EDUCAÇÃO: QUEM REPROVA QUEM?



As últimas notícias sobre Educação nos dão conta de um fato assustador e inusitado: professores que deveriam ensinar não têm conhecimento suficiente para o exercício da profissão. Está provado. Com prova, segundo a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo ou com a “provinha”, como se refere a APEOESP. O fato está lá, gritante. E se tomarmos por base os percentuais indicados por Gilberto Dimenstein – 40% de 48 mil professores com nota menor que 5 e destes, 2019 com nota zero – e aplicá-los ao Brasil, concluiremos que o dragão que nos assusta agora é o da Educação. Ou nós o atacamos ou morreremos em breve. Num cálculo superficial, imagine 2019 professores educando, em média, 30 crianças em cada sala de aula. São 60.000 alunos que, com toda certeza, não terão suas habilidades desenvolvidas para viver bem na sociedade que remunera estes profissionais. Multiplique as 30 crianças pelos 20.000 professores que tiraram nota inferior a 5. São 600.000 crianças com uma educação totalmente comprometida. O número é alto. Muito alto. Não conheço o conteúdo da prova mas, acredito que a atitude da APEOESP de minimizar e menosprezar o instrumento é, no mínimo, imoral. O instrumento deve ser usado a nosso favor. É obrigação sim dos sindicatos e associações profissionais defender até o último empregado e seu emprego. Esta é uma atitude solidária. Mas, agora e neste caso, não é uma atitude política digna de respeito. É preciso atacar o problema por todos os lados e também os governantes que insistem em não priorizar a Educação e transformá-la em política de Estado. É claro que a experiência profissional conta, como alega a APEOESP, e com razão estes profissionais não podem ser “descartados com base numa ‘provinha”. Até mesmo por que, creio eu, não acharemos profissionais no mercado que possam substituí-los à altura. Se vasculharmos os concursos públicos para professores de canto a canto do país veremos o nível das pessoas que se apresentam para ocupar uma cadeira docente. A maioria é como eu, oriundos da classe mais pobre deste país e que estudou a duras penas numa escola pública de baixa qualidade. Melhoramos nosso nível de educação e renda em relação a nossos pais mais pelo esforço individual do que pela qualificação oferecida nas escolas e universidades, inclusive federais. Ao falarmos de uma educação de qualidade, devemos sempre ter em mente que o primeiro foco deve ser o professor. Ele deve ser bem cuidado desde o momento que manifesta este desejo. Deve ser incentivado desde a universidade, quando opta pela licenciatura, a investir o seu potencial intelectual na pesquisa e no exercício da profissão. Remunerar o estudante, mesmo que indiretamente, através da distribuição de benefícios que não são caros para a sociedade: livros, muitos livros, pesquisa, transporte, alimentação, etc. E salário. Bons salários para os já formados. Salários atraentes para os melhores alunos. Porém, dá-se o contrário. Freqüentamos cursos noturnos de baixa qualidade, sem a devida fiscalização do MEC, com currículos antiquados e bibliotecas empobrecidas. Enfrentamos um cotidiano de trabalhadores braçais, sem tempo para o estudo e com preocupações ligadas às nossas necessidades mais básicas e à noite seguimos cansados para a escola. Mesmo assim, confiam-nos salas de aulas e exigem uma reviravolta na educação do país. Claro que não haverá reviravolta. Fecham-se faculdades de medicina e direito mas não fecham as de educação que formam maus professores. Deparamos com anúncios em jornais e sítios na Internet que vendem, a preço de xepa, dissertações e monografias aceitas como conclusão de cursos presenciais que nunca aconteceram. E não temos visto intervenção estatal pesada nessas universidades. O problema é estrutural. No caso de São Paulo, onde já há uma constatação, deve o Ministério Público intervir negociando um Termo de Ajuste de Conduta exigindo de todos maior empenho na formação continuada. Da parte do Estado financiando, a custo zero para o professor, porque isso é investimento que deveria ter sido feito e não foi; da parte do professor voltando para a escola e repensando a sua prática e teorizando a sua experiência; da parte da universidade fazer o que não foi feito: dar boa formação. Caberia aos Sindicatos apenas uma obrigação moral: organizar a categoria para exigir não apenas uma formação continuada de qualidade, mas uma formação inicial de qualidade para todos os que querem ingressar nesta carreira e mudar o mundo. Isso sim é organizar o trabalhador para ser vanguarda.
Autor: Dalvit Greiner


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