Empregos formais em lenta recuperação



Pela primeira vez, o número de contratações superou o de demissões no Brasil no acumulado do ano. Depois de perder quase 800 mil vagas na virada do ano, o mercado de trabalho dá sinais de reação, embora a recuperação ainda seja lenta e frágil.

O emprego formal apresentou saldo positivo em abril pelo terceiro mês consecutivo, conseguindo reverter o baque no mercado de trabalho causado pela crise. A melhora foi influenciada pelas vagas criadas principalmente em cidades interioranas, com destaque para o estado de São Paulo, por conta do setor sucroalcooleiro. O saldo de abril ficou positivo em 106.205 vagas, resultado de 1,35 milhão de contratações e de 1,244 milhão de demissões, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados em 18 de maio de 2009.

Efeitos da crise
Pode parecer pouca coisa na comparação com anos anteriores. Nesse período em 2008, por exemplo, o mercado de trabalho acumulava 848.962 vagas. Desde 2004, o número de novos empregos com carteira assinada criados nos primeiros quatro meses de cada ano sempre superou os 500 mil. Acontece que nos anos anteriores não havia a crise econômica que varreu empregos por todo o mundo e atingiu o Brasil a partir de novembro de 2008. Mesmo depois de três meses consecutivos de aumento do emprego formal, o número de empregos que a economia brasileira foi capaz de gerar ainda está longe de cobrir a perda de novembro e dezembro, quando foram queimados 695.767 postos de trabalho.

Outro dado ruim é que abril de 2009  foi o pior abril da série do Caged desde 1999. No acumulado do ano, é nítido o estrago causado pela crise mundial, já que, de janeiro a abril, foram criadas 48,5 mil ocupações ante 848,9 mil em igual período do ano passado.

Análise por setor
O setor de serviços deu a maior contribuição ao mercado de trabalho em abril, ao criar 59.279 postos formais, alta de 0,46%.

Foi puxado pelo desempenho das áreas de alojamento, alimentação e reparação (15.249), comércio e administração de imóveis (12.424 ), transportes e comunicações (12.381), médicos e odontológicos (9.606 ); e ensino (10.056).

O comércio em si foi outra surpresa positiva, com 5,7 mil ocupações com carteira assinada em abril, deixando para trás quatro meses seguidos de resultados negativos. A explicação é que os varejistas voltaram a fazer encomendas após venderem os estoques de produtos nos três primeiros meses do ano.

A exceção foi a atividade de instituições financeiras, com queda de 437 postos.

A seguir vêm agricultura (22.684 vagas); construção civil (13.338 vagas); comércio (5.647) e administração pública (5.032). Com o resultado, o saldo do quadrimestre ficou positivo em 48.454 empregos. A indústria de transformação interrompeu a queda acentuada dos últimos cinco meses. Mesmo assim, alguns dos seus subsetores, como a indústria metalúrgica e mecânica, desempregaram.

O segmento de extrativista mineral registrou perda de 582 postos de trabalho em relação ao estoque de março. A metalurgia teve perda de 9.025, enquanto que a mecânica recuou 5.650.

Recuperação do emprego está no interior
As contratações foram mais expressivas no interior dos Estados. Nos nove maiores mercados (SP, RJ, MG, BA, PE, CE, PR, RS, PA), o desempenho das regiões metropolitanas ficou atrás do no interior. Houve saldo de 20.008 empregos nas regiões metropolitanas, ante 79.199 no interior. O cenário foi o mesmo no quadrimestre.
De acordo com o ministério, o movimento está associado, em grande parte, ao setor sucroalcooleiro do centro-sul do país. É o caso da produção de açúcar e álcool no interior de São Paulo. Além disso, parte da produção nesses locais atende ao aumento da demanda para atender a indústria de alimentação, menos afetada pela crise.

Efeito da sazonalidade
Embora seja inegável o aumento do saldo de empregos formais de março para abril, também é fato que abril tem sazonalidades que podem não se repetir. Um desses fatores é o comportamento do agronegócio, que, em abril, foi o segundo setor que mais gerou vagas, com saldo líquido de 22,6 mil. O início do plantio e moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul do País e o cultivo de café são os dois melhores exemplos.

Em São Paulo, que puxou o saldo do Caged em abril, 21,1 mil postos foram abertos no interior e estão associados ao ciclo da cana e outros 595 ao ciclo cafeeiro. No total, o Estado criou 72.022 vagas.

Visão do governo
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, arriscou uma previsão para 2009 e disse que espera a criação de mais de 1 milhão de empregos este ano. "O Brasil está dando sinais inequívocos de recuperação." Apesar de maio ainda estar longe do fim, ele disse que o saldo de empregos formais este mês deverá ser melhor que o de abril. Para Lupi, o crescimento das vagas formais por três meses seguidos é um dado consistente de recuperação da economia brasileira. "Ninguém contrata com carteira assinada se estiver tendo prejuízo."

O ministro disse que a recuperação do mercado formal começou em março e se consolidou em abril. No entanto, o saldo de empregos ficou bem abaixo do apurado em abril do ano passado, que foi de 294.522. O emprego com carteira assinada chegou ao fundo do poço em janeiro deste ano, quando o saldo ficou negativo em 654.946 vagas.

Diante do resultado de abril, Lupi acredita que os números de maio serão melhores, por causa da recuperação da construção civil, beneficiada pelos programas de ajuda do governo, e a sazonalidade da agricultura, que eleva a empregabilidade no campo.

Lupi acredita que o mercado de trabalhado formal fechará o ano com 1 milhão de contratações. Nos últimos 12 meses, as contratações somaram 651.696 postos. Ele aposta em um crescimento da economia brasileira entre 2% e 2,5% este ano. O otimismo de Lupi supera até mesmo o do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que nos últimos dias revisou a estimativa para o PIB de uma variação positiva de 2% para algo entre zero e 2%.

Lupi disse que o governo não deverá prorrogar a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor de veículos a partir de julho. Lupi destaca que quase todos os 26 setores da economia estão dando sinas de recuperação no mercado de trabalho e os que continuam negativos, reduziram o ritmo de cortes no mês passado. Lupi citou a indústria de transformação, que em abril fez 183 mil contratações, o que representa estabilidade em relação ao estoque do mês anterior, puxada pelos segmentos de alimentos, borracha, fumo, calçados e têxteis. Em março, as demissões do setor somaram 35.775.

Previsão de mais vagas
Caso a velocidade de criação de postos de trabalho de abril seja mantida nos próximos dois meses, em julho o Brasil deverá voltar ao nível médio de geração mensal de 200 mil postos de trabalho como ocorreu no segundo semestre de 2008, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann.

Conforme o Ipea o número de 106.205 novas vagas em abril foi uma surpresa positiva. “A reação favorável apontada pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi causada pela melhora da economia, motivada, sobretudo, pela política anticíclica adotada pelo governo, que incluiu a redução de impostos”, comentou.

Nesta avaliação, o saldo positivo de empregos deve ficar próximo a 600 mil vagas neste ano, número inferior aos 1,4 milhão de empregos em 2008. Para maio, o instituto acredita que é possível uma elevação do número de empregos gerados em relação a abril.

Bibliografia:
Jornal Gazeta Mercantil de 19 de maio de 2009
Jornal do Brasil de 19 de maio de 2009
Jornal O Estado de São Paulo de 19 de maio de 2009
Jornal Folha de São Paulo de 19 de maio de 2009
Jornal Correio Braziliense de 19 de maio de 2009
Autor: Alexsandro Rebello Bonatto


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