Quando o Racismo e a Discriminação São Maiores que a Sensatez



Joel Carlos Santana Santos - 12/10/2003

Já não se encontram mais pessoas sensatas por aí. Já não se sabe, ao menos, o que essa palavra quer dizer. Aquele que sofre com a insensatez do outro age inconsequentemente igual devido a decisões não-nobres, impensadas e a conclusões mal-estruturadas. É muito comum ver negros maldizendo homossexuais, que em nada bendizem gordos, que excomungam mulheres, que difamam homens, que, por serem brancos ou pseudobrancos, se dizem melhores que os negros que maldizem os homossexuais...

É um ciclo vicioso infindo e insensato. Quem tem razão nisso tudo? O negro macho que não atura homossexual? O branco que não é tão viril e dotado como o negro, mas é superior a ele porque não foi escravo? O gordo que é homem e, não, pederasta ou negro, e vale lembrar: (graças a Deus) também não é mulher? Ou as mulheres que não são aberrações como os gays nem como os gordos e não são, tampouco, homens (que, a saber, nenhum presta.)?

Onde está a razão disso tudo?

Sou negro sim, mas não me misturo com bichas. O respeito, que não tiveram por mim e me fizeram injustamente de escravo, repito e digo: direitos justos e iguais. Sou homossexual (já me humilham os negros metidos a machões), pelo menos sou melhor que os gordos bizarros; e não me importa o que vão falar de mim: olho por olho, dente por dente. Sou gordo sim! Mas, pelo menos, não preciso estar debaixo do controle de um homem; já as mulheres (...) essas sim têm o que merecem; antes gordo que objeto. Sou mulher sim! E não um canalha qualquer, que – às vezes se torna pederasta – e (quando não) fica gordo e não dá conta do recado; sou mulher e sou branca com orgulho (os negros que me perdoem, mas Deus me livre!), faço o que bem entender e falo de quem quero. Sou homem, branco; fui criado para ser superior às fêmeas, às lésbicas, aos pederastas, aos negros, aos gordos e a todos aqueles que se puserem no meu caminho; sou o macho, não o objeto; sou eu quem comanda, decide o que é bom e o que é ruim, e decidi: só eu sou bom; as putas, esposas, negras, os gordos, homossexuais são todos ruins. Racismo, discriminação e prepotência? Tudo isso é besteira. A sociedade é assim: há quem perde e quem ganha; o que nasceu para sorrir e o que nasceu para chorar. Pensar em preconceito é mesmo besteira (é como se diz: beleza interior só é importante para os feios). Há que se pensar no comandante e no comandado. A vida é assim. Essa é que é a verdade!

A natureza humana não é assim. Isso é resultado do meio, das más influências. Mas, também, há uma pitada de mau-senso, mau-gosto, de mau-instinto, de maldade propriamente dita. Ninguém quer perder, ninguém quer ter o seu depredado. O feio é sempre o outro, aquele que é mais pobre que eu, que não tem o cabelo bom como o meu, cuja pele não é como a minha (é a raça impura). É como um espelho para Narciso. Seria isso uma espécie de defesa? Talvez, mas uma defesa inconsequente, que não pensa no outro como um ser igual. As pessoas se defendem atacando o outro. É o eu pelo eu, e o resto que se dane! O que fizeram a mim, seja lá em que circunstância tenha sido, tenho que passar ao próximo. É a lei do mais forte, em que sobrevive aquele que puder pisar o outro, humilhar, mostrar que é primaz. E a raça humana vai se sujando com a discriminação e um senso errôneo de superioridade e vai se mostrando desumana, irracional.

Quem ganha com isso? Não se sabe. Mas quem perde por certo é o bom-senso.

As pessoas já não se importam em amar. Tudo está banalizado. As nossas crianças já chegam ao mundo rodeadas de preceitos, conceitos e preconceitos. Um filho que cresce sabendo que é branco, porque a mãe (preconceituosa) trocou um rapaz negro de quem gostava por um branco e se vangloria por isso dizendo: "Se eu não tivesse casado com ele, você seria 'preta' do cabelo duro", jamais valorizará a amiguinha negra da classe. Uma adolescente que ouve do pai que aquele negro não é para ela. O que vai pensar? Os valores de hoje começaram errado nos tetravós e foram (e vêm) sendo passados de pai a pai. O ciclo vicioso é preocupante, todavia ninguém percebe o quanto. A sociedade tem estado doente. A cura para essa doença está na sensatez que cada um deve e pode ter. Porém, parece que os vírus do preconceito e da discriminação estão em permanente mutação e a vacina não faz efeito e vai sendo deixada de lado. Enquanto alguns tentam conscientizar as novas gerações de que somos iguais; outros pregam o contrário com atos, falas e pensamentos, e isso se impregna nelas e vai piorando, piorando, piorando e piorando. E nossas crianças vão se ver no direto de não querer entrar no transporte escolar, porque não querem sentar-se ao lado daquele negrinho, daquele índio ou daquele nordestino; nem meu filho pode se misturar ao coleguinha que tem Aids, ao que é deficiente físico ou ao que tem síndrome de Down, porque, sei lá, pode ser contagioso; aquela criança faz sozinho o trabalho que deveria ser feito em equipe, porque não é tão inteligente quando A e B; Aquele não entra aqui ou ali devido a estar mal-vestido ou a ser pobre; ou, mais absurdamente, essas pessoas devem morrer por se declararem ateus, agnósticos ou de uma religião qualquer que desagrade ao outro. Até que, um dia, vamos acordar para o mundo nefasto e inabitável que estamos criando e nos perguntar qual foi o erro disso tudo. E a resposta será: a nossa INSENSATEZ.

E, quando chegar a esse ponto, talvez já não seja mais possível voltar atrás e só Deus dará jeito.
Autor: Joel Carlos Santana Santos


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