Tributo à maldade alheia



Tributo à maldade alheia

(by Lucia Czer) 

     Caminho a passos largos, não sinto frio ou calor, não sei se é cedo ou tarde... É como se estivesse morta.

     O rapaz, grande e desajeitado, apressa-se para me alcançar. Seu olhar traduzindo o mal estar. Meio esbaforido, diz em voz baixa e contida:

      “-A senhora me desculpe, me perdoe... Eu não queria... A senhora sempre foi legal comigo...”

     Refere-se à cena anterior onde foi pivô de uma discussão.

     Vejo seu embaraço e aceno com a mão, sem falar, como a dizer que não tem importância. E, realmente, que importância tem? Ele não tem culpa. Ou tem? Talvez sua culpa seja ser um fraco. É só mais um coitado.

     Eu desculpo, perdôo. Nada mais importa. Levo a vida como a cumprir agenda. Ofensas, palavras mal ditas, maldades, já não me alcançam. Estou fria. Nem ódio nem rancor, só frieza. Frieza e extrema solidão.

     A multidão passa e eu me perco no meio dela. Sou apenas sombra. Já não sinto nada. Afinal, não tenho alma.

     Os passos me levam a lugar nenhum, sou sombra ambulante, corpo vazio, vulto que vagueia no nada. A ingratidão atingiu-me como arma feroz e letal, tirando-me a esperança e a expectativa dos amanhãs.

     Não há mais amanhecer ou cair da noite, apenas vácuo. Sou pó, sem forma, sem cor, sem gosto, sem dor.

     Mergulho na escuridão. Minha carne alimentando os vermes.

     No ombro, impassível, equilibrando-se o urubu me acompanha aguardando o derradeiro desfecho.


Autor: lucia czer


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