A HISTORICIDADE E RELAÇÕES DE ESPAÇO ENTRE POVOS



Analizar as obras de autores que não só analizaram, mas vivenciaram a relação colonizador-colonizado nos abre um espaço imenso de opções para discutir o "ponto de vista", "opnião", "olhar" ou de modo mais ciêntífico o "discurso" sobre as temas previstos acima. A construção desse discurso interessa-nos na medida em que articula um modo de pensar a Nação como uma pluralidade, em oposição à idéia de unidade, ocupando um lugar de enunciação que rejeita as categorias puras e elege o híbrido. A partir da perspectiva teórica de Homi Bhabha, se pode refletir sobre esse a alteridade que Frantz Fanon analisa em sua obra que se oferece como uma possibilidade de ilustrar uma nação com muitas facetas, visto de diferentes e ricas perspectivas: "o olho mais fiel pode ser aquele da visão dupla do migrante", afirma Bhabha a esse respeito. O conceito de identificações, neste sentido, parece-nos bastante eficiente, uma vez que dá conta dessa realidade impura em que se situam as raças no espaço. Ao contrário das noções que estariam embutidas na idéia de identidade, ou seja, Cada pessoa traz uma herança cultural significativa, experiências e práticas, valores, características e formação específica para o exercício de suas funções e para o viver de sua própria existência, e isso determina a comunicação que trava no seu cotidiano, em todos os níveis e dimensões. Estamos falando de relações que se dão entre sujeitos que decidem construir contextos e processos de aproximação, de conhecimento recíproco e de interação. Relações que produzem mudanças em cada indivíduo, favorecendo a consciência de si e reforçando a própria identidade. Sobretudo, que promovem mudanças estruturais nas relações entre grupos.

O ponto de partida para a discursão da históricidade da localização de espaço pela identidade é a observação do local de fala por quem está discursando sobre o assunto. A princípio duas obras são de se destacar: Pele negra, mascaras brancas de Frantz Fanon e O locli da Cultura de Homi Bhabha.

A obra Pele negra, mascaras brancas foi escrita em 1952 e causou um enorme impacto quando foi publicada. Tornou-se uma grande referência para os movimentos anticolonialistas no mundo e, também, para os movimentos Black Power, Black Panthers e outros movimentos civis americanos que viriam a surgir nos anos 60.

"Frantz Fanon nasceu na Ilha da Martinica em 1925. Morreu jovem, aos 36 anos, de pneumonia, nos Estados Unidos, à espera de tratamento para leucemia. Mas a sua curta vida foi extremamente proveitosa: estudou psiquiatria e filosofia na França, dirigiu o Departamento de Psiquiatria do Hospital Blida-Joinville, na Argélia, e participou da Frente de Libertação Nacional. Foi também membro das forças de resistência na África e na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial. Produção – Além de Pele negra, máscaras brancas, Fanon escreveu mais quatro livros, dentre os quais Os condenados da terra (Les Damnés de la Terre), de 1961. O comentário já dá conta da turbulência que seu pensamento produziu nas décadas de 1960 e 1970. A principal crítica de Fanon é a negação do racismo contra o negro na França, o que também acontecia e acontece em grande parte do mundo moderno. O tema continua atual, principalmente no Brasil, cuja idéia de identidade nacional é sustentada por uma pretensa harmonia entre três raças. Mas não é apenas neste tema, por si só extremamente capaz de dar panos para mangas, que Fanon envereda. Ele mexe em outros vespeiros, como o de que a negação está presente também em muitas pessoas negras. Ele não considera todo mundo racista, mas examina o problema em seus mais variados níveis além de se debruçar sobre o campo da construção do conhecimento".

Pele negra, mascaras brancas revoluciona a visão do mundo sobre temas ao redor do préconceito, pois é a visão de um negro, capacitado e com ferramentas para analizar a cituação do ambiente para o negro. Fanon ratifica nesta obra a visão do negro, mas não defende que nenhuma cultura é jamais unitária em si mesma, nem simplesmente dualista na relação do Eu com o Outro. Não é devido a alguma panacéia humanista que, acima das culturas individuais, todos pertencemos à cultura da humanidade; tampouco é devido a um relativismo ético que sugere que, em nossa capacidade cultural de falar sobre os outros e de julgá-los, nós necessariamente 'nos colocamos na posição deles', em um tipo de relativismo da distância sobre o qual Bernard Williams tanto escreveu (Bhabha:1998:65).

Ao tratar da cultura, não basta constatarmos as diversas revelações "problemáticas advindas da convivência humana; cumpre-nos interpretar profundamente a multirreferencialidade dos problemas e das nossas diferenças, visando ao alcance, o mais possível, do entendimento que buscamos. Para enfrentar tal desafio, não é possível estar só porque, pelo olhar do outro, enxergamos e nos conhecemos melhor. Cabe-nos, cada vez mais, voltar o nosso olhar não só para a nossa própria identidade ou para as nossas múltiplas identidades que estão sempre em processo, mas para as identidades dos outros sujeitos e grupos com os quais convivemos. Se isso acontece na dimensão da vida de cada pessoa, o mesmo se dá quando olhamos para as relações estabelecidas no âmbito grupal" (Antunes, Ângela e Roberto, Paulo). O conceito de contingência é um dos mais interessantes operadores postos em movimento por Homi K. Bhabha em seu livro (O local da cultura). O termo, que atravessa toda a história da filosofia, adquiriu grande destaque nos estudos pós-colonialistas e constitui uma das bases da argumentação do teórico indiano. Bhabha, a partir da afirmação de que a perspectiva pós-colonial resiste à busca de formas sólidas de explicação,ele propõe lidar com a cultura como produção irregular e incompleta de sentido e valor. Vista assim, toda agência é uma atividade do contingente e o agente passa a ser uma forma de retroatividade, ou seja, não mais o autor ou o sujeito de um "efeito" coletivo e sim algo que está se construindo na prática da ação, como na colocação de Franz Fanon. Assim resumida da estrutura curvilínea de sua argumentação em O local da cultura, a proposta de Bhabha deixa entrever um aspecto concludente de sua teoria Pensar a cultura no âmbito da "contingência" exige abandonar "oconceito de cultura enquanto totalidade de conteúdos canônicos"Bhabha define sua visão da cultura como "a produção desigual e incompleta de significação e valores, muitas vezes resultantes de demandas e práticas incomensuráveis, produzidas no ato de sobrevivência cultural".Então, a tendência irresistível é pensá-la como um bloco fechado e resistente à negociação, principalmente pela identificação de cultura com espaço nacional. Os estereótipos e preconceitos que precisam ser levados abaixo só vão ter fim quando a cultura colonizada impor sua identidade e se abrir a outras. Um exemplo na música brasileira que representa, neste caso, uma sociedade ou comunidade fazendo apologia a mistura de raças. Como podemos perceber abaixo em trechos de músicas cantadas pela banda O Rappa que vêm como exemplo de resistência cultural a importação e exportação de cultura, ou seja, contra a mistura de raças.

...Branco, se você soubesse o valor que o preto tem. Tu tomava um banho de piche, branco e, ficava preto também.E não te ensino a minha malandragem. Nem tão pouco minha filosofia, porquê? Quem dá luz a cego é bengala branca em Santa Luzia.(Paulinho Camafeu)

Em outra se percebe a estratégia contrária: a busca uma pela transculturação entre negros e brancos.

O Homem Amarelo do Samba do Morro Do Hip Hop do Santa Marta Agarraram um louro na descida da ladeira Malandro da baixada em terra estrangeiraA salsa cubana do negro oriental Já é ouvida na central Que pega o buzum, que fala outra língua Reencontra subúrbios e esquinas É o comando em mesa de vidro Que não enumera o bandido Eu e minha tribo Brincando nos terreiros Eu e minha tribo Nos terreiros do mundo Só misturando pra ver no que vai dar Só misturando pra ver no que vai dar Só misturando pra ver no que vai dar.(O Rappa)

A proposta de Bhabha e Fanon é abrir um link para outras culturas e pedir um descolamento das duas noções, substituindo ou suplementando a determinação geopolítica com uma série de posições possíveis do sujeito, como raça, gênero, geração, orientação sexual, etc., pois este tipo de bloco fechado não elimina os esteriótipos da marginalização apenas deixam as coisas como estão e a verdadeira mudança de conceitos de uma sociedade só ocorre quando o sujeito colonizado decide expor sua opnião e sua visão sobre os atos sofidos mostrando, assim, crítério avaliativo e crítico sobre os fatos e, conceqüêntimente, a tão sonhada identidade. .

Referâncias:

BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005. 395 p.

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Rio de Janeiro, Fator, 1980.

<http://sachisachisachi.wordpress.com/2008/10/15/pele-negra-mascaras-brancas/>

<http://letras.terra.com.br/o-rappa/47770/Composição: Paulinho Camafeu>

REVISTA DA ANPEGE <http://www.anpege.org.br/downloads/revista2.pdf#page=103>

Antunes, Ângela e Roberto, Paulo Padilha O EU E O OUTRO COMPARTILHANDO DIFERENÇAS, CONSTRUINDO IDENTIDADES


Autor: Paulo Afonso dos Angelos Júnior


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