Retórica no Evangelho



Joel Carlos Santana Santos – 07/03/2003

Falar e falar bem. Isso é de fundamental importância para o ser humano. Àqueles que usam a fala como instrumento, seja de trabalho ou não, é ainda mais: é essencial. Um público não quer ver à frente de uma palestra, seja de que origem for, alguém de retórica fraca nem com "tropeços" na fala. Quem dá atenção a alguém quer ter seus tímpanos preservados.

Hoje, frente a tantas plateias, há pessoas que, pela força de expressão, têm deteriorado lentamente o trato auditivo do espectador-ouvinte. É tanta estultice dita em péssimo português, que até se poderia chamá-los de genocidas gramaticais, pois são tantas as regras que infringem que mais parecem jamais ter tomado em mãos um livreto sequer para ler. Isso não se faz diferente dentro do meio evangélico. Muitos – na tentativa de levar a Palavra aos quatro cantos – não se importam com o jeito com que vão falar de Deus para os necessitados. É até plausível ver semianalfabetos ou recém-escolarizados a pregarem o Evangelho, mas não é compreensível que depois de tantas bênçãos, não se sintam na necessidade de dar o seu melhor Àquele que merece o nosso 'extraordinário'. Deus quer (com certeza) corações sinceros no Ministério, contudo, sendo Ele Deus de Maravilhas, não mereceria o nosso melhor? Certamente é a resposta.

Nos púlpitos, Brasil afora, embora não se esperem doutores em Letras ou oradores em excelência, têm-se visto muitos blá-blá-blás desordenados, confusos e, até mesmo, absurdos, como: "Os irmãos têm que dizimar Deus..." – e acrescentam para confirmar a súplica – "...em nome de Jesus."; coisa que pareceria normal, não se levando em consideração que jamais seríamos capazes de fazer o que se pede. Dizimar é um verbo ao qual se deve dar maior atenção devido à sua transitividade dupla. A regência do mesmo permite dizer: "Um psicopata dizimou toda uma família." ou, retificando a frase anterior, "Os irmãos têm que dizimar a Deus.", podendo ainda, analogamente, usar a locução dar dízimo(s) a, mais compreensível em se tratando de regência. Mas não pára por aí. Muitos outros despautérios se veem inclusive no discurso daqueles que deveriam esmerá-lo.

A boa passagem da informação depende da capacidade de retórica do comunicador e do seu conhecimento acerca das regras gramaticais da sua língua. Uma mesma informação pode ou não ser entendida por diferentes interlocutores e, ainda, ser invertida de sua lógica ou intenção a depender do que se fala. Uma simples preposição mal colocada pode desviar a via de compreensão, contradizer um discurso inteiro, negar uma verdade e – principalmente mais preocupante – transformar o certo em duvidoso.

Essas armadilhas podem, dentro do evangelho, trazer problemas para quem as arma, e para quem nelas cai. A fé vem pelo ouvir é bíblico; porém, com tantos oradores leigos por aí, a dúvida é que virá pelo ouvir. E crê-se que ninguém quer levar a culpa (mesmo que na sua própria consciência) pela condenação do outro. Também é bíblico que não se tomará por inocente aquele que puser ou tirar Daquele Livro um único "i" sequer. E isso não é impossível de acontecer tendo-se em vista a oratória de alguns 'homens-de-púlpitos'.

A arte da retórica não é um privilégio, é a consequência de uma preparação; podendo – dentro de outro ponto de vista – ser um dom dado pelo Altíssimo e usado para exaltá-Lo. Deus não quer homens-de-ciência, quer santificados. Ele espera desses o resultado da primazia que lhes confere. Um jeito bom de se começar a agradá-Lo é falando, apregoando a Palavra de forma adequada, livre de gafes e maledicências imperdoáveis (às vezes, até, inconsciente, porém que, com um pouco de estudo, podem ser evitadas). É isso.


Autor: Joel Carlos Santana Santos


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