ROUPAS



 

 

 

198 – ROUPAS

De Romano Dazzi

 

Se vestir-se é uma espécie de arte – uma arte menor, reconheço – despir-se não é menos difícil, menos complicado.

Admiro as pessoas que sabem se vestir, acoplando cores e estilos, acessórios e complementos, tornando o conjunto pessoa-roupa quase tão harmonioso quanto uma obra de arte.

Mas minha maior admiração vai às pessoas que sabem se despir e que enquanto tiram peça após peça, ficando finalmente do jeito que a mãe natureza as fez, conseguem conservar a dignidade e o prestígio da função que executam, do cargo que ocupam – ou da profissão que escolheram....

Porque é a roupa que faz o homem. É uma camuflagem indispensável, sem a qual o nosso tecido social se esgarçaria.

Imagine-se procurando um juiz ou um sacerdote, um cirurgião ou um oficial do exército; um ministro de estado ou uma senhora da alta sociedade,  numa multidão de pessoas completamente despidas.

Se não portarem claras etiquetas de identificação, vai ser difícil, garanto.

Porque somos todos iguais. Alguns, até, mais iguais que outros.    

Sem as roupas, eu me sentiria vulnerável, fraco; perderia minha tranqüilidade e minha segurança; ficaria completamente anulado.

E isto nada tem a ver com sexo. São apenas sensações profundas, que me impediriam, por exemplo, de dar aula, seja ficando de frente aos meus alunos, seja de costas para eles, escrevendo no quadro negro... 

Pense um pouco: Todo dia aparecem fotos de chefes de estado, posando sorridentes depois de almoços saudáveis e reuniões improdutivas.

Imagine vê-los como realmente são, como a natureza os fez. Isto é, sem nenhuma roupa. Ninguém espera que sejam uns Apolos, uns atletas musculosos, com corpos de nadadores; sabemos que passam o tempo todo salvando o mundo, enfiados em escritórios pobres, escuros e pouco arejados.

Mas a imagem que nos passariam, se estivessem perfilados, para a famigerada foto, sem vestir nenhuma roupa, seria ridícula .

Adeus dignidade; adeus discursos inflamados; adeus poses heróicas. Tornar-se-iam bem iguais a nós outros. Pareceriam  tolos, como talvez alguns sejam mesmo.

O que apareceria seria provavelmente prejudicial até para as nações que representam.

Não quero fazer nomes; mas pensem na França, na Itália, na Alemanha, no Paquistão... no Japão!      

E as reuniões sociais, então? Quem teria a coragem de comparecer “com tudo de fora” como se diz vulgarmente?

Os, sim! A roupa faz o monge, o padre, o juiz, o soldado, a dama de sociedade etc. etc.

Sem as roupas, eles não são absolutamente nada. E precisariam reaprender todos os seus discursos, antes de readquirirem a coragem de se apresentar em público.

E chegamos ao nó da questão.  Admiro muito, como disse, as pessoas que conseguem se despir, sem constrangimento, em público. São mais sinceras, mais genuínas.

Mas me ocorre uma dúvida. Todos vendemos alguma coisa. Nossas fardas, nossas vestimentas, nossos uniformes, servem para vendermos melhor o que temos, o que sabemos, o que produzimos ou o que representamos .  E quem já se apresenta despido, vende o quê?

 


Autor: Romano Dazzi


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