Além do Fim



- Ahhhhhhhhhhhhhh!

Plaft!

- Ouch!
- Mais um – Diz uma voz.
- Onde eu estou?
- Levante-se, rapaz.

Ele se levanta e olha em volta. Se lhe pedissem para dizer que lugar era aquele, diria que era a descrição de sombrio.
- Qual é o seu nome? – O homem que pergunta (homem?) é uma espécie de animal escamoso com chifres.
- Lufus, eu acho. Onde eu estou?
- Está nas trevas, lugar chamado por alguns de Inferno.
- Onde eu estava antes?
- Deveria estar em Al’Sena, é para onde vocês vão logo que nascem.
- E como caí aqui? Eu morri?
- Assim que crescem todos os demônios vem pra cá.
- Demônios?
O animal aponta para um curso d’água. Lufus vai até a margem. A água estava totalmente parada, era azul escura, tão escura que era quase negra. Lufus se viu refletido nela, se fosse um espelho não estaria tão nítido. Era muito belo, podia reconhecer isso, parecia ser um humano comum, até perceber que havia uma coisa preta nas suas costas, eram asas. Com um susto ele recua para trás e olha novamente para o animal que o observa.
Depois de passar a surpresa olha novamente. Eram asas grandes de morcego. Ele tentou movimentá-las. Teve uma sensação estranha quando as esticou desajeitadamente. Olhou para as suas mãos e elas tinham garras. Procurou um rabo, escamas ou um chifre como do outro demônio, não achou mais nada de inumano. Ficou se fitando no reflexo um tempo, sua íris ficou vermelha e sua pupila se contraiu verticalmente como a de um gato.

- Porque quase pareço um humano? – Pergunta Lufus ainda se vendo.
- Porque você é um Incubus.
- Não sei se sei o que isso significa.
- É a sua raça, há várias raças de demônios.
- Mas eu posso mudar minha aparência, da mesma forma como mudei meu olho?
- Sei que está meio confuso, todos sempre estão, e é por isso que você tem de ir falar com Seth.
- Quem é Seth?
- Siga esse curso d’água naquela direção que você encontrará a moradia dele, ele é um Corruptor e o trabalho dele é explicar as coisas.
Lufus olha e vê o demônio apontando ao horizonte.
- Corruptor?
- Vá até lá - O demônio se senta numa cadeira de pedra.
Lufus vai.

***

Uma construção de pedra se erguia à margem da água. Não era muito grande. Havia um símbolo macabro em cada um dos lados do portal de entrada.
Entrando, Lufus viu um demônio sentado numa poltrona de pedra. Este estava escrevendo num papel velho com uma pena. O lugar era um cômodo só, grande e redondo, com objetos estranhos espalhados. Uma espécie de cama ficava ao fundo. Não tinha portas ou janelas e as paredes estavam cheias de quadros e papéis. As duas únicas cadeiras estavam em frente à mesa, onde a criatura escrevia. O local era iluminado de forma misteriosa, pois não existiam entradas para a luz, nem lâmpadas ou velas.

O demônio pareceu não perceber a presença de Lufus, que diz:
- Sabe onde posso encontrar o Seth?
- Sou eu – Ele solta a pena e olha para o visitante.
- Me disseram para vir até aqui.
- Eu sei, sente-se.– Seth aponta para uma das cadeiras.
Lufus obedece.
- Ultimamente estou tendo muito trabalho. Parece que nossas raças estão se proliferando.
Seth era bem assustador, porém nem tão feio como o outro. Não tinha aparência de humano, mas também não era muito monstruoso. Seu rosto era comprido assim como seu nariz, suas orelhas eram pontudas. Era azul e tinha um rabo que ficava mexendo sobre sua cabeça. Seus braços eram magros e não tinha garras, se vestia com roupas velhas e batidas.
- Qual seu nome? – Pergunta ele.
- Lufus.
- Sabe quem são seus pais?
- Não.
- Então você não é um Lorde, quem nasce um se lembra.
- Então sou o que?
- Não sei, tenho de saber sua descendência ou conhecer seu poder.
- O que é um Corruptor?
- É uma casta, aquele idiota andou me chamando de Corruptor de novo não é? Pois fique sabendo que sou um Lorde!
- Você nasceu sabendo de tudo?
- Eu não nasci Lorde, e os que nascem não sabem de tudo, mas se lembram dos seus pais.
- Estou muito confuso, não me lembro de nada antes de chegar aqui.
- Al’Sena é assim mesmo, vou lhe explicar:
“Assim que um demônio nasce é mandado pra lá. Você não fica em um estado muito consciente, mas aprende tudo do básico: aprende a falar, andar, fazer contas, o que é uma cadeira, o que é um humano, etc. Porém não aprende todos os detalhes, ou seja, você vem para cá como se tivesse sofrido uma amnésia, não sabendo quem é, não lembrando de seu passado, mas entendendo as coisas perfeitamente, não ficando como um bebê”.
- Mas porque não aprendemos tudo lá?
- Nós vamos pra lá recém-nascidos, não dá pra aprender tudo. Fora que não conseguimos desenvolver nem aplicar nossos poderes lá.
- Poderes?
- Você vai descobrir os seus, você já está pronto. Quando um demônio chega aos 21 anos, completa a maturidade e vem para cá, agora você envelhece muito lentamente.
- Vou morrer um dia ou vou ficando velho infinitamente?
- Chega uma hora que você estaciona, nunca chegamos a ficar velhos, dependendo da raça você mal sai da juventude. Incubus como você são sempre novos, param em uns 25 anos aparentes.
Seth se levanta.
- Mas você pode ser assassinado, aí você morre. Agora venha comigo.

Eles vão pra fora. Seth traz um cachorro numa coleira e uma gaiola com um macaco.
- Vamos treinar seus poderes
- O que vou ter que fazer?
- Manipulação, com você é um Incubus isso vai ser fácil. Vamos ver se você tem poderes de ampliação.
- Como assim?
- Demônios têm habilidades para aumentar poderes, isso nos faz bem destrutivos.
Seth tira a coleira do cão
- Tente fazer com que ele sente, deite e role.
- Como faço isso?
- Tente, no fundo você sabe.
Sem saber ao certo o que fazer Lufus aproxima-se do cachorro, olha para os olhos dele. O animal começa a mostrar os dentes, entende a encarada como um desafio. Lufus continua a olhar fixamente.
- Senta! – Ordena
O cachorro se abaixa na pata esquerda.
- Deita!
Ele obedece
- Rola!
O animal rola para a direita.
- Pronto
- Muito bem, agora tente com o macaco. – Ao dizer isso ele abre a gaiola.
- Quer que ele faça a mesma coisa?
- Não, quero que o hipnotize.
- Eu posso fazer isso?
- Vai ter que ampliar sua manipulação. Treine que você consegue, depois treine Ampliação de Força e Ampliação de Resistência. Chegou outro demônio, preciso atendê-lo, depois volto para ver se conseguiu.
Ele vai.
Autor: Raphael Moreira Zinsly


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