FILOSOFIA: UMA VIDA ATRAVÉS DO PENSAR



Cleber Pagliochi[2]

Neste presente trabalho que se desenvolverá destaca-se primeiramente a tentativa de provar que a filosofia é importante para a vivência humana, tentando assim desvencilhar-se do atual preconceito de sua aparente[3] inutilidade. Dando até como causa desse preconceito a falta de conhecimento ou mesmo o modelo de sociedade em que se vive. Provando que a filosofia e seu filosofar estão presentes na sociedade e sendo mais profundo poderia chamá-la de uma forma de vida.

É verídico que hoje como há muito tempo a filosofia vem sendo símbolo de preconceito, mesmo diante de suas contribuições. Mas o porquê então desse preconceito? A filosofia não está contribuindo, ou não entendemos o que ela faz e acabamos por dizer que não serve para nada?

Pode-se alegar como causa desse preconceito a "inutilidade" desse pensar, mas frente a isso como algo que faz modificar a forma de viver, ou de ver os fatos pode ser inútil?

Pode-se citar aqui três causas como estopins desse pré-conceito sobre a filosofia. A primeira é o desconhecimento. Muitas pessoas desconhecem o que é realmente a filosofia e alguns nem sabem que ela existe. Partindo mais fundo, deve-se saber o porquê desse desconhecimento e analisando sabe-se que faz pouco tempo que a filosofia como estudo reaparece nas discussões para voltar a sala de aula, ela que esteve proibida pelos sistemas políticos por muito tempo foi sendo pouco difundida, estava quase que adormecida.

Aqui pode-se destacar que sendo ela tão importante para o pensar da sociedade, não deveria estar encoberta, porém devido a força que ela exerce nos pensares, e a liberdade que ela cria , além de pôr em duvida, incomoda muitos patrões e as principais autoridades da sociedade atual.

É claro que aqui quem deva conhecer não precisar necessariamente saber que para Nietzsche, a primeira proposição filosófica foi aquela enunciada por Tales, a saber, que a água é o princípio de todas as coisas [Aristóteles. Metafísica, I, 3]. Mas é importante saber que pode pensar diferente e que a filosofia é muito mais do que simplesmente uma matéria de universidade ou de sala de aula. Ela é uma vida, mas uma vida bem analisada, bem vivida.

A segunda causadora desse preconceito é a mídia, que difunde esse pensar[4] sobre a filosofia e impede que ela faça seu desenvolvimento. Diria que é a partir da mídia que hoje se vive, que se veste, às vezes até que sonha-se ou almeja algo, sendo ela tão importante, deveria ter um controle maior do que se é repassado para o público.

Sabendo dessa importância da mídia que divulga o senso comum, que "comanda" a sociedade, que cria nela um enraizamento de culturas, modificando conforme sua "moda", faz-se necessário, ou deveria se cogitar que também a filosofia tivesse acesso a esse meio. Por mais que há alguns canais de televisão ou revistas filosóficas, faz-se necessário também um cuidado para a não manipulação da sociedade através do obrigar a pensar, o que acabaria por seguir no mesmo caminho que hoje perpassa na relação mídia-povo.

Mas como é mais importante o "povo" continuar calado e oprimido, para a terceira causa destaca-se o sistema, este sendo "financiado" pela mídia, prega sem parar a lógica do trabalho, não importando se o trabalhador pensa ou não, apenas mostrar resultado basta. Transforma-se homens em máquinas do trabalho, a filosofia continua no mundo do desconhecido, e o povo continua no mundo do lucro, do trabalho exagerado, da opressão, das classes sociais [...]

Perante o sistema questionar só trás problemas, então "ele diz:não pense e pronto, assim você não tem problema nenhum, apenas consuma". Deixando claro que precisamos só aceitar o que foi pensado pelos meios de comunicação que hoje exercem uma função muito importante, sendo transformada sua função de entretenimento em formadora de opinião.

Além disso, diante do modelo social em que se vive no qual prega a utilidade "física", ou visível para cada ato e um resultado para cada ação, a filosofia que faz rever o ato acaba sendo ocultada. Sendo muito importante lembrar que também nesse modelo social não busca-se o rever dos acontecimentos. Necessita-se apenas da mão de obra, o que vem além disso é apenas bagagem.

Pode-se estabelecer uma ligação entre esses três "germes", a de que a filosofia é inoportuna e que somando suas forças conseguem impedir que ela enraíze na sociedade sua vivência.

A idéia de que a filosofia muitas vezes causa medo em pessoas que não querem pensar nunca foi tão presente quanto hoje. Torna-se quase impossível conhecer filósofos atuais, ficando as vezes na dúvida se eles existem ou não.

Frente a sua inutilidade, e conhecendo que a filosofia é o pensar e refletir sobre a vida e os problemas, mas não só isso, poderia claramente dizer que ela é admirável e ao mesmo tempo muito presente na vida humana mesmo que ocultamente. Com seu jeito de ser ela liberta dessa corrente social, nos dá o verdadeiro sentido da democracia.

Como diria :Desidério Murcho[5]

"Um dos obstáculos ao ensino e investigação de qualidade é a estranha noção de que a filosofia, propriamente falando, não é realmente possível. Investigar, como o fez Kant ou Descartes, a natureza última do mundo ou da mente, é encarado como uma ingenuidade de filósofos mortos. Hoje, tudo o que podemos fazer é comentar os seus textos, com o distanciamento de quem comenta textos de astrólogos: o que eles fazem não é para ser realmente levado a sério"

Esse recorte de Desidério deixa bem claro também que muitas vezes esse preconceito parte de quem conhece a filosofia, pois encarar esse problema de hoje apenas que é o de apenas comentar e de não tentar resolver realmente é muitas vezes dar margem para a desvalorização da filosofia frente ao mundo que a rodeia.

O que a filosofia nos oferece é o próprio sentido do pensamento como capacidade humana que pode nos mostrar outras dimensões da vida, nos oferecer novas visões sobre o que existe. Mas isso porque, em vez de nos prometer respostas, a filosofia nos ensina a perguntar. A filosofia investiga o sentido das múltiplas experiências, vivências e modificações de nossa época. Com isso, ela pode ajudar a entender, com a urgência que conhecemos as ansiedades coletivas e nossas próprias angústias. (http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/045/filosofia/conteudo_237011.shtml)

Portanto, sabendo que o preconceito continuará existindo e sabendo de onde ele provém torna-se mais fácil para a filosofia tentar trabalhar seu viver na sociedade, ou mesmo melhorar sua forma de atuar frente aos alunos que estão em suas salas de aula tentando aprender a pensar.

Fica muito importante nesse momento destacar a importância do professor frente essa fase de iniciação ao pensar. Para Platão tal tarefa cabe a um ministro da educação altamente qualificado, o qual deve ter no mínimo cinqüenta anos e ser indicado - por votação secreta, realizada no templo de Apolo - entre os mais competentes funcionários da administração pública, mas o escolhido não pode ser membro do Conselho Noturno (A República). É claro que para hoje tudo isso torna-se inviável ou mesmo retrógrado, mas vale ressaltar que já naquela época a tarefa de professor era algo misterioso e respeitável.

Contextualizando tudo o que foi relatado parece que realmente tudo conduz para impedir expansão da filosofia: o desconhecimento, a mídia, o sistema capitalista, o medo de criar novas idéias por parte dos filósofos e por fim a falta de professores com a capacidade de filosofar e de conduzir o aluno a pensar. E esse preconceito que existe consiste na tentativa de afastar a verdade do povo.

Vale ressaltar que nem todas as formas de preconceito foram abordadas, mas essas formas foram as mais visíveis ou trabalháveis, deixando claro que pode haver muitas mais. E que essas se manifestarão pelo fato da filosofia novamente voltar a seu posto de origem ou requerer essa colocação diante da sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, et ali, comentários e seleção de Luiz Costa Lima TEORIA DA CULTURA DE MASSA, São Paulo, editora paz e terra S/A, 2000

GUARESCHI, Pedrinho e Osvaldo Biz MÍDIA & DEMOCRACIA copyright dos autores dos autores, 2005

THOMPSOM, John B. A MÍDIA E A MODERNIDADE: UMA TEORIASOCIAL DE MÍDIA, Petrópolis, RJ: Vozes, 1998

ARTIGOS –MÍDIA http://www.piratininga.org.br/artigos-midia.html ultimo acesso em 30 de abril de 2009 as 00h19min

FILOSOFIA, QUINTON,Anthony Universidade de Oxford http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/quinton2.htm. Ultimo acesso em 30 de abril de 2009 as 00h21min

MURCHO, Desidério.Será a filosofia possível? http://criticanarede.com/html/ed79.html. ultimo acesso em 30 de abril de 2009 as 02h02min




Autor: Cleber Pagliochi


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