Chuva Molhada



Atravessei um dia desses uma rua, eu fazia um enorme esforço para não pisar nas poças ali deixadas pelo temporal que caíra, eu não sei por que justamente esse dia tão triste tinha que chover, e lutava contra a minha capa de chuva para não deixar molhar os meus livros. A ruela ficaria mais estreita se eu as olhasse pela ponta dos meus pés, o trânsito estava um caos e observei as pessoas dormindo acordadas com desesperos pelos pingos de chuvas.

Pisando no meio fio para fugir da lama que se acumulava ao redor eu achei melhor parar em algum banco de alguma praça, a primeira que eu avistasse. Passei em um supermercado e meu rosto ficou avermelhado de timidez quando pedi uma sacola plástica à moça, somente para colocar meus livros e voltei para a chuva. Às vezes, eu não entendia essas minhas atitudes. Logo que eu tinha saído do supermercado, andei até avistar um lugar para sentar.

Arrastando a sacola com os livros, eu começava a pensar que nunca mais eu teria uma distração com alguém. Sentia falta de alguém, realmente e verdadeiramente as chuvas entristecidas me acompanhavam em um ritmo através do qual eu levantei meu rosto para o céu. Misturei gotas de chuvas com gotas de sal sobre minha face, acabei me esbarrando em uma menina mais distraída do que eu poderia ser.

Meu deus, como chovia... Assim foi difícil chegar a algum lugar para sentar.

Eu falava comigo mesma, enquanto a água da chuva pingava sobre meus lábios um pouco avermelhados. Enquanto meu perfume barato de cheiro singular se perdia com a água que escorria por meu pescoço fino, meus cabelos de cachos dourados estavam encharcados e grudavam em meu rosto. Corria, e corria e estava satisfeita por não estar com saltos altos, até que eu encontrei um banco com um garoto.

E até mesmo sem querer eu Elizabeth, eu esforcei o meu olhar desconfiado em direção a ele. O seu corpo mostrava sinais claros de cansaço. As feridas eram invisíveis e ao mesmo tempo visíveis para qualquer um que os observasse. Ele era passivo. Com medo dele, tinha jogado meus cachos ensopados sobre meu rosto, assim não o incomodei e me incomodei de não olhar mais. Cadê que o sol aparecia? Eu precisava abrir um dos meus livros.

Tudo estava dolorido e tudo era dolorido pelo desejo de sentir dores, eu fui incapaz de tocá-lo, não sabia que olhar era tão julgador. Na verdade eu estava julgando-o. Naquela hora só queria conversar um pouco, e estava roendo meus pensamentos sobre aquele garoto estranho. E o frio foi tomando conta da minha pele um pouco frágil. Pensei em voltar para casa, pois a chuva havia amenizado.

Começo a sentir frio novamente. Por que tanto frio? Não podia escrever sorrisos, nem inventar abraços. O silêncio arquitetou sua presença projetada por um estômago frio. Me aproximei dele, só que, ele levantou-se e atravessou a rua. Um acidente surgiu. Seu corpo foi fotografado no dia seguinte como uma simulação de suicídio. Suas feridas estavam abertas, ainda não cicatrizados, os seus olhos estavam acinzentados e sua face extremamente pálida. A chuva havia parado, e ele lá cercado de policiais e peritos. Desamarrei a sacola plástica, peguei um dos meus livros e voltei de onde eu tinha saído. Essa foi a chuva mais molhada que sentí.

Autor: Louise Bomfim


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