era tão fácil pensar em três pessoas quanto em duas.

Contudo, não se deve cair no equívoco de pensar que o pouco interesse doutrinal a respeito do Espírito Santo tenha significado desinteresse in toto sobre sua presença e sua ação.

Este pouco interesse[6] a respeito do Espírito Santo pode ser encontrados tanto nos Padres Apostólicos como nos Padres Apologetas.

Desta forma, diz Ladaria, que nos escritos de Clemente Romano "não há fórmulas claras sobre a divindade do Espírito Santo"[7]. Ele segue dizendo que na Didaché "Exceto as citações de Mt 28, 19 não achamos nenhuma menção do Espírito"[8]. Dos Padres Apologetas podemos citar Atenágoras que, "Fala-se diretamente da geração do Filho pelo Pai, porém não se aborda a processão do Espírito"[9]. Também nos escritos de Teófilo de Antioquia "Fala-se pouco do Espírito Santo ou Espírito de Deus em outros contextos, embora se lhe atribua especificicamente a inspiração da Escritura"[10].

Deve-se, contudo, segundo Luigi Padovese, rejeitar a idéia de que, na Igreja dos primeiros séculos, o Espírito Santo não tenha sido reconhecido em seu agir. É até difícil encontrar uma outra idéia que tenha exaltado tanto a consciência escatológica e o sentido da comunidade da Igreja como a persuasão do Espírito Santo dado pelo Pai e comunicado por meio do Cristo.

Harnack chega a afirmar que um traço peculiar e talvez mais característico do cristianismo primitivo "é o fato de que cada cristão, movido pelo Espírito Santo, é posto numa relação vital e personalíssima com o próprio Deus"[11].

Padovese vai dizer que não sem razão João Crisóstomo, olhando para a Igreja primitiva observa que, se "os Evangelhos são a história das coisas que Cristo disse e fez, os Atos, por sua vez, são a história das coisas que o outro Paráclito disse e fez[12].

A doutrina do montanismo, ensina Padovese, poderia ser resumida assim: "ubi carismata, ibi Spiritus, ubi Spiritus ibi vera Ecclesia". O erro da "nova profecia" foi, todavia, o de não reconhecer que também na grande Igreja (Igreja dos psíquicos) o Espírito Santo continuava a operar.

Como que as vangloriando de exclusividade sobre o Espírito, o montanismo se esqueceu de que não apenas os dons extraordinários da profecia, do falar em línguas e da realização de curas provinham do Espírito, também os dos de governar a comunidade, de lhe dar assistência e até de corrigi-la deviam ser atribuídos a Ele. De resto, bispos como Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Melitão de Sardes, Cipriano de Cartago eram os autênticos "carismáticos" e em sua época era possível constatar a efusão carismas "extraordinários".

Ireneu, por volta de 150, no entanto, declara: "... ouvimos que também muitos irmãos da Igreja têm carismas proféticos, falam todas as línguas graças ao Espírito, manifestam os segredos dos homens para beneficio deles e explicam os mistérios de Deus"[13].

Orígenes, por sua vez, por volta de 240, escreve que "ainda hoje se conservam os traços daquele Espírito Santo que foi visto em forma de pomba; os cristãos expulsam os demônios, curam diversas doenças e veem também alguns acontecimentos futuros por vontade do Verbo"[14]. E ao mesmo tempo, tem-se São João Crisóstomo dizendo que Cípriano de Cartago é às vezes impelido a agir pelas visões que teve.

No século IV é ainda vivíssima a consciência de terem recebido o "dom" do Espírito Santo no qual estão contidos todos os demais dons: Zenão de Verona fala dos charismata difundidos entre o povo cristão[15].

João Crisóstomo, por sua vez, reconhece que o cristão possui um dom especial do Espírito, como diz Padovese. De outra parte, porém, declara que recebemos o Espírito "não para realizar prodígios, mas o suficiente para levar uma vida honesta e santamente comprometida", ensina o Santo. Considera ainda que, a concessão dos "carismas extraordinários" é funcional e não estritamente necessária, "mesmo que se admita que hoje tenha diminuído o carisma dos milagres, isso não pode prejudicar nem poderemos utilizá-lo como desculpa quando tivermos de prestar contas de nossas obras".

2. 3 O Espírito Santo em Ireneu de Lião, segundo Padovese

Agora, portanto, vamos considerar alguns aspectos da catequese patrística sobre o Espírito Santo tendo como referência a catequese de Ireneu de Lião. Ele desenvolve uma teologia "funcional" do Espírito Santo. Não diz muito sobre sua origem e natureza, mas o apresenta continuamente em ação na história. Para entender essa sua ação, é preciso dizer que na antropologia de Ireneu, o homem feito à imagem e semelhança Deus, ou o homem potencialmente perfeito, era formado por alma, corpo e Espírito Santo.

Enquanto a imagem impressa no corpo o tornava semelhante ao Cristo que teria encarnado, a semelhança vinha da presença nele do Espírito Santo. A finalidade de tal presença era levar o homem à "amadurecer", a progredir em direção à divinização. O pecado de Adão privou o homem dessa semelhança e enfraqueceu o progressivo processo de assimilação em Deus. A redenção deve ser vista, pois, como uma restituição do Espírito realizada por Cristo com referência a um processo de divinização que o pecado fez esmorecer, mas não impediu.

Cristo, com sua carne mortal, tornou-se o modelo de como o Espírito pode agir no homem, transformando-o. Como observa um famoso estudioso de Ireneu, A. Orbe, "era preciso que o Espírito Santo se habituasse à humanidade de Jesus, ou seja, que, entre o Jordão e a ressurreição, fosse assimilando à sua qualidade – à forma Dei – a carne do Salvador; ou que, vice versa, a carne fosse perdendo pouco a pouco suas qualidades normais de carne e sangue até se solidarizar completamente com Espírito Santo na propriedade divina".

Naturalmente Ireneu não vê em Cristo apenas o "portador exemplar" do Espírito, mas também aquele que dá, restituindo assim a semelhança com Deus comprometida pelo pecado. Trata-se, de qualquer modo, de uma semelhança genial, que deve ser incrementada e modificar também a carne e a alma do homem.

A ação do Espírito antecede a ação evangelizadora do homem. Dos Padres, portanto, chega até nós à convicção de que a fé no espírito Santo, que "é Senhor e dá a vida", é bem mais do que um enunciado doutrinal: trata-se de uma profissão de esperança e de confiança no Deus trinitário, que não deixa pela metade o "projeto" do homem.

2. 4 O Espírito distribui as graças para a perfeição dos membros de um só corpo

"O espírito opera e distribui todas as coisas dividindo as graças para a perfeição dos membros de um só corpo"[16], ao passo que esse corpo é a Igreja de Cristo, fundada por ele e que tem Pedro como o continuador destra obra.

O Espírito Santo, com efeito, é aquele que distribui "as graças para a perfeição dos membros". Assim, Ele age na Igreja e no seus membros por isso não se deve imaginar que Ele seja abundante em Roma pelo fato de ali estar o Papa, sucessor de Pedro. "Muito menos" –diz Gregório de Nissa - "deverá pensar que o Espírito é abundante em Jerusalém, mas incapaz de se deslocar até nós. Pelo contrário, se é possível deduzir a presença de Deus a partir dos símbolos visíveis, então é mais justo supor que ele mora na Capadócia [representa aqui todas os países e suas cidades] antes que em que qualquer outro lugar"[17].

Pelo Espírito, a salvação, que Jesus não trouxe, torna-se realidade m cada um de nós. É a primazia do dom incriado que é deus mesmo sobre todos os diversos dons e graças que Deus nos dá, como diz São Basílio, citado por Ladaria.

Ireneu vai dizer "Onde está a Igreja, ali está o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus, ali está a Igreja e toda graça, pois o Espírito é a verdade"[18]. A Lume Gencium diz que "enviado o Espírito Santo para santificar continuamente a Igreja e assim dar aos crentes acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito (cf. Ef 2, 18. O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cf. 1Cor 3, 16; 6, 19)... Assim a Igreja universal aparece como o "povo congregado na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo".[19]".

Conclusão

O Espírito Santo na História do Cristianismo pode ser compreendido naquilo que é sua ação nos membros da Igreja seja o Papa ou o leigo engajado. Ou seja, Ele age nas pessoas dando-lhes as graças necessárias para a perfeição dos mesmo. Da ação do Espírito Santo, podemos ressaltar em vários momentos da historia da Igreja, atestado no tempo e lugar em que acontece essa ação: O Espírito Santo na oração do Ocidente durante a "Idade Média" através da Sagrada Liturgia que efetua um movimento de Deus para nós e de nós para Deus, um movimento que vai do Pai pelo Filho no Espírito e sobe no Espírito pelo Filho.

O Espírito Santo também é invocado em toda ação litúrgica, para estar ai presente e ativo. O Espírito Santo segundo os teólogos, que age na história, Ele suscita o novo, embora esse novo seja para nós algo desconcertante. Na primeira metade do século XII era o caso do surgimento de numerosas ordens religiosas. Essa Peneumatologia se faz presente na história do protestantismo, que tem seu lugar no catolicismo da contra reforma-reforma e da restauração pós revolucionária, que não foi só vivida na vida da Igreja mas também confirmada ao dos séculos, enfim, a pneumatologia do Concilio Vaticano II, que só poderá encontrar o seu pleno desenvolvimento graças aquilo que dela será realizado e vivido na Igreja.

A ação do Espírito antecede a ação evangelizadora do homem. Dos Padres, portanto, chega até nós à convicção de que a fé no espírito Santo, que "é Senhor e dá a vida", é bem mais do que um enunciado doutrinal: trata-se de uma profissão de esperança e de confiança no Deus trinitário, que não deixa pela metade o "projeto" do homem. O Espírito Santo, com efeito, é aquele que distribui "as graças para a perfeição dos membros".

Assim, Ele age na Igreja e no seus membros por isso não se deve imaginar que Ele seja abundante em Roma pelo fato de ali estar o Papa, sucessor de Pedro. "Muito menos" –diz Gregório de Nissa - "deverá pensar que o Espírito é abundante em Jerusalém, mas incapaz de se deslocar até nós. Pelo contrário, se é possível deduzir a presença de Deus a partir dos símbolos visíveis, então é mais justo supor que ele mora na Capadócia [representa aqui todas os países e suas cidades] antes que em que qualquer outro lugar".

Bibliografia

ALDAY, Salvador Carrillo. O Espírito Santo na Igreja dos Atos dos Apóstolos. São Paulo: Loyola, 1984.

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SPANNEUT, Michel. Os Padres Capadócios: Gregório de Nissa. A peregrinação a Jerusalém? O Espírito Não é "incapaz de se deslocar até nós?". In: ____ . Os Padres da Igreja. Vol. II. Séc. IV-VII. Tradução de: João Paixão Neto. São Paulo: Loyola, 2002, p. 69.




Autor: Joacir Soares d'Abadia


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