A PREDOMINÂNCIA DA SINESTESIA E DO VISUAL NO POEMA “TORNOU-ME O PÔR-DO-SOL UM NOBRE ENTRE OS RAPAZES” DE SOSÍGENES COSTA



A PREDOMINÂNCIA DA SINESTESIA E DO VISUAL NO POEMA “TORNOU-ME O PÔR-DO-SOL UM NOBRE ENTRE OS RAPAZES” DE SOSÍGENES COSTA

 

Givaldo Souza Dantas
Graduando em Letras Vernáculas pela UNEB
Campus XXII - Euclides da Cunha - Bahia

 

RESUMO

Este artigo pretende analisar no poema “Tornou-me o pôr-do-sol um nobre entre os rapazes”, do baiano Sosígenes Costa, a presença da figura de linguagem sinestésica e a percepção visual, a partir da qual o autor demonstra sua sensibilidade e criatividade artística na composição poética, através do confronto de múltiplas cores, aromas, sons e dos elementos naturais que permeiam incessantemente sua obra.

 

Palavras-chave: cores, visual, sinestesia

 

  1. INTRODUÇÃO

 

        Sosígenes Marinho Costa, grande poeta baiano, nascido no início do século XX, no interior da Bahia, especificamente em Belmonte, aos 14 de novembro de 1901, vindo a falecer em 5 de novembro de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, tornou-se nome de grande relevância na literatura baiana.

        Sua obra é marcada pela indeterminação estética entre Simbolismo e o Modernismo. Como exemplificação do modelo simbolista, estão os sonetos “pavônicos”, feitos de uma criatividade sem medida do autor, que demonstra a sua imaginação fertilíssima.

        O fato de Sosígenes Costa também ter “passeado” na corrente literária modernista (vale ressaltar que o mesmo pertenceu ao grupo de pioneiros do Modernismo na Bahia), o fez produzir uma poesia que se aproximava da segunda fase do Modernismo, sendo seu poema épico-regionalista “Iararana”, o mais destacado dentro da corrente literária.

        É relevante destacar que sua obra permaneceu um pouco na obscuridade. Sobre esse fato o crítico e poeta José Paulo Paes credita ao próprio Sosígenes Costa, que sempre resistia aos conselhos de amigos para publicar seus versos. Aos amigos Zora Seljan e Antônio Olinto atribuem-se a iniciativa do autor publicar “Obra Poética”.

 

  1. SOSÍGENES COSTA E AS SINESTESIAS

 

        Várias temáticas e aspectos importantes perpassam pelas obras deste  poeta baiano através de uma criatividade tamanha, que José Carlos Teixeira Gomes sentencia “poesia altamente criativa e artística”. Entretanto aqui serão destacados a preponderância da figura lingüística sinestésica e o visual no seu poema “Tornou-me o pôr-do-sol, um nobre entre os rapazes”.

        Observa-se em toda a sua obra a insistência do autor em revelar suas sensações visuais, mostrando aos leitores um universo multi-cromático ilimitado.

Sobre esta característica importante de Sosígenes Costa, salienta Florisvaldo Mattos:

 

De fato, em certos momentos, um impressionante desfile de luzes, cores e matizes vários catapulta a poesia de Sosígenes Costa a elevadas paragens de uma apoteose ótica, parecendo que, ao redigir seus poemas em vez de caneta ou lápis, o poeta está a manejar pincéis, tantas reverbações e as combinações com que as cores básicas- o amarelo, o azul, e o vermelho em todas as suas gamas, se despejam sobre amplos espaços, inundam seres e coisa produzindo efeitos e potencializando significados.(MATTOS, 2004: 39)

 

      

        Ao analisar o poema sosigeano “Tornou-me o pôr-do-sol um nobre entre os rapazes” uma verdadeira avalanche de imagens sensoriais. Esta característica de Sosígenes Costa evidencia-se nos versos abaixo:

 

Queima sândalo e incenso o poente amarelo

Perfumando a vereda, encantando o caminho

                                                                  (p. 97)

 

        O autor frisa a cor do poente (amarelo) e em seguida faz o leitor imaginar o aroma produzido pela queima do sândalo, mesclando a percepção visual e olfativa. Esse entrelaçamento da representação de diversos sentidos permeia grande parte dos poemas sosigeanos, onde nota-se mais ostensivamente a presença das sensações óticas secundadas pelas olfativas.

Tudo é doce e esplendente e mais triste e mais triste e mais belo

(p. 37)

 

        Neste verso os dois sentidos (gustativo e visual) se conjugam perfeitamente: doce (gustação) e esplendente (visual), transmitindo o conteúdo de um fato acontecido na ordem natural e pessoal.

        As cores trazem um belo colorido à poesia de Sosígenes e revela sua opção no trabalho contínuo com a diversidade de cores, preponderando a constante utilização do aspecto ótico do autor, que transporta seus leitores e ouvintes para um mundo cromático, de êxtase visual.

 

[...]

Encanto! E eis que já sou dono de um castelo

de coral com portões de pedra cor de vinho

 

[...]

Entre os ases da flora, os meus lírios lilases.

Meus pavões cor-de-rosa, os únicos do mundo.

 

        A partir desses versos, nota-se a presença insistente do universo cromático: “cor de vinho”, “lilases”,”cor-de-rosa”, que instigam a percepção visual do leitor, destacando oportunamente seu pavão fictício “cor-de-rosa”, entre os demais que convivem em poemas diversos:dourados, azuis, vermelhos.

        O autor através de pinceladas da sua imaginação, nutre, segundo Mattos(2004), “o desejo de erguer uma nova idade de ouro da natureza”, nos quais a cor amarela salienta-se, avassalando espaços. Observa-se a presença deste tom, no verso abaixo, sendo denominado por Mattos de “ditador ótico”.

 

Queima sândalo e imenso o poente amarelo.

 

        Há por parte do autor, uma idealização paradisíaca através de incessante enumeração de pedras e metais preciosos da natureza, expressando o mundo exterior paralelamente à sua vida íntima e pessoal.

 

Encanto! E eis que já sou dono de um castelo

de coral com portões de pedra  cor de vinho

 

         Florisvaldo Mattos, resume um pouco da capacidade de Sosígenes Costa:

Anotando essa particularidade cogitei vislumbrar a relação que se poderia estabelecer entre esse procedimento do poeta e o universo de criação plástica, tão flagrante era sua preferência cromática, evidenciada na discricionária supremacia da visão em relação aos demais sentidos, liderança que somente se vê ameaçada pela relativa concorrência das sensações olfativas, quando a sinestesia, no jogo metonímico, ao lado ou em vez de cores, privilegia o aroma, seus perfumes, suas variadas fragrâncias.(MATTOS, 2004: 42-43)

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

        A obra do poeta  Sosígenes Costa, mostra-se, através dos seus poemas, aguçados olhares, variedades, êxtase sensorial que transporta o leitor a um mundo multi-cromático , repleto de sensações e temáticas distintas, numa criatividade artística que lhe é particular.

        Muito ainda há para se descobrir na arte do poeta, merecendo, abordagens, estudos, numa visão isenta de preconceitos estáticos, literários ou políticos-culturais, desse que foi depois de Castro Alves, importante nome na literatura baiana e brasileira.

 

 


Autor: Givaldo Souza Dantas


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