Fundamentos da Educação Física



"A menina tem 5 anos, é tímida e insegura, fala pouco, não se reconhece no espelho, não nomeia partes do corpo, nem as dos colegas".
Seu desenho é sempre sem clareza e sua professora reclama de sua distração e desorganização, ademais, não tem vontade de participar das atividades que envolvam habilidades e destrezas. Não tem noção de ontem, de hoje e amanhã.

Neste contexto, foram elaboradas três atividades que venham a ajudá-la a se organizar melhor, após ter detectado suas dificuldades. 'A menina deverá ser trabalhada para conseguir desenvolver a construção do EU, bem como, todas as habilidades denotadas no exemplo'. O exemplo será designado de X.

Ao brincar no pátio com seus colegas é possível perceber pouco domínio dos movimentos amplos. "Esses fatores, se não forem considerados poderão se tornar um déficit em todo o desenvolvimento".

Visando resolver essa problemática, há de se abordar o conceito de psicomotricidade - a associação psico/afetivo/motor e a busca permanente da superação do equilíbrio ; do inferior para o posterior. Ainda vale destacar a psicomotricidade como a edificação pessoal e social no desempenho da identidade e autonomia (a formação do seu "eu"), onde a criança tem consciência de seu corpo e das possibilidades de se expressar através deste "instrumento". (ALVES, 2003).

Neste sentido, fazendo um paralelo do enunciado acima com as idéias delineadas na disciplina "Fundamentos da Educação Física", pode-se esquadrinhar os conceitos de (ALVES , 2003), calcados em Wallon. A autora enfatiza que na fase dos 3 a 8 anos o momento das aprendizagens essenciais coincide com a relação progressiva sócio-histórica-cultural.

Esse fator denota que na escola, a psicomotricidade tem que ser ampliada em atividades criativas onde a criança de aprendizagem lenta terá que ser conduzida por educadores que decodifiquem os significados de suas expressões e oscilações, respeitando e auxiliando em todas as suas indigências.
Ponderando os conceitos de (ALVES, 2003), no caso X; a menina precisa se sentir segura para ter vontade de arriscar, assim, ela gradativamente conceberá os conhecimentos acerca de si mesma, dos colegas e do meio em que vive.

Pretensamente, de acordo com minha prática docente assevero que casos semelhantes não são fictícios e muito menos restritos. Muitas crianças na fase de 5 anos, embora, visivelmente "normais" acarretam dificuldades para esboçar a primeira escrita (desenhar) , brincar de roda com os colegas, ou pular amarelinha, expondo problemas muitas vezes ignorados e que intervêm transversalmente em todo o processo de aprendizagem.

Para sanar tais problemas, é preciso maior alvedrio dos movimentos, interação nas afetividades, exploração do espaço físico, percepção rítmica e desenvolvimento da coordenação motora fina . Destarte, esses aspectos se bem trabalhados previnem seqüelas que se distendem para a vida adulta, como por exemplo, a dificuldade em aprender a dirigir ou simplesmente organizar objetos pessoais. Neste contexto, os educadores devem colocar em prática atividades que utilizem as brincadeiras e que integrem fatores físicos, psíquicos e socioculturais.

Para tanto, a atividade de esquema corporal; "Esculturas", denotada por (ALVES, 2003), se encaixa adequadamente na busca de possíveis soluções para o caso X:

O educador pede para formarem duplas, depois, para que passem as mãos pelo seu corpo, explorando todas as partes, em seguida que façam o mesmo no parceiro. Após esse reconhecimento pedir que esculpam com massa ou argila o seu corpo e o do colega.

Visando soluções - a atividade em questão ajudaria no reconhecimento do esquema corporal, assim como, na construção da afetividade, haja vista, que o contato tátil com o outro favorece a troca e o envolvimento entre as partes.

Ainda dentro das propostas de (ALVES, 2003), é imprescindível utilizar a atividade da "Adivinhação": Brincar de "o que é, o que é", perguntando o que fica em cima do pescoço, o que fica entre o pé e o joelho, etc. instigando a criança a designar as partes de seu corpo e as dos colegas. O passo seguinte é juntar as partes do corpo de um boneco num "quebra-cabeça", depois pedir para que desenhem uma figura humana parte por parte.

Buscando respostas – a atividade ajudaria nas denominações das partes do corpo, ademais, ao montar o "quebra-cabeça" em seqüência despertaria a noção temporal; isso dependendo da abordagem e adaptação do educador. Um bom exemplo seria chamar a atenção da criança dizendo: Primeiro a cabeça, depois o corpo e por ultimo as pernas, associando com: Primeiro vem ontem, depois é hoje e por ultimo é amanhã.

A questão da falta de organização e dificuldade no que concerne ao conhecimento espacial no caso X, seria trabalhada tanto no "quebra-cabeça" como no desenho da figura humana. As duas atividades demandam empenhos para delimitar o espaço, construindo e desenvolvendo desse modo, a aprendizagem- o conhecimento espacial.

Delineando agora atividades propostas pelas autoras (ALMEIDA E PASSINI, 1989), e relacionando-as com o caso X, pode-se ressaltar o "banho de papel":

Cada aluno recebe uma folha, a professora pede para fazerem de conta que vão tomar banho e ir relatando os movimentos que vão fazendo de tirar a blusa, meia, calça, etc. Depois o educador pede para fingirem abrir o chuveiro e amassarem o papel para fazer de bucha, esfregando as partes do corpo sob seu comando, assim:

Esfregar a cabeça, esfregar o pescoço, esfregar o braço direito; etc. Depois os educandos devem desamassar o papel e imaginarem ser uma toalha para secar o corpo, deste modo:

Enxugar a cabeça, enxugar o pescoço, enxugar o braço esquerdo; etc.

Esta atividade por empregar estimulação tátil, leva a criança a experimentar, guardar em sua memória corporal as partes e lados do corpo, sendo uma dissolução plausível para o caso X.

Outra atividade sugerida pelas autoras (ALMEIDA E PASSINI, 1989) , no que concerne a psicomotricidade é a do "mapear o eu", servindo de um recurso provável para o caso X;

O educador deve separar os alunos em duplas e pedir para mapearem o "eu"; auxiliando também na demarcação do contorno do corpo em papel manilha. Em seguida, colocar um barbante na testa de cada criança delimitando as lateralidades e uma marca de giz na mão direita. Após identificar os lados do contorno, dar o comando para que pulem no ombro direito, no joelho esquerdo, etc. Repetir a atividade de forma espelhada, ou seja, o aluno fica em pé sobre os pés do contorno e desse modo seu braço direito representa o esquerdo, por exemplo, como todas as outras partes.

Realizar depois dessas atividades um painel e uma roda onde cada aluno fala de si, de seu nome, o que mais gosta de comer, sua cor preferida, etc. colocando a criança como sujeito do desenvolvimento, preparando-a para ser participante e não uma receptora passiva.

Vale lembrar, que as elaboradoras da atividade realizam a interdisciplinaridade na junção; expressão oral/esquema corporal.

Voltando ao caso X, esta atividade terá a finalidade de trabalhar a psicomotricidade em sua amplitude, auxiliando a menina de 5 anos a adquirir destreza nas habilidades motoras, ao pular nas partes do contorno, concentração e expressão oral na apresentação na roda, edificando o seu "eu" e superando a insegurança. Ademais, o mapeamento em dupla além de proporcionar o autoconhecimento, tem também o objetivo de conhecer os elementos que compõem o grupo social do aluno.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA , Rosangela Doin e PASSINI, Elza Y. O espaço geográfico, ensino e representação. Editora Contexto 15ed. São Paulo SP, 2006.

ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. "Psicomotricidade e desenvolvimento infantil". Editora Wak, Rio de Janeiro RJ, 2003.
Autor: Luciana Carvalho Morsani


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